No calor da hora

Em meio à inédita quebra no suprimento de resinas, o setor plástico tateia no escuro

Cena I- E-mail de transformador aos clientes: “Diante da elevação dos preços, alta demanda e escassez de resinas e outros insumos que compõem nossos produtos, somos forçados a SUSPENDER (sic) nossa tabela de preços vigente, a partir da data de hoje 18/09/2020. Todos os pedidos deverão ser cotados no ato da compra e valerá o preço do dia, até segunda ordem. Iremos recalcular todos nossos custos, revisar nossos preços de vendas, pedidos em carteira e estoques”

Cena II- “Não tenho mais a quem recorrer, não me deixe na mão !”, apelou por fone um pequeno transformador de flexíveis ao editor de Plásticos em Revista. “Os pedidos estão entrando e estou sem matéria-prima para produzir. Me ajude a conseguir homopolímero de polipropileno para filme e polipropileno biorientado. Se necessário, compro até um volume maior do que normalmente levo e pago à vista”.

Com couro curtido pelas eras Sarney, Collor, Itamar, FHC, Lula e Dilma, o editor, que pensava já ter visto de tudo um pouco na praça, reconhece que, depois dessa, nada mais falta para se caracterizar o chamado novo normal. “Estamos numa tempestade perfeita à espera de um milagre”, definiu um porta-voz da transformação.

Não é para menos. Distanciamento social, semi-flexibilização e o auxílio emergencial incendiaram o consumo de produtos essenciais e bens duráveis de uso doméstico, com um torque acima da capacidade produtiva nacional de polietileno, polipropileno e PVC, este último de potencial estropiado pelo baque na produção da Braskem desferido pelo desastre geológico em Alagoas. O drama da oferta à mingua é extensivo a plásticos de engenharia. Exceto poliamida 6.6, o Brasil importa todos os materiais nobres.

Após a tesoura voadora da insuficiência da matéria-prima doméstica, com preços volta e meia reajustados e em linha com o exterior, o transformador levou um mata-leão do dólar valorizado e volátil e da incerta e baixa disponibilidade internacional de resinas e de frete, engessando a alternativa das importações. E tendo em vista as vendas aquecidas de fim de ano, avolumam-se nas indústrias de transformação os pedidos colocados por indústrias finais, ariscas a absorver repasses dos aumentos das resinas.

Nem tudo, porém, é de clareza solar. Eletroeletrônicos, por exemplo, são quintal dos plásticos de engenharia, cujas importações secaram, reiteram os fornecedores. Ouvida a respeito por Plásticos em Revista, a associação Eletros garantiu que o polo industrial de Manaus rodava em setembro com 90% de ocupação. Megafone dos componentes automotivos, o Sindipeças disse ignorar problemas de suprimento de plásticos entre seus filiados.

À parte essas poucas controvérsias no calor da hora, há um fator que turva as perspectivas de volta do mercado a alguma estabilidade em 2021: o futuro do auxílio emergencial, motor tubo do atual pico do consumo. Se acabar mesmo em dezembro, a demanda de resinas recua, mas numa conjuntura insegura pelo câmbio e falta de reformas estruturais para valer. Se, por conveniência política e permanência do vírus, o auxílio emergencial dado a mais de 60 milhões de habitantes adentrar o ano que vem, o endividamento do governo aumenta de forma exponencial, convergindo para o risco da ansiada retomada em V transfigurar-se num labirinto em W. Ao fundo, seguem imutáveis o dólar nas nuvens, penúria de investimentos, desemprego recorde e constrangedores índices de inadimplência e endividamento das famílias.

Enquanto isso, em Brasília… •

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