Sem essa de plástico de segunda

Na garupa da sustentabilidade, materiais auxiliares aproximam o reciclado do desempenho da resina virgem

Materiais feijão com arroz, de baixo valor agregado para aplicações idem, sempre imprimiram um tom fosco no setor de reciclagem de resinas no Brasil. Mas essa página não tarda a virar, pois a sustentabilidade entrou de vez para os argumentos de venda de ponta a ponta da cadeia plástica, de modo que aquele recuperado carne de vaca começa a despertar interesse sobre como melhorá-lo para corresponder às expectativas de usos mais rentáveis e nobres. “A procura por reciclados de performance mais próxima da resina virgem já é uma tendência”, descortina Roberto Castilho, diretor de vendas para a América do Sul de masters e terpolímeros especiais da LyondellBasell. Não é por outro motivo que os fornecedores de materiais auxiliares hoje sentem a forquilha da demanda que conduzem pelo terreno da reciclagem apontar com força para baixo, indicando a existência de verdes pepitas ocultas para eles desenterrarem.

Fora da briga de foice por margens à míngua nos reciclados movidos a preço, a Wise é a única recicladora de poliolefinas convocada no país para desenhar materiais de segundo uso do nível do polímero virgem para embalagens de marcas líderes (brand owners) do status da Unilever, Boticário e Grupo Pão de Açúcar. “O processo de reciclagem do plástico pós-consumo deve obedecer a critérios de desenvolvimento válidos para qualquer outro produto de qualidade”, acentuam Bruno Igel e Amarildo Bazan, respectivamente CEO e diretor comercial da Wise. “Ou seja, o trabalho requer a compreensão das necessidades principais do mercado em vista, domínio da seleção das matérias-primas e das suas propriedades e uma industrialização que garanta fornecimento constante de um reciclado de melhor desempenho”.

Na esfera dos insumos, Igel e Bazan destacam o papel de aditivos para compatibilizar polímeros rumo à reciclagem e incrementar as propriedades mecânicas das resinas recuperadas. O único senão levantado por eles refere-se a soluções para dissipar o característico mau cheiro do refugo durante as etapas da recuperação. “A tecnologia dos aditivos sequestradores de odor precisa evoluir; hoje em dia, conseguimos índices apenas satisfatórios de dissipação do cheiro”.

Resíduos sob a lupa
A componedora Termocolor emprega aroma de talco infantil como essência do seu aditivo anti-odor para recicladores. “Ajuda a melhorar o ambiente fabril durante o reprocesso que, em determinados casos, impregna de mau cheiro o chão de fábrica”, assinala Wagner Catrasta, gerente comercial para a América Latina.

Para facilitar o processo de reciclagem e revigorar as características mecânicas de poliolefinas e estirênicos recuperados, o portfólio da Termocolor serve à mesa aditivos como estabilizantes à radiação ultravioleta, branqueadores, modificadores de impacto e agentes super notórios a exemplo de antibloqueio, antiestático, antioxidante e antideslizante. “Nosso diferencial é o estudo da matéria-prima a ser reprocessada e sua real necessidade de aditivação, mediante análise das suas características mecânicas” salienta o executivo. “Chegamos assim aos aditivos requeridos e ao seu percentual de dosagem para o reciclado atender à aplicação final. No plano do apelo visual, checamos o subtom do material reciclado para conceber o masterbatch da cor desejada”. Em regra, segue Catrasta, lotes de resinas recicladas não conseguem manter uniformidade de cor. “Daí a exigência de análise de cada um deles”, pondera o gerente comercial. “Nesse contexto, masters de cores e perolizados homogeneizam de forma consistente essas variações”.

Catrasta não descarta o poder de influência da sustentabilidade, mas enxerga atritos de ordem econômica na transposição do eco evangelho para a realidade da reciclagem no Brasil. “O uso de auxiliares para apurar o desempenho do reciclado no patamar da resina virgem tem um custo e, na maioria das vezes, o preço de um recuperado de alta performance não fica muito distante do material de primeiro uso”.

Melhora tem custo
Carlos Roberto Assumpção, gerente técnico e comercial da Cromaster, aborda a questão com uma interpretação mais em linha com a de Bruno Igel e Amarildo Bazan, da recicladora Wise. “A necessidade de agregar valor a materiais de baixo custo, caso dos reciclados, deve ser cada vez mais compreendida e absorvida pelas indústrias finais, em especial as formadoras de opinião, engajadas na sua expansão global e na causa ambiental”, ele percebe. “São ações que saem mais caro e devem ser cobradas por essas empresas a seus transformadores de embalagens que, por sua vez, dependerão da formulação e composição dos materiais reciclados com aditivos capazes de reaver suas propriedades, de forma a serem reutilizados em condições muito similares às das resinas virgens”. Em efeito dominó, ele deixa claro, essa pressão dos brand owners sobre os transformadores resvala nas costas das petroquímicas e componedoras. A Cromaster, aliás, sente esse movimento nos pedidos de masters e auxiliares sob medida que tomam boa parte do dia de Assumpção. “Em particular, as indústrias de cosméticos hoje recrudescem a exigência de reciclados com carga mineral apropriada e recuperação dos atributos mecânicos originais”.

Ganhos de produtividade na reciclagem são o prato quente servido em duas frentes de auxiliares, abrange Assumpção. “Auxiliares de fluxo aceleram o processamento reduzindo o prejuízo no acabamento superficial dos grânulos recuperados, além de permitirem maiores vazões do material fundido sem a ocorrência de fraturas, evitando assim deformidades nos pellets e a instabilidade na sua produção”. O outro trunfo é a composição do polímero de segundo uso com carga mineral. “A melhor troca de calor dos minerais e o tratamento superficial proporcionado por determinados tipos de carbonato de cálcio apressam o resfriamento da massa”, argumenta o expert. No âmbito dos insumos para lapidar as características técnicas dos reciclados, Assumpção, ancorado no mostruário de soluções da Cromaster, abre a listagem de indicações com estabilizantes térmicos para processamento do reciclado e sua performance final. “Reduzem as reações termoxidativas já ativadas nas resinas recuperadas e que, uma vez aceleradas, influem na perda de propriedades”, ele explica. A seguir, ele insere modificadores de impacto e reforços. “Conseguem reaver propriedades mecânicas avariadas por degradação e contaminantes na operação de reciclagem”. No embalo, Assumpção comparece com agentes compatibilizantes para ensejar a miscilidade de polímeros sem afinidades químicas. “Viabilizam a mistura no estado fundido e a reciclagem de embalagens multicamada com boas propriedades mecânicas”. O gerente completa o rol dos aditivos imprescindíveis com branqueadores para baixar o amarelamento gerado por degradação termoxidativa no reciclado, e com duas alternativas de auxiliares para banir o mau cheiro da sucata pós-consumo. “Constam de sequestradores de odor e aromatizantes que camuflam o cheiro resultante da degradação ou, no caso de embalagens coextrusadas, de tintas de impressão e resinas adesivas”, ele descreve.

Combo de auxiliares
Rafael Prado, diretor comercial da componedora Petropol, martela a tecla de que a pressão ambientalista pela subida no padrão de qualidade do plástico reciclado é um voo com escala no bolso. “As pessoas precisam entender que a recuperação de um material tem custo inicial, ainda mais quando se exige desempenho similar ao da resina virgem”, ele pondera. “Aditivos e suas combinações são insumos de alto valor agregado e essenciais para incrementar a performance dos polímeros reciclados e, ainda nessa trilha, o custo das etapas de seleção e separação dos resíduos tende a crescer em razão do trabalho com plásticos incompatíveis entre si”.

A Petropol também embarca na evolução dos auxiliares para dar um tapa nos predicados dos reciclados. “Quanto às propriedades mecânicas, nossos concentrados de agentes de acoplamento permitem incorporar cargas ou reforços para incrementar as características de reciclados, a depender de sua origem”. Prado acrescenta que termoplásticos como polietileno de alta densidade (PEAD) podem provir de diferentes tipos de catalisadores, resultado em comportamentos distintos quando sofrem perda de peso molecular ou reticulação. “É possível que o polímero submetido a tal degradação seja originário de uma mistura dos grades obtidos de catalisadores diversos, problema que resolvemos com concentrados de estabilizantes de processo e térmico/UV, lubrificante e, caso o refugo pós-consumo acuse alta degradação, sequestrador de odor”. Para atuação como agentes de acoplamento, Prado distingue no seu mostruário as virtudes de modificadores de impacto baseados em elastômeros termoplásticos.

“Grande parte do sucesso da reciclagem depende da capacidade de reestabilização do polímero, ou seja, tornar sua vida útil equiparável à da resina virgem”, esclarece o diretor da Petropol. No geral, ele expõe, termoplásticos pós-consumo em geral exigem reparo da cadeia molecular, tanto em razão da história térmica na sua transformação em um artefato como de condições no uso como produto acabado, caso de exposição às intempéries, esforços repetitivos, calor excessivo ou ação de agentes químicos. “Para auxiliar na estabilidade do processo de reciclagem, desenvolvemos a combinação de estabilizantes de processo, temperaturas e à radiação UV junto com modificadores de fluxo, inibidores de odor, compatibilizantes e extensores de cadeia”, indica Prado.

Poliolefinas recicladas
Saltos na produtividade do reciclador também formam entre os argumentos de venda dos auxiliares da LyondellBasell. “Nossa linha de terpolímeros olefínicos Cattaloy constitui um agente compatibilizante de poliolefinas e, em especial, a resina Adlex promove a melhor laminação entre PE e polipropileno (PP)”, enaltece o diretor Roberto Castilho. “Podemos tornar reciclados de cada resina ou a mistura de ambas mais flexíveis, mediante a adição de Adflex, ou mais rígidos, se incorporarem a resina Adstif.
Para reciclagem de filmes biorientados de PP (BOPP), ele indica seu master antioxidante PAO 3660. Quanto aos apelos ópticos, Castilho nota que seus masters mate incutem uma conotação de requinte nas embalagens finais, enquanto o concentrado de resina hidrocarbônica ocupa a zona amorfa das poliolefinas, tornando-as mais transparentes, brilhantes e rígidas.

Equipamentos defasados
O setor de reciclagem é assediado pela componedora Aditive com uma multidão de soluções de auxiliares. João Ortiz Guerreiro, dirigente dessa indústria há 21 anos na ativa, exemplifica com antioxidantes para elevar as propriedades mecânicas do reciclado, auxiliares de processo, concentrado anti-odor e o master de um agente de acoplamento. “Além da junção de cargas ou fibra de vidro aos polímeros, evita a delaminação durante a mistura de PE com PP ou poliamida”.

Para Ortiz, há muito chão pela frente para se entranhar uma genuína cultura de sustentabilidade na indústria nacional de reciclagem. “Sem incentivo financeiro para renovar as linhas, a maioria dos recicladores opera com maquinário a desejar, não interferindo para melhorar as características das resinas recuperadas”, ele considera. “Falta também uma regulamentação em prol do uso de reciclado de boa qualidade nos produtos acabados em diversos setores, de modo que as empresas que utilizam esse material hoje o fazem por conta própria”.

Do laboratório à cesta
Felipe Reichert, gerente geral para a América Latina da norte-americana PolyOne, pedra angular em especialidades, prefere abraçar a visão do copo meio cheio. “Imensas pressões ambientais e sociais estão causando mudanças no mercado de reciclagem, favorecendo soluções que atendam às necessidades do presente sem comprometer as do futuro”, assinala o executivo. “Vemos em primeira mão, na PolyOne, a demanda por elas crescer, se bem que o mercado como um todo busca validar se esses materiais auxiliares, por vezes de maior valor agregado, serão realmente aceitos na cesta do consumidor”.

A empresa cunhou a marca “PolyOne Sustainable Solutions” para produtos ou serviços afins com áreas como desenvolvimento sustentável, composição ecologicamente consciente ou eficiência de recursos, delimita Reichert. “Trata-se de um portfólio com soluções para polímeros como PET, a resina mais reciclável e reciclada conhecida”, ele coloca. “No entanto, o amarelamento inerente ao processo de reciclagem em geral reduz as chances de se fechar por completo o ciclo bottle to bottle (BTB, tecnologia de reciclagem que viabiliza o uso de PET recuperado em contato com alimentos). Para remover o amarelamento e aumentar a possibilidade de reciclar PET BTB com mais frequência, oferecemos os toners ColorMatrix Optica™”. De acordo com o gerente geral, os toners contam com preciso controle de cores e, aplicados em baixas dosagens, devolvem a transparência original ao PET reciclado, mantendo no frasco soprado o brilho característico do poliéster. No arremate, Reichert tira da manga o extensor de cadeia Reprize™. “É uma alternativa econômica para reconstituir, sem incidência de amarelamento, a viscosidade intrínseca do PET proveniente de aparas da extrusão de chapas e filmes biorientados da resina (BOPET)”.

Reichert coroa as reverências da PolyOne à reciclagem com soluções de efeitos para mascarar imperfeições visíveis em resinas de segundo uso. Ainda neste palco do esmero óptico, a subsidiária local da alemã Merck, formadora de opinião global em pigmentos, aposta no aprimoramento da coloração de resinas para segundo usos. “A linha Xirallic™ é ideal para masters como os destinados a plásticos reciclados”, ressalta Francisco Veloso, líder de materiais de performance da Merck no Brasil. “O poder das partículas transforma as aplicações desses pigmentos com a sofisticação de seu brilho”

Umidade para escanteio
Titular do Brasil em carbonato de cálcio, a Carbomil também pontifica em plásticos reciclados com um material sem similar no gênero, sustenta o diretor comercial Leonardo Vieira. “O aditivo dessecante Secmil 500 é o único revestido no Brasil e fabricado com materiais muito finos e não abrasivos, sem causar desgaste na máquina do cliente”, ele explica. A excelência desse auxiliar é demonstrada na reciclagem de materiais como compostos de poliolefinas. “Ao promover a retirada da umidade do processo, a produtividade em linha sobe no mínimo 10% e o produto final transformado se livra das imperfeições deixadas pela marca da umidade no reciclado”, destaca Vieira. “Em muitos casos, o emprego de Secmil 500 resulta em economia energética, pois o cliente não precisa esquentar o material no aglutinador para depois passá-lo de novo em máquina para tirar a umidade”. Sem o uso de Secmil 500, salienta o diretor, polímeros de alto teor de umidade, caso de elastômeros termoplásticos, terminam descartados devido a impossibilidade de sua sucata ser granulada. “Ao se colocar apenas 2% do nosso aditivo dessecante, toda umidade é retirada”, frisa Vieira.

A Carbomil atesta que seu aditivo dessecante melhora a extrusão de reciclados, pois a retirada da umidade diminui o atrito causado dentro da rosca e do canhão. “Registramos assim ganho médio de 10% na produtividade da extrusora com a granulação beneficiada por Secmil 500”, situa Vieira. “Além dos prejuízos causados ao processo em si, a incidência da umidade enfeia com estrias produtos transformados como filmes”. Ainda na esfera da extrusão, Vieira assevera que o emprego do aditivo da Carbomil na fase final de aglutinação de filmes de PE – nicho de maior consumo de Secmil 500 – suprime a umidade do material e reduz o tempo médio de cada batida, incrementando por tabela a produtividade e a economia de energia no processo.

Vistamaxx cai na rede
A ExxonMobil marcou recente gol de placa para lustrar o prestígio de seus polímeros de alta desempenho Vistamaxx na compatibilização de poliolefinas pós-consumo, dispensando assim a necessidade, antes da reciclagem mecânica, da encarecedora separação de PP e PE, por falta de afinidades de ordem química. O feito de eco marketing é a utilização de Vistamaxx para conciliar as duas resinas presentes no refugo de redes de pesca recolhidas e encaminhadas para reciclagem no Chile, projeto denominado Atando Cabos.

“Vistamaxx consegue balancear as propriedades mecânicas e reológicas do reciclado, pois age sem quebrar a cadeia polimérica dos componentes da mistura de PP e PE a ser reciclada e elimina o uso de auxiliares de fluxo, contribuindo portanto para baixar custos da operação”, explica Jamil Jacob Neto, líder de desenvolvimento de mercado para o produto da América Latina. Conforme detalha, a aplicação de Vistamaxx antes da regranulação do composto reciclado permite aos reciclados aumentar as quantidades do conteúdo recuperado enquanto ajusta o fluxo espiral do material final, imprimindo consistência ao processo de recuperação de artefatos pós-consumo flexíveis e rígidos. Entre os grades desses polímeros de alto desempenho, Jacob distingue para o processo de reciclagem o tipo de altíssima fluidez Vistamaxx 8880. •

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