Guardadíssimas as devidas proporções, a produção de compostos tem um pé na cozinha, pois envolve precisas combinações de ingredientes para a receita não desandar. Essa semelhança conceitual pinta aqui para tentar dar lógica à entrada em cena de Jane Campos, gerente geral da subsidiária na América do Sul da italiana Radici Plastics, fera em poliamidas virgens e beneficiadas, flamante com o jaleco branco de chef. “Dedico 100% do meu tempo de segunda sexta à gestão da Radici, mas os sábados são para ‘roscovoterapia’ no comando do restaurante Roscovo, com minha sócia e irmã mais nova, Jinne Gomes Lenk”.
Jane explica que as mulheres da sua família têm boa mão para o fogão, tanto assim que outra irmã sua toca um restaurante à beira de praia . “Durante um almoço, eu e Jinne decidimos seguir as pegadas dela e partimos em busca de um local”. A oportunidade brotou, ela conta, na oferta de um decadente restaurante na ativa em nobre área comercial da zona leste paulistana. “Compramos o ponto e Jinne, decoradora profissional de interiores, levou quatro meses na reforma da casa”, rememora Jane. “Com coragem e inexperiência, inauguramos em agosto de 2018 o Roscovo, assim chamado em homenagem à minha mãe; ela abominava cozinhar e sempre fazia arroz com ovo”. Apesar do trabalho pesado, a roscovoterapia não nega fogo. “Todo dia aprendemos algo novo e, o mais divertido, conhecemos muita gente”.
O Roscovo tem 60 lugares, mesas também na calçada, sete funcionários e seis parentes das sócias no batente. “Eu respondo pela gestão estratégica e marketing e, aos sábados, preparo pratos mais elaborados ou novos no cardápio, sempre definido por mim e a Jinne”, acentua Jane. Seu marido também se reveza entre a recicladora que dirige e o controle financeiro do restaurante, acompanhando a esposa nas aparições aos sábados. “Jinne comanda toda a parte operacional e de suprimentos”, ela completa.
Na selfie atual, Jane calcula em R$ 40,00 o ticket médio do Roscovo em dias úteis, passando a R$ 70,00 aos sábados. “Abrimos apenas para almoço de segunda a sábado e, a partir de março, aos domingos”, delimita a chef. “Nos dias úteis oferecemos pratos executivos e cardápio à la carte e os fins de semana são de um menu diferenciado”.
Jane cometa que o variado cardápio do Roscovo foi criado na contramão da moda gourmet. “Optamos pela genuína comida brasileira caseira, com tempero original da vovó aliado a um toque de sofisticação”. O carro-chefe, ela elege, é a feijoada. “Vem à mesa borbulhando, sem gordura e acompanhada por uma exclusividade nossa: a panceta temperada e crocante”. Bem perto da feijoada no ibope da clientela, ela assinala, ficam o t-bone e a picanha preparados em churrasqueira a carvão de quatro metros, tendo farofa crocante como guarnição. “Além dos drinques, a caipirinha sensacional e a cerveja na temperatura exata dão show no bar”.
Jane sustenta que, com olho vivo no caixa e nos suprimentos, mais qualidade, cuidado no preparo, bom atendimento e preço justo, o sucesso bate à porta. “Em um ano, alcançamos o ponto de equilíbrio financeiro e sem explorar toda a capacidade do Roscovo”, ela constata. “O plano é que o capital aplicado retorne em quatro anos”.
A roscovoterapia é ainda mais rápida e saborosa. •
