Respiro providencial

Retirada de antidumpings facilita importações de PVC da China e Coreia do Sul

Cliente preferencial de PVC nacional, um gigante dos tubos e conexões correu atrás, sob a alegria atual nos canteiros de obras, de resina importada para fechar a lacuna em sua produção, escancarada pela insuficiente oferta doméstica do vinil. Saiu de mão abanando na peregrinação pelas revendas, pois a carência do polímero é global. Em meio a esse exemplo de sufoco no ramo, pinta um respiro conseguido junto ao governo pela Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast): o encerramento das medidas de antidumping contra importações de PVC da Coreia do Sul e a suspensão provisória do renovado direito de antidumping contra a China, esta deferida para aferição de dano à indústria doméstica. “Devido à pandemia, hoje há um desbalanço mundial entre oferta e demanda de matérias-primas plásticas, em especial PVC”, pondera José Ricardo Roriz Coelho, presidente da Abiplast. “O fim desses dois antidumpings trará aos transformadores mais possibilidades de buscar ofertas da resina, mas seus preços elevados permanecerão até esse desequilíbrio conjuntural entre disponibilidade e demanda ser resolvido. Ou seja, a retirada dessas medidas não é solução para o momento, mas decerto melhora o cenário”.

Devido ao antidumping renovado há mais de duas décadas, as importações brasileiras de PVC dos EUA são limitadas e, em decorrência, predominam os desembarques no país de resina da América Latina, Europa e Ásia. Há bom tempo a Abiplast contesta direitos antidumping concedidos pelo Brasil a PVC de diversas origens e o desfecho dos processos envolvendo o polímero chinês e sul coreano é o primeiro a não resultar em indeferimento. “Na análise técnica ficou claro que a retirada do antidumping contra a resina sul coreana não ocasionaria importações danosas à petroquímica nacional, enquanto no caso da China as avaliações deixaram dúvidas entre as autoridades na investigação e daí a decisão de renovar este antidumping com concomitante suspensão”, explica Roriz. Com a vigência do ambiente sem sobretaxas, ele completa, o governo poderá verificar se haverá ou não o retorno de importações nocivas à produção nacional do vinil, a cargo da Braskem e Unipar Carbocloro, totalizando capacidade nominal de 1.010.000 t/a. Sua produção foi avariada pelo desastre geológico em Maceió (AL) que afetou o complexo de cloro e soda cáustica da Braskem.

ICIS

Barreira do frete

A retirada dos antidumpings para importações brasileiras de PVC sul coreano e chinês esbarra numa sequela do corona: o encarecimento (em dólar) e escassez de fretes saídos da Ásia. De acordo com o portal britânico Icis, a disponibilidade reprimida do transporte marítimo tem resultado em atrasos no envio e, no caso dos EUA, em custos na faixa de US$ 4.500 para um container despachado do sudeste asiático. Segundo um trader entrevistado, o frete para PVC da Ásia já subiu perto de 150% este ano e, pela lupa do Icis, o transporte da Ásia para a costa sul-americana do Atlântico ronda a casa de US$ 3.500 por container, cifra que o portal traduz no acréscimo de US$150 por tonelada de resinas como PVC.

Monitoramento da consultoria inglesa Platt’s demonstra que, na semana de 20 a 27 de maio último, o preço internacional da tonelada de PVC variou de US$ 695 a US$ 705, tendo hiper inchado à faixa de US$ 1.395 a US$ 1.405 entre 12 e 18 de novembro. Em relatório de 11 de novembro sobre o mercado latino-americano de PVC, a Platt’s distingue a resina brasileira como a mais cara do planeta. “Na série de acompanhamentos de cotações empreendida pela Abiplast com base em referências dos EUA, Ásia e Europa, o preço do PVC brasileiro é sempre o mais alto do mundo”, confirma Roriz. Conforme assinala, os preços no mercado doméstico são ajustados considerando-se o preço internacional com todos os custos de internação (custo de oportunidade em se adquirir PVC no mercado interno ou externo) e uma taxa de conforto, devido à compra de produtos no Brasil. “Essa é a forma da petroquímica manter seus spreads de operação acima do índice internacional”, complementa o dirigente, encaixando a propósito que a consolidação do setor petroquímico nacional transcorreu sob as maiores taxas de importação do mundo e antidumpings perenes. “A queda dos mecanismos de defesa comercial tende a mudar esta questão estrutural do setor”.

Roriz informa estar em curso o processo de revisão do antidumping contra polipropileno (PP) importado da África do Sul, Coreia do Sul e Índia. “Também se espera para o final do ano o resultado do processo de análise de interesse público das importações da resina desses três origens e dos EUA”, ele acrescenta. “A Abiplast participa dos processos de revisão contribuindo com dados e mobilizando o setor para auxiliar o governo a avaliar os casos da melhor forma possível. Nosso papel é prover elementos técnicos comprobatórios dos efeitos danosos do antidumping na economia do país”. A partir do segundo semestre de 2021, adianta o dirigente, em caso de solicitação dos produtores locais das resinas, a Abiplast se prepara para participar da abertura de mais processos de investigação visando renovar os antidumpings contra PP dos EUA (caso o direito não seja este encerrado este ano por conta do interesse público); PVC dos EUA e México e PET da Índia, China e Taiwan. •

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