No olho do furacão

Mudanças climáticas vieram para ficar na precificação das resinas
Simone de Faria

A sazonalidade sempre foi uma diretriz das projeções de preços de termoplásticos commodities. Seu parâmetro tradicional são as flutuações do consumo, mas, de tempos para cá, fenômenos de impacto ambiental antes vistos como esporádicos hoje demonstram uma regularidade a ponto de também se firmarem como variáveis influenciadoras no cálculo das cotações das resinas em mercados formadores de preços e, por tabela, nos de seus seguidores, entre eles o Brasil.

Uma referência nesse sentido na precificação de resinas brasileiras como polietileno, é a temporada norte-americana de furacões, no período de julho a novembro. Seu grau de intensidade embute a ameaça de interrupções por força maior em plantas na rota de sua devastação pelo sul dos EUA. No ano passado, porém, não só um, mas dois eventos seguidos e surpreendentes amplificaram o problema. Além da atípica contundência da passagem de furacões, aconteceu a atípica tempestade de inverno no Texas. Temperaturas muito baixas, podem não ter efeito algum em regiões como Rússia e Canadá, onde há infraestrutura adequada, porém em lugares de clima mais quente como os estados do sul norte-americano, que concentra boa parte da produção mundial de petroquímicos, os efeitos foram catastróficos.

Eventos climáticos cada vez mais frequentes e intensos têm causado interrupção nas cadeias de suprimentos. Furacões e tempestade de neve nos EUA, inundações na Europa, tufões na Ásia, tem tido impacto maior, não só na produção de matérias-primas, desde petróleo e gás a resinas, como na logística de entrega. É um desarranjo que se agrava desde 2020, por causa da pandemia. No fim do primeiro trimestre do ano passado, muitos produtores norte-americanos de resinas baixaram a taxa de operação das fábricas para diminuir os estoques temendo uma forte queda nas vendas provocada pelas medidas de restrições sanitárias e sem considerar a possibilidade dos pesadelos climáticos que vingaram nos meses seguintes e desequilibraram ainda mais a oferta e a demanda.

A lei da oferta e demanda é soberana no mundo das commodities. É em função dela que hoje presenciamos preços de resinas tão discrepantes entre América do Norte e Ásia. Entre 2015 e 2020, as diferenças entre valores pagos nos EUA e China variavam em torno de US$50/t para polietilenos e entre US$150/t e US$350/t para polipropilenos. Corte para hoje: as diferenças estão superiores a US$500/t e US$1500/t, respectivamente. Com essas distâncias entre as duas maiores referências de preços internacionais de polímeros, não me surpreende que os fretes marítimos estejam tão altos, parecendo compensar essa disparidade, embora sejam justificados pela insuficiência de contêineres e navios instaurada pela pandemia e por ora sem fim à vista. O cenário de descompasso entre oferta e demanda nessas duas regiões formadoras de preços, provoca ainda mais desequilíbrio na precificação global dos termoplásticos.

Quando produtores de resinas se vêem com excesso de estoque, usam os traders como canal de venda rápida. Porém, com oferta limitada e precisando atender os contratos firmados com clientes, cai o volume disponibilizado a esses agentes. É nessas horas de disponibilidade restrita de material no mercado que quem paga um preço melhor leva. Por aqui, os transformadores em regra avessos a contratos de suprimento podem sofrer nessas circunstância – menos com a falta e mais com a alta nos preços, como aconteceu no segundo semestre de 2020. Mesmo nos EUA, onde grande parte das empresas transformadoras rodam atreladas a contratos de abastecimento, há uma parcela atendida com volumes spot e que ajuda a balancear os preços quando há mais oferta, mantendo a garantia de disponibilidade em períodos turvos como esse que vivemos. Reitero que isso vale até certo ponto, pois quando a situação chega a um determinado limite, deparamos com petroquímicas recorrendo à decisão de paralisar unidades sob alegação de força maior, como anunciou a Dow em 9 de setembro para sustar, sob a justificativa de efeitos da passagem do furacão Ida, a produção de uma fábrica de polietileno no estado norte-americano da Louisiana. Mas, mesmo sem contrato, o transformador que tiver uma regularidade de compras de um fornecedor, pode ser beneficiado no período de escassez. A fidelidade, não tão valorizada quando há oferta abundante, se torna importante quando o jogo vira e o produtor da resina é quem dá as cartas. Mas, manter bons contatos e desenvolver relacionamentos com fornecedores é sempre proveitoso em qualquer época.
Empresas que exportam resinas devem manter sempre um volume dedicado ao mercado externo, independentemente da situação momentânea dos preços, e indústrias importadoras devem fazer o mesmo. De preferência, mantendo um estoque regulador, mas sem esquecer do fluxo de caixa.

Desde maio passado, meteorologistas nos EUA já indicavam uma temporada de furacões acima da média este ano. Daí porque se manter bem informado sobre o comportamento do clima e entender sua influência sobre a dinâmica dos preços internacionais torna-se fundamental para um transformador tocar seu barco adiante. A partir de 2020, aliás, a conjuntura passou a apresentar variáveis antes impensáveis e que têm dificultado as previsões de preço e demanda, como ilustra também a contaminação por novas cepas do vírus em países antes dados como imunizados. Fica claro, então, que as empresas precisam embarcar rápido nas mudanças desses novos tempos, pois muitos acontecimentos estão escapando da futurologia tradicional. As regras do jogo estão se alterando e quem não abrir o olho o bicho – o furacão, melhor dizendo – pega. •

Simone de Faria é diretora da consultoria Townsend Solutions responsável pela América Latina.

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