O canto da sereia

Reciclagem de PET grau alimentício seduz a Yplastic a sair do seu quadrado

A vida real não costuma ser sustentável numa faceta do setor plástico. Ela mostra que o link entre negócios de transformação e reciclagem não é direto nem simples, devido às particularidades tecnológicas e mercadológicas sem denominador comum. No entanto o canto sedutor da sereia da circularidade e a procura hoje febril por reciclado premium assanham indústrias de transformados a aplainar as diferenças entre os dois ramos e estender o braço na produção de resina para segundo uso. A cearense Yplastic, joia da coroa das embalagens de PET no Norte/Nordeste, prepara o embarque nessa corrente com o plano de debutar na reciclagem mecânica do poliéster grau alimentício em 2025.
“A produção desse material recuperado pode trazer um diferencial estratégico e comercial para a empresa, pois muitos clientes tendem a usar PET pós-consumo reciclado grau alimentício em seus recipientes”, argumenta Aline Telles Chaves, vice-presidente de operações do Grupo Telles, controlador da Yplastic, Naturágua (água mineral), Agropaulo (produtos agropecuários), Santelisa Embalagens (papel e papelão) e Ypetro (distribuição de etanol). “Com produção própria de PET reciclado, garantiremos o fornecimento nos volumes necessários e baixaremos os gastos na compra da resina virgem, à medida em que fortalecermos a cadeia da reciclagem”, completa a dirigente.

Expansão em pré-formas
Embora haja um cordão umbilical entre água mineral e PET, O Grupo Telles estabelece Yplastic e Naturágua como negócios independentes. “A Yplastic atende o mercado de embalagens em geral e a Naturágua é apenas um de seus clientes quando bate fornecedores concorrentes em qualidade e preço”, sublinha Aline. Hoje em dia, ela completa, a Naturágua incide em menos de 20% da carteira da Yplastic, índice rumo a declínio com o projeto de expansão em breve da transformadora em pré-formas. “Não há uma relação direta do investimento em reciclagem da Yplastic com o volume de compras da Naturágua”, separa a porta-voz do Grupo Telles. “Uma evidente sinergia beneficia ambas as empresas, mas a demanda da Naturágua pouco pesa no mercado de PET reciclado que vislumbramos”. Em seu rumo a opções de embalagens mais sustentáveis, a Naturágua já envasa garrafas de PET virgem com teores de reciclado grau alimentício.
Com 26 anos de ativa, a Yplastic persegue este ano receita de R$ 40 milhões versus R$ 15,6 milhões em 2021 e sua produção mensal de pré-formas ronda a marca de 10 milhões de unidades, a cargo de uma injetora HyPET da canadense Husky. “Hoje ela fornece pré-formas de 9 g, 13,5 g e 29 g”, especifica Luiz Cortez, diretor da Yplastic. “Planejamos investir U$1,5 milhão a curto prazo em mais linhas HyPET”. O parque fabril fecha com máquinas ASB Nissei de injeção/sopro em um estágio, para produzir garrafas e garrafões de 330 ml, 500 ml, 5l, 10 l e 20 l. “Pretendemos manter estes equipamentos que focam embalagens retornáveis (10 e 20 l) e aqueles voltados para recipientes descartáveis serão repensados para aplicações e perfis de clientes hoje fora do nosso raio de ação”, antecipa Cortez.

Aline e Cortez concordam que a oferta doméstica de PET reciclado grau alimentício segue a desejar. “Esse mercado ainda precisa ser ampliado e, do seu lado, a Yplastic vai empregar a tecnologia requerida para fortalecer a cadeia produtiva do poliéster recuperado como um todo”, eles asseguram.

Não é para iniciantes
Se der certo, será um feito e tanto da Yplastic, deixa clara a análise de Auri Marçon, presidente executivo da Associação Brasileira da Indústria do PET (Abipet). “Reciclagem de PE para uso em embalagens alimentícias exige altíssimo conhecimento técnico e disposição para enfrentar um abastecimento de sucata rústico, de logística muito complexa e baixa confiabilidade quanto aos volumes de suprimento”, vaticina o dirigente. “Não é, enfim, um business fácil para quem administra marcas ou produz embalagens de alimentos”.
Os complicadores estendem-se a restrições sanitárias e delimitação de espaço, ele acentua. “Por exemplo, uma empresa que manipula material pós-consumo não pode produzir embalagens alimentícias ou efetuar seu envase no mesmo ambiente industrial”.

Coleta claudicante
Dois anos atrás, a Abipet estimava em torno de 30% a ociosidade média dos recicladores de PET no país, devido à coleta de sucata insuficiente. De lá para cá, considera Marçon, a situação não mudou muito, sem novos entrantes de peso no recolhimento de resíduos e, retomada a coleta após a pandemia, o referido índice de ociosidade hoje é estimado entre 20% e 25%.

“A fragilidade no sistema nacional de coleta é um grande gargalo para recuperação de materiais de embalagens recicláveis”, atesta o dirigente. “Os setores industriais estão investindo para reciclar e dar destinação correta aos refugo pós-consumo, mas a coleta pública segue deficiente, pois não permite a triagem dos resíduos recicláveis”. Por sinal, ele salienta, a responsabilidade pela coleta seletiva não cabe à indústria. “Trata-se de encargo primordial do poder público, pois não é possível para a cadeia fabril administrar sistemas independentes de coleta, movimentando cargas de diversos materiais nas vias municipais, sob risco de desastre logístico e dano socioambiental”.

Levantamentos encomendados pela Abipet situam em 1 milhão de t/a a atual capacidade nacional para produzir resina virgem e em 311.000 toneladas o volume de garrafas PET pós-consumo recicladas em 2020, saldo equivalente a 55% desses recipientes então descartados pela população. Nas planilhas da Abipet, a recuperação da resina grau alimentício correspondeu a 23% do total daquelas garrafas recicladas. “Sondagens iniciais apontam para números modestamente melhores para o ano passado”, completa Marçon.

Husky
Pré-formas mais que demais
A Yplastic forma entre os transformadores brasileiros de pré-formas adeptos dos sistemas de injeção HyPET5e da canadense Husky. “Essa linha segue a filosofia do sistema totalmente integrado, pela qual cada componente é concebido visando a máxima velocidade e eficiência”, enaltece Paulo Carmo, gerente da unidade de negócios de sistemas de injeção para embalagens da empresa no Brasil. “Sua construção mecânica foca robustez e leveza, enquanto os sistemas de potência se valem de motores elétricos, hidráulicos ou pneumáticos, opções ditadas pelo grau de excelência buscado em cada movimento”. Quanto aos sistemas de resfriamento, segue o especialista, sua performance sobressai por combinar à perfeição os fluxos de água e ar. “A precisão e velocidade da linha resultam da ação conjunta de requintados sensores e comando eletrônicos”, assinala Carmo.
Clientes como a Yplastic, que instalaram sistemas de injeção Husky nos últimos dois anos, desfrutam os préstimos da plataforma preditiva Advantage + Elite, para monitoramento remoto de parâmetros de processo. “Pela análise da massa de dados por inteligência artificial e algoritmos, a plataforma permite identificar tendências e padrões que antecedem as falhas, mediante a emissão de alertas antecipados, evitando assim longas paradas da máquina”, conclui Carmo. •

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