A cortina de fumaça

Piora do aquecimento global gera outra visão da ira ambientalista contra o plástico

A emissão global de gases poluentes foi recorde em 2018, lastima relatório da ONU publicado em 26 de novembro. Nada de novo. Com todas as promessas discursadas num monte de cúpulas, acordos e congressos sobre o perigo das mudanças climáticas, está para nascer quem detenha a engorda do efeito estufa. O histórico das liberações de gases, aliás, revela declínio apenas em fases de trava na economia mundial, caso da crise financeira de 2008-2009.

Tudo isso porque o progresso econômico e científico acontece numa biosfera na reta do colapso, pois cada vez mais se extrai recursos do ecossistema e cada vez mais se descarrega poluentes nele, atesta a unanimidade dos pesquisadores. A saída óbvia de baixar o torque da economia para impedir o desastre ecológico não tem vez; ao contrário, a mentalidade geral defende até o aumento da velocidade na geração de riquezas e no acesso maior e indiscriminado a bens materiais. O diabo é que sobram avisos diários à sociedade de que a piora da biosfera tende a chegar a um limite cada vez mais perto e que, se ultrapassado, mesmo cessando-se a exploração de fontes fósseis de energia, essa deterioração viraria um dilúvio impelido por si mesmo e arrasaria o planeta. Pessoas, empresas e governos antenados neste risco para a humanidade reagem à situação com avanços tecnológicos isolados, como o motor automotivo elétrico, polímeros biodegradáveis e a busca de símiles veganos da carne vermelha, pois a pecuária forma na linha de frente dos emissores de gases danosos ao meio ambiente.

São ações meritórias, mas redundam em murro em ponta de faca devido a uma dissonância entre países no entendimento do que seria um esforço conjunto para atacar o problema. Por exemplo, países como França, Japão e China exultariam com o fim de sua dependência de importações de petróleo e gás em prol de fontes renováveis de energia. Mas economias dependentes das exportações do óleo, como Rússia e Oriente Médio, desabariam. Na prática, acontece então o malabarismo (por ora impraticável, prova a ONU) de incentivar o crescimento econômico e, ao mesmo tempo, resguardar o meio ambiente. Assim, se a eventual melhora de renda diminui em um micron a distância abissal entre as quebradas e a suíte presidencial, a vulnerabilidade ambiental paga a conta desse progresso.

A poluição recorde aferida pela ONU também mostra que, na vida real, nação alguma, por mais verde que se proclame, concorda em assumir um sacrifício de peso suficiente para contribuir de forma efetiva para conter as mudanças climáticas. Falam por si a recusa dos EUA em aderir ao Acordo de Paris e da China em refrear a queima de carvão para tornar respiráveis suas cidades. Nessa peça em que os atores fazem que vão mas não vão ao âmago da questão, uma reação habitual tem sido apelar para recursos que, feito fogos de artifício ou cortina de fumaça, desviem a atenção geral dessa inação. É com base nessa conduta que se deve encarar os banimentos de governos a embalagens de uso único e descartáveis de plástico, sempre sem a interpelação direta de quem cometeu a infração. Duas deduções: a) os vetos ao plástico traduzem o reconhecimento de que a população é ineducável b) instaurado o veto com aplausos da opinião pública, pode-se então adiar o debate sobre as causas reais do aquecimento global. Lembra o cirurgião tão feliz que o paciente anestesiado não sente mais dor que resolve deixar pra lá a operação.

Outra pedra no caminho é a provável falta de apoio justamente dos mais prejudicados pelo aquecimento global, as classes mais baixas. O único jeito de seu padrão de vida melhorar sob o capitalismo, assinala o historiador Yuval Harari, é através do crescimento econômico. Aliás, o consumo de plástico reflete de bate-pronto os aumentos da renda dos pobres nas embalagens dominantes (as mesmas repudiadas pelos ambientalistas) nas cestas de compras mais cheias. Não há quem negue apoio à proteção ambiental, mas, como nota Harari, para aqueles que vivem da mão para a boca, poder pagar por mais quantidade e qualidade de bens e serviços deixa em segundo plano a atenção com a subida na temperatura do planeta. •

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