Pesquisa de opinião

Fabricantes de produtos de higiene e beleza no Brasil, como Unilever, pretendem utilizar apenas frascos incolores e transparentes, para facilitar a reciclagem de suas embalagens. A cadeia de masters de cores pode ou não agir para frear este movimento e assim deter a redução de um mercado vital?

Wagner Catrasta
Diretor comercial da Termocolor

A escolha pela não utilização de masterbatch de cores em embalagens de higiene e beleza, tal como também ocorre em garrafas de refrigerante, está diretamente relacionada a questões de marketing e custo do produto final. Afinal, uma vez que a aplicação do concentrado em nada interfere no processo de reciclagem, é claro que, ao reciclar um produto na coloração natural, você abre um leque maior para incorporação de cores no produto transformado a partir desta matéria-prima reciclada.
Entendo que os produtores de master precisam se movimentar de forma mais efetiva para evidenciar os benefícios que uma embalagem colorida pode agregar aos artigos de higiene e beleza. Um produto colorido remete à alegria e evoca coisas boas, influindo positivamente na decisão de sua compra.


 

José Fernandes Basílio
Sócio e diretor comercial da Cromaster

Transformações hoje em curso, como as aludidas na pergunta, decorrem da grande influência exercida pela economia circular nos mercados em geral, incluso o de plásticos. A cada dia surgem desafios levando as empresas envolvidas a buscar as soluções mais adequadas. Um dos maiores passa pelas áreas de marketing e design de embalagens: como atender as exigências de reciclagem facilitada das embalagens sem perder os atributos mercadológicos que elas conferem ao produto envasado.
As embalagens sempre estiveram entre os fatores determinantes da decisão de compra. E aspectos de cor, brilho e design formam um corpo nas prateleiras passível de atrair os consumidores. Em embalagens plásticas, o mérito desse poder cabe a masterbatches de cores intensas, vibrantes e chamativas e a polímeros aprimoradores do brilho e formato dos recipientes.
Vale lembrar que a cor exerce ação tríplice: os objetivos de impressionar, expressar e construir. Sua visão impressiona a retina e, uma vez sentida, expressa emoção e, por fim, tem o poder de construir uma linguagem e comunicar uma ideia. Daí o fato de, muitas vezes, as cores mexerem em aspectos sensoriais do consumidor e integrarem, a identidade do produto embalado. Exemplos: o azul Dover e o do Prestobarba Gillete e o vermelho Coca-Cola.
Por essas e outras, não acredito numa mudança tão brusca e imediata como a levantada na pergunta em relação a embalagens do setor de higiene e beleza. Mas, como parte importante nesse processo como fornecedora de concentrados, a minha empresa, a Cromaster, tem de estar próxima dessas áreas, como agente facilitador na procura de melhorias alinhadas com a necessidade de embalagens de reciclagem mais prática e simples. Nesse sentido, seguimos atentos a movimentos como a adesão a pigmentos sem restrições ambientais; aditivos facilitadores do reúso de resinas recuperadas; auxiliares regeneradores de cadeias moleculares poliméricas; compatibilizantes de polímeros inviáveis para reciclagem conjunta; agentes supressores dos odores e umidade da sucata e soluções para tirar ou atenuar a tonalidade amarelada ou acinzentada dos reciclados.


 

Fabio Patente Avelar
Gerente comercial da Kolor Flakes

Mesmo que as principais empresas de cosméticos optem por embalagens naturais/transparentes, essas embalagens vão parar nas cooperativas que as repassarão aos recicladores que, por sua vez, terão que pigmentá-las para o material retornar ao mercado para dar forma a embalagens de outros segmentos. A embalagem natural, após ser reciclada, vira um material amarelado e escuro chamado popularmente de ‘canela’. Para tornar a ter um aspecto visual bonito vai precisar de pigmento. Por isso ,não acredito que esse movimento de embalagens naturais, notado no setor de higiene beleza, seja tão impactante para o mercado de masters.


 

Marcelo Maia Soares
Gerente de negócios da Peter Chemical

Embalagens desprovidas de cores têm maior procura e valor na cadeia de coleta e reciclagem. Possuem maior demanda e tornam-se mais atrativas, valorosas e circulares, com reúso na condição de material recuperado em diferentes produtos e setores. Evitar o uso de pigmentos em determinadas embalagens é uma das ações que setores como o de higiene e beleza podem assumir. É uma medida admissível para o acondicionamento de alguns produtos e, mesmo que realizada em certas embalagens, exigirá o desenvolvimento de tecnologias e ajustes para suprir a ausência dos pigmentos. As funções destes colorantes, aliás, vão além da estética e comunicação visual , a exemplo de proteger o conteúdo da luz, calor e agentes biológico. Daí porque novas oportunidades surgirão, mesmo neste quadro, para componedores de concentrados de cores. Reitero assim que a reação de rejeitar cores nos frascos, em favor de simplificar a reciclagem mecânica das embalagens vazias, demonstra a preocupação do setor de higiene e beleza com a sustentabilidade. O mesmo compromisso deve ser abraçado pelos componedores absorvendo, reduzindo, agilizando e elevando a eficiência das operações unitárias dos processos de clientes e acompanhando as tendências deste mercado. Os desafios são enormes e podemos contribuir para a circularidade com novas tecnologias concebidas na seara dos masters, a exemplo do uso de produtos biodegradáveis ou nanodispersões base grafeno, uma via para aproximar propriedades do reciclado do contratipo virgem.


 

Claudia Kaari Sevo
Gerente do negócio estratégico de artefatos rígidos da Ampacet na América Latina

A indústria de masterbatch não tem como frear este movimento em embalagens do setor de higiene e beleza. Precisa se ajustar às novas demandas do mercado, cada vez mais alinhado com a circularidade e em busca de alternativas para minimizar os impactos ambientais. Neste cenário a utilização de plástico pós-consumo reciclado (PCR) é caminho sem volta e, neste segmento, a Ampacet, minha empresa, atua forte com produtos para melhorar a qualidade do PCR. No plano da estética, temos a linha Equal para homogeneizar as costumeiras variações de tons nas resinas recuperadas e a série COLOR Tune, para conferir cor e efeitos especiais às embalagens desse material, replicando as condições proporcionadas por polímeros virgens aos recipientes originais. Por sua vez, a linha BlueEDGE tonaliza PCR, evita seu amarelamento e confere efeito clean para reciclados transparentes. Para aguçar a performance do material reconstituído para reúso, dispomos de aditivos como compatibilizantes, supressores de odores e soluções que possibilitam elevar o teor de PCR na composição de embalagens.


 

Roberto Castilho
Diretor comercial de masters e especialidades em pó e resinas da LyondellBasell para a América do Sul

Identificamos uma tendência de redução do uso de masters coloridos em frascos de setores como higiene e beleza. Trata-se de uma ação para facilitar o processo de reciclagem mediante o trabalho exclusivo com recipientes incolores ou transparentes. Para apoiar essa vertente, a LyondellBasell, minha empresa, comparece com resinas especiais para conferir um apelo de sofisticação, tipo soft touch e aspecto mate, assim como especialidades que proporcionam excelente flexibilidade, rigidez, transparência e brilho à embalagem. Para segmentos onde são imprescindíveis os masters coloridos temos opções em base resinas certificadas quanto à redução da pegada de carbono e opções com certificação do balanço de massa de resinas a partir de fontes renováveis.


 

Marcos Raicher
Diretor da ColorNet Comércio Exterior

A tendência de utilização de embalagens transparentes ou incolores para produtos de higiene e beleza não é recente. Há alguns anos é observada e agora toma ímpeto a tiracolo do aumento das ações de reciclagem e economia circular. Fortes razões favorecem, neste setor, o uso crescente de embalagens transparentes. Primeiro, porque o ciclo de reciclagem é menor, sem a necessidade de separação prévia por cores do material pós-consumo. Além disso, apesar do gasto com master colorido não representar muito no custo da embalagem final, sua dispensa sempre promove alguma economia de matéria-prima no processo produtivo.
Entretanto, cumpre considerar que uma embalagem deve proteger e preservar o conteúdo e constituir um elemento de atração e influenciador na escolha pelo consumidor. Por sua vez, determinados artigos de higiene e beleza requerem proteção contra luz solar, UV e radiação infravermelha, razão pela qual a transparência é inviável para a embalagem. Por fim, cores vibrantes, efeitos metálicos  e peroladas pesam no marketing e decisão de compra do produto de higiene e beleza.
Uma das soluções que os fabricantes desta indústria devem examinar, em prol da reciclagem simplificada, é aplicar cores e efeitos no conteúdo envasado e não na embalagem, para não perder o efeito de atração da cor. O fato é que os mercados de masters coloridos e de embalagens estão em permanente crescimento e demonstram saber se adaptar às constantes mudanças em sua trajetória. A economia circular é positiva para o nosso futuro mas, de outro ângulo, ninguém quer um mundo monocromático, cinzento e sem graça. Veja o que acontece na indústria automotiva: as cores mais populares são branco, preto, cinza e prata, mas já se nota a volta gradativa de cores mais vibrantes. Pigmentos e concentrados acompanham a evolução da sustentabilidade no setor plástico e oportunidades de crescimento sempre surgem no meio do caminho.


 

Edilson Deitos
Presidente da Zandei Plásticos

Este assunto da pergunta é muito discutido na Rede pela Circularidade do Plástico. Hoje em dia vale o bordão “o menos é mais” e ele respalda um reestudo das embalagens em prol da redução de peso, estruturas monomaterial e cores claras ou naturais, identificáveis por processos mecanizados de seleção óptica na etapa de separação de resíduos antes da reciclagem. Estes quesitos são, por sinal, avaliados no recente aplicativo RETORNA,  primeira ferramenta online e gratuita que calcula o índice de reciclabilidade da embalagem plástica e cuja base é o cenário brasileiro e especificidades de cada região. A indústria da transformação acompanha as tendências ditadas pelo marketing de clientes – fabricantes de produtos finais como os de higiene e beleza – empenhados em se diferenciar nos pontos de venda por atributos como a cor. Hoje, estes marketeiros também andam engajados na circularidade dos materiais plásticos e buscam predicados vinculados a ela nas embalagens.
Para o transformador de frascos, a diminuição da quantidade de cores e, em particular, do uso de cores escuras, converge para reduzir set ups de trocas de cor e, por extensão, para baixar custos produtivos. Mas no compartimento do plástico pós-consumo reciclado a cor é essencial na padronização das embalagens, o que leva à busca de soluções de circularidade por indústrias finais, transformadores e recicladores.


 

Eduardo Berkovitz
Diretor de relações institucionais e compliance da Valgroup e coordenador da câmara setorial dos fabricantes de masterbatches para plásticos e compostos da Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast)

Para começar, é importante esclarecer que masterbatches de cores não atrapalham nem dificultam o processo de reciclagem de plásticos. Dessa forma, acredita-se que a estratégia em discussão no setor de higiene e beleza esteja mais relacionada a fatores como custos e marketing do que à reciclagem em si. O impacto causado por masters será notado na sua aplicação final nas resinas recicladas. Uma vez pigmentadas, elas devem ser direcionadas para aplicações especificas e desprovidas de um padrão de cor, enquanto materiais recuperados incolores se adequam a uma gama maior de produtos transformados. Vale ressaltar que, tecnicamente, ambos os tipos de materiais reciclados irão performar de maneira aceitável.
A indústria de concentrados precisa se envolver cada vez mais com o tema da circularidade dos produtos plásticos.Ela deve contribuir com tecnologia e multiplicando conhecimento para a cadeia de reciclagem em contínua expansão e que se mostra ainda mais relevante nessa temática.


 

Paulo Francisco da Silva
CEO da consultoria especializada Agora Vai Brasil

Está em curso uma verdadeira revolução no modo como embalamos, distribuímos e vendemos uma série de produtos de uso geral e diário. Todas as empresas buscam se manter saudáveis do ponto de visto financeiro, de modo a distribuir lucros e dividendos através da produção/comercialização de bens e serviços.Todas elas se valem de técnicas diretas ou subliminares de venda, e entre as últimas consta o potencial das cores e ativação de determinadas áreas do cérebro humano, uma conjunção de fatores com o objetivo de enviar uma mensagem para conquistar o consumidor!
Pois agora, em nome do ambientalismo, uma parte considerável de toda essa estrutura está sendo desconsiderada no setor de higiene e beleza, mediante a intencionada migração para frascos e potes 100% transparentes, mérito de seu maior apelo de reciclagem. Afinal, a ausência de cores facilita muito a coleta, preparo, granulação e reúso do reciclado na cadeia de transformação.
Como ficam então aquelas maneiras de enviar as mensagens subliminares para seduzir potenciais compradores?
Uma possível saída para os grandes fabricantes finais e seus fornecedores de masters seria colorir o conteúdo envasado. Esse tingimento requer cuidado, pois, alguns pigmentos individualmente são inertes, mas, se misturados com determinados ingredientes da formulação do produto acondicionado, podem gerar subprodutos indesejados. Mas a pigmentação do conteúdo constitui uma enorme oportunidade para os componedores de masters se reinventarem e começarem a desenvolver com clientes soluções que os mantenham no setor de higiene e beleza. Pelo visto, eles estarão entre os mais impactados por esse conceito pró-embalagem transparente e não vejo o que possam fazer para evitar essa migração que também faz parte do chamado novo normal.

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