Os pingos nos is

Mentiras repetidas contra os plásticos são aceitas como verdade, mas isso não as torna verdadeiras

As duas notícias saíram quase coladas no início de julho. Primeiro, veio à tona a decisão do governo da Índia de banir, em nome da proteção ambiental, o uso de 19 tipos de plásticos de uso único, entre eles sacolas, talheres, canudos, cotonetes, palitos de sorvetes e invólucros de maços de cigarros. Seis dias depois, foi a vez do registro de que a gestão de Joe Biden, através da agência General Services Administration, estava pondo sob a mira as compras federais de plásticos descartáveis, em regra sacos e sacolas, atendendo à petição de 180 grupos ambientalistas clamando pela proibição desse suprimento. “Como plásticos de uso único são relevantes contribuintes da preocupante poluição plástica, é um passo lógico a agência examinar a questão”, reza o release oficial.
Ambas as notícias foram recebidas pelo setor plástico internacional com o costumeiro silêncio, revelador de inépcia colossal para despejar uma montanha de fatos e argumentos científicos disponíveis, nocauteadores dessa difamação disseminada pelo mais ralo disse me disse, constata o consultor e PhD Chris DeArmitt no livro “Plastics Paradox”, de 2020. “Todo desperdício é indesejável”, ele assinala. “Os descartáveis estão sob intenso escrutínio – e com razão. Embora não queiramos reutilizar seringas plásticas, existem muitos produtos para os quais o descarte não é uma abordagem inteligente”. A propósito, o cientista forma na ala dos que entendem que, por diversas vezes, o termo descartável configura uma designação incorreta, como demonstra o prático reuso de sacolas ditas de uso único. “Afinal, quem nos obriga a usar esses produtos apenas uma vez?” O lixo, ele atesta, é o real vilão e de nada adiantaria retirar plástico dos aterros, pois, nos EUA, o material responde por apenas 16% do volume de lixo ali desovado. “Acontece que os humanos não são bons em estimar onde estão suas verdadeiras agruras”, pondera o expert.
A única maneira aceita pela ciência para se determinar o que é sustentável, aponta DeArmittt, chama-se análise do ciclo de vida (ACV) – uma ferramenta pela qual se afere o impacto ambiental de um produto, incluindo matérias-primas, energia, aparas, subprodutos, transporte e, ao final da vida útil, lixo e descarte. Pelo crivo da ACV, ele crava, uma sacola de papel é muito mais pesada e gera 10 vezes a mais resíduos que o contratipo de plástico. “Plásticos comuns como PP, PE e PET são escolhas melhores em sustentabilidade que papel, algodão, vidro e metal, provam ACVs independentes em todo o mundo. A substituição do plástico resulta em muito mais material usado, mais energia consumida, mais resíduos e mais dióxido de carbono”
DeArmitt considera uma epopéia conseguir que gente de cabeça feita pelo greenwashing emocional caia na real. “Para algumas dessas pessoas, nenhuma quantidade de evidências bastará. Mas gente mais aberta pode ser persuadida se o caso apresentado for contundente”. O cientista lista três razões para se descartar inverdades: a) “A narrativa não é confiável se vem de fontes não especializadas, tipo imprensa mercenária e sensacionalista”; b) “Dizer plásticos são ruins é afirmação sem base científica” e c) “É vital nos alinharmos aos fatos, pois é a única maneira de tomar decisões em prol do meio ambiente”.
Sob a matraca do fuxico leviano, os plásticos já foram condenados no tribunal da opinião pública em julgamento conduzido sem provas, nota DeArmitt. “Em vez disso, nossas opiniões são baseadas numa boataria”. A propagação dela é comandada por grupos ambientalistas “que nos distraem dos problemas reais e comprovadamente prejudicam o meio ambiente”. Assim, ele amarra as pontas, o público em geral tem passado por lavagem cerebral efetuada por mentiras como culpar plásticos como coveiros da natureza quando ACVs provam o contrário. “Mentiras repetidas e sem oposição são aceitas como verdade, mas isso não as torna verdadeiras”, frisa o pesquisador. “É hora de mudar o curso dessa ofensiva, fazendo escolhas sábias com base em dados sólidos”. Ainda dá tempo. •

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