Caso clínico

PEBD Purell acerta na veia do envase de soluções parenterais

Polietileno de baixa densidade (PEBD) é sinônimo de termoplástico commodity com residência fixa em filmes. No entanto, sem estardalhaço, bolsões de aplicações complexas que rompem essa visão reducionista do secular polímero ganham tração no Brasil. A referência mais recente é a ascensão por aqui de dois grades importados da série de PEBD Purell, da petroquímica LyondellBasell, no envase de soluções parenterais. “Sem aditivos em sua formulação, essas resinas marcam pelo excelente perfil de extraíveis e elementos migratórios, barrando a transferências de componentes do plástico para a medicação”, reitera Ademir Livio, gerente de resinas especiais da múlti holandesa no país.

A família Purell abrange polietilenos, polipropilenos e polibutenos, totalizando 46 grades e, no compartimento de PEBD, 11 das 138 resinas do portfólio da LyondellBasell integram esta série e são produzidas na Europa e EUA, informa Livio. “As importações brasileiras dessa classe de PEBD destinam-se, em especial ao envase pelo sistemas blow/fill/seal (BFS) expansão nas indústrias farmacêuticas”, ele assinala. Além de soluções parenterais, as oftálmicas são vistas como reduto cativo de Purrell em BFS.

A tecnologia proporciona, em um estágio e na mesma sequência operacional, o sopro por extrusão da resina, a formatação do frasco resultante, seu enchimento com a medicação e a selagem num processo asséptico, resume Livio. “O aumento da procura por PEBD Purell para BFS decorre da facilidade e segurança no uso da embalagem; população idosa aumentando gastos médicos e o empenho da indústria de fármacos em reduzir a incidência de infecções”, observa o especialista. De acordo com a LyondellBasell, a série Purell surgiu em 2004 e, no campo de BFS, suas propriedades demitiram de PFS as resinas tradicionais de PEBD, como demonstra o comparativo com o grade PE 3420F, com densidade de 0.933 g/cm³ e alta barreira ao vapor d’água. Determinadas regulamentações estipulam que soluções de infusão sejam esterilizadas a 121ºC por 15 minutos, mesmo considerando as condições de assepsia do processo BFS, apontam estudos da LyondelBasell. Resinas tradicionais de PEBD requerem de 130 a 195 minutos para consumar esta esterilização, tempo reduzido a 30-50 minutos no trabalho com Purell PE 3420 F e a junção de seus índices de densidade e resistência do fundido embutem a possibilidade de reduzir a espessura do frasco sem comprometimento das propriedades de barreira.

Nos EUA, o envase de PEBD Purell via BFS hoje responde por mais de 50% do mercado de soluções parenterais e na Europa a participação supera 50%, acentua Livio. A propósito, na hoje devastada Ucrânia, a indústria Nikopharm foi pioneira, em 2009, na manufatura de medicações de infusão e injeção pelo processo BFS com uso de PEBD Purell, enaltecido pela alta rigidez, resistência e plena adequação às farmacopeias europeia e norte-americana.

“Tudo isso se reflete no Brasil, onde atuam importantes players globais na área farmacêutica”, atesta o executivo. Uma referência de peso é a subsidiária, com fábrica no Rio de Janeiro, da alemã B. Braun. Procurada por Plásticos em Revista, a controlada B. Braun Brasil confirma: “Purell (grade 3040 D) é utilizado nas embalagens de todos os produtos Ecoflac Plus (cloreto de sódio), desde frascos de 100ml até 1.000ml. Antes do Purell utilizávamos Lupolen (linha de PEBD convencional), também da LyondellBasell. Sim, a matriz (na Alemanha) também utiliza Purell, além de outras plantas na Europa, América Latina e Ásia”.

Livio especifica que a B. Braun Brasil utiliza o grade 3040D e enfatiza que a linha de polímeros Purell atende às diretivas da indústria farmacêutica em todos os países onde é comercializada. “Daí a preferência de laboratórios múltis pelo material”. Ele completa notando que plantas sul-americanas de PEBD poderiam produzir, com várias adaptações, contratipos de Purell. “Mas desconheço estes ajustes na região”, fecha o porta-voz da LyondellBasell.

Devagar quase parando

Apesar da busca crescente por sangue, o mercado das bolsas do líquido marca passo no Brasil

A parcela de idosos, a partir de 60 anos, pulou de 22, 3 milhões de pessoas em 2012 para 31, 2 milhões em 2021, perfazendo 14,7% da população brasileira. Também no ano passado, o Brasil registrou 207.609 internações de lesionados por acidentes de trânsito ou 10% acima do saldo de 2020. Da primeira onda da pandemia, dois anos atrás, até o fechamento desta edição, o Sistema Único de Saúde registra 34.771.320 casos confirmados de covid, inclusos 687.423 óbitos acumulados. Manda a lógica que gatilhos desse calibre desembocariam no consumo crescente de bolsa plástica de sangue. Só que não. “Seja o histórico baseados nos últimos 10 ou cinco anos, praticamente não houve crescimento do mercado”, constata Everton José Buzzo, diretor de marketing e inovação do Grupo JP Farma, bússola nacional em produtos médico-hospitalares como as bolsas de PVC para sangue e soro. “A demanda por sangue é crescente, mas o número de doadores é insuficiente para cobrir a necessidade, por questões culturais da população, cujo nível de sensibilização a respeito perde para vários países, inclusive naqueles que fortalecem o estoque de hemocentros pagando pelas doações, praxe inexistente por aqui”.

Sua percepção é endossada pelo médico Sérgio Domingos Vieira, responsável pela Medicina Transfusional do Hcor. “Nossos estoques de sangue estão sempre no limite”, ele atesta. “A necessária reposição depende de um trabalho diário de conscientização das pessoas, caso de familiares de pacientes usuários das bolsas armazenadas e do público que adere às campanhas voluntárias de doação”.

Contra números não há argumento. Ao acessar a central de dados da JP Farma, Buzzo chega à atual capacidade nominal para bolsas de sangue em 7 milhões de unidades ao ano no Brasil, volume reduzido em 3 milhões com a saída de cena de um concorrente. Por sua vez, ele contrasta, o consumo nacional segue empacado na faixa de 4,2 milhões de kits de bolsa. “A expansão anual beira zero há algum tempo, abaixo de 21% ao ano”, acentua o diretor da JP Farma, produtora das bolsas desde 1988. Ao cruzar os dados, ele contempla sua indústria, há 56 anos na ativa em Ribeirão Preto (SP), com cerca de 35% da produção nacional e participação de 25% a 30% do mercado interno de bolsas para coleta e fracionamento de sangue. Entre os lançamentos em seu portfólio, Buzzo distingue as bolsas para concentrados de plaquetas e as quádruplas Top & Bottom, ambas munidas de filtro para remoção de leucócitos. Quanto ao seu parque industrial, ele conta ter investido nos últimos anos em nova autoclave e em linhas de solda automática dos corpos da bolsa, além de estreitar parcerias com fornecedores internacionais de componentes das bolsas e de incorporar maquinário demandado por hemocentros, a exemplo de seladores, homogeneizadores e extratores automáticos montados pela Olidef Medical, divisão de equipamentos do Grupo JP Farma.

Diretor no Hcor do banco de sangue São Paulo e vice-presidente médico do Grupo Gestor de Serviços de Hemoterapia (GSH), Sérgio Domingos Vieira aponta vários sinais de evolução nas bolsas de sangue com que trabalha. “Destaco as versões contendo a solução SAG-Manitol, para prolongar a validade das hemácias; as bolsas quádruplas com filtros in line para remoção de leucócitos e o link coletor de amostras de exames acoplado às bolsas, para retirada no fluxo inicial da doação, evitando o risco de contaminação”.

Vieira informa recorrer às bolsas importadas apenas na falta do produto nacional. A seu ver, a produção doméstica não anda em linha com a demanda. “Daí a necessidade de trabalharmos com produtos importados, a depender da demanda e preços ocasionais”, ele esclarece. “Mas em determinados quesitos, a bolsa nacional perde para as importadas, caso da agulha de punção que faz doadores reclamarem da dor”.

Everton Buzzo discorda da visão de descompasso entre a produção local e demanda no Brasil de bolsas de sangue. “Por exemplo, aqui na fábrica da JP Farma mantemos estoque de segurança da ordem de 45 dias para não deixar cliente desabastecido e as condições para pronta entrega”. Hoje em dia, ele prossegue, perto de 80% do mercado brasileiro é servido por duas plantas locais, a única 100% nacional é a do seu grupo. O duo é completado, na voz corrente do ramo pela múlti Fresenius (não deu entrevista). “O restante é preenchido pelas bolsas importadas”, emenda Buzzo. “A participação das nacionais só não é maior por questões concorrenciais e, se preciso, toda a demanda poderia ser coberta pelos fabricantes no país”.

Alexandre de Castro, diretor comercial de PVC da petroquímica Unipar, calcula que o setor de soluções transfusionais, bolsas de sangue inclusas, responda por volta de 1% do consumo do vinil no país. Quanto à importação de bolsas de sangue, ele as projeta em algo acima de 2.000 t/a. Por definição estratégica, alega o executivo, a Unipar produz apenas em seu complexo industrial na Argentina o grade de PVC em suspensão destinado ao filme extrusado, calandrado, cortado e remetido a seguir em bobinas à confecção de bolsas atóxicas de alta flexibilidade e força para resistir à centrifugação a 5.000 rpm e tensões no transporte e manuseio. “O peso da cadeia molecular do nosso grade assegura a performance mecânica adequada à aplicação, sua estrutura viabiliza a incorporação de aditivos (como plastificantes DEHP, para envase de sangue e componentes, e TOTM para bolsas de coleta de plaquetas), proporciona a transparência exigida e permite a produção em alta velocidade”, ressalta Alves. “A viscosidade média dessa resina na extrusão enseja variações de espessura para o filme a ser calandrado, conforme o modelo de bolsa em vista”.

Antônio Rodolfo Jr., gerente de engenharia de aplicação para PVC/cloro da produtora Braskem, admite não saber o volume de vendas internas do polímero vinílico no Brasil para soluções transfusionais nem as respectivas participações de produtos nacionais e importados no mercado atual de bolsas de sangue. Ele informa que atende não só este segmento, mas artigos médicos-hospitalares, como cateteres, com a resina em suspensão de alto peso molecular SP 1300 FA, fonte da resistência mecânica e, uma vez combinada com auxiliares, o composto resultante preenche as expectativas no processo e esterilização da bolsa de sangue com vapor de alta pressão (autoclave – de 11ºC a 120ºC) e, manda a lógica, dá conta de requisitos como a resistência às baixas temperaturas (tipo -70ºC) nos estoques dos hemocentros.

A conjuntura das bolsas de sangue embute chance de ouro para a cadeia do plástico reagir com eficiência inédita à sua injusta e medonha reputação do material. Associada à saúde e luta pela vida, a bolsa de sangue é ultra bem vista pelo público. A insuficiência de doações para o abastecimento satisfatório dos bancos de sangue no país constitui tema servido de bandeja para uma campanha a quatro mãos do setor plástico com a saúde pública para despertar na população o hábito de ceder sangue a instituições médico-hospitalares. Sairiam ganhando os vulneráveis estoques de sangue e a imagem institucional do plástico e sua indústria. De quebra, PVC desfrutaria o florescimento de um mercado há muito tempo na estaca zero. •

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