Quando subtração rima com adição

Reciclagem facilitada de flexíveis atrai Valgroup para tecnologia MDO
Giuntini: MDO exige ajustes no empacotamento por brand owners.

Os evangélicos da economia circular tratam filmes multimaterial como ascensoristas sendo apresentados ao elevador inteligente. De cinco anos para cá, grassa entre maserattis da produção de polietileno (PE), aditivos e extrusoras uma febre de propostas adeptas do lema menos é mais. Por causa desse rumo dos ventos, andam em sinuca de bico os flexíveis laminados de materiais incompatíveis para serem reciclados em conjunto. Para seu lugar, pintam feito bola da vez as estruturas compostas de um único polímero (preferência aberta por PE) e de reciclagem mecânica mamão com açúcar. Por essa linha de raciocínio, perigam ser levados à porta da rua substratos como filmes biorientados de PET (BOPET) e polipropileno (BOPP) em embalagens como stand up pouches.

Uma das vias mais adiantadas em termos de adesão internacional e de convencimento dos brand owners (companhias donas de grandes marcas de bens de consumo) é a tecnologia alemã do filme blown monoestirado no sentido da extrusão (MDO), constituído de grades específicos de PE de alta densidade (PEAD) ou de baixa densidade linear metalocênicos (PEBDLm), com espaço também para elastômeros e plastômeros poliolefínicos. O mono estiramento altera as características mecânicas do filme tubular, contemplando-o com propriedades antes preenchidas nos laminados por BOPET, por exemplo, possibilitando assim a produção de uma embalagem flexível multicamada e monomaterial (PE) e fácil de reciclar. No Brasil, a Valgroup, maior conglomerado da transformação de plásticos do Brasil, mais uma vez sai na frente ao investir na tecnologia MDO, como detalha nesta entrevista seu diretor de inovação, Marlos Giuntini.

Qual a motivação para a Valgroup ingressar na tecnologia MDO?
Investimos nesse processo no Brasil em 2020 com o objetivo chave de trabalhar nos pilares de simplificação de estruturas e redução de consumo de embalagens, permitindo assim o aumento no índice de reciclagem dos resíduos desses flexíveis pós-consumo. Este propósito está alinhado com as demandas dos principais brand owners que atendemos e com a meta de reciclarmos o equivalente a 100% da quantidade de embalagens que produzimos até 2040.

Por que a Valgroup optou pelo sistema MDO em lugar da tecnologia de BOPE? Afinal, o grupo produz BOPP e, se adquirisse uma instalação híbrida (BOPP/BOPE), isso não estaria em linha com seu negócio?
A opção de iniciar com o sistema MDO se deveu à maior rapidez de sua implementação e menor custo, para entregar soluções que permitam a simplificação de estruturas. Em paralelo, a Valgroup estuda BOPE para definir sua estratégia para essa tecnologia a curto/médio prazo.

Como avalia os pontos prós e a desejar entre as tecnologias MDO e BOPE e sua adequação ao mercado brasileiro?
Um equipamento de extrusão com tecnologia MDO tem custo consideravelmente mais baixo que o sistema tenter frame (BOPE), que, por sua vez, opera em uma faixa mais alta de produtividade (kg/hora). As linhas híbridas BOPP/BOPE permitem a produção de filmes planos com características bem diferentes, enquanto o sistema de extrusão com recurso MDO também pode produzir filmes blown convencionais. No aspecto técnico, a parceria com a indústria petroquímica está sendo fundamental para combinar as tecnologias mais recentes de resinas, de forma que as estruturas baseadas em polietileno se aproximem o máximo possível das propriedades de rigidez, ópticas, mecânicas e resistência térmica do BOPP e BOPET, com boa janela de operação e estabilidade de processo. Sem dúvida, um grande desafio técnico.

As tecnologias MDO e BOPE abrem a contagem regressiva para a saída de BOPET em laminados com PE, passando assim de composições multi para monomaterial, mais fáceis de reciclar mecanicamente?
Ambas as tecnologias podem ser ferramentas importantes na jornada de tornar as embalagens flexíveis recicláveis, através da transição de estruturas multi para monomaterial. Nesse processo, é natural que parte dos volumes de BOPET e mesmo BOPP sejam substituídos por estruturas baseadas em PE. São projetos desafiadores e requerem grande esforço de desenvolvimento de processo e produto e de validação em brand owners.

Embalagens laminadas contendo PE MDO da Valgroup já estão presentes nos supermercados do Brasil?
Temos projetos de desenvolvimento de embalagens em andamento contendo PE MDO. A substituição de BOPET ou BOPP é uma mudança de conceito que, em regra, requer ajustes e investimentos nas linhas de empacotamento, para que possam trabalhar com estruturas baseadas somente em PE. A conclusão destes projetos e implementação comercial dependem em grande medida dos cronogramas de investimentos dos brand owners nesses equipamentos.

Na América do Sul, apenas o grupo peruano Oben conta, por enquanto, com máquina híbrida BOPP/BOPE, da marca Brueckner. Ele deve permanecer ou não nesse isolamento na região, com convertedores preferindo investir na via mais barata do MDO?
Temos observado a penetração das tecnologias MDO e BOPE nos mercados europeu e asiático, com promoção ativa dos fabricantes de equipamentos. O balanço entre investimento, produtividade e versatilidade será um dos fatores chave para os transformadores da América Latina selecionarem uma das duas tecnologias. Seja qual for a escolhida, o caminho em direção a soluções de estruturas monomaterial será fundamental no aumento dos índices e na viabilização da reciclagem de alto valor. •

Compartilhe esta notícia:

Deixe um comentário

Dacarto Compostos de PVC, Blendas, Masterbatches e Especialidades Poliolefínicas
A Karina Plásticos desenvolve constantemente novas tecnologias e produtos do segmento de Fibras Poliolefínicas
Interplast 2024
Cazoolo Braskem
Piramidal - Resinas PP, PE, ABS - Resinas Termoplásticas
Perfil Abiplast 2022
Grupo Activas