Dá para crescer com moderação

Em meio às incertezas, Braskem vê espaço para uma retomada comedida do consumo de poliolefinas
Em meio às incertezas, Braskem vê espaço para uma retomada comedida do consumo de poliolefinas

O mercado mundial de PE e PP atravessou 2023 atormentado pela colisão entre a demanda empalidecida, puxada pelos colapsos econômicos da China e Europa, descomunais excedentes entre capacidades e ofertas de ambas as poliolefinas, agravados por expansões ainda em curso nos EUA e Ásia. O desfecho lógico dessa trombada é o viés de baixa dominante em 2023 nas cotações dos preços e spreads de PP e PE e a escalada das importações das hiperofertadas resinas em países e regiões que não são formadores de preços dos dois polímeros mais consumidos no planeta. É o caso do Brasil que, mesmo vergado por inflação, carestia e juros nas nuvens, registra desde 2022 o desembarque de volumes excepcionais de PE e PP importados a preços tornados mais agressivos pela hiperoferta em vigor e pela competitividade de suas rotas petroquímicas (caso do gás natural nos EUA). Único produtor de PP e PE do país e majoritariamente dependente da menos competitiva rota da nafta, a Braskem vem tendo de se desdobrar para não ceder terreno a essa concorrência no mercado interno. Nesta entrevista, Fábio da Silva Santos, Diretor de Estratégia e Desenvolvimento de Negócios da Braskem, expõe as raízes dessa conjuntura nervosa e justifica sua convicção de que, imprevistos à parte, o vento promete soprar em breve a favor para os balanços de PP e PE.

Fábio da Silva Santos: cenário volátil norteia previsão de aumento de 3% para o consumo interno de PP e PE em 2024.
Fábio da Silva Santos: cenário volátil norteia previsão de aumento de 3% para o consumo interno de PP e PE em 2024.

Pelo banco de dados da Braskem, quais seriam as respectivas capacidades instaladas da transformação de PP e PE no Brasil? E qual desempenho espera dos mercados internos de PE e PP em 2024 versus 2023?
Nos últimos 10 anos, o mercado brasileiro de poliolefinas (PE e PP) apresentou um crescimento tímido da demanda. No período entre 2014 e 2022, o aumento da demanda doméstica por PE foi de 17,5%, enquanto por PP foi de 7,5%.
A exceção foi o período extraordinário entre o segundo semestre de 2020 até o final de 2021, em que a demanda, sobretudo por PP, cresceu muito em função da mudança de hábitos de consumo durante a pandemia. O recorde da demanda por PP no Brasil aconteceu em 2021 em função deste efeito e, em 2022, houve uma retração de mercado, enquanto no de PE o crescimento se sustentou mesmo após a covid-19. Estimamos que a ocupação da capacidade de transformação de poliolefinas no Brasil esteja entre 70% e 75%, o que projetaria uma capacidade instalada de cerca de 2.2 milhões de t/a para PP e cerca de 4 milhões para PE.
Para 2024, nossas projeções apontam crescimento de demanda doméstica de poliolefinas da ordem de 3%. Esta estimativa vem na esteira de uma previsão de crescimento para o PIB entre 1% e 2%. Ainda há muitas incertezas quanto à política fiscal do governo, os efeitos da reforma tributária e em relação ao câmbio num cenário geopolítico muito conturbado. Existem algumas boas notícias no horizonte, como a redução da inflação e do desemprego, que, em última análise, podem dar maior fôlego ao crédito e ao consumo. Estamos cautelosos com a volatilidade no cenário, mas não dá para apostar num grande crescimento da demanda para 2024. Será um ano parecido, em muitos aspectos, com 2023: taxas de juros ainda elevadas, governo buscando o equilíbrio fiscal, redução moderada do desemprego e muita cautela do consumidor com os gastos das famílias numa perspectiva de incerteza.

Nos últimos anos, a oferta doméstica limitada de determinados tipos de PE e PP ficou aquém da demanda interna. Como não há planos de expansões da petroquímica nacional, a Braskem planeja, para manter/ampliar market share, importar em 2024 volumes dos tipos das duas resinas cuja produção nacional ficou insuficiente?
Inicialmente, discordo da primeira afirmação. A capacidade instalada de PP da Braskem é superior à demanda doméstica e em PE existe um equilíbrio entre a capacidade da empresa Braskem e a demanda interna. No momento, não temos anúncio de aumentos de capacidade de resinas, mas existe potencial de expansão de capacidades de PE no Sul, considerando nossa capacidade excedente de eteno naquela central petroquímica. Também há potencial de desgargalamento da produção das duas resinas no complexo no Rio de Janeiro. As elevadas taxas de juros, combinadas com pesado custo de investimento pela inflação dos materiais de infraestrutura industrial, além do crescimento tímido da demanda doméstica nos últimos anos, são fatores que explicam o retardamento dos planos de expansão em poliolefinas. Mas tão logo o cenário se torne mais favorável para os investimentos, eles serão retomados. Por exemplo, em 2023, realizamos a expansão da capacidade de eteno verde, considerando o grande crescimento da demanda global por produtos de fonte renovável. Havendo condições favoráveis e demanda firme, decerto haverá investimento.
Ao mesmo tempo, estamos atravessando o conhecido ‘ciclo de baixa’ da indústria petroquímica mundial. Em PP, as taxas de operação devem ficar muito baixas, em torno de 77%, em função da entrada de capacidades na Ásia. A China se tornará autossuficiente em PP e com isso, outros países produtores como Coréia do Sul, Tailândia e Arábia Saudita, por exemplo, necessitarão encontrar novos destinos para seus excedentes de produção. Por outro lado, a logística destes países para o Brasil tem se tornado cada vez mais incerta e custosa, representando uma barreira para estes competidores. Além disso, o diferencial de competitividade de matéria-prima destas novas capacidades não é tão evidente.
No caso do PE, enfrentamos uma concorrência diferente. Os concorrentes norte-americanos e do Oriente Médio possuem um importante diferencial competitivo em termos de custo de matéria-prima e uma grande capacidade instalada. Por outro lado, o portfólio excedente é mais limitado e a disponibilidade e a logística também apresentam volatilidade. pois os produtores norte-americanos em geral privilegiam o atendimento dos mercados cativos de EUA, México e Canadá.
Dessa forma, é natural que tal concorrência chegue à América do Sul e que a competição pela demanda regional se torne mais acirrada tanto no PP quanto no PE. Mas estamos preparados para enfrentar a disputa e preservar nossa participação de mercado. Acreditamos na robustez de nosso portfólio de produtos; na qualidade de nossos serviços e assistência técnica; em nossa flexibilidade de atendimento, na agilidade da nossa logística e, por fim, na capacidade de apoiar clientes no desenvolvimento de soluções customizadas.

Devido às mudanças climáticas, aumentou o risco de maior duração e intensidade das sazonais secas no Amazonas, como mostra a calamidade deste ano. Esta ameaça imprevisível pode levar transformadores de PE e PP a rever ou cancelar planos de investir em novas plantas na Zona Franca, para desfrutar benefícios fiscais e importações pelo porto livre de Manaus?
As operações na Zona Franca estão sujeitas a diversos riscos, além de uma logística desfavorável, requerendo, portanto, um cuidadoso planejamento. Os benefícios fiscais são uma realidade e, infelizmente, existem algumas distorções em função do generalismo do Processo Produtivo Básico vigente. Neste sentido, Braskem, Abiplast e Abiquim estão buscando junto ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTIC) e Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa) a implantação de novos processos produtivos básicos para a fabricação de compostos no polo incentivado, visando proporcionar maior segurança às operações das empresas participantes no mercado de plástico, tanto na Zona Franca como nas outras unidades da federação.

Nos últimos 10 anos (fonte: Abiplast), a produção de transformados plásticos encolheu 1,9 milhão de toneladas e o consumo aparente caiu 2 milhões. Por que a indústria transformadora não tem conseguido barrar o processo de desindustrialização e o que sugere para o setor se reerguer?
Em que pese a retração da produção física da transformação plástica reportada pela sua indústria como um todo, a demanda doméstica de resinas de PE e PP cresceu neste período. Adicionalmente, há um crescimento da reciclagem mecânica que também vem ocupando espaço no mercado com a necessária evolução da economia circular. O efeito da desindustrialização, infelizmente, não se restringe ao setor plástico. Acreditamos que esta deve ser uma preocupação de toda a cadeia da química e do plástico. Reduzir os encargos para os investimentos na produção, realizar investimentos de infraestrutura logística e garantir acesso à matérias-primas competitivas e custos de gás e energia competitivos são políticas importantes para o desenvolvimento da indústria do plástico.


 

ExxonMobil – Com força total

Ana Cristina Paiva e Fabiana Grossi
Ana Cristina Paiva e Fabiana Grossi

Apesar das avarias na rentabilidade das poliolefinas, decorrentes da colisão entre mega excedentes e a demanda mundial a desejar, 2023 fecha como sabor memorável para a norte-americana ExxonMobil, formadora mundial de preços e opinião em PE e PP e com crescente operação comercial no Brasil. O ano marcou pela bilionária aquisição da Pioneer, grande mineradora de óleo e gás extraídos do xisto nos EUA. A incorporação acentua o gigantismo e integração da ExxonMobil nas cadeias do petróleo e derivados, pois mais que duplica a presença da empresa na Bacia do Permiano, entre os estados do Novo México e Texas e uma das maiores reservas de energia da América do Norte, esclarece Ana Cristina Paiva, gerente regional de vendas de PE para a América Latina. “Juntas, ExxonMobil e Pioneer terão um volume de recursos equivalente a cerca de 16 bilhões de barris para extrair da Baia do Permiano”, ela projeta, frisando que a união de forças incrementará o poderio operacional e financeiro para aumentar a mineração das reservas locais. No tocante às poliolefinas, a transação amplia a verticalização da ExxonMobil no etano/eteno gerado a partir do gás natural mais acessível do planeta, proveniente do xisto e do Golfo dos EUA.

No Brasil, em 2023 aconteceu a consolidação do porftólio de PE em agrofilmes, conta Fabiana Grossi, líder sênior de desenvolvimento de mercado. Ela ilustra com a penetração de grades das séries Enable™ e Exceed™ XP preenchendo os requisitos mecânicos e de luminosidade em estufas e substituindo, com ganhos de qualidade, as convencionais lonas na silagem, reduto de crescentes exigências técnicas devido aos cuidados com a nutrição animal. No nicho de silo bolsa, hoje fervente como alternativa para atenuar o alto déficit na estocagem de grãos, Fabiana distingue a performance de filmes de estruturas ricas em resinas das duas famílias de PE mencionadas. Por fim, no compartimento de mulch, a especialista chama a atenção do agronegócio no Brasil para a a adequação das resinas Exceed™ XP para o desenvolvimento dos filmes multicamada 100% impermeáveis, hoje especificados para o cultivo protegido no México.

Luis Oscar Barros
Luis Oscar Barros

Entre as novidades agendadas para desembarcar aqui em 2024, desponta um tipo de stand up pouch (SUP) laminado PE/PE, concebido para botinar a hoje dominante estrutura PE/BOPET, de reciclagem mecânica mais difícil devido à incompatibilidade química entre esses polímeros para serem recuperados em mistura juntos, exigindo portanto a delaminação prévia dos substratos. “Nossa proposta abre com a folha selante de PE na forma de blend de Exceed™1012MK (PEAD para garantir a rigidez necessária) e o plastômero Exceed™ XP 8358ML, para baixar a temperatura inicial de selagem”, pormenoriza Luis Oscar Barros, líder de desenvolmento de mercado para a América Latina no segmento de filmes industriais de PE. “Por sua vez, a camada interna do SUP consta de um filme de PE de alta densidade média Enable™4002 MC para deslocar BOPET com a necessária resistência ao calor e provendo vantagens como melhora na produtividade e estabilidade do balão e aumento da rigidez final do SUP”. No cercado dos flexíveis industriais, Barros confirma para 2024 a entrada no Brasil de filmes de 90 micra em três camadas para stretch hood, baseadas em PE Exceed™ e no polímero olefínico Vistamaxx™ 6102. “Supera em elasticidade e força de retenção a alternativa do filme convencional de EVA da mesma espessura”, ele conclui.

 


 

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