Olho vivo

Ampacet e Tomra tiram uma pedra do caminho da triagem automatizada de plásticos para reciclagem

A automação é caminho sem volta em qualquer cadeia produtiva e, na reciclagem mecânica do plástico, a participação humana no processo, em destaque no Brasil, é vista cada vez mais como sinônimo de atraso. Mas essa transição depara com algumas lombadas na estrada que não são de cunho socio econômico, mas 100% tecnológico, como ilustra a dificuldade de sensores baseados em radiação infravermelha identificarem polímeros preto na triagem automatizada de resíduos para reciclagem. “A reflexão de todo o espectro de ondas eletromagnéticas de cores resulta no branco e o oposto se aplica à cor preta”, explica Paulo Francisco da Silva, presidente da consultoria Agora Vai Brasil Soluções em Plásticos. “Ela é o calcanhar de aquiles da separação de resinas pelos sensores ópticos devido à ausência de reflexão de qualquer espectro de onda e essa falta de resposta leva à possibilidade de confundir muitos sensores na definição dos materiais da sucata pós-consumo”.

A triagem de resíduos é vital para a obtenção de um reciclado de bom padrão e fluidez, desempenho respaldado pela ausência de polímeros de características distintas misturados em sua composição, ponderam Claudia Kaari e Marcelo da Costa, respectivamente gerente do negócio estratégico de embalagens rígidas e especialista técnico da componedora norte-americana Ampacet, ambos focados no mercado da América Latina. Entre as perdas causadas pela separação manual do refugo plástico, eles distinguem a baixa velocidade do trabalho, o alto nível de contaminação de resinas diferentes e dificuldades na seleção por cor. “Colorantes pretos são bastante adicionados a embalagens plásticas para fins estéticos ou para dar opacidade”, assinalam os dois analistas. “Em embalagens de alimentos, masters pretos protegem o conteúdo da fotodegradação provendo barreira a luz visível e ultravioleta”.

Até o momento, expõem Cláudia e Marcelo, tem sido inviável a separação automática da maioria das embalagens pretas pós-consumo, lacuna preenchida pela triagem manual. Eles também ressaltam a possibilidade de, sob a separação manual, o material preto contaminar o reciclado final, penalizando suas características técnicas e valor comercial. “E quando diferentes polímeros pretos entram no mesmo fluxo de reciclagem, sua incompatibilidade pode complicar o processo de transformação e fragilizar o produto final”, eles completam.

Foco em rígidos
Sensores ópticos na faixa de infravermelho próximo (Near Infrared-NIR) separam resíduos plásticos em velocidades industriais, mas não funcionam na triagem de polímeros pretos, observam Claudia e Marcelo. “São incapazes de identificar e separar plásticos contendo negro de fumo, o pigmento preto mais utilizado e que absorve parte significativa do espectro ultravioleta e infravermelho”, justificam os especialistas da Ampacet. “Desse modo, o negro de fumo impede a reflexão da luz infravermelha de volta ao sensor, bloqueando reconhecimento do tipo de resina por uma varredura NIR”.

A Ampacet ajuda a tapar esse fosso com o recente desenvolvimento de REC-NIR-Black™, série de masters pretos detectáveis na região do NIR. “Permite a separação do plástico preto por sensores ópticos de infravermelho próximo, viabilizando sua reciclagem”, completam Claudia e Marcelo. A série REC-NIR-Black™ agrupa um concentrado desenhado para poliolefinas, 1900302-S, e outro para PET, 7900107-NB. “Proporcionam uma cor preta intensa e brilhante, conferindo ótima barreira à fotodegradação para alimentos embalados”, eles acentuam, frisando que essa família de concentrados permite a detecção superior a 94%, por sensores NIR, de artefatos pretos de polipropileno, polietileno e PET, as resinas dominantes em embalagens plásticas.

Claudia e Marcelo abrem uma ressalva: a identificação NIR depende não só da composição do artefato plástico, mas de sua espessura, forma e aspecto superficial. “Artigos grossos e rígidos são de definição mais fácil que finos e flexíveis”, eles comparam. No momento, acrescentam, os masters REC-NIR-Black™ são recomendados para corpos compactos, como frascos, tampas e peças de bens de consumo maciço. No embalo, eles encaixam que a Ampacet tem condições de produzir essa série de concentrados em suas unidades no Brasil e Argentina e projetos de validação do material já tramitam em clientes por aqui. “À medida em que a instalação de equipamentos de detecção evolua em recicladoras no Brasil, a demanda pela série REC-NIR-Black™ tende a aumentar”.

Bola de ouro em sensores ópticos, a norueguesa Tomra agenda para outubro o lançamento no Brasil de uma guinada na reciclagem mecânica de plásticos: o equipamento Autosort® Black. “Ele identifica e seleciona plásticos pretos com tecnologia baseada em infravermelho médio (Middle Infrared-MIR)”, destaca Carina Arita, diretora comercial da Tomra Sorting Recycling Brasil.

Versatilidade e qualidade, distingue Carina, determinam a valorização do reciclado. “Ou seja, plásticos reciclados sem pigmento ou na cor branca desfrutam de uma gama de aplicações bem mais abrangente que aqueles contendo preto e outras cores misturadas, pois o reciclado resultante só terá vez em usos que aceitem cores escuras”, ela argumenta. Além do mais, prossegue, o resíduo plástico dirigido à reciclagem mecânica deve ser monomaterial, de modo a apresentar as propriedades exigidas pelo mercado. “A seleção manual é, muitas vezes, feita por tipo de embalagem, enquanto nossos sensores detectam a propriedade espectral específica de cada material, evitando a entrada de contaminantes no fluxo a caminho do processo de reciclagem”.

Retomando o fio da cor preta, a radiação infravermelha MIR de Autosort® Black exibe comprimento de onda superior ao do sistema NIR padrão. “Em plásticos, a cor preta provém de pigmentos de base carbono, de alta absorção de NIRE e luz visível”, nota Carina. Daí porque sensores à base de NIR não podem ser empregados para identificar polímeros pretos”. Autosort® Black dá conta dessa seleção com sistema especial de iluminação. “Dispõe de lâmpadas calibradas para produzir luz na faixa de comprimento de onda MIR”, esclarece a diretora. “A unidade de detecção analisa a parte mais importante do espectro MIR para obter os principais dados da luz proveniente dos polímeros pretos”.
Carina detalha o processo assinalando que os resíduos de polímeros pretos são transportados na esteira de separação de forma constante e bem distribuída. “Eles passam abaixo do leitor, onde recebem a luz MIR”. descreve Carina. “Como o pigmento preto a absorve bem pouco, a luz refletida é detectada e analisada pelo nosso sensor óptico, ficando assim capaz de identificar cada polímero”. Vencida esta etapa, o sistema do equipamento Autosort® Black envia um comando ao bloco de válvulas para ejetar o polímero desejado com um jato de ar e isolando-o do fluxo. “O processo permite, portanto, a obtenção de diferentes tipos de polímeros separados uns dos outros”. Praxe em todos os sistemas da Tomra, os projetos envolvendo Autosort® Black são ajustados pela empresa de acordo com o material reciclado pelo cliente. •

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