PP: o risco da dependência excessiva de um único cliente

Autossuficiência crescente e consumo esfriado da China põem em xeque a resina da Coreia do Sul
Petroquímica sul-coreana de PP: exportações para China de difícil substituição
Petroquímica sul-coreana de PP: exportações para China de difícil substituição

O retrospecto das exportações de PP atesta que a Coreia do Sul foi apanhada na ratoeira chinesa em petroquímica. Seguinte: após décadas de saltos de dois dígitos ao ano na economia, a China trombou no último período com avassalador endividamento do governo, infarto imobiliário, desemprego a rodo entre os jovens, penumbra política, inflação e juros elevados. E, como se nada houvesse, prossegue ampliando sua já excessiva capacidade instalada em várias resinas. Entre elas, PP, resina superofertada mundialmente e na qual o país ganhou em 2022  autossuficiência na produção de homopolímero, tal como deve ocorrer em copolímeros a curto prazo. Por tabela, as importações chinesas de PP afunilaram e o excedente doméstico viabilizou exportações regulares da poliolefina e de produtos com ela transformados.

Essa virada no tabuleiro de PP armou a ratoeira na China para seus fornecedores do exterior. Afinal, países exportadores da resina e que tinham no mercado chinês o cliente supremo viram-se, de chofre, diante da imposição de buscar canais de desova que contrabalançassem os fartos volumes de PP antes absorvidos pelo maior importador mundial de matérias-primas. Acontece que não existe destino equiparável à magnitude do consumo da China, mesmo nas suas condições econômicas atuais.

Pois é nesta a sinuca de bico que caiu agora a Coreia do Sul. Sua posição, por sinal, é mais frágil que a de exportadores rivais de PP como os do Oriente Médio. Estes últimos, afinal, participam de conglomerados integrados na cadeia petrolífera, enquanto a petroquímica sul-coreana, embora bastante atrelada a grandes corporações (chaebols), depende de óleo e gás importados para gerar termoplásticos.

Pente-fino da consultoria britânica Icis situa as exportações de PP sul-coreano em 3.5 milhões de toneladas em 2022 contra 3.1 milhões em 2023. Dois anos atrás, a China liderava a cena, abocanhando 29% do volume total, participação que passou a 23% no saldo de 2023, descida calculada em 372.000 toneladas pelo banco de dados da Icis. O bicho pega ainda mais forte nesse enrascada porque a Coreia do Sul, com mercado interno de menor porte, depende crucialmente de exportar PP para rodar com lucratividade aceitável a sua capacidade instalada do polímero. Tanto é assim que o país embarcou 69% da resina que produziu entre 2000 e 2023, estima a Icis.

China à parte, os demais principais destinos do PP embarcado pela Coreia do Sul acusam alterações de pouco vulto no balanço dos últimos anos. O Sudeste da Ásia, exemplifica a Icis, respondeu por 24% das remessas coreanas da resina em 2022 e por 20% em 2023. Mesmo estando em recessão e pisoteada por custos abusivos de energia, a Europa mobilizou 14% dessas exportações da Coreia do Sul no ano passado versus 11% no exercício anterior, registra a consultoria inglesa. Por sua vez, o continente americano (Américas do Norte e Sul) segurou nesses dois últimos anos a mirrada parcela de 9% das compras externas de PP sul-coreano. Por fim, o modesto mercado turco, sinônimo de ráfia, passou de 5% em 2022 para 10% em 2023 a sua posição como destino expressivo da resina remetida pela Coreia do Sul.

A antevisão da total autonomia chinesa em PP atingida em 2030 e a construção atual de unidades da resina mais competitivas em escala e custos na Ásia e América do Norte, a cargo de petrolíferas verticalizadas na petroquímica, fomenta em analistas o seguinte vaticínio: produtores de PP e PE não integrados upstream e antes dependentes em demasia de exportações para a China terão de baixar a produção ou fechar plantas de vez, levados de roldão pela queda em espiral da rentabilidade.

 

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