Pesquisa de Opinião

A recente piora das mudanças climáticas deve levar ao surgimento mundial de medidas mais restritivas contra o plástico e/ou deve inspirar novas aplicações do material em linha com o desenvolvimento sustentável?
Pesquisa de Opinião

Daniela Stump Sócia de ESG, Ambiental e Regulatório do escritório de advocacia DC AssociadosDaniela Stump
Sócia de ESG, Ambiental e Regulatório do escritório de advocacia DC Associados

Os países se comprometeram, no âmbito do Acordo de Paris, a adotar ações que objetivam conter o aumento da temperatura média da Terra bem abaixo de 2°C em relação aos níveis pré-industriais, e a envidar esforços para limitar esse aumento da temperatura a 1,5°C. Dentre essas ações, está a imposição de limitação, em seus territórios, das emissões dos chamados Gases de Efeito Estufa (GEE), responsáveis pelo aquecimento global. Estima-se que a produção do plástico seja responsável por aproximadamente 4,5% das emissões globais de GEE. No Brasil, caminhamos para a implementação de um mercado de permissões de emissões de GEE. Nele haverá o estabelecimento de um teto de emissões, a alocação de permissões entre os operadores de fontes emissoras e a possibilidade de transação dessas permissões ou da compensação de parte dessas emissões pelos chamados créditos de carbono. Há oportunidades para a redução das emissões de GEE do setor plástico por meio de práticas voltadas à promoção da economia circular, tais como a aplicação de incentivos à reciclagem mecânica e química, além da aplicação de melhorias no design de produtos e inovações na produção do material, inclusive com o aumento do uso de biomassa como matéria-prima.



Paula Leardini Analista sênior e líder de reciclagem nas Américas da consultoria ICISPaula Leardini

Analista sênior e líder de reciclagem nas Américas da consultoria ICIS

Os benefícios do uso do plástico são claros para os integrantes desta indústria. mas infelizmente, não há esse consenso na sociedade, em especial devido à falta de conhecimento sobre a amplitude das aplicações do material e seu impacto cotidiano. Entretanto, a poluição plástica é uma preocupação central diante dos desafios crescentes relacionados ao meio ambiente e à sustentabilidade. Como resultado, o plástico tem se tornado um alvo evidente da pressão popular por mudanças e soluções, sendo o epicentro das principais medidas restritivas que estão começando a ser lideradas por governos ao redor do mundo.
A questão é que, muitas vezes, essas ações não apenas não conseguem gerar o impacto positivo necessário, mas acabam produzindo resultados adversos. Tais iniciativas não consideram, por exemplo, o ciclo de vida completo dos materiais restritos versus suas alternativas, propondo soluções que podem ser mais prejudiciais ao meio ambiente. Observa-se uma notável falta de compreensão, tanto técnica quanto de mercado, por parte dos legisladores. Eles tomam medidas que, embora possam ser bem-intencionadas, possuem predominantemente um escopo restritivo. Nesse sentido, é essencial a colaboração da indústria com o governo para a identificação de soluções em conjunto.
A boa notícia é que todo esse movimento em prol do meio ambiente também tem gerado inspiração para novas aplicações do plástico. Seja através do design voltado para a reciclabilidade de seus componentes, do desenvolvimento de artefatos transformados com uso de materiais reciclados e/ou de origem renovável, ou através da promoção de produtos que consideram a circularidade, estamos vendo uma mudança na qual o plástico não é mais apenas uma variável econômica, mas passa a ser avaliado em conjunto com as variáveis socioambientais do desenvolvimento sustentável.


 

Adriano Andrade Diretor comercial da Amanco WavinAdriano Andrade
Diretor comercial da Amanco Wavin

Os debates e ações em torno da sustentabilidade, especialmente na construção civil, campo da minha empresa, são uma oportunidade para impulsionar o desenvolvimento de ações e soluções inovadoras. No que diz respeito às mudanças climáticas e a aplicação do plástico, acredito que não seja diferente. O equilíbrio entre essas duas abordagens dependerá da colaboração entre governos, empresas, consumidores e da disponibilidade de tecnologias avançadas, ponto em que podemos fazer a diferença. Com isso em mente, devemos trazer para o mercado de construção conceitos que já fazem parte dessa nova conjuntura mundial, na qual a economia circular e o aproveitamento de matérias-primas renováveis figuram como fator chave para agradar o consumidor, reduzir os custos e tempo de obra e para promover o equilíbrio entre produtividade e respeito aos recursos naturais.
Por atuarmos dentro do setor que é o principal consumidor de PVC, devemos enxergar as mudanças climáticas como uma oportunidade de promover soluções com foco nas cidades resilientes ao clima. Tratam-se daquelas que possuem capacidade de se preparar, responder e se recuperar rapidamente diante de desafios climáticos. Na Amanco Wavin temos a missão de projetar soluções inteligentes para resolver os cinco principais desafios da resiliência climática urbana: inundações, secas, estresse térmico, esgotamento das águas subterrâneas e poluição das águas superficiais. Dentro desses temas, já temos no mercado produtos como QuickStream, sistema de captação de águas pluviais composto por tubos e acessórios de PVC, e AquaCell, solução para gestão de águas pluviais de plástico 100% reciclado.
Assim, nos próximos anos, testemunharemos uma transição interessante: enquanto espera-se que as restrições percam relevância, soluções inovadoras devem colocar em evidência os benefícios já existentes do plástico.


 

Patrick Gulli Diretor comercial da BrasalplaPatrick Gulli
Diretor comercial da Brasalpla

De fato, o agravamento recente das mudanças climáticas está intensificando a pressão contra o plástico na indústria de embalagens rígidas, impulsionado pela crescente consciência ambiental dos danos causados pelo material, como a poluição dos oceanos e as emissões de gases de efeito estufa. Regulamentações mais rigorosas e a demanda progressiva por alternativas sustentáveis também contribuem para esse cenário. No entanto, abre-se uma janela de oportunidade para inovação e desenvolvimento sustentável na indústria do plástico, com notáveis investimentos em capacidade de reciclagem de resina. Além disso, os plásticos possuem propriedades valiosas, como a prolongação da vida útil dos produtos acondicionados e a criação de barreiras eficazes contra contaminações. A adoção de práticas de economia circular e a exploração de aplicações nas quais o plástico oferece vantagens ambientais podem ser parte integral de uma estratégia sustentável para a indústria de embalagens de plástico rígido.
No contexto da Alpla, minha empresa, é essencial reconhecer que estamos na vanguarda do desenvolvimento de soluções sustentáveis, com um foco particular na reciclagem de resina. Nós nos comprometemos a investir em pesquisa e inovação para criar alternativas ‘eco-friendly’ ao plástico convencional. Também estamos prontos para responder de forma ágil a quaisquer medidas mais restritivas que possam surgir. Essa abordagem proativa reflete nosso compromisso com a sustentabilidade e a determinação em contribuir para um futuro mais equilibrado em termos ambientais. Destaco também, neste contexto geral, a importância da conscientização da população quanto ao descarte adequado de materiais, minimizando o impacto da poluição e colaborando para um ambiente mais limpo e saudável para todos. Com isso, buscamos não só manter nossa relevância e competitividade na indústria, mas liderar a transição em direção a práticas mais responsáveis e conscientes.


 

Paulo Carmo Gerente do negócio de embalagens para sistemas de injeção da Husky no BrasilPaulo Carmo
Gerente do negócio de embalagens para sistemas de injeção da Husky no Brasil

Os plásticos vêm sendo objeto de ataque, numa tentativa, proposital ou não, de nomeá-los como os grandes vilões nas questões de sustentabilidade. Uma análise um pouco mais profunda dessas discussões indica que as críticas são baseadas mais em percepções enviesadas e desvinculadas de análises científicas mais profundas. Uma vez que esse assunto é extremamente importante e sensível, não é difícil entender que a definição de um possível ‘culpado’ ganhe logo muitos apoiadores e seguidores, nem sempre dispostos a discussões mais abertas e, novamente, com base científica. Em tempos de mídias sociais, discussões acaloradas e superficiais são o prato do dia.
Se olharmos a questão das mudanças climáticas seria, no mínimo, um despropósito colocar esta conta nos plásticos. Estudos mais recentes, amplamente baseados em dados técnicos e metodologia científica, indicam justamente o contrário. Frente a outros materiais utilizados em embalagens, por exemplo, o plástico é quem demonstra menor pegada de carbono e apresenta os melhores resultados nos estudos de ciclo de vida. Os plásticos podem ser produzidos a partir de fontes renováveis, podem ser reciclados e reutilizados, inclusive em sua aplicação original.
Vale lembrar que os plásticos, mesmo sem entrar no mérito de sua importância para a qualidade de vida (vide materiais descartáveis médicos, embalagens e aplicações técnicas) apresentam uma performance excepcional em termos de reciclabilidade. Ou seja, as discussões acaloradas devem focar-se mais nas questões de coleta e destinação dos materiais plásticos e não simplesmente no resíduo indevidamente descartado no ambiente. Estamos falando então de uma questão de educação e legislação; não é justo que se coloque nos plásticos a responsabilidade que cabe a sociedade como um todo.


 

João Matulja CEO da Vinyl Support Consultores AssociadosJoão Matulja
CEO da Vinyl Support Consultores Associados

A crescente mudança da matriz energética global deve reduzir significativamente, nos próximos anos, o consumo global de combustíveis fósseis. É uma tendência irreversível. apesar de as emissões ainda serem expressivas. Portanto, a pressão das entidades responsáveis pelo acompanhamento das mudanças climáticas e a sociedade como um todo devem continuar atuando e contribuindo para a aceleração desse processo de mudança. Não falamos mais de um processo econômico, mas da sobrevivência do homem nos tempos futuros – na minha opinião, não tão longínquos. As pesquisas nos desenvolvimentos e implantação de fontes de energia alternativas e sustentáveis têm evidenciado progressos relevantes, com taxas de eficiência notáveis, e os exemplos concretos são visíveis no dia a dia.
Quando olhamos para o mundo dos plásticos, constatamos que as pesquisas na busca de polímeros sustentáveis e de eficácia em processos de reciclagem caminham na mesma direção, embora as soluções por ora encontradas ainda não estejam tão avançadas e, na maioria das vezes, mostram-se economicamente inviáveis. Mas acredito que encontraremos soluções a médio prazo.
Observamos notícias de processos de obtenção de polímeros ‘olefínicos’ a partir de suporte de carbono e de etileno proveniente de etanol da cultura da cana-de-açúcar, fonte portanto não fóssil. Também notamos pesquisas no desenvolvimento de processos por biodegradação. Há também progressos visíveis no desenvolvimento de compostos químicos polimerizáveis a partir de biomassa. Por sua vez, corporações produtoras de polímeros plásticos, que precisam manter suas posições de grandes produtores, são diariamente pressionadas e devem encontrar, de forma gradual, soluções mais á frente, caso pretendam continuar a existir a médio e longo prazo. Neste processo, considero também a contribuição dos desenvolvimentos a cargo de grandes centros de pesquisas de materiais. Há poucos anos, por exemplo, não falávamos em despolimerização química de PET. Respondendo, enfim, de forma objetiva a pergunta dessa pesquisa de opinião: creio na tendência do consumo de plásticos de forma racional, ou seja, usos inteligentes e a partir de estruturas poliméricas de alta reciclabilidade – a saber, estruturas químicas estáveis, biodegradáveis e obtidas de fontes não fósseis.
Enquanto esperamos por estes polímeros maravilhosos, só resta uma alternativa: educar nossas sociedades para o consumo consciente, com descarte correto e municípios atuando com eficiência na captação e destinação de resíduos para reciclagem.


 

André Passos Cordeiro presidente-executivo da AbiquimAndré Passos Cordeiro
presidente-executivo da Abiquim

Os plásticos são essenciais para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas e vitais para enfrentar os maiores desafios da sociedade – o que inclui: melhorar os resultados na medicina, oferecer maior acesso a alimentos frescos e saudáveis, bem como garantir higiene e saneamento, sistemas de transporte, infraestrutura e emprego.
Na prática, o plástico, por exemplo, aumenta nossa segurança no deslocamento diário e o torna mais econômico, reduzindo o consumo de combustíveis e, consequentemente, a emissão de gases causadores do efeito estufa/GEE (por tornar os veículos mais leves ao substituir alternativas como metais). Ele também está presente nos materiais da construção civil, que permitem que lugares de clima relativamente inóspito sejam habitáveis, e ainda garante a segurança e saúde das pessoas, quando utilizado como material descartável (uso único) em ambientes hospitalares, reduzindo casos de infecções e prolongamento de internações.
No que se refere às mudanças climáticas, a redução das emissões de gases de efeito estufa é, de fato, um desafio global. Estudos sobre as emissões são um instrumento importante para compreender os impactos dos produtos em termos de carbono. Nesse contexto, em termos de emissões de GEE, é fundamental considerarmos uma avaliação de ciclo de vida dos plásticos perante outros materiais.Ou seja, avaliar seus impactos desde a extração das matérias-primas até o descarte, para que as decisões sejam tomadas de maneira consciente.
Além disso, os benefícios ambientais devem ser considerados pela análise da aplicação do plástico. Ou seja, muitas vezes, a utilização de produtos plásticos influencia os sistemas de forma que o consumo de energia é reduzido, por exemplo, através do isolamento térmico. A eficiência dos recursos também pode ser aumentada, como no caso de embalagens de alimentos que reduzem o desperdício do conteúdo, resultando assim em benefícios ambientais.
Para se atingir as metas climáticas, a implementação de uma economia circular torna-se passo essencial quando tratamos da aplicação e benefícios do uso dos plásticos no que diz respeito à redução das emissões. Segundo estudo publicado pela universidade inglesa Imperial College para plásticos, a reciclagem pode reduzir entre 30% e 80% das emissões de carbono geradas pelo processamento e fabricação de plásticos virgens. Isso ressalta a necessidade de acelerarmos a mudança do sistema de produção linear para um sistema circular, no qual os materiais sejam mantidos na cadeia produtiva e, consequentemente, fora do meio ambiente. Nesse sentido, os plásticos devem ser vistos como recursos valiosos e que podem ser reutilizados em novos produtos.
Vale destacar que a indústria dos plásticos vem em um esforço contínuo para transformar a economia linear tradicional (na qual os plásticos são em geral eliminados ao final do uso original) numa economia circular – um modelo sustentável em que os plásticos permanecem em circulação por mais tempo e são reutilizados e reciclados.
Adicionalmente, a mudança para uma economia circular de fato acontece com um conjunto de ações que envolvem o design de produto, o acesso expandido a sistemas de gestão de resíduos, modelos de reutilização, implantação de tecnologias de reciclagem existentes e inovadoras e mercados de materiais recuperados. A adoção de matérias-primas renováveis é igualmente essencial para completar essa transição. Acreditamos que, uma vez concretizados esse conjunto de ações e a consequente mudança na forma de produção, o futuro de uma economia circular neutra para o clima no que diz respeito aos plásticos estará ao nosso alcance.


 

Gabriel Gonçalves Presidente da UnipacGabriel Gonçalves
Presidente da Unipac

Diante da crescente preocupação global com as mudanças climáticas e seus impactos negativos, é importante considerar como a indústria de plásticos pode se adaptar e contribuir para soluções sustentáveis. Acredito que essa situação de medidas restritivas ao plástico vem impulsionando e estimulando um processo de inovação e criação de mais aplicações sustentáveis para o material. Essa abordagem é essencial para enfrentar os atuais desafios ambientais e econômicos.
Além disso, a inovação na indústria de plásticos vem construindo alternativas sustentáveis e abrindo caminhos, como materiais avançados inovadores, biopolímeros, biodegradáveis, plásticos verdes, o exemplo recente da ‘bactéria do bem’ e tantas outras referências. Este contexto, também estimula novos modelos de negócios circulares, promovendo a reciclagem e reduzindo a dependência de recursos não renováveis e criando oportunidades econômicas.
É importante reconhecer que as restrições não excluem a exploração de aplicações inovadoras e sustentáveis para o plástico em setores como o agronegócio, automotivo e de logística, campos onde minha empresa, a Unipac, atua. Muitas ações estão sendo planejadas e implementadas pela indústria de plásticos e entidades, para promover a reciclagem e o consumo consciente. Nesse sentido, apresento a seguir algumas ações que reforçam o compromisso da Unipac com a sustentabilidade e demonstram seu empenho em promover práticas responsáveis:

  • Programa Pellet Zero – OCS®: adesão voluntária ao programa para prevenir a dispersão de pellets no meio ambiente.
  • Produção de embalagens verdes: retomada da produção de embalagens verdes rígidas, produzidas com PE proveniente de etanol de cana-de-açúcar, reduzindo a pegada de carbono.
  • Inventário de Gases de Efeito Estufa (GEE): realização abrangente desse inventário, incluindo Escopos 1, 2 e 3, para reduzir emissões.
  • Tratamento a Plasma: uso pioneiro no Brasil de tecnologia de plasma em embalagens de defensivos agrícolas, para reduzir impactos ambientais.
  • Investimento em Pesquisa e Engenharia de Materiais: compromisso com inovação e qualidade sustentável.
  • Reconhecimento em responsabilidade social empresarial: Recebimento da Medalha de Prata da EcoVadis (empresa de avaliações de sustentabilidade) na categoria Embalagem.
    Inovação em várias frentes: Projetos premiados, economia circular, veículos elétricos e instalações próximas à linha de envase.
  • Ações alinhadas aos objetivos globais de sustentabilidade: utilização como referência os objetivos de desenvolvimento sustentável da ONU, economia circular e princípios ESG.
    Pilares de Sustentabilidade: processos limpos, produtos sustentáveis, cadeia de valor responsável e conscientização dos colaboradores.

 

Márcio Barela Coordenador de sustentabilidade da CargillMárcio Barela
Coordenador de sustentabilidade da Cargill

Buscar soluções inteligentes e ambientalmente corretas deve fazer parte da rotina de todos os players comprometidos com a sustentabilidade. Na Cargill, minha empresa, temos essa perspectiva muito clara, trabalhando sempre com o propósito de nutrir o mundo de forma segura, responsável e sustentável. Nesse sentido, procuramos produzir mais alimentos com menos recursos ao mesmo tempo que estamos altamente comprometidos com uma produção de baixo carbono.
Em relação ao plástico, entendemos que o material pode trazer diversos benefícios às embalagens. Para nós, seu uso está sempre atrelado a uma estratégia maior, pensando em praticidade ao cliente e que sejam, ao mesmo tempo, opções mais sustentáveis de consumo.
A descarbonização deve acontecer em todas as etapas do sistema produtivo, do campo até a mesa do consumidor. Isso inclui as embalagens. Daí o compromisso de reduzirmos as emissões de gases de efeito estufa (GEE) de nossa cadeia de suprimentos global em 30% por tonelada de produto até 2030, combinado com a meta operacional para baixar as emissões absolutas em 10%. Ela foi aprovada pela Iniciativa de Alvos com Base Científica (SBTi), uma colaboração entre a organização CDP, o Pacto Global das Nações Unidas, o World Resources Institute (WRI) e o World Wildlife Fund (WWF).
Para concluir, na Cargill buscamos alternativas conscientes para otimizar as embalagens – por exemplo, diminuindo a gramatura, repensando o design, alterando o formato quando for possível alguma redução sem impactar na segurança do alimento. Trabalhamos para que nossas embalagens facilitem o processo de reciclagem, ampliando a circularidade e utilizamos a ferramenta de Análise de Ciclo de Vida para conhecermos os impactos de diferentes tipos de materiais e, a partir daí, tomar a decisão de menor impacto na seleção do material – e, muitas vezes o plástico é a melhor solução. Ou seja, substituir o plástico por outro material sem um estudo profundo pode, muitas vezes, aumentar o impacto e emissões de GEE ao invés de reduzir.


 

Paulo Laguardia Superintendente de operações ambientais da Orizon Valorização de ResíduosPaulo Laguardia
Superintendente de operações ambientais da Orizon Valorização de Resíduos

Nos últimos anos, o desenvolvimento sustentável, a descarbonização e a economia circular têm ganhado importância na agenda dos governos, das empresas e da sociedade de forma geral e se apresentam hoje como uma oportunidade única para o desenvolvimento de soluções com benefícios sociais, ambientais e econômicos. A perspectiva mercadológica atual indica que a sustentabilidade é um fator central para criar vantagens competitivas e reduzir riscos, sendo que esta mudança de paradigma deve ser impulsionada pela inovação e refletida em compromissos genuínos e incentivos e regulações claras e efetivas.
Para ilustrar a importância da sustentabilidade nos processos de inovação, alguns autores se referem ao conceito de ‘ondas de inovação’. Ele descreve a transformação a níveis tecnológicos e sociais, considerando uma perspectiva histórica e indicando que têm existido seis ondas de inovação. A última delas é a da sustentabilidade. Neste contexto, o desenvolvimento de novas aplicações, formas de produção, recuperação e reaproveitamento de materiais alinhados com o desenvolvimento sustentável têm o potencial de gerar ainda mais valor para os consumidores, para o negócio e todas as partes interessadas envolvidas.
A ‘eco-inovação’ configura o conceito que abrange tanto a sustentabilidade como a inovação. Ela é definida como o tipo de inovação que incorpora a sustentabilidade em todas as operações, baseando as atividades numa mentalidade de ciclo de vida e promovendo a cooperação com diferentes atores na cadeia de valor. Esse conceito apresenta oportunidades para novas soluções, produtos, serviços, processos e estruturas que levam às organizações a ganhar em desempenho e competitividade. A eco-inovação possui o potencial de transformar a forma em que as organizações inovam e se desenvolvem dentro de um mercado no qual a sustentabilidade, a descarbonização e a economia circular são conceitos chave no âmbito da análise de riscos e estruturação de vantagens competitivas.


 

Paulo Francisco da Silva CEO da consultoria Agora Vai BrasilPaulo Francisco da Silva
CEO da consultoria Agora Vai Brasil

Podemos esperar ações intensas nas duas frentes propostas na pergunta dessa pesquisa. Num primeiro momento, todas as autoridades entendem ser ‘mais fácil’ proibir o uso de plástico, como se assim o problema simplesmente desaparecesse, o que é por si só uma falácia. No mundo inteiro, centros de pesquisa estão empenhados em buscar o santo graal do universo petroquímico que lhes trará fama, reconhecimento na esfera acadêmico e, sim, muitos recursos financeiros. Na parte das proibições, é travada uma queda de braço entre o setor plástico e os ambientalistas de ocasião que falam, esbravejam e de concreto nada trazem, aliados por vezes a outros sindicatos e associações dos chamados materiais alternativos que, por vezes, têm uma pegada de carbono muito maior que a dos polímeros.
Além disso o plástico é a parte visível de uma problema muito maior e mais sério: a poluição química através de princípios ativos utilizados nos mais diversos tipos de medicamentos de uso constante pelas populações mundo afora e que passam por nossos corpos, são excretados e vão parar nos rios, lagos e mares, gerando outro tipo muito sério de contaminação (assunto para outra pesquisa de opinião).
Na parte das tecnologias para aprimorar as maneiras e formas de reciclar, temos os separadores óticos de alta precisão e produção, tanto de peças, como os moídos em forma de flake. Temos conjuntos de descontaminação com tratamentos e reúso de água, garantindo reciclados sem odor e com o emprego de uma gama de aditivos certos e de excelente qualidade.
A cada ano são lançados aprimorados equipamentos de produção para reciclados, visando o trabalhar com materiais mais complexos, com volumes e qualidades cada vez mais aperfeiçoados.
Existem, por sinal, linhas de bactérias que estão sendo artificial modificadas em suas cepas e já mostram resultados muito bons na recuperação de polímeros em testes de laboratório e de campo. Desse modo, a reciclagem de resíduos plásticos caminha com rapidez para três tipos: mecânica, química e bacteriana. Em nível acadêmico já existem três tipos diferentes de bactérias que conseguem pegar e quebrar as moléculas de PET, separando os tereftalatos e outros óleos de grande consumo na indústria petroquímica. Uma delas consegue fazer isso em ambiente marinho, no meio de água salgada. Outro tipo executa o mesmo trabalho em ambiente controlado, como numa fábrica, e a última bactéria desse rol foi desenvolvida para fazer isso em solos como o de aterros, gerando gases para a alimentação de turbinas geradoras de eletricidade.
É a ciência e a persistência dos técnicos e pesquisadores aplicando a máxima ‘se a vida lhe der limões, faça pelo menos uma boa limonada.’


 

Fernando Madureira COO do Grupo MetalmaFernando Madureira
COO do Grupo Metalma

Com o agravamento da situação climática mundial, as campanhas condenando ou apontando o plástico como um dos vilões do meio ambiente devem ficar mais abrangentes para os alarmistas de plantão. Os discursos midiáticos de empresas supostamente preocupadas com o ecossistema deixarão de ser apenas marketing. Elas passarão a ser cobradas com ações concretas e prazos para se adequarem à nova realidade, através de legislações sobre o tema, estratégias ESG e da postura de uma sociedade muito mais antenada e disposta, na medida do possível, a adquirir produtos com embalagens que trazem de fato inovações e traduzem a preocupação de não se continuar poluindo a natureza.
Um equívoco comum: achar que materiais como vidro, alumínio e papel são inerentemente mais sustentáveis que plásticos. Ao contrário, resinas como as estirênicas têm vantagens ambientais (como reciclabilidade) significativas. São, muitas vezes, uma solução mais amiga do meio ambiente que materiais não plásticos. Por exemplo, a resistência mecânica e propriedades de barreira de PS permitem seu uso como uma única camada em aplicações. As alternativas a ele em regra são empregadas em várias camadas que não podem ser adequadamente separadas para viabilizar uma reciclagem mecânica bem sucedida. Além disso, a leveza do polímero reduz seu impacto climático – EPS, por exemplo, tem cerca de 98% de ar! O melhor de tudo é que trata-se de material reciclável.
Existem linhas de produtos criada com materiais reciclados e bioatribuídos que têm uma pegada de gases com efeito de estufa mais baixa que alternativas feitas a partir de matérias-primas fósseis. Fecha-se o ciclo com a prevenção de resíduos e reciclagem, permitindo que o ciclo de vida deste valioso material seja infinito. Para ser reaproveitado e reutilizado por várias vezes.
Hoje em dia, o mercado dispõe de diversas vias de reciclagem: reciclagem mecânica, por dissolução, por despolimerização, pirólise, gaseificação e, por fim, as soluções bioatribuídas, usuárias de matérias-primas não fósseis para sua composição. Tratam-se de tecnologias com um grande propósito: contribuir com a redução da pegada de carbono e, por extensão, aumentar a circularidade.


 

Irineu Bueno Barbosa Junior Diretor comercial da Global PET Reciclagem S.A.Irineu Bueno Barbosa Junior
Diretor comercial da Global PET Reciclagem S.A.

Os plásticos sofrerão, sim, muitas ações restritivas, já em curso em diversas partes do mundo. E não há nada de mal nisso. Ao contrário, explico: em alguns casos, a sociedade ainda tem de repensar seu relacionamento com as embalagens plásticas. Usufruir a segurança, economia e conveniência do uso de materiais plásticos carrega o compromisso de se tratar esse material como matéria-prima e não como lixo. Descartar corretamente produtos plásticos que já cumpriram sua função inicial é a contrapartida exigida, mas nem sem honrada, do consumidor que se aproveitou de todos esses benefícios.
Também observo com muito otimismo os diversos ataques sofridos pelos materiais plásticos por duas razões, em especial. A primeira delas é que provoca repulsa dos especialistas o sem número de agressões com base em ‘estudos sérios que acabaram de ser divulgados em um reino distante’. Quando leio matéria que coloca os plásticos injustamente como causadores de um potencial apocalipse terrestre, eu busco pelo artigo que deu origem àquela conclusão. Mas o que normalmente encontro são outras matérias citando artigos que nem de longe podem ser considerados definitivos.
A segunda razão pela qual se deve agradecer as críticas aos plásticos é que estar sob constante ameaça provoca autocrítica e promove inovações importantes em qualquer setor. Portanto,ter toda a sociedade monitorando e cobrando oportunidades e necessidades de melhoria dos plásticos é um excelente promotor de inovações. Estar constantemente em alerta e fora da zona de conforto é uma forma de acelerar soluções e adaptações para a sobrevivência numa sociedade em constante evolução.
Então, a resposta para a pergunta dessa pesquisa de opinião é: sim e sim. As mudanças climáticas irão acelerar as medidas mais restritivas contra todo e qualquer plástico (seja essa uma conclusão correta ou não) e, sim, esse chacoalhão está acelerando diversas soluções sustentáveis para o material – desde alternativas biodegradáveis para artefatos de uso único até modernos sistemas de reciclagem para os produtos mais sofisticados.


 

Marcelo Nicolau Diretor presidente da CipatexMarcelo Nicolau
Diretor presidente da Cipatex

Cerca de 86% das emissões mundiais de dióxido de carbono provêm da queima de combustíveis fósseis, para geração de energia e materiais. Dessa forma, não vejo relação direta entre as mudanças climáticas (aumento das temperatura) e a produção de plástico. De acordo com a Wikipédia, o primeiro plástico (baquelite), foi inventado em 1907, em Nova York, por Leo Baekland. Desde então, o plástico evolui e contribui para o progresso da humanidade, aumentando sua qualidade de vida e longevidade. Ele está presente em todos os setores: saúde, agricultura, vestuário, construção civil, embalagem, transportes, alimentação, energia, serviços, cinema, esporte etc. O mundo não vive sem plásticos.
O plástico, na verdade, é um aliado para atingir a neutralidade na geração líquida de gases de efeito estufa até 2050. Por ser leve, versátil e duradouro, contribui para reduzir a queima de combustíveis fósseis na indústria de transportes, para conservar eletricidade em residências e escritórios, para produzir energia eólica offshore (alto mar), entre inúmeros outros exemplos. Ou seja, ele é fundamental para termos um mundo menos quente e mais amigável para se viver.
A preocupação maior com o plástico está ligada à questão do descarte. A adoção de práticas e soluções alinhadas com o desenvolvimento sustentável já é uma realidade. E ela deve se intensificar na cadeia produtiva do plástico. Entre as fortes iniciativas nesse sentido, estão a economia circular, logística reversa, otimização de processos, reúso da água, e utilização de matérias-primas, combustíveis e energia de fontes renováveis.
Para acelerar a separação, coleta e reúso de resíduos plásticos, deveria haver incentivos e penalidades. O ser humano, na maior parte das vezes, muda pela dor ou amor. Quando se mexe no bolso, dando um incentivo a quem separa e destina corretamente, ou se cobra de quem não age assim, as mudanças ocorrem com mais velocidade.
Dessa forma, vejo o plástico ainda mais presente no futuro da humanidade, como grande contribuinte para melhoria das condições climáticas, um material em linha com o desenvolvimento sustentável do planeta.

 

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