Explicar dá muito trabalho

O setor plástico paga o preço do superficialismo com que a mídia cobre o meio ambiente

“Para todo problema complexo, existe uma solução simples, elegante e errada”. O jornalista H.L. Mencken cunhou esta máxima no século passado e, ao contrário de muitas opiniões e ditados hoje descartados como datados, ela continua a cair feito luva sob o superficialismo reinante na imprensa, viciada, por comodismo ou despreparo, na abordagem concisa e frívola de qualquer assunto, uma péssima influência das mídias sociais. No terreno do plástico e meio ambiente, sobram referências que machucam a imagem do material em razão de palpitaria com desconhecimento de causa ou, pior, devido a jornalistas que dão a missão por cumprida ao ouvirem apenas uma das partes em questão – a outra, na qual o setor plástico figura, costuma ser ignorada solenemente.
Um exemplo disso é o estrelato desfrutado na imprensa pelo termo ESG, referente à prática por empresas de governança ambiental, social e corporativa. É óbvio que o encanto da mídia com a sigla é o adjetivo ambiental, bem na foto graças ao tapete vermelho hoje estendido pela sociedade pensante para a economia circular. Afinal, boas práticas sociais e corporativas não são novidade. Amarrando-se então a faceta ambiental da ESG àquela sacada de Mencken, não há mais como o setor plástico espantar-se com eventos como o artigo publicado no início do ano num jornalão no qual um consultor, no afã de posar de verde de raiz, declarava que, para abraçar essa governança da moda, as empresas tinham de banir os plásticos. Desnecessário dizer que ninguém se lembrou de ouvir a indústria do material, onde, aliás, pululam petroquímicas, transformadores e distribuidores devotos da ESG. Da mesma forma, mídia alguma se mexeu para saber o que o setor plástico achou do recente auê feito pelo iFood, líder em aplicativos de delivery, ao papaguear nos microfones o intento de varrer embalagens e acessórios da matéria-prima de suas entregas.
“A maioria dos problemas ambientais envolve incertezas particulares que são assuntos legítimos para debate”, observa o cientista Jared Diamond no livro Colapso – como as sociedades escolhem o fracasso ou o sucesso. “Fora isso, porém, há muitas razões comumente aventadas para diminuir a importância dos problemas ambientais e que não são bem informadas”. Ele chama essas objeções de chavões simplistas. Um dos que ele cita faz pensar no caso do plástico. “Se exaurirmos um recurso, sempre podemos mudar para outro para satisfazer a mesma necessidade.” Com essa convicção, ele comenta, os otimistas ignoram o peso das dificuldades imprevistas e dos tempos de transição envolvidos. Exemplo: as vendas crescentes, ativadas pela fé na sustentabilidade, de carros elétricos e híbridos. São montados pela mesma indústria cuja produção é liderada com folga (mesmo na alta atual do petróleo) pelos beberrões SUVs e assim, noves-fora, o consumo de combustível fóssil aumenta em vez de baixar.
São os penares de uma transição, como também atestam os percalços da substituição do plástico virgem por reciclado ou derivado de fontes renováveis. A história recente da tecnologia, nota Diamond, mostra que, mesmo com os estonteantes atalhos digitais de hoje, leva décadas a adoção de grandes mudanças de fontes de energia, porque muitas instituições e tecnologias secundárias associadas com a antiga tecnologia têm de ser mudadas. Volta e meia, políticos e influenciadores apoiados na mídia desinformada distraem com chavões também simplistas, como o clamor pela proibição dos plásticos, a atenção das medidas que precisam ser tomadas para realmente se atacar os problemas ambientais. Melhoral não cura infarto. •

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