Ráfia: Packem ingressa na reciclagem de PET

Empresa se verticaliza na matéria-prima para seus big bags e vai competir no mercado do poliéster recuperado
Big Bags: produção interna mobiliza 30% da capacidade da recicladora Packem Ween.
Big Bags: produção interna mobiliza 30% da capacidade da recicladora Packem Ween.

Única indústria brasileira de big bags com presença internacional, devido à planta em joint venture na Índia, a catarinense Packem retoma a condição de ponto fora da curva no ramo, esticando o braço na reciclagem de garrafas PET para alimentar sua capacidade de big bags e entrar na comercialização para terceiros do excedente reciclado, incluso o tipo de grau alimentício. Com sua operação sobre estas vigas mestras, a recicladora Packem Ween foi inaugurada em 4 de abril em em Curitiba e, em linha com essa estratégia , a indiana Packem Umasree integra em seu complexo, também em meados de abril, e sua produção de big bags com a reciclagem de PET, comenta na entrevista a seguir Eduardo Neto, CEO da Packem.

Eduardo Neto: investimento de R$ 70 milhões zera dependência de PET reciclado de terceiros.
Eduardo Neto: investimento de R$ 70 milhões zera dependência de PET reciclado de terceiros.

Quais as motivações para a Packem investir na reciclagem de garrafas PET em lugar de adquirir a resina já recuperada para a confecção de seus big bags?

As razões são multifacetadas; englobam aspectos funcionais, logísticos e econômicos. Aqui vão eles:

Funcionalidade e capacidade de reciclagem insuficiente: A decisão de internalizar o processo de reciclagem de PET surge da constatação de que, apesar de dispor de ampla capacidade de coleta e segregação dos resíduos do poliéster nas residências e indústrias, o Brasil enfrenta um gargalo na capacidade de reciclagem efetiva do material. Isso significa que, mesmo que grande quantidade das garrafas vazias seja coletada e segregada, não existe infraestrutura de reciclagem suficiente para processar todo esse volume. Ao estender suas operações para incluir a reciclagem de PET, a Packem busca preencher essa lacuna, aumentando a capacidade de reciclagem do país e assegurando uma fonte mais estável e controlada de PET reciclado para seus processos produtivos.

Logística e verticalização: Dos pontos de vista logístico e estratégico, ao internalizar a reciclagem de PET, a Packem pode gerenciar melhor a cadeia de suprimentos, reduzindo dependências externas e possíveis flutuações de mercado no fornecimento da resina reciclada. Essa verticalização do processo produtivo não apenas assegura um suprimento constante de poliéster para segundo uso, como permite um controle mais rígido sobre a qualidade do reciclado, algo crucial para a produção de big bags que atendam aos padrões de qualidade exigidos pelo mercado e pela própria Packem.

E por que a nova recicladora também não trabalha com sucata de polipropileno (PP), já que a Packem também produz big bags desta resina?

Em relação à reciclagem de PP e sua aplicação na produção de big bags, a Packem enfrenta limitações específicas que tornam o PET reciclado uma opção mais viável. Hoje em dia, big bags de PP com conteúdo reciclado podem incorporar teores de  apenas  30% a 50% de material recuperado, devido a questões relacionadas às propriedades do polímero. Essa limitação na proporção de conteúdo reciclado afeta a performance e a qualidade final do produto, o que não ocorre com o PET reciclado, com o qual é possível atingir 100% de conteúdo, mantendo ou até melhorando a qualidade do produto final. Portanto, a escolha de focar nos processos de reciclagem de PET reflete uma estratégia para superar as barreiras técnicas e qualitativas associadas ao uso de PP reciclado em seus produtos.

Em resumo, a decisão da Packem de investir na reciclagem de PET em detrimento da aquisição da resina recuperada no mercado, assim como de expandir suas operações para incluir este processo em vez de trabalhar com sucata de PP, está fundamentada na necessidade de aumentar a capacidade de reciclagem de PET no Brasil, garantir um fornecimento estável e de alta qualidade de matéria-prima reciclada para a produção de big bags e, para completar, superar as limitações associadas ao uso de PP em termos de conteúdo reciclado e qualidade do produto final.

Qual o investimento, data da entrada em escala industrial, capacidade instalada e diferenciais da tecnologia da recicladora da Packem?

A Packem investiu R$ 70 milhões na implantação de uma planta de reciclagem de PET. Ela inicia as operações em escala comercial regular em maio, com uma capacidade de processamento de 20.000 t/a. Ao optar por uma combinação de tecnologias nacionais e europeias, a empresa busca excelência na reciclagem do poliéster para produzir big bags. Este investimento nos permite produzir PET reciclado de alta qualidade, essencial para aplicações que exigem contato com alimentos (food grade), através de processos avançados de lavagem e descontaminação. A escolha por equipamentos de alta eficiência garante extrema produtividade e pureza ao material reciclado.

Qual foi o volume de big bags de PET reciclado produzido pela Packem em 2023?

Em 2023, a Packem produziu e entregou ao mercado cerca de 1 milhão de unidades de big bags fabricados a partir de PET reciclado, dos quais aproximadamente 32% foram confeccionados com PET reciclado proveniente de garrafas recicladas. Este volume de produção evidencia uma integração estratégica da Packem no mercado de embalagens sustentáveis e reflete a viabilidade comercial de sua planta de reciclagem. Importante destacar que a capacidade instalada dela é três vezes maior que a demanda interna da empresa para a produção de big bags. Isso significa que além de atender às próprias necessidades de produção, a Packem tem capacidade para fornecer PET reciclado de alta qualidade para o mercado, ampliando assim suas fontes de receita e contribuindo para a sustentabilidade da cadeia produtiva do polímero.

Portanto, o desempenho produtivo da Packem em 2023, aliado à estratégia de verticalização e à capacidade excedente de sua planta de reciclagem, evidencia a viabilidade comercial da Packem Ween e  seu papel na promoção da economia circular e redução do impacto ambiental da indústria de embalagens.

Em 2023 a Packem adquiriu qual volume estimado de PET reciclado e de quantos recicladores?

Em torno de 32% da matéria-prima PET teve origem reciclada, sendo proveniente de oito recicladores do Brasil e exterior. A propósito, cabe frisar que nossa demanda para big bags do poliéster corresponde a 30% da capacidade total da Packem Ween. Ou seja, os 70% remanescentes da produção da nova unidade serão destinados à comercialização.

Desde 2023, as margens e preços de PET virgem andam tão baixas que enfraqueceram a demanda mundial por PET reciclado – provas disso são o fechamento de recicladoras na Europa e o plano da Indorama, líder mundial em PET, de fechar seis plantas menos lucrativas da resina e do insumo ácido tereftálico purificado (PTA). Diante dessa conjuntura adversa e sem melhora prevista, ingressar na reciclagem de PET não seria um empreendimento de risco para Packem, em face da disputa em preço com PET virgem?

Esse cenário evidencia um período desafiador para a indústria de PET. No entanto, a estratégia da Packem de mesmo assim ingressar neste segmento é sustentada por uma visão de longo prazo, por estarmos inseridos em um mercado crescente e ainda não maduro (como é a Europa) e por fatores distintos que mitigam os riscos associados à volatilidade do mercado de resinas virgens.

A indústria de resinas plásticas em geral, caso de PP, experimentou em 2023 um período de retração que afetou a produção global. Esses ciclos de altas e baixas não são novidade no setor e fazem parte da dinâmica de mercado. O investimento da Packem na reciclagem de PET é, reitero aqui, feito sob uma perspectiva de longo prazo, reconhecendo que tais flutuações são cíclicas e que a demanda por soluções sustentáveis tende a crescer.

A demanda por PET reciclado da Packem é influenciada por fatores diferentes dos que afetam o mercado de resinas virgens. Há um crescente interesse por materiais reciclados devido a incentivos governamentais, pressão social por práticas sustentáveis e a busca por certificações ambientais por parte de empresas conscientes. A estratégia da Packem para a produção de big bags utilizando PET reciclado envolve uma cadeia produtiva muito distinta daquela associada à resina virgem, ao reciclado tradicional e até ao tipo bottle-to-bottle. É uma cadeia única e um processo produtivo proprietário mais enxuto.

Desse modo, apesar da conjuntura adversa para o PET reciclado no contexto atual, a Packem enxerga seu investimento na reciclagem de PET como uma aposta de longo prazo. A empresa se baseia em demandas de mercado distintas, incentivos para práticas sustentáveis, e uma estrutura produtiva e de capital diferenciada.

A Packem está sediada em Santa Catarina. Por que montou a recicladora no Paraná?

Curitiba é reconhecida como a maior capital sustentável do Brasil, com um histórico robusto e inovador em práticas sustentáveis. Este compromisso da cidade com a sustentabilidade não só favorece uma cultura local alinhada com os valores da Packem mas viabiliza a implantação de uma unidade produtiva no município devido à infraestrutura e incentivos existentes para a reciclagem. Além disso, Curitiba se destaca como um polo relevante, devido à alta densidade populacional, o que implica uma geração substancial de resíduos, incluindo plásticos. A presença de uma grande quantidade de lixo oferece à Packem uma fonte contínua de matéria-prima para a reciclagem de PET, otimizando a logística de coleta e reduzindo os custos associados ao transporte dos resíduos até a planta recicladora.

Por fim, o estado do Paraná, apesar de sua significativa geração de resíduos plásticos, possui capacidade de reciclagem instalada inferior as de estados vizinhos como Santa Catarina, Rio Grande do Sul e São Paulo. Essa menor capacidade resulta em uma oportunidade para a Packem, pois o Paraná também exporta plástico reciclado pós-consumo para outras regiões.

A joint venture Packem Umasree contempla uma fábrica de 10.000 t/a de big bags de PET reciclado e a meta de supri-la com unidade recicladora própria. Isso já aconteceu? Esse modelo operacional inspirou  investimento na Packem Ween no Brasil?

Sim, o modelo operacional da Packem no Brasil, que agora integra reciclagem de PET e produção de big bags, inspirou o investimento na joint venture Packem Umasree na Índia com inauguração agendada para meados de abril. A escolha desse modelo é motivada pelo sucesso da integração vertical no Brasil e o case de sustentabilidade para a indústria de big bags. A Índia, sendo um mercado em rápido crescimento e o maior produtor mundial de big bags, oferece uma plataforma robusta para atender à demanda global, em especial de mercados desenvolvidos com altas exigências.

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