Plantando verde para colher maduro

Como uma pequena indústria de sacolas responde à pressão da economia circular
Yoshida: mercado começa a se inclinar por pagar a mais por embalagens sustentáveis.

O apreço pela sustentabilidade das embalagens está deixando de ser exclusividade de marcas líderes que reluzem na carteira dos grandes transformadores de flexíveis. Aos poucos, a atenção dada à economia circular se dissemina nos segmentos atendidos por indústrias de menor porte. Esta é a percepção da Valpri Embalagens Flexíveis, indústria controlada há 24 anos pelos irmãos Ivo e Priscila Yoshida, dedicada à impressão e corte e solda de sacos e sacolas personalizados e que terceiriza a extrusão de filmes. Na selfie atual, sua sede em Campinas, interior paulista, roda com capacidade estimada em 600 t/a e consome em média 40 t/mês de poliolefinas. Nesta entrevista, Ivo Yoshida mostra como o vento sopra no seu setor cada vez mais forte em favor da economia circular.

Sacolas plásticas de uso único estão na linha de tiro da economia circular e sobram projetos de lei para proibi-las. Como vê a possibilidade de encolhimento drástico do seu negócio de sacos e sacolas? Qual o Plano B?
Nunca houve nem haverá um mercado perpétuo. As relações de consumo das pessoas mudam naturalmente com o passar dos anos e hoje é a nossa porta que batem as pressões ambientalistas.

Preservar recursos disponíveis e otimizar seu uso sempre foi prioritário para a Valpri, desde seu nascimento em 1995. Apesar da evidente possibilidade de queda de demanda, acreditamos que, devido o fator custo, o mercado ainda demorará a encontrar um substituto para as embalagens plásticas flexíveis. Isso nos dá tempo para entender e atender às novas demandas dos clientes. Todo novo produto tem curva de lançamento, crescimento, maturidade e declínio. Hoje em dia, vemos o início de um mercado disposto a pagar mais por embalagens novas e sustentáveis. Em um setor altamente competitivo como o nosso e, declaradamente, competidor por preços, pretendemos descolar desta concorrência com produtos de maior margem e que consigam atender ao apelo por sustentabilidade.

Quais os prováveis efeitos dessa tendência?
Como pequena indústria, a Valpri sofre barreira de entrada quanto à escala e custos de produção. Mas as novas demandas dos consumidores exigirão profundas mudanças organizacionais, na cadeia de fornecimento e layout de chão de fábrica. Temos nos preparado para aproveitarmos a maior flexibilidade e agilidade características de uma empresa menor. Se formos bem sucedidos, abreviaremos a diferença competitiva da Valpri no seu mercado. Enfim, pretendemos transformar a “pressão ambientalista” de ameaça em oportunidade.

Os adeptos da proteção ambiental não querem somente banir o descartável plástico, mas o ato de descartar. Se a pressão contrária subir a esses níveis extremos, a Valpri sairia do plástico para outro material melhor aceito pela economia circular?
Como em todos os assuntos, existem opiniões relevantes mas, ao mesmo tempo, muitas vezes radicais. Não imaginamos um mundo sem plástico. Entretanto, na hipótese da pressão ambiental subir a níveis extremos, a ponto de eliminar o descarte, vemos uma primeira saída no investimento na produção de embalagens de maior durabilidade. Embalagens que possam ser reutilizadas e/ou mais eficientes no acondicionamento unitário, mas da maior quantidade possível de produtos para aumentar seu rendimento. Aliás, os clientes nos pressionam há bom tempo para que nossos sacos personalizados tenham rendimento e durabilidade maior.

Como a Valpri procura corresponder a essas exigências?
Adotamos medidas como aplicação de cola para abrir e fechar a embalagens várias vezes ou o aumento da gramatura delas. São alternativas para baixar o descarte imediato, tal como o projeto conjunto com a WX8, empresa do grupo Wortex, para criação de envelopes de segurança com nossas aparas de polietileno. O objetivo é conceber um produto 100% de resina recuperada e capaz de, após sua utilização, tornar a ser reciclado sem dificuldades.

A Valpri realiza alguma ação para informar clientes sobre os predicados sustentáveis do plástico e dos sacos e sacolas?
Fazemos isso de maneira reativa e com ressalvas. O mercado está cada vez mais informado e posicionado. Ou seja, qualquer informação inconsistente ou equivocada pode ter efeitos desproporcionais. Diante disso, temos nos esforçado em capacitar nossos colaboradores através de endomarketing e mudanças na cultura organizacional para responder de modo adequado a questionamentos dos clientes.

Qual o tipo de informação sobre plástico & meio ambiente que seus clientes de sacos e sacolas mais demonstram desconhecer?
Excelente pergunta! A grande maioria desconhece completamente o assunto e tampouco se interessa. Aqueles que buscam por produtos recicláveis o fazem por pensar que são mais baratos e, em geral, seu objetivo é alguma aplicação operacional como embalagens de transporte ou de cunho convencional. Uma parcela de clientes pequena mas crescente surge com demandas sustentáveis e até nos surpreendem com conhecimento sobre o tema. Um fato curioso desse público é que, em regra, a sua demanda não é ditada apenas pela sustentabilidade, mas por outras causas correlatas. Exemplo: uma empresa que trabalha com pães orgânicos e veganos queria uma embalagem biodegradável e desprovida de bisfenol A (BPA, componente do policarbonato).

Como o setor plástico deve se posicionar perante os ataques ambientalistas a embalagens de uso único e descartáveis?
É fundamental informar a população a respeito dos benefícios do plásticos e de sua potencialidade. A diferença do material ser entendido como “remédio”, ao invés de “veneno” está no descarte correto das embalagens e no aproveitamento com eficiência crescente, pelo nosso setor, dessa matéria-prima em outras utilizações. •

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