5 anos depois

Brasil já recicla mais de 1.1 milhão de toneladas de plásticos
Brasil já recicla mais de 1.1 milhão de toneladas de plásticos

Entre 2018 e 2022, um divisor de águas marcou a reciclagem de plásticos no Brasil. A virada de página foi captada pelas lentes da nova edição da pesquisa anual sobre o setor, lapidada pela consultoria MaxiQuim por encomenda do Plano de Incentivo à Cadeia do Plástico (PICPlast), parceria da Braskem com a Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast). Os números colhidos são superlativos, como evidencia o salto de 46% aferido nos últimos cinco anos na produção de plásticos reciclados pós-consumo (PCR), atingindo a marca de 1.106 milhões de toneladas em 2022, saldo resultante do consumo no processo de 1.722 milhões de toneladas de matéria-prima, inclusos resíduos pós-consumo e aparas industriais. Nesssa pegada, em cinco anos o faturamento bruto do setor pulou 57% e, por tonelada produzida, 42,6%. Nesta entrevista, Solange Stumpf, sócia da MaxiQuim, interpreta os dados do estudo e a densa evolução que deles transparece na cadeia brasileira da reciclagem mecânica.

Em 2022, a produção de PCR somou 1.106 milhões de toneladas x 1.014 milhão em 2021, configurando salto de 46% a partir de 2018. Na mesma pegada, a produção de aparas somou 403.000 toneladas versus 385.000 em 2021, configurando salto de 17,8% a partir de 2018. Devemos esperar ou não por uma quebra nessa trajetória de crescimento linear este ano, devido à morna demanda interna e preços do reciclado (em especial poliolefinas) iguais ou mais caros que o da resina virgem, efeito da sua persistente superoferta mundial?
Sim, a expectativa é de quebra na trajetória de crescimento da produção nacional de PCR. Em 2023, a baixa na precificação das resinas de primeiro uso prejudicou muito a procura pela similar reciclada. Ela não conseguiu reagir à queda da precificação na mesma velocidade. Com isso, a demanda e, consequentemente, a procura por resinas recicladas vem caindo ao longo deste ano. Contudo, no médio/longo prazo, à medida que o cenário econômico e setorial se estabilize, há uma forte expectativa de retomada na reciclagem mecânica.

O estudo lista 711 recicladoras na ativa em 2022, superando o número aferido em 2019 e aproximando-se das 716 empresas em 2018. A seu ver, o PCR mais caro que a superofertada resina virgem a partir deste ano de demanda interna refreada deve influir em declínio do número de recicladoras no Brasil daqui por diante?
Acreditamos que o aumento de empresas de reciclagem se deu por quase três anos consecutivos de mercado aquecido e preços de produtos reciclados em alta. Isso incentivou muitas empresas a entrarem no negócio da reciclagem ou retomarem atividades hibernadas. Em 2023, já detectamos empresas encerrando as atividades por falência ou parando de operar por tempo indeterminado, principalmente empresas pequenas, que trabalham apenas com moagem. Boa parte das empresas do setor de reciclagem não possui fôlego financeiro para manter as atividades com vendas aquém do esperado e estoques altos.

A reciclagem de PET, a resina mais recuperada, atrai bem mais investidores (inclusive novos entrantes na cadeia plástica) no Brasil do que a reciclagem mecânica de PP e PE. O que falta de concreto para a reciclagem de poliolefinas atrair mais empreendedores no Brasil?
O crescimento da reciclagem mecânica de PE e PP depende de disponibilidade de resíduo em quantidade, qualidade e regularidade no fornecimento. Já PET reciclado tem a seu favor a facilidade de identificação e concentração em uma aplicação: garrafas. Além disso, possui um mercado demandante bem desenvolvido e de alto valor agregado, o de bebidas e alimentos. Ele impulsiona o valor em toda a cadeia de reciclagem do poliéster.

Calcula-se que haja em atividade no Brasil cerca de 2.000 extrusoras para reciclagem de resíduos plásticos com vida útil entre 10 e 15 anos. Enquanto cresce a pressão circular por reciclados de qualidade crescente, os preços do reciclado devem seguir mais altos que os da resina virgem e há insuficiência de pessoal qualificado para operar equipamentos atualizados. Como corresponder às exigências de melhora e maior oferta de PCR nessas circunstâncias?
É bom ressaltar que os preços das resinas recicladas, em geral, não são mais altos que os das virgens. Mas há tipos específicos em que a precificação é maior sim, caso dos tipos de alto desempenho. Não consideramos que falte mão de obra qualificada para o setor; historicamente trata-se de uma indústria que treina os operadores conforme a necessidade e, assim, mão de obra especializada não é um gargalo. Além da capacitação de pessoal, o desenvolvimento do negócio de PCR de desempenho e escala elevados no Brasil passa por tecnologia avançada, inovação, programas de logística reversa, disponibilidade competitiva de financiamento e, principalmente, depende de políticas públicas.

A liderança dos sucateiros como fontes de origem de resíduos plásticos (29% em 2022) para reciclagem tende a permanecer inabalável ou a atuação desse atravessador tende a ceder terreno para gestoras de coleta de resíduos, empresas especializadas em logística reversa ou cooperativas formais e apoiadas por brand owners, por exemplo? Qual é a tendência?
Os sucateiros ainda são muito relevantes para a cadeia brasileira de reciclagem de plásticos. Afinal, fazem o elo entre fornecedores menores e a indústria. Hoje em dia, eles agregam valor mais pela escala do que pela prestação de serviços na triagem e beneficiamento. À medida que os sucateiros se profissionalizarem e formalizarem, eles devem perdurar. Por outro lado, aqueles que prosseguirem apenas repassando o resíduo sem agregar-lhe valor, devem dar lugar, no futuro, a empresas mais qualificadas – os chamados gestores de resíduos. Vale ressaltar também que a presença de sucateiros é mais forte para o segmento de PET, resíduo pós-consumo mais reciclado. Além disso, estamos percebendo que muitos sucateiros vêm se formalizando e compondo empresas de gestão de resíduos com know-how logístico.

A liderança dos sucateiros também decorre do seu vínculo com as centenas de milhares de catadores autônomos que respondem pelo grosso da coleta de resíduos plásticos para reciclagem no Brasil. O governo alardeia plano de fortalecer programas de distribuição de renda à população mais pobre. Isso não pode diminuir o recolhimento de refugo por catadores contemplados com esse dinheiro e que deixam assim de percorrer as ruas e lixões?
A coleta de resíduos por catadores autônomos é uma distorção da força de trabalho que deveria ser encarada de frente pelo poder público. Essas pessoas deveriam ter oportunidade de emprego na mesma função e em condições dignas e instituições e/ou empresas. A coleta seletiva, principal origem do resíduo pós-consumo doméstico, é obrigação do governo. No entanto, acaba se tornando fonte de renda ou sobrevivência para parte da população. Os programas de distribuição de renda devem existir, mas teriam que vir junto com um programa de reformulação estrutural da cadeia de coleta de resíduos, a partir da inserção dos catadores autônomos no mercado de trabalho.

Como vê o interesse crescente de transformadores se verticalizarem na reciclagem de suas aparas, deixando de encomendar este serviço a terceiros?
A reciclagem interna de aparas por parte do transformador é uma tendência natural e muito bem-vinda. Quanto mais os transformadores reciclarem suas aparas, mais sobra capacidade instalada para os recicladores trabalharem com PCR, que é o principal foco quando se pensa em sustentabilidade.

No ano passado, PCR de embalagens rígidas totalizou 615.000 toneladas contra 314.000 de resina recuperada oriunda de flexíveis. Como resíduos flexíveis são de coleta mais trabalhosa, reciclagem complexa e menos valorizados pelo catador, quais medidas concretas sugere para ativar o crescimento desse tipo de PCR? Ou a incineração dessa sucata ainda é a saída mais viável?
A reciclagem mecânica de flexíveis ainda tem muito espaço para crescer. Os volumes são elevados, mas os índices de reciclagem ainda são baixos quando comparados aos de rígidos. As medidas concretas são basicamente relacionadas à coleta e à triagem. A valorização e interesse por flexíveis depende da disponibilidade do resíduo em volume e qualidade adequada. Como a coleta não é eficiente, este resíduo não é priorizado. A logística reversa também é uma prática que pode impulsionar a reciclagem desse tipo de material, quando oriundo de resíduo não doméstico. Nesse caso toda a cadeia de consumo tem que atuar para alavancar os volumes. Ou seja, desde a indústria de bens de consumo, empresas de distribuição e de varejo. Ainda há muito espaço para ações neste sentido. A exemplo da reciclagem química, na qual os resíduos flexíveis são os que mais fazem sentido para essa rota e sua recuperação pode desfrutar crescimento sensível, conforme investimentos aconteçam nessa direção.

Em 2022, a reciclagem brasileira de PVC não passou de 26.000 t e a de PS + EPS, meras 30.000 toneladas. Como vê o futuro consumo desses materiais na era da economia circular?
Também são materiais que têm potencial de crescimento na reciclagem. Assim como no caso dos flexíveis, o crescimento orgânico é mais difícil, basicamente pelos mesmos motivos. Devido ao baixo interesse desde a coleta até a reciclagem, são matérias-primas que necessitam de um impulso para desenvolver a reciclagem e ganhar escala. O papel das indústrias petroquímicas e de transformação de plásticos e dos brand owners, é fundamental para estimular o mercado desses tipos de reciclados. Parcerias para desenvolver novas aplicações e para formar uma rede de fornecimento têm sido fundamentais para o incremento do uso de PCR contido em produtos de bens de consumo. •

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