Melhor não esperar pela batida do martelo

A iniciativa privada arma o clima para a proibição de descartáveis virar lei

A proliferação internacional de proibições de sacolas e demais descartáveis plásticos banalizou-se a ponto de, mais um pouco, virar notícia o dia em que nenhum país anunciar o banimento daqueles execrados produtos de uso único. No Brasil, a indústria plástica acompanha sem sobressaltos o pinga pinga de projetos de lei reivindicando o veto a descartáveis de resinas petroquímicas e sua substituição por contratipos à base de materiais de fontes renováveis, entre eles papel e, mesmo sem escala comercial e preços competitivos, os polímeros biodegradáveis.

A postura distanciada do setor plástico a este ambiente cada vez mais irado para seu maior mercado (2/3 do consumo de polietileno provém de embalagens de uso único, por exemplo) tem muito a ver com a tramitação a passo de cágado das propostas de parlamentares nas infindáveis instâncias do poder público e – claro que não se diz isso em público – com a certeza de que, no Brasil, há as leis que pegam e as que não pegam. Falam por si, no plano ambiental, as sucessivas protelações da data de fechamento dos lixões determinado pela lei da Política Nacional de Resíduos Sólidos. Enquanto isso, o setor plástico vai recebendo as bolas nas costas e vida que segue.

Pelo andar da carruagem, ainda não caiu a ficha para a cadeia plástica que sua fritura já começou e a temperatura fervente da água vai não só piorar, mas colocar ações e decisões do governo a reboque dos acontecimentos. Isto porque a iniciativa privada prepara célere o terreno para o costume enraizar-se a ponto de um dia ser oficializado na forma de lei. Aos fatos: supermercadistas dão caixas de papelão a clientes que recusam sacolas descartáveis; redes de hotelaria trombeteiam a redução de itens de plástico em suas instalações; entra na moda a venda a granel de cereais, dispensando embalagens plásticas, e, para não alongar a lista, uma loja paulistana de utilidades domésticas foi aberta dando o recado já no nome: “Mapeei – Uma Vida Sem Plástico”.

Esse repúdio crescente e, pior, pulverizado (mais difícil de ser monitorado e controlado), periga ter o efeito colateral de acelerar o andamento dos projetos de lei que clamam pelo adeus aos descartáveis. E qual governo perderá essa deixa mamão com açúcar para responder aos anseios de quem vota aprovando a proibição?

Enquanto isso, sobram na praça do plástico demonstrações da predileção por enfiar a cabeça na areia diante da conjuntura adversa. Um dos maiores transformadores nacionais de flexíveis deixou pasmos visitantes de uma petroquímica que lhe indagaram sobre como via esta avalanche de pressões negativas sobre o plástico. “Isto aí é problema de vocês que produzem as resinas”, ele disse. “Vocês que tratem de consertar”. Na mesma trilha, uma cabeça coroada em descartáveis comentou que, se alguma lei vetasse seu negócio, já tinha na manga o plano B: fornecer os produtos contendo um aditivo biodegradável. Ou seja, ainda não percebeu que o verdadeiro alvo da ojeriza ambientalista não é o descartável em si, mas o ato poluidor de descartar. Não é por outra razão a preferência da economia circular por produtos reutilizáveis.

Filosofia do misticismo judaico, a cabala sustenta que nada acontece por acaso. •

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