Energia: boas intenções não abalam as fontes fósseis

Temperaturas recordes em 2023 cobram ações urgentes dos governos, alertam especialistas
Grécia em agosto: alastramento de queimadas por aumento inédito das temperaturas do verão europeu.
Grécia em agosto: alastramento de queimadas por aumento inédito das temperaturas do verão europeu.

“Os produtores de energia de fonte fóssil devem escolher entre contribuir para a piora da crise climática ou participar da sua solução aderindo às mudanças exigidas para o mundo chegar á energia limpa”, estabelece recente relatório da Agência Internacional de Energia”, reproduzido em parte no blog de Paul Hodges, analista do portal Icis e CEO da consultoria New Normal. O mesmo estudo assinala que a indústria de petróleo e gás responde por mais de 50% do suprimento global de energia e a classifica como uma força marginal, “na melhor das acepções”, no esforço geral da sociedade em prol da transição para a energia limpa. “O setor representa apenas 1% do investimento mundial em energia limpa e 60% dessa participação é provida por não mais que quatro companhias”.

Levantamento do Programa Ambiental da Organização das Nações Unidas (ONU), também citado por Hodges no blog, sustenta que a produção global de carvão deve continuar a crescer, no mínimo, até 2030. Por sua vez a produção mundial de petróleo e gás caminha para a expansão ininterrupta até 2050, pelo menos.

Em entrevista postada em 24 de novembro pelo jornal britânico Guardian, Simon Stiell, secretário executivo da ONU para mudanças climáticas comentou que, no passado, governos estavam acostumados a tratar do aquecimento global manifestando preocupação com as populações vulneráveis de localidades remotas. “Mas hoje o problema atinge o mundo inteiro e, mesmo assim, a maioria dos governos passeia sobre o tema, quando deveria estar correndo à toda atrás de uma saída”.

Nos últimos meses, sublinha a matéria do The Guardian, as temperaturas globais quebraram recordes de pico, tornando 2023 o ano mais quente já registrado. Um nível perigosamente próximo de ultrapassar o limiar de 1.5ºC acima dos níveis térmicos pré-industriais que, nos últimos fóruns ambientalistas, os governos se comprometeram a manter, acentua o artigo do jornal. As temperaturas rumam para um aumento “infernal” de 3ºC, alerta o The Guardian e, a não ser que ações urgentes e drásticas sejam tomadas, as emissões de gases de efeito estufa continuarão a crescer. “Nós estamos sempre falando na esperança em deter as mudanças climáticas”, observou Stiell, “mas a esperança só pode ser estabelecida se houver sinais de entrega, de ações”. Ao final da reportagem, o porta-voz da ONU frisou que a indústria de energia de fonte fóssil precisa ser considerada parte da solução e deve ser ouvida nas conversações sobre o que precisa ser feito e como. Mas Stiell salientou que as petroleiras também precisam mostrar um engajamento legítimo e sério quanto a ações para a transição da arraigada dependência das fontes fósseis para um planeta carbono zero.

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