Com força total

Referência no país como componedora de PP e PE, a Borealis desponta como fornecedora de grades avançados dessas resinas
Referência no país como componedora de PP e PE, a Borealis desponta como fornecedora de grades avançados dessas resinas

Entre os dois primeiros produtores europeus de poliolefinas e os oito principais do planeta, a petroquímica austríaca Borealis tem sido identificada há décadas no Brasil como superstar no beneficiamento de polipropileno (PP) e polietileno (PE), à frente de sua planta componedora em Itatiba, interior paulista. Nos últimos tempos, porém, a empresa repaginou radicalmente sua identidade. Mergulhou de cabeça nos meandros da economia circular, a ponto de virar sinônimo mundial de petroquímica verticalizada nas reciclagens mecânica e química e, em seu plano de metas até 2030, a Borealis persegue a produção de 1.8 milhão de t/a de materiais de aura sustentável. No cercado da cadeia petroquímica, a Borealis embarcou, em especial no Oriente Médio e EUA, no prolongado ciclo de expansões na capacidade global de poliolefinas. O mega excedente resultante desses movimentos, hoje piorado pela demanda chinesa e europeia enfraquecida, leva a Borealis agora a aproximar mais as suas resinas diferenciadas do alcance de mercados como o sul-americano, antes discretos em seu atlas de vendas. Esta virada de página é a tônica da entrevista de Daniel Furió, diretor geral da Borealis South America.

Borealis anunciou em junho a incorporação da componedora italiana Rialti, forte em especialidades como compostos de PP reciclado. Qual a possibilidade de transpor ao Brasil receitas de compostos dessa nova controlada?

Daniel Furió: novas capacidades de poliolefinas intensificam atuação da Borealis no Brasil.
Daniel Furió: novas capacidades de poliolefinas intensificam atuação da Borealis no Brasil.

A aquisição da Rialti é mais um passo na estratégia da Borealis de produzir 1.8 milhão de toneladas de materiais circulares até 2030 e reforça nosso compromisso com a ampliação da nossa capacidade de produção de materiais sustentáveis. Em 2014, antecipando as demandas atuais, a Borealis lançou os primeiros compostos de PP contendo material pós-consumo focados em peças automotivas de alta performance. Naquela época havia pouco interesse do mercando, tanto automotivo quanto de linha branca, por esses tipos de produto. O processo de aquisição da Rialti está em andamento, com cronograma para finalizar no final deste ano.
A chegada das novas regulamentações ambientais e compromisso da indústria para redução da pegada de CO2, fizeram com que a procura por novas tecnologias e materiais sustentáveis ganhasse corpo. Baseada nessas diretrizes, a Borealis iniciou o desenvolvimento de um portfólio de produtos denominados Borcycle M™. Eles incorporam material pós-consumo recuperado pela reciclagem mecânica e foram introduzidos nas regiões onde o grupo atua – Europa e Américas do Norte e Sul – com a ambição de desenvolver produtos de alta performance para para-choques, peças estruturais visíveis e não visíveis e peças de interior como laterais de porta.
A Borealis Brasil, por sinal, foi pioneira no grupo ao iniciar, em 2020, a comercialização do grade Borcycle ME1490SY-P001 para o mercado automotivo. Entre os lançamentos agendados para este ano, consta o tipo Borcycle MG2401SYB-P001 desenhado para injeção de peças estruturais próximas ao motor.
Retomando o fio da aquisição da Rialti, ela ainda é muito recente e os times das duas empresas estão trabalhando na integração das equipes, processos e portfólios para divulgação no decorrer dos próximos meses.

Na Europa, América do Norte e Ásia, a Borealis mostra-se bastante ativa no desenvolvimento de compostos e/ou embalagens sustentáveis de poliolefinas em parcerias com transformadoras e fornecedores de insumos auxiliares nessas regiões. Por que, como petroquímica global player, ela até hoje não estendeu essas ações à América Latina?

As poliolefinas da linha Borstar, tecnologia proprietária da Borealis, são bimodais e isso garante que seu peso molecular seja distribuído de forma a garantir resistência mecânica e processabilidade elevadas. Para clientes como os baseados na América Latina, essa performance lhes permite produzir embalagens monomaterial com a resina Borstar FB1350, como stand-up pouch. Por sua vez, Baystar, joint venture da Borealis com outra petroquímica, a Total Energies, contará em Pasadena, Texas (EUA) com um cracker de eteno com capacidade de1 milhão de t/a integrado a uma planta de polimerização com potencial estimado em 625.000 /a e hoje em estágio inicial de partida. Será a primeira planta nas Américas a produzir em escala comercial poliolefinas com tecnologia Borealis Borstar® com respaldo da extrema competitividade econômica do feedstock norte-americano (nota: gás natural oriundo de jazidas de xisto e bacias petrolíferas na Costa do Golfo). A América do Sul será um dos principais destinos dos materiais produzidos na unidade, concretizando uma nova página na história da Borealis América do Sul, como fornecedora de PE para flexíveis e sopro em geral.
Através da tecnologia Borstar, a Borealis também tem desenvolvido globalmente grades poliolefínicos de alto desempenho, que possibilitam estruturar embalagens de alimentos, trazer competitividade para os mesmos e torná-los mais acessíveis. Outro grande benefício dessa tecnologia internacionalizada: a simplificação de materiais no conceito de embalagem monomaterial, favorecendo sua reciclagem após seu ciclo de vida. Tratam-se de desenvolvimentos da Borealis em conjunto com as principais marcas de alimentos globais e têm sido trabalhadas em parcerias com fabricantes de embalagens e de alimentos na América do Sul, inclusive empresas com negócios correntes no Brasil, no plano mais recente.
A sustentabilidade desse fornecimento está diretamente ligada a estratégia de expansão global da Borealis, através do programado aumento de capacidade de PP da Borouge (nota: joint venture da Borealis, com 36% do controle, e 54% com a petrolífera Abu Dhabi National Oil Company/Adnoc) nos Emirados Árabes. A capacidade deve subir das atuais 5.5 milhões para 6.4 milhões de t/a de PP em 2025. Além disso, o complexo da Borouge vai contar com cracker de etano, duas plantas de PE Borstar, uma unidade de hexano e um incremento na produção local de PE reticulado. Essa margem de manobra, como já disse, será alargada com o recente início da operação da planta Baystar no Texas dedicada a PE graus filme e sopro.
Produzidos nos EUA a partir deste ano, grades bimodais como Borstar FB2230 e Borstar FB1350 proporcionam superior benefício à estabilidade da extrusão blow e, através de redesenho do filme excepcionais propriedades mecânicas. O processo MDO (nota: monoestiramento no sentido da extrusora blow) e aplicações como embalagens industriais e termoencolhíveis, além de maximização de uso de polímeros reciclados pós-consumo (PCR) também são altamente beneficiados pelo portfólio Borealis Borstar.
As novas capacidades de poliolefinas da Borealis abrem um novo capítulo de promoção a sustentabilidade social, ambiental e econômica para as embalagens de alimentos e filmes em geral no mercado sul-americano, em particular, no Brasil. Desse modo, nosso objetivo é assegurar fornecimento constante, competitividade e parceria de longo prazo com os atores locais.

Como Borealis Brasil avalia a cultura de sustentabilidade e potencial de consumo do mercado interno para produzir em Itatiba especialidades como compostos contendo elementos de fontes renováveis?

Todas as montadoras de carros no Brasil e grande parte dos fabricantes de linha branca são globais e possuem estratégias de sustentabilidade de alcance mundial. Além do mais, as grandes empresas brasileiras estão se preparando e desenvolvendo planos de sustentabilidade. Com base nesta movimentação de mercado, a procura por materiais sustentáveis já é uma realidade e a Borealis Brasil já possui produtos da família Borcycle M no seu portfólio brasileiro, além de um sólido trabalho de desenvolvimento neste segmento junto com as principais montadoras do país. A depender da estratégia dos clientes, podemos produzir compostos de PP com resinas importadas da Europa e oriundas de reciclagem química (Borcycle™ C) ou com materiais de fonte renovável (insumos biológicos) da série Bornewables™.
Em decorrência da busca, por países e indústrias, por menor pegada de carbono e pela chegada ao estágio NET Zero nos próximos anos, o interesse por polímeros de fonte renovável como a linha de poliolefinas Bornewables é crescente também na América do Sul. A cada quilo de resina da linha Bornewables que produzimos e comercializamos, deixamos de emitir e capturamos em média dois quilos de dióxido de carbono. A propósito, as matérias-primas de fonte renovável da Borealis são de segunda geração, ou seja, não competem com a produção de alimentos.

O crescente excedente global de PP e PE, agravado este ano pela crise econômica da China, confere viés de baixa aos preços internacionais e spreads petroquímicos, cenário que não muda tão cedo. Como a Borealis enxerga a possibilidade de aproveitar o momento para introduzir no Brasil grades importados de PP e PE sem similares locais?

Nossos materiais bimodais possuem propriedades únicas e capacidade para sobressair tecnicamente mesmo em época de superoferta. Por exemplo, na substituição de grades hoje mais caros, como os de PEBD, pelo nosso PEBDL Borstar FB2230. Além da excelência em tecnologia, contaremos com a competitividade econômica oriunda da produção em solo norte-americano (nota: respaldada pela rota acessível do gás natural local). Prevemos que, ainda este ano, os materiais Borstar para filme e sopro estejam desembarcando em todos os portos da América do Sul.
Outra linha da Borealis com perspectivas promissor na região é a de grades para fios e cabos. São soluções reconhecidas no mercado de infraestrutura por garantir alta produtividade e segurança da aplicação a longo prazo por entregarem isolamento elétrico e durabilidade por até 50 anos para a rede de energia. Nossa patenteada tecnologia para fabricação de XLPE (nota: PE reticulado) garante produções mais longas e com a maior eficiência no recobrimento de condutores elétricos. São referências nesse sentido o grade Visico FR4451, para isolamento e cobertura de cabos fotovoltaicos e os compostos da linha Visico LE4423 / Ambicat LE4472, cujos atrativos incluem a possibilidade de produção de fios e cabos com maior velocidade e menos paradas de máquina. Outra vantagem proporcionada por esses materiais é a denominada reticulação ambiente, que elimina a necessidade de processos secundários (exemplo: sauna) e, portanto, diminui significativamente o tempo de estoque e, assim, beneficia o capital de giro dos transformadores clientes.

Borealis sobressai, por sua cultura de sustentabilidade, em projetos de gestão de resíduos e reciclagem mecânica em áreas de expressiva pobreza na África e Ásia. Por que não faz o mesmo em regiões carentes da América do Sul, a exemplo da Amazônia ou do semiárido do Brasil?

O aumento da população global e o crescimento das economias estão gerando mais resíduos plásticos que, combinados com o gerenciamento inadequado de resíduos, resultaram em quantidades incontroláveis de lixo plástico no meio ambiente. Os plásticos desempenham um papel importante na sociedade, com muitos benefícios sociais, ambientais e econômicos tangíveis. São valiosos demais para serem jogados fora. Em vez de acabar como lixo no solo ou nos oceanos, o plástico deve ser reciclado ou reutilizado. Portanto, estamos trabalhando com a cadeia de valor para transformar a atual economia linear do plástico em uma economia mais circular. Nesse sentido, o Fundo Social da Borealis sustenta a classificação da companhia como empresa socialmente responsável. A cada ano, uma parte do lucro líquido do Grupo Borealis é dedicada ao Fundo, com base em regras de alocação claramente definidas. Para maximizar o impacto de seu engajamento social, o grupo definiu três áreas que contribuem para o programa Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU (ODS da ONU): Educação e Integração Social, Água e Energia, e Resíduos e Eficiência de Recursos. O Fundo Social da Borealis estimula o interesse dos jovens pela química e ciência, apoia o sistema educacional para enfrentar os desafios rumo ao desenvolvimento sustentável e integra pessoas marginalizadas e desprivilegiadas.
Outro foco do Fundo é fornecer acesso confiável e acessível à água potável e energia renovável a países em desenvolvimento, sob a égide do programa Water for the World, estabelecido pela Borealis e pela Borouge.
A Borealis também está comprometida com a prevenção de resíduos plásticos no meio ambiente, ajudando a estabelecer sistemas de gerenciamento de resíduos circulares eficientes e de baixo custo em países emergentes. Lançado em 2017 pela Borealis e pela empresa local Systemiq, o Projeto STOP trabalha lado a lado com os governos municipais para criar sistemas eficazes de gerenciamento de resíduos na Indonésia. O STOP é um programa muito ambicioso. Estamos expandindo o escopo do projeto para uma região muito maior do que a atual e o financiamento dessa iniciativa exige que nela concentremos todos os nossos recursos disponíveis. Não podemos implementar um projeto de recursos tão intensivos em várias regiões ao mesmo tempo. Por esse motivo, não planejamos por ora qualquer expansão regional fora da Indonésia.

Quais os principais desenvolvimentos de compostos introduzidos este ano pela Borealis Brasil para aplicações na linha branca e no setor automotivo?

A Borealis Brasil tem contribuído há muitos anos com as questões relacionadas à sustentabilidade desenvolvendo materiais de alta performance e baixa densidade das famílias DAPLEN™ e Fibremod™. Ambas focam a substituição de metal, plásticos de engenharia e até mesmo composto de PP, porém com a possibilidade de redução de peso, eliminação de pintura para peças visíveis, maior liberdade para o desenho de peças complexas entre outras vantagens. Agora o portfólio está mais completo com a incorporação de novos produtos da família Borcycle M. No ano passado, a Borealis Brasil consolidou a localização do produto Daplen EF150HP na nossa região. Ele foi desenvolvido para substituir plásticos de engenharia como o copolímero de acrilonitrila estireno e acrilato (ASA) e copolímero de acrilonitrila butadieno estireno (ABS)/policarbonato (PC) em painéis automotivos externos. Hoje em dia, já é possível verificar grades frontais de alguns veículos produzidos com o produto Daplen EF150HPB, além de para-lamas de caminhões, mérito de atributos como a alta performance mecânica, baixa densidade e possibilidade de uso para peças pintadas e aparentes.
Outro importante lançamento deste ano é Fibremod™ WG202SFB-P001. Trata-se de um composto de PP com dois tipos de carga mineral e concebido para deslocar ABS de componentes eletrônicos. O grade passou no teste de fio incandescente a 850ºC, principal requisito para este tipo de aplicação, e sobressai pela processabilidade, estabilidade dimensional, acabamento e redução proporcionada ao peso final das peças.

Quais as principais melhorias em termos de soluções sustentáveis introduzidas este ano na unidade componedora de 60.000 t/a em Itatiba?

Entre os avanços de práticas ESG já consolidados na planta, destaco o consumo de energia 100% proveniente de fonte renovável e o recente investimento em skimmers (nota: filtros removedores de partículas que devido ao tamanho, dificilmente são retiradas por outros métodos de depuração) para separar pellets em caso de derramamento (controle de saída de água da chuva). É uma medida em linha com o comprometimento de perda zero dos grãos produzidos em nossas unidades. Em frente: a Borealis Brasil faz o tratamento e reusa 100% do efluente industrial e possui sistema de reaproveitamento de água pluvial para fins industriais. Quanto a novos investimentos em ações sustentáveis, assinalo a substituição de cinco coletores de pó por um coletor e de oito compressores, ações justificadas pela eficiência energética. Também foi trocada a bomba de incêndio por um modelo consumidor de menos diesel e, para reduzir o uso de água, o sistema de vácuo cedeu lugar a um tipo seco.
Fora do âmbito fabril, a Borealis Brasil e empresas do entorno estão construindo, via doações, um espaço com a Associação Encosta do Sol para preservação do bicho-preguiça, previsto para ficar pronto em 2024. Fica numa área de mata adjacente ao terreno de propriedade da empresa e nela reside um casal de bichos-preguiça. •

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