Os novos pulos do gato

O desenvolvimento de embalagens se descola do roteiro do passado

Sustentabilidade e inteligência artificial estão ativando uma torrente de rupturas na concepção de embalagens plásticas e no seu poder de influenciar as vendas de produtos de consumo. A transformadora portuguesa Logoplaste é uma bússola internacional desses novos rumos na esfera dos frascos de poliolefinas e PET para brand owners globais. Sediado nos EUA, o brasileiro Fabio Salik, CEO da empresa para a operação no continente americano, comenta este agito na entrevista a seguir.

Salik: ferramenta carregada em smartphone disseca embalagens no ponto de venda.

1Embalagens multimaterial são repudiadas pela economia circular devido à coleta e reciclagem mecânica caras e complexas. Como essa tendência se manifesta no segmento de recipientes rígidos coberto pela Logoplaste?
A Logoplaste atua forte em embalagens sopradas para lácteos, alimentos, bebidas, limpeza e cuidados pessoais nos EUA, Canadá, Brasil, México e mais 13 países da Europa e Ásia. Na Europa, percebemos rejeição crescente a embalagens multimaterial, devido à dificuldade de reciclagem, tendência que começa a aparecer no Brasil e na América do Norte. Contudo, isso ainda ocorre com lentidão, embora estejam disponíveis alternativas recicláveis e de custo similar. Nesse sentido, o setor de lácteos já manifesta algumas substituições de embalagens cartonadas multimaterial por frascos de PET com barreira a luz, em estrutura mono ou multicamada. Esta última pode ser reciclada a custo acessível. No Brasil, produzimos garrafas de leite longa vida para clientes como Danone, Shefa, Parmalat e Jussara. Utilizamos PET reciclado das próprias garrafas de leite pós-consumo, material incorporado nas pré-formas que darão origem a novas garrafas.

2 Estudos demonstram que o consumidor norte-americano de produtos de higiene pessoal hoje é receptivo a frascos de tamanhos menores, por motivos que vão da praticidade à busca de dosagens individuais mais precisas, ensejando assim a recompra mais frequente. Como vê este coimportamento?
Embora se note alguma movimentação no sentido de reduzir o tamanho das embalagens, ela ainda não configura uma tendência predominante nos EUA. É visível em alguns nichos, de forma a permitir o acesso do cliente a mais variantes ou sabores de um produto. Esta manifestação ainda não se consolidou, pois acarreta custos maiores de produção à cadeia como um todo. As embalagens, por exemplo, apesar de menores e mais leves, não tem um custo de produção proporcionalmente mais baixo. Dessa forma, o custo final por quilo ou litro de produto envasado será, em geral, mais alto em embalagens pequenas que nas maiores.
Uma das exceções parece ser o segmento de produtos de limpeza, onde desponta a tendência por versões mais concentradas. No momento, a intenção tem sido aumentar o número de utilizações possíveis de um mesmo frasco do produto em vez de reduzir o tamanho da embalagem. No entanto, creio que que essa tendência de concentração vá progredir baixando também a volumetria dos frascos.

3Como avalia o emprego da realidade aumentada nos pontos de venda e as mudanças por ela acenadas para embalagens rígidas de produtos de consumo?
No processo de desenvolvimento de produtos, a realidade aumentada permite a experimentação virtual de vários formatos, sem o custo de prototipagem e confecção de ferramental. Temos uma ferramenta que é carregada diretamente em um smartphone e permite a visualização de embalagens diretamente na prateleira do ponto de venda, basta apontar o smartphone para ela. Isso permite que se compare o design, as dimensões, a posição, a cor e quaisquer outras características da embalagem com a de concorrentes ou produtos similares. Os objetivos em vista são custos menores e maior velocidade no desenvolvimento do produto.
Um dos avanços recentes mais representativos em embalagens inteligentes foi concebido pelo conglomerado de bebidas Diageo para o uísque Johnny Walker Blue Label (video Diageo Blue Label). Emprega a tecnologia Near Field Communication (NFC) para se comunicar com um smartphone e entregar conteúdo exclusivo, além de detectar se o selo de segurança foi rompido ou não. Também permite que funcionários de uma loja acessem informações do produto, que consumidores finais recebam sugestões de uso e informa a Diageo sobre hábitos de consumo relacionados à bebida. Embalagens inteligentes como esta serão cada vez mais acessíveis e permitirão uma enormidade de serviços adicionais ao cliente final e informações valiosas ao brand owner. •

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