Argentina: fracking provoca conflito de interesses

Exploração de gás de xisto evolui às custas do meio ambiente
Andres Duran, morador de Sauzal Bonito, mostra a rachadura em sua casa causada por terremoto induzido por fracking.
Andres Duran, morador de Sauzal Bonito, mostra a rachadura em sua casa causada por terremoto induzido por fracking. | Foto: Katie Surma/Inside Climate News

Reverenciada pelo governo de Javier Millei como benção caída do céu para a economia ao deus-dará, o fracionamento hidráulico de petróleo e gás do xisto, uma febre na região de Vaca Muerta, norte da Patagônia, periga não usufruir uma adoração unânime na Argentina, levanta reportagem no site Inside Climate News. A queda de braço é travada entre os estragos no ecossistema, saúde e moradia das comunidades locais e a mineração da segunda reserva mundial de gás de xisto e a quarta de petróleo dessa origem.

Devido às suas profundas reservas de hidrocarbonetos e da exasperada necessidade de corresponder à demanda interna de energia, assim como de exportá-la para fazer caixa, é nula a hipótese de o governo argentino zerar ou reduzir a atividade de fracking, relata o artigo em Inside Climate News. Ao contrário, a gestão Millei está empenhada em incrementar as instalações e estrutura para expandir a galope a extração de petróleo e gás das opulentas jazidas de xisto em Vaca Muerta. Entre os objetivos, desponta a intenção de suprir o mercado internacional de gás natural em estado liquefeito para adequar-se a fretes a longa distâncias. Os EUA, onde o processo do fracking foi descoberto e o gás dele gerado vitaminou a petroquímica, são hoje o maior exportador do combustível liquefeito.

O gás natural, segue a reportagem de Inside Climate News, responde por 55% do consumo argentino de energia. Apenas em 2023, sua produção doméstica economizou para o país o equivalente a US$ 2 bilhões ao substituir importações, provenientes na maior parte da instável Bolívia. Para a Argentina, portanto, além da autossuficiência energética, exportar gás natural liquefeito para o Sudeste da Ásia, por exemplo, contribuiria para países da região desapegarem da poluente rota do carvão, assim como poderia ajudar locais como a União Europeia a recorrer cada vez menos ao racionado gás da Rússia com que Putin chantageia a zona do euro desde o início da guerra contra a Ucrânia. Ao final das contas, a Argentina amealharia assim divisas providenciais para honrar os compromissos atrelados à sua abissal dívida externa.

Descrente no passado da responsabilidade humana pelas mudanças climáticas, Javier Milei hoje apóia a atualização da legislação para impulsionar o fracking em Vaca Muerta.Só que tem um porém: tal como ocorre nos EUA, ambientalistas com passe livre na mídia mundial já trovejam contra o fracionamento hidráulico por considerar o processo gerador de emissões de gases de efeito estufa. Para engrossar o caldo, comunidades pobres locais deram de aparecer na imprensa afirmando que, desde 2010, quando o fracking irrompeu em Vaca Muerta, entraram para a o cotidiano local abalos sísmicos que destroem o ecossistema, tornam moradias inabitáveis com trincas e rachaduras e minam a saúde física e mental de desassistidas populações à como a dos índios Mapuche. Desde 2018, pontuam essas fontes, cidades como Wirkaleo e Sauzal Bonito foram alvos de mais de uma dúzia de terremotos, inclusos tipos grau leve e cataclismas geológicos, alguns com duração de 48 horas, relata a reportagem em Inside Climate News. Pela trepidação do caso, o gás do xisto caminha para ser encanado na Justiça.

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