Falta dar corda no crescimento

Indústria de artefatos plásticos deve fechar o ano em linha com PIB quase zero

Nos rankings anuais da Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast), um mercador de bens duráveis, a construção civil, e outro de itens de consumo imediato, o balcão dos alimentos, mobilizam quase a metade do consumo nacional de produtos transformados. Nenhuma dessas frentes foi poupada pela crise acumulada em quatro anos e com a corda solta no primeiro semestre, deixa claro na entrevista a seguir José Ricardo Roriz Coelho, presidente da Abiplast. Em linha com o PIB previsto para este ano, tantas vezes revisado para baixo em poucos meses, o dirigente antevê nesta entrevista um avanço simbólico da produção de transformados neste nada memorável 2019 e condiciona a volta do setor aos patamares de crescimento pré-crise ao ataque a sério às aberrações que fazem a festa no Custo Brasil.

Roriz: risco de desabastecimento justifica redução temporária das alíquotas de importação e suspensão de antidumpings sobre PVC.

Como viu o comportamento da transformação no primeiro semestre?
No início de 2019, nossa expectativa era de recuperação do mercado e dos negócios após anos de retração econômica. Entretanto, ao longo dos meses, tais expectativas não se refletiram em melhores números da indústria. As projeções para os indicadores macroeconômicos começaram a ser revisados – a estimativa para o PIB mapeada pelo Banco Central já teve a 19ª revisão consecutiva semanal para baixo, partindo de 2,5% em janeiro para 0,82% atualmente, depois dos resultados abaixo do esperado no primeiro trimestre.

Para a indústria de transformados plásticos não foi diferente. No fim de 2018, nossas projeções apontavam para um crescimento de cerca de 2,5% para a produção física. Porém, com as recentes revisões para baixo do PIB e da produção industrial, nossas estimativas indicam hoje um crescimento de 0,7% para esta variável este ano, evidenciando uma recuperação ainda lenta para o setor.

Não houve segmento da transformação menos vulnerável à crise?
De janeiro a maio de 2019 (dado de junho não divulgado por fontes oficiais como o IBGE até o fechamento desta edição), a produção física do setor recuou (-1,3%) em relação ao mesmo período do ano anterior. Para o fechamento do primeiro semestre, não esperamos alterações significativas de desempenho. Entre os principais demandantes de produtos plásticos, as indústrias de eletrônicos e artigos de higiene pessoal e limpeza contribuíram negativamente para o resultado do setor com respectivas quedas de -8% e -0,3%, nessa base comparativa. O segmento de acessórios plásticos para construção civil encolheu -3,7% no mesmo período.

Em termos de empregos na transformação, mesmo nesse cenário de estagnação, foram criadas 4.200 vagas de janeiro a maio último e, quanto ao comércio internacional, vemos um déficit de US$ 904,2 milhões no mesmo período, mantendo assim o histórico saldo negativo do setor. Quanto à demanda, o comportamento acompanhou a produção física, com retração de -3,2% no período acumulado em relação aos mesmos cinco meses iniciais de 2018.

Produtos de Limpeza

Duros na queda

“No início de 2019 prevíamos crescimento de 5,7% no ano para nosso setor, sob a premissa de que as reformas estruturantes do novo governo se concretizassem já no primeiro semestre”, expõe Paulo Carvalho Engler Pinto Jr., diretor executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Produtos de Limpeza e Afins (Abipla). “Mas devido ao atual cenário de votações no Congresso e aos dados de empregabilidade e da indústria de transformações revisamos a previsão para um avanço de 3,11%”.

À sombra de desempenhos positivos desfrutados em 2018, as categorias de sabão em pó, amaciantes, esponjas e água sanitária devem continuar em alta este ano, considera Engler. “No ano passado”, ele assinala, “caíram as vendas de sabão em barra, desinfetantes, saneantes multiuso, inseticidas e detergentes para lavar louça”.

Engler não vê condições de comparar o primeiro semestre de 2019 com o mesmo período no ano anterior por causa das distorções nos números resultantes do impacto nas vendas de saneantes provocado pela greve dos caminhoneiros. Um sinal animador para o mercado de produtos de limpeza, ele percebe, é emitido pelo balcão do varejo. “O canal atacarejo segue forte e a Associação Brasileira de Supermercados prevê crescimento de 3% nas vendas este ano”.

Com estes resultados, dá para ter uma expectativa animadora para 2019?
Acreditamos em resultados positivos na última metade do ano caso sejam efetivadas as reformas estruturais que o Brasil tanto precisa para se recuperar. Entre elas, a aprovação da reforma da Previdência é o primeiro passo nessa direção.

Diante dos resultados do setor transformador e do ambiente de negócios ainda sem uma melhora consolidada, revisamos nossa projeção da demanda por produtos plásticos para 2019 de crescimento de 3,5% para 2,6%, acompanhando a revisão para a produção física, conforme já mencionado anteriormente. Esperamos que o setor apresente uma recuperação, mas ainda observando esses movimentos de forma bastante conservadora.

Chocolate & Confeitos

Um gosto de quero mais

“Estamos cientes da instabilidade nos primeiros meses do ano, temos uma nova política econômica e uma queda no PIB, o que fatalmente afeta a indústria de produtos não essenciais”, pondera Ubiracy Fonseca, presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Chocolates, Amendoim e Balas (Abicab). “Mas também estamos otimistas se compararmos com o cenário dos últimos anos”. Nessa trilha, Fonseca aponta para o crescimento de 6,5% na produção de chocolates em 2018, culminando em 671.000 toneladas, inclusos achocolatados em pó. Ele também ressalta o volume de 515.000 toneladas de grãos de amendoim aferidos na safra 2018/2019 e, embora a produção de balas e gomas tenha recuado 8% no ano passado, alcançando 278.000 toneladas, as exportações desses confeitos passaram de 78.000 toneladas em 2017 para 88.000 no ano passado.”São dados que mostram movimentação no mercado e uma perspectiva positiva para a economia”, ele frisa.

Pelo monitoramento da Abiplast, qual a sua projeção dos reajustes nos preços internos de PP e PE no primeiro semestre e como os compara à média internacional no período?
No decorrer dos meses que contemplam o primeiro semestre do ano, verificamos, por meio de relatórios internacionais, uma oscilação nos preços domésticos e internacionais de PP e PE. Entretanto, se analisarmos o período com um todo, os preços registram um comportamento estável. Vale mencionar, por outro ângulo, que, mesmo com os preços “flat”, a diferença em U$/t entre o preço doméstico e os internacionais permanece em torno de 35% a 40%, efeito dos custos de internação que envolvem proteção tarifária e a chamada taxa de conforto, além das tarifas antidumpings que somam nessa diferença.

Em agosto próximo, encerra-se a vigência de antidumpings para PVC S (em solução) da China e Coréia do Sul e para PP da África do Sul, Coreia do Sul e Índia. Como a Abiplast avalia a possibilidade de esses antidumpings serem renovados ou extintos de vez?
O novo governo indica ter uma política mais “pró-mercado” e a favor da maior competitividade industrial, dando sinais de maior abertura comercial. Daí por que acreditamos que mercados fechados, concentrados e monopolizados possuem grande chance teórica de terem suas dinâmicas revistas diante dessa orientação. Por isso, esperamos que as condições comerciais de acesso a matérias-primas para o setor de transformados plásticos sejam reconsideradas e as tarifas antidumpings fazem parte delas. Como em todos os processos de revisão de direitos antidumping, a Abiplast se posicionará contrária a renovação dessas medidas, até como sinal de melhora da competitividade e fortalecimento do cenário econômico.

Supermercados

No rastro da volta por cima

“Projetamos para 2019 um crescimento real de 2,7% a 3% nas vendas no Estado de São Paulo”, dimensiona Ronaldo dos Santos, presidente da Associação Paulista de Supermercados (Apas). “Vale lembrar que o crescimento em 2018 dos nossos filiados foi de 2,32% , menor que o piso projetado de 2,5%, mas maior que a alta de 2,07% do setor supermercadista no plano nacional”. No primeiro semestre, reconhece o dirigente, a previsão de desempenho da Apas ficou muito abaixo do esperado e de janeiro a maio as vendas nos supermercados paulistas acusavam tênue recuo de 0,75%. Mas o primeiro semestre deve ter fechado com leve alta ou perto de zero”, considera Santos.

Ele justifica a performance em fogo baixo com o desemprego nas nuvens, disparada do dólar e, no início do ano, as péssimas safras de alimentos fundamentais, como feijão e batata, levando ao seu encarecimento. “O feijão subiu 54% em apenas um mês e os preços de produtos como batata, leite, alface e ovos aumentaram a ponto de causar forte impacto no prato do brasileiro”, sublinha Santos. “A alta do dólar tornou a exportação mais atraente para o produtor de alimentos, o que aumentou o preço de produtos como cárneos e aves que reduziram suas vendas internas”. Além disso, emenda o presidente da Apas, a valorização do dólar afetou os preços de produtos importados e daqueles dependentes de matérias-primas cotadas na moeda norte-americana, caso em especial das indústrias de cosméticos e limpeza doméstica.

O encaminhamento das reformas da Previdência e fiscal e outras pautas de governo capazes de contribuir para a retomada do emprego e consumo fundamentam o otimismo de Santos em relação ao movimento até dezembro. “Por isso, a Apas não revisará sua previsão de vendas para este ano”.

O desastre geológico em Maceió levou à paralisação desde maio da extração de sal gema, obrigando a Braskem a importar dicloroetano para rodar suas fábricas de PVC em Alagoas e Bahia, responsáveis por 70% da produção nacional do polímero. Como a Abiplast avalia o impacto desse problema sobre o suprimento desde então de PVC da Braskem para os transformadores?
No momento, importações de PVC são necessárias para suprir a demanda doméstica e a possibilidade de parada de produção das plantas de Alagoas e problemas de fornecimento de insumos para as de Camaçari coloca ainda mais em risco a capacidade de atendimento da demanda doméstica pelo vinil. Alternativas como a importação de EDC e PVC estão na mesa, mas diversas questões devem ser colocadas. Em primeiro lugar, não há excedente de produção mundial de EDC. OS EUA são um grande exportador de PVC, mas já têm países asiáticos como clientes primordiais. Será que haverá deslocamento suficiente de EDC do exterior para suprir a demanda brasileira? E a que custo será feito esse deslocamento de clientes tradicionais desse intermediário para o Brasil? Esse custo será repassado a jusante aos transformadores? São indagações nessa linha que nos fazem entender e defender que a melhor alternativa para esse período de possibilidade de desabastecimento é a redução temporária das alíquotas de importação e suspender os antidumpings incidentes sobre PVC, ao menos até seu fornecimento ser completamente restaurado.

Devemos observar em julho e agosto um aumento das importações de EDC ou operações conjuntas de importações de EDC e PVC. Segundo nosso balanço, será preciso trazer perto de 50.000 toneladas de EDC e 60.000 de PVC para suprir o mercado interno apenas nestes dois meses.

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