Esse mercado é dose

Salik: tendência pode chegar ao Brasil.

É sempre curioso assistir à eterna batalha do plástico com o vidro e ver a legião de defensores acirrados de cada lado. Interessante também presenciar a diversidade de argumentos e as conclusões opostas com relação ao impacto ambiental.
No âmbito de PET, percebe-se  a mudança do status de vilão ambiental pelo reconhecimento de material amigável ao meio ambiente. Artigo publicado em 23 de junho passado  no jornal norte-americano  Washington Post , na seção Health & Science (Saúde e Ciência), Brian Palmer compara frascos para pasta de amendoim manufaturados com PET com os fabricados em vidro para calcular a pegada ambiental. Ele deu o veredicto em favor do PET. Menciona ainda um estudo de 2008 feito com embalagens de alimentos para bebês e outro de 2009 com embalagens para bebidas concluindo que o vidro emite de 25 a 30% mais gases de efeito estufa que o plástico.

Caso você esteja surpreso com estes resultados, vale a pena olhar as razões abaixo:

  • Quantidade de massa – Para o acondicionamento do mesmo volume de produto, é necessária uma quantidade de plástico muito inferior à de vidro. Por exemplo, enquanto uma garrafa de 1 litro em vidro pode pesar até 950 gramas, a similar de 2 litros em PET não pesa além de 50 gramas.
  • Logística – Cada etapa de transporte tem grande impacto na pegada de carbono. Em suma, embalagens de vidro precisam viajar do local onde foram produzidas até o ponto aonde será feito o envase. Por sua vez, os recipientes de PET podem ser gerados em operação de sopro in-house, acoplada a linha de enchimento e, assim, eliminando o transporte de entrega. Após o envase, o produto final precisa ser despachado até o ponto de venda. O volume de vidro usado na embalagem pode responder por até 50% do peso total da carga de um caminhão.Enquanto isso,  PET incidiria ao redor de 5% na mesma relação, permitindo inclusive a remessa de uma quantidade maior de produtos no mesmo caminhão. Após o consumo, as embalagens de PET podem ser compactadas e transportadas em grande quantidade a um centro de reciclagem, enquanto as de vidro acabam ocupando um volume muito maior nesse frete devido à dificuldade de sua compactação.
  • Reciclagem – No Brasil, o material campeão absoluto da reciclagem  é o alumínio com 98,5% do total. Embalagens plásticas atingem 56,8%, enquanto as de vidro vêm se mantendo ao redor de 49%, segundo relatório de 2013 da entidade  Compromisso Empresarial para Reciclagem (Cempre).
    À parte partidarismos em prol de qualquer material, o fato é que, graças a predicados como os descritos acima, frascos de PET tâm aumentado consistentemente sua participação no mercado de embalagens. Eles começam, inclusive, a atingir segmentos antes considerados improváveis para deles  participarem, como o de bebidas alcoólicas.

Nos Estados Unidos, PET tem sido, já faz mais de uma década, uma importante solução no envase de vinho, gim, vodca, rum e bebidas pré-misturadas ou saborizadas. O baixo custo das embalagens, o aumento de até 70% em produtividade nas linhas de envase, a liberdade de formato e design, infinitas possibilidades de cores e o baixíssimo peso dos frascos são fatores que têm ajudado muito na decisão das empresas. Além disso, incentivos, como os vistos no Reino Unido através do programa Waste Resources and Action Programme (Wrap), motivam empresas e cadeias de supermercados a buscarem embalagens que favoreçam a menor emissão de dióxido de carbono.
No mercado norte-americano de destilados, as embalagens de PET  já detêm participação superior às de vidro. Como o consumidor ainda percebe o vidro como  embalagem mais nobre, a estratégia tem sido focar as de PET nos segmentos em que o consumidor precisa de conveniência ou não toca as embalagens. Explico melhor: os fabricantes de bebidas alcóolicas preocupam-se com o fato de o plástico não ser material de apelo tão nobre quanto o vidro. Assim, PET é menos frequente no supermercado, onde o consumidor pega o produto na mão, tem contato físico com ele. O frasco de plástico acaba sendo mais utilizado em bares e restaurantes, onde apenas o garçom ou o barman têm contato físico com a embalagem. Tanto PET quanto o vidro são idênticos e indistinguíveis à distância; diferem apenas ao toque (contato físico).
Assim, os formatos mais comuns em PET acabam sendo os dos extremos da escala volumétrica, privilegiando frascos menores (200ml, 500ml e 750ml) e, saltando diretamente ao outro extremo, com embalagens “tamanho família” (2 e 3 litros). Entre os muitos exemplos, temos os frascos que são transportados para consumo a bordo dos aviões, doses únicas em frigobares de hotel, produtos para consumo imediato em lojas de conveniência. E nos formatos maiores, embalagens para uso em festas e para utilização em bares, onde o peso bem menor do PET até facilita o trabalho do barman.
O vidro predomina em destilados premium. Ainda assim, a Diageo, líder mundial em bebidas alcoólicas, está lançando embalagens em PET (200 e 375ml) para um de seus best sellers, o uísque canadense Crown Royal. Estes frascos  pesam bem mais que o normal – 40 e 56 gramas, respectivamente. Este peso confere uma parede bem mais espessa  e  aparência quase idêntica ao vidro.
Na briga pelo mercado premium,  PET ainda permite gravações de alto ou baixo relevo e excelente definição, possibilitando ainda que mais mensagens sejam comunicadas no corpo do frasco. Em paralelo, o uso de luvas termoencolhíveis em rótulos de vodcas tem despontado como  nova tendência, ensejando uma variedade muito maior de decoração. Por se adaptar muito melhor a garrafas de PET que de vidro, essa tecnologia também tem ajudado a impulsionar o crescimento do poliéster em bebidas alcoólicas.
Com uma participação tão grande da resina nas categorias de menor valor agregado, é natural que as empresas comecem a testar o uso de PET em produtos mais premium, observa Benjamin Punchard, diretor global de pesquisa de embalagens do Euromonitor. É fato que embalagens de PET são mais permeáveis ao oxigênio que as de vidro, levando o produto envasado a vida útil menor. Um pequena perda de água também ocorre se o produto for armazenado por muitos anos. Em contraponto, pesquisas de destilarias nos EUA mostram a inexistência de alterações perceptíveis de sabor e deterioração da bebida dentro do prazo recomendado de 18 meses de shelf life. Além do mais, hoje são ofertadas diversas tecnologias mediante as quais aditivos ou embalagens multicamada reduzem drasticamente a permeabilidade ao oxigênio, aumentando muito o shel flife, em especial no caso de vinhos.
Nessa briga acirrada com o vidro pelo lugar ao sol das bebidas alcoólicas, PET aparenta  levar vantagem. Nos EUA,  ele tem conquistado participação em vinhos e destilados na ordem de 10-20% a cada ano, no embate contra o vidro. Devido aos benefícios ambientais e de custo, bem como ao aumento considerável de produtividade nas linhas de envase, essa tendência, pelo visto, também vai ganhar visibilidade crescente fora dos EUA, inclusive no Brasil. •

Fábio Salik é diretor geral da Logoplaste do Brasil

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