Andando no fio da navalha

Tubos prediais sob o fogo cruzado das vendas em alta e insuficiência de PVC, expõe diretor da Plastilit
Feuerschuette Neto: custo do tubo carro chefe da Plastilit é hoje duas vezes maior que preço de venda em 2019.

Destrinchado pela Fundação Getúlio Vargas, o Índice Nacional de Custos da Construção (ICC) aumentou 1,69% em outubro contra 1,15% em setembro. No frigir dos ovos, é a maior taxa mensal aferida para o índice em cinco anos e configura um aumento acumulado de 6,34% nos 10 meses iniciais neste pandêmico 2020. Os itens mais influentes no resultado de outubro, distingue a FGV, foram tubos conexões de PVC, com custos então reajustados em 16,28%. No pano de fundo desse encarecimento pulsa uma conjuntura de insuficiência e precificação do polímero jamais vivenciada pelos transformadores de tubos, constata nesta entrevista Ruy Feuerschuette Neto, diretor comercial da paranaense Plastilit, dínamo deste setor na veia jugular do consumo do vinil.

A oferta de PVC segue restrita enquanto o distanciamento social e o auxílio emergencial turbinam as vendas de materiais de construção. Como a Plastilit tem agido para atender a contento a demanda aquecida por seus tubos prediais ?
A oferta de resina de PVC sofre séria crise de escassez no Brasil e no mundo. A Plastilit sempre prezou pelo ótimo relacionamento com os fornecedores da resina e, dessa forma, estamos sendo atendidos dentro da capacidade disponível dos fabricantes no país. Em paralelo, iniciamos alguns processos para importar o vinil para reforçar nosso abastecimento. No entanto, devido à procura aumentada também no exterior, os prazo de entrega dessas compras andam mais dilatados.

No período inicial da crise da pandemia, procuramos manter os níveis de estoques de produtos acabados dentro de um limite de segurança, um ponto a favor da qualidade da entrega dos pedidos num prazo adequado. Porém, a crise da disponibilidade de PVC intensificou-se durante setembro e outubro, levando-nos a praticar prazos de entregas mais longos que o normal.

32 anos de ativa calejaram a Plastilit com o vaivém da economia brasileira. Quais os ensinamentos de crises passadas que têm ajudado a empresa na conjuntura nervosa dos tubos vinílicos hoje em dia?
É sempre muito importante monitorar os custos fabris, administrativos e comerciais e agilizar tomadas de decisões. Ainda mais num cenário em que, desde julho, o preço de PVC tem subido de forma bastante significativa em toda virada de mês. A engenharia dos custos das formulações dos produtos deve estar muito assertiva e a equipe de “pricing” muito atenta, de modo que as constantes variações das altas da resina sejam corretamente simuladas para gerar informações confiáveis para a revisão de nossos preços de venda. Aumentos mensais da matéria prima, da ordem de 15% a 25% que temos recebido, são bastante nocivos para a saúde da empresa, caso a gestão fique longe. Por exemplo, o tubo de maior representatividade no nosso faturamento tem seu custo hoje quase duas vezes maior que seu preço de venda de um ano atrás. Portanto, torna-se fundamental para a sobrevida do nosso negócio a confiabilidade e antecipação dos resultados mensais contábeis, em particular neste momento de frequentes variações.
Reconheço ser difícil para o cliente se habituar com esse novo patamar de preços, mas é a realidade do nosso segmento. As reduções de gastos de fabricação com melhorias de eficiências em todos os setores são fundamentais para minimizarmos o impacto dos altos reajustes da resina.

Construtoras alertam para a inflação no custo dos principais materiais, entre eles tubos de PVC.  Como a Plastilit tem adequado sua política de vendas aos sucessivos reajustes nos preços do vinil?
O encarecimento da resina tem transcorrido de forma muito atípica, numa proporção e intensidade nunca vistas. Não existe mágica. A Plastilit tem absorvido custos, mas obrigatoriamente repassa nos preços de seus produtos os índices condizentes com o aumento da matéria prima. Mantemos a clareza e honestidade na comunicação com representantes e clientes quanto aos aumentos nos preços de PVC, variável sobre a qual não temos controle e influenciada pela alta do preço internacional. Nossa política de vendas tem sido adequada em função da escassez da resina, porém sempre visando que todos os clientes possam ser atendidos.

Impelidos pelo câmbio, têm sido constantes os reajustes nos insumos, encarecendo por tabela os materiais de construção. Mesmo assim, as vendas desses produtos continuam em alta embora o dólar desfalque o poder aquisitivo do consumidor. Por que esse aquecimento se mantém inabalável?
O auxílio emergencial distribuído pelo governo e a procura das pessoas por uma melhoria no bem estar sob o confinamento são os fatores chave da aceleração da demanda de materiais de construção este ano. Aliadas a isso, as restrições no consumo de segmentos como viagens e lazer ajudam a concentrar maior escoamento de recursos para reformas residenciais e projetos de vida que envolvam a construção civil. Outra mola propulsora dessa demanda em alta são os juros baixos para a captação de recursos para lançamentos imobiliários.

Como a escassez de PVC virgem afeta os transformadores menores de tubos? Como eles procuram driblar a carência e encarecimento de PVC virgem?
O incremento de crédito para compra de matéria prima junto aos fornecedores constitui uma barreira a ser vencida pelas industrias menores, pois PVC já acumula índice de reajuste superior a 100% em 2020. Manter uma indústria em pé sem conseguir operar constantemente é um grande desafio. Infelizmente, a tendência é essas industrias saírem do mercado, ao menos de forma pontual.

Indústrias menores podem recorrer a ações como produzir fora das normas para driblar a falta e encarecimento de PVC virgem. Qual a possibilidade disso comprometer a imagem de qualidade certificada do setor de tubos como um todo?
Esse ponto requer muita atenção. A verificação da qualidade dos produtos deve ser intensificada pelos clientes e órgãos fiscalizadores, pois a resina virgem está muito escassa. O segmento em que a Plastilit atua é regido pelo Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade do Habitat (PBQP-H). Através das auditorias realizadas nos produtos coletados em fábrica e no ponto de venda são aferidos os requisitos de desempenho que comprovam o atendimento às necessidades dos usuários e não prejudicando a isonomia competitiva técnica entre fabricantes. O consumidor pode monitorar o desempenho das empresas através dos relatórios divulgados na página do PBQP-H na internet.

Com dólar caro e instável, desemprego recorde, fim do auxílio emergencial e erradicação indefinida da pandemia e disponibilidade incerta de PVC, qual a expectativa da Plastilit para o mercado interno de tubos prediais em 2021?
A Plastilit acredita no crescimento do país. O Brasil passou por um longo período de estagnação na construção civil. Existe uma demanda reprimida de déficit habitacional. O último momento de maior aceleração foi há quase 10 anos, quando boa parte da população teve oportunidade e adquiriu casas próprias. O que vimos no final de 2019 e início deste ano era uma sinalização positiva de retorno da movimentação de consumo de materiais de construção, seja para manutenção dos imóveis adquiridos há algum tempo ou até para a compra de uma nova propriedade. A pandemia tem influído em métodos de trabalho e formas de convivência com maior afastamento entre as pessoas. Isso tem convergido para a busca de melhor qualidade de vida, também refletida na adaptação do lugar para morar e trabalhar, requerendo muitas vezes reformas ou novas construções. Diante desses sinais, a demanda de tubos prediais de PVC em 2021 tende a perder para a intensidade do momento atual, mas ainda assim deve superar o saldo registrado nos últimos anos. O desempenho da construção civil vai ajudar muito a movimentar o país e reduzir o índice de desemprego. O governo está atento a isso. •

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