Pedra cantada

Estrelato da resina reciclada começa a transfigurar a distribuição

Os distribuidores brasileiros de resinas são, em geral, maduros o suficiente para lembrar como as petroquímicas proibiam terminantemente, poucas décadas atrás, que comercializassem plásticos reciclados. O mercado os associava a lixo e torcia o nariz para suas características técnicas chinfrins. Razões de sobra para produtores de resinas virgens temerem que a imagem de seus produtos fosse infectada pela coexistência com os desprezados reciclados nos portfólios de seus agentes oficiais. Pois a julgar pelo calor hoje emanado da pregação da sustentabilidade, eis que um lugar nobre caminha, com palmas e hurras das petroquímicas, para acomodar os reciclados nos catálogos dos distribuidores de plásticos, uma remexida que tende a alargar o foco deles, até aqui concentrado na revenda e ponto final.

“Isso já começa a acontecer”, percebe Wilson Cataldi, sócio executivo da mega distribuidora Piramidal. “Por exemplo, a Unigel já nos abriu a distribuição de seu blend de poliestireno (PS) virgem com pós-consumo reciclado, produto ainda recente na praça e de maturação demorada”, pondera o agente. “Lógico que sua produção ainda é tímida, mas trata-se da venda de um conceito: o do valor agregado conferido pela oportunidade dada ao cliente de provar ao mercado seu engajamento no desenvolvimento sustentável”.

Cataldi nota que o plástico reciclado pós-consumo (PCR) servido pelas petroquímicas é mais caro que a resina virgem, decorrência da escala limitada, reciclagem de alto nível e comercialização em total formalidade. “Ou seja, é um material fora da moldura do tradicional reciclado de qualidade sofrível, movido apenas a preço e, não raro vendido no paralelo por recicladoras micro e pequenas”. Em suma, diz, é um outro patamar de negócio para o distribuidor. “Em outro caso recente, a Braskem nos incumbiu de suprir sistemistas de uma indústria de cosméticos com um volume menor de seus grades de PCR para o desenvolvimento de uma embalagem”, ele ilustra. “Fica claro, portanto, que esse mercado não arranca da noite para o dia, mas o PCR veio para ficar na realidade da distribuição”.
Pelo andar acelerado da carruagem, pressente Cataldi, as petroquímicas não tardarão a suprir distribuidores com blends de resina virgem e reciclada classificados como materiais standard e de oferta constante. “Esse movimento fará subir a régua da qualidade do PCR no plano geral, pois o material das petroquímicas é de alto padrão e transacionado com lisura fiscal”, justifica o dirigente da Piramidal, confiante também em preços do PCR mais acessíveis à medida em que sua produção aumente ao sabor da vibração da demanda.
A Piramidal já demonstra como o verde status do PCR pode alargar o horizonte da distribuição. “Estamos implantando uma unidade de negócio dedicada à economia circular”, anuncia Cataldi. “Seu líder estará incumbido de farejar oportunidades em todas as frentes dessa área, caso da logística reversa, biopolímeros, e PCR”.

Bem no início de sua ascensão no varejo do plástico, Cataldi teve uma passagem pela produção de reciclados, experiência que não vê como ser reprisada na Piramidal “Hoje em dia, porém, a economia circular torna plausível um distribuidor atuar na reciclagem”, considera Cataldi. Entre os distribuidores no Brasil, reitera, já há quem demonstre nítida vocação industrial, produzindo PCR. “Como a vocação da Piramidal é a área comercial, a opção de ingressar na reciclagem em parceria com um reciclador nos soa mais atraente. Aliás, essa possibilidade integra as atribuições da nova unidade de economia circular”.
Laercio Gonçalves, CEO da Activas, chuteira de ouro da distribuição de resinas, também considera pedra cantada a concretização, ativada pelo breviário da sustentabilidade, do convívio de resinas virgens com PCR e plásticos biodegradáveis nos estoques da distribuição. “Os mercados para resinas de primeiro e segundo uso não colidem e ditarão as regras, cabendo ao distribuidor atender as duas demandas”, ele julga, confiante também que os grades de PCR assinados por petroquímicas contribuirão para firmar o reciclado como um produto de qualidade e, assim, alargar seus volumes e valorizar suas aplicações.

“Os tempos são outros, tudo está mudando”, ele constata. Vestindo a camisa da nova mentalidade, a Activas, que já comercializa PCR de poliolefinas da Braskem e de PS da Innova, conquistou a distribuição de compostos e masters formulados com o bioplástico ácido polilático (PLA) pela unidade paranaense da componedora norte-americana Earth Renewable Technologies (ERT). “Também firmamos acordo para reservar uma extrusora da empresa de engenharia circular Bomera, em São Paulo, para fornecer PCR de qualidade encomendado pela Activas”, informa o dirigente. “O plano é estender esse tipo de parceria a recicladores de outras regiões onde temos centros de distribuição”.

Além de revender resinas, à frente de sua distribuidora Fortymil, Ricardo Guerreiro Mason preside a recicladora Plastimil. Ele reconhece a possibilidade de interação crescente entre essas duas áreas, nas pegadas do desenvolvimento sustentável, mas encara a tendência com cautela. “Distribuir e produzir são negócios bem diferentes”, ressalta. “ A junção deles vai depender muito do volume a produzir e do mercado a atender, pois o tempo de retorno do investimento necessário pode não ser atraente”.

Mason acredita que, a médio prazo, resinas PCR possam figurar no prateleira de grades standard de distribuidores. “ A questão a ser observada é para qual perfil de cliente essa resina será comercializada”, coloca. “Se falarmos de reciclado commodity de baixo valor agregado, não há muito espaço para o distribuidor trabalhar, pois o próprio reciclador acessa o mercado diretamente e não existem volumes excessivos a serem realocados em grande escala por um distribuidor, cujo custo de agenciamento também pode inviabilizar a operação”. Mas a música é outra no caso de um grade de PCR específico e homologado em alguns clientes. “Aí sim, o canal de distribuição pode ser utilizado para atender transformadores menores”, reconhece Mason, engrossando o coro da inexistência de competição entre resina virgem e reciclada. “São produtos complementares e há espaço para ambos”.

Rodrigo Brayner Fernandes, diretor da distribuidora Eteno assina embaixo. “Não há concorrência, como demonstram portfólios de distribuidores com PCR ao lado de grades virgens”, argumenta, inserindo que o mercado da distribuição ainda está se familiarizando com o reciclado e desenvolvendo suas aplicações. “Os dois materiais tendem a ocupar seus espaços conforme a evolução do tema da sustentabilidade circular na sociedade”, argumenta. Nesse contexto, arremata, as petroquímicas terão um papel crucial, “pois a melhora da qualidade do PCR depende de quem possui escala e e capacidade para investir em P&D”. •

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