Haja fé e garra

O mercado promete sair em 2024 da calmaria deste ano, confiam os dirigentes da Abiplast e Abiquim
O mercado promete sair em 2024 da calmaria deste ano, confiam os dirigentes da Abiplast e Abiquim

Stress é a palavra síntese de 2023 para a indústria plástica. O ano girou feito montanha russa e teve de tudo, aqui e lá fora – desde imprevistos climáticos, guerra, salseiro ambientalista e economia engessada por inflação e juros na lua até importações maciças de resinas apesar do mercado na retranca para bens duráveis, pois dependentes de venda a crédito, e do clima moderado pela carestia para produtos essenciais e de alto giro. Mas nada é para sempre e, mantido o andar atual da carruagem, o horizonte prenuncia para 2024 o início de respiro há bom tempo ansiado pelo setor, sinalizam na entrevista a seguir José Ricardo Roriz Coelho, presidente do Conselho Administrativo da Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast) e André Passos Cordeiro, presidente executivo da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim).

Qual a sua expectativa para inflação, Selic, PIB de 2024 e para a cotação do dólar em dezembro de 2024?

José Ricardo Roriz Coelho: produção de transformados deve crescer 3,5% em 2023.
José Ricardo Roriz Coelho: produção de transformados deve crescer 3,5% em 2023.

José Ricardo Roriz Coelho: Nossa estimativa é que o PIB em 2024 crescerá na faixa dos 1,5%, perspectiva similar à observada pelo mercado, pelo menos desde meados de setembro. Acompanhamos uma subida nos indicadores de consumo das famílias. Ela é induzida por uma melhora na renda disponível, aliada a uma redução no ritmo da inflação o que estimula o consumo. Entretanto, a indústria de transformação mostrou um quadro de estagnação, com queda de 1,3% no primeiro semestre do ano, apontando que a atividade manufatureira como um todo ainda encontra dificuldade de crescimento. Alto custo de capital e demanda desaquecida por bens de consumo duráveis e intermediários são variáveis que ainda levarão tempo para ser impactadas pela gradual melhoria nos parâmetros de inflação e juros.
A inflação vem mostrando recuo e estimamos que esse indicador hoje previsto para fechar o ano ao redor de 4,7% continue caindo e chegue 3,9% em 2024, um percentual dentro da meta de inflação traçada pelo Banco Central e que deve dar continuidade a um processo lento e gradual de redução da taxa básica de juros. Ela, deve fechar em 11,75% ao ano no exercício atual e seguir declinando até próximo a 9% ao ano em 2024.
Apesar do desempenho positivo do PIB, um indicador que prossegue recuando é o investimento (formação bruta de capital fixo), em especial para máquinas e equipamentos. Apesar da redução gradual dos juros, o reflexo dessa queda só será observado em períodos posteriores.
Quanto ao câmbio, nossa expectativa é de observar essa taxa ainda oscilando na faixa dos 5,00 US$/R$ tanto ao final de 2023, quanto no decorrer de 2024. Lembrando que tal variável é bastante sensível aos acontecimentos atuais e deverá ser fortemente impactada, a depender dos desdobramentos do conflito Israel x Hamas.

André Passos Cordeiro: Primeiramente, a Abiquim não faz projeções de variáveis macroeconômicas, mas acompanha de perto as perspectivas divulgadas no Boletim Focus, do Banco Central, e que consolida a visão de diferentes analistas. Trabalhamos com essas projeções quando necessitamos realizar alguma previsão. No entanto, vale destacar que os últimos conflitos na Ásia e no Oriente Médio, a depender de como venham a se desdobrar, podem alterar significativamente essas previsões. Mantido o quadro atual, nossas últimas previsões são: inflação (medida pelo IPCA) perto de 4% em 2024; PIB deve apresentar crescimento de cerca de 1,5% (aqui vale pontuar a elasticidade da demanda de produtos químicos em relação ao PIB – cerca de 1.3 a 1.5 vezes); para a Selic, no momento em 11,25%, não vejo indicações de pressões para cima, até porque a inflação está bem contida. Acredito, então, na oportunidade de recuo para, pelo menos, algo entre 9 e 9,25%. Vale o mesmo para a cotação do dólar, devendo se manter próxima a R$ 5,00.

No momento, a Abiplast trabalha com quais estimativas para o desempenho em 2023 x 2024 da produção, importações e exportações de produtos plásticos transformados?

José Ricardo Roriz Coelho: A expectativa é que o setor encerre 2023 com crescimento na produção da ordem de 3,5% frente a 2022, pois mostrou recuperação no acumulado até agosto último e, de acordo com nossa sondagem de expectativas, existe da parte do transformador uma expectativa ainda positiva para o fechamento do ano.
Por sua vez, o mercado deve começar 2024 mais estagnado e reagir a partir do segundo semestre, quando esperamos que alguns efeitos da redução da taxa de juros e da melhoria do consumo efetivamente comecem a impactar o resultado da indústria como um todo e, assim, ‘puxar’ a demanda por plásticos. Com base nessa previsão, prevemos para 2024 um crescimento da ordem de 1,5% frente aos resultados de 2023.
Quanto a importações e exportações de transformados em 2022 esses indicadores mostraram, respectivamente, recuo de 7% e 9% por conta da fraca demanda em diversas indústrias do setor. Prevemos para o ano que vem uma reversão desse comportamento, com evolução de 4% nas importações e estagnação nas exportações, representando assim a continuidade no ritmo de crescimento de 6% do déficit da balança comercial dos transformados plásticos.

Quais ações e iniciativas concretas sua entidade pretende colocar em campo em 2024 para ajudar a combater dois problemas crescentes no setor: a degradação do ensino técnico profissionalizante e a aversão dos jovens a trabalhar em indústrias de manufatura de plástico, devido inclusive à péssima imagem do material?

José Ricardo Roriz Coelho: Os problemas citados sobre a degradação do ensino e a aversão a escolher atuar na indústria são problemas comuns a toda a indústria brasileira e não especificamente ao setor plástico. A degradação do nível técnico se dá não pela baixa qualidade do ensino e sim pelas deficiências no ensino básico. O jovem chega no ensino técnico e precisa de um módulo de ‘nivelamento’ para poder sanar algumas deficiências de conteúdo e acompanhar o ritmo do aprendizado, que vem exigindo cada vez mais capacitações, hard skills e soft skills.
Quanto à citada ‘aversão’ a trabalhar na nossa indústria, ela se dá mais pela expectativa do jovem em atuar em áreas de maior apelo, como TI e mercado financeiro do que no ‘chão de fábrica’. Essa situação vem mudando com o advento do uso das tecnologias 4.0 na indústria, porém ainda precisa de impulso para chegar a fazer frente ao poder de atração das áreas de serviço.
André Passos Cordeiro: Acho que a melhor forma de atrair jovens para o ensino técnico profissionalizante e para a graduação é mostrar a eles que estamos trabalhando para melhorar a competitividade do setor, atrair novos investimentos e oportunidades de empregos que remuneram com salários que são o dobro do que paga a média da indústria de transformação. O setor químico tem potencial de atrair mais de 70.000 novos empregos nos próximos anos, caso consigamos reverter o atual cenário de dificuldades. Conversando com professores de renomadas universidades brasileiras, todos lamentam que boa parte dos jovens que se formam em engenharia química, por exemplo, acabam buscando oportunidades de carreira no exterior.
Quanto à imagem do plástico, acho que temos um enorme desafio pela frente, que envolve maneiras diferentes de trabalhar a reciclagem, a circularidade e novas matérias-primas, de origem renovável e capazes de substituir as de fontes fósseis. O Brasil é o país que tem as maiores vantagens comparativas para se destacar em termos de sustentabilidade, transição energética, economia circular. Nesse cenário, a Química exercerá papel fundamental, mas precisaremos transformar as oportunidades em vantagens competitivas e esse desafio passa pela inserção desses jovens na manufatura de produtos químicos. Também precisamos trabalhar melhor essa imagem negativa do plástico, mostrando sua importância para a qualidade de vida da população, em especial em termos de saúde e conservação de alimentos. Precisamos buscar formas de dar o descarte adequado ao lixo e buscar alternativas de transformar os resíduos em novas matérias-primas e fontes de energia, impedindo que esses materiais cheguem em lugares indesejáveis. Toda a sociedade pode contribuir com esse diálogo e se beneficiar no médio e longo prazos.

Quais os principais projetos de lei (PL) contra plásticos de uso único, cuja apreciação final pelo Senado e Câmara tende a acontecer em 2024, e quais as ações tomadas pela sua entidade para evitar eventuais proibições ou demais restrições impostas por lei federal a esses descartáveis?

José Ricardo Roriz Coelho: Um projeto que está tramitando no congresso motivo de atenção é o PL 2524/2022 apresentado pelo Senador Jean Paul Prates (PT/RN) e que ‘estabelece regras relativas à economia circular do plástico’. Trata-se, porém, de uma proposta de banimento de embalagens e descartáveis plásticos travestido de PL em prol da economia circular. Em sua tramitação, o documento foi recentemente aprovado pela Comissão de Assuntos Sociais (CAS) e encaminhado a seguir para análise da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) onde aguarda a designação de relator.
Também precisamos atentar para duas discussões macro. Uma delas trata-se da iminência da apresentação de um Decreto de Logística Reversa para Plásticos e a outra focaliza a evolução das conversações do ‘Tratado Global Contra Poluição Plástica’ da ONU e que pode estabelecer diretrizes que serão guia para políticas ambientais de países. A Abiplast participa desses eventos como parte interessada, inclusive acompanhando in loco as discussões acerca do primeiro texto base desse tratado na reunião de 13 a 19 de novembro da ONU em Nairóbi.
A Abiplast vem atuando institucionalmente quando o tema trata de banimentos de produtos pouco baseados em informações e evidências. Temos promovido um debate qualificado junto aos legisladores, de forma a municiá-los de informações para não tomar decisões que impactem sobremaneira não apenas a indústria do plástico, mas a sociedade como um todo. Também incentivamos o uso de novos materiais, novas formas de produção e redesign de transformados, de forma a promover a transição da indústria para uma economia mais circular.

André Passos Cordeiro: boa parte dos novos engenheiros químicos planeja carreira no exterior.
André Passos Cordeiro: boa parte dos novos engenheiros químicos planeja carreira no exterior.

André Passos Cordeiro: Hoje em dia, principal PL é o nº 2524/2022. Se for homologado, o texto, que bane a produção de plásticos de uso único, terá enorme impacto sobre o setor químico e colocará em risco empregos, renda e tributos. A autoria da matéria é da ONG Oceana e um grupo de entidades composto ainda por IDEC e lideranças de catadores, mas quem o apresentou foi o ex-senador e hoje o presidente da Petrobras Jean Paul Prates. Ele tramita no Senado Federal, já foi aprovado na Comissão de Assuntos Sociais (CAS) e hoje encontra-se na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE).
Não é possível afirmar que o PL será apreciado em 2024. Os prazos no Congresso Nacional dependem de muitos aspectos. Os apoiadores do texto têm feito de tudo para dar celeridade à matéria, mas o Senado Federal tomou a decisão correta recentemente de direcioná-la para debate, inclusive na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE). Um PL que coloca em risco toda uma cadeia do setor industrial e tem impactos econômicos sérios sequer estava originalmente previsto para ser apreciado pela CAE.
A Abiquim se vê como parte da solução para a circularidade de plásticos no Brasil. No âmbito do PL, estamos trabalhando para melhoria do texto. Já contribuímos com sugestões através de emenda e, recentemente, apresentamos uma proposta de substitutivo aos senadores na audiência pública que debateu a matéria na CAS.
Além disso, estamos participando da construção do Acordo Global de Plásticos, contribuindo para melhoria da proposta de Decreto de Logística Reversa de Embalagens Plásticas, avançando no debate sobre reciclagem química e dialogando com a Presidência da República e com os Ministérios do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços; do Meio Ambiente e Sustentabilidade; das Relações Exteriores e da Saúde.

A Abiplast defende a competitividade econômica da indústria transformadora, mas não dispõe de indicadores sobre as dimensões e atualização tecnológica do seu parque fabril. Alguma ação está cogitada para fechar esta lacuna?

José Ricardo Roriz Coelho: É simplista reduzir o trabalho de defesa da competitividade de um setor ou indústria à existência ou não de dados sobre uma determinada variável. É fato que a existência de métricas ajudam a traçar objetivos e acompanhar tais objetivos, entretanto o desafio da competitividade passa também por atuar no ambiente econômico, este sim, dinâmico e cheio de interações/mudanças que podem, inclusive, comprometer a decisão de investimentos de uma empresa e/ou setor.
A escassez de informações é, muitas vezes, um problema geral da indústria e não apenas da atividade de transformação de plástico. Tanto essa situação é uma realidade que trabalhamos com o máximo de abertura possível dos dados oficiais da indústria coletados por IBGE e outros órgãos governamentais. A carência de dados sobre parque fabril é comum a toda a indústria brasileira. Nem a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) ou o próprio BNDES, financiador oficial dos investimentos em bens de capital, não apresentam estes dados.
A realização de uma pesquisa primária a respeito também fica dificultada pela diversidade de processos produtivos. Apenas os três principais processos de moldagem de plásticos – extrusão, injeção e sopro – são de características técnicas diferentes entre si em termos do parque instalado, peças e acessórios. •


 

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