Sem açúcar e sem afeto

Combate à obesidade já ricocheteia em PET e laminados

Sobra gordura para queimar nos dados oficiais. Mais da metade da população brasileira está obesa e, culpa de maus hábitos alimentares, uma em cada três crianças tem excesso de peso. Em reação a este problema crônico, pois entre seus alertas consta o levantamento de 11 anos atrás da Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde, o ministro da Saúde Ricardo Barros formalizou em 14 de março perante a Organização das Nações Unidas o compromisso de conter o crescimento da obesidade adulta até 2019, calçado em três metas: implantar políticas intersetoriais de saúde e segurança alimentar e nutricional e, para brasileiros adultos nos próximos dois anos, ampliar no mínimo em 17,8% o contingente de consumidores de hortifrútis e baixar no mínimo em 30% a ingestão regular de refrigerantes e sucos artificiais (refrescos em pó). Este último objetivo aciona uma bomba relógio para a cadeia plástica. Afinal, garrafas de refrigerantes são a carótida do setor de PET e sucos em pó podem ser nicho secundário para flexíveis laminados. No atual vai da valsa, porém, pisca o sinal de que, depois dos sucos sintéticos, as bolas da vez serão outros supérfluos açucarados, tipo chocolates, confeitos e biscoitos como os recheados, deglutidos aliás por mais de 60% das crianças abaixo de dois anos. Aí o bicho vai pegar, pois esse grupo de guloseimas é decisivo para o balanço de uma joia da coroa de polipropileno (PP), os filmes biorientados (BOPP).
Em nota de esclarecimento exclusiva para Plásticos em Revista, o ministro Ricardo Barros assinala que, antes do comprometimento feito à ONU, publicou portaria proibindo a venda, promoção, publicidade ou propaganda de alimentos industrializados, com excesso de açúcar, gordura e sódio e prontos para consumo dentro do seu ministério. “A proposta é estender essas regras aos demais órgãos e entidades da administração direta federal”, ele assinala. Além disso, Barros lança ainda neste semestre a campanha Saúde Brasil, destinada a incentivar a adoção de hábitos saudáveis.
Do anúncio do plano à chegada desta edição aos leitores, Ricardo Barros não explicou como fará para conscientizar a sociedade e baixar em 30% o consumo nacional de refrigerantes e refrescos em pó até 2019. Uma incógnita de eriçar os nervos da principal representação desses dois produtos, a Associação Brasileira das Indústrias de Refrigerantes e de Bebidas Não Alcoólicas (Abir). “O conteúdo da fala do ministro causou maior preocupação do que o número 30% em si”, pondera o presidente da entidade, Alexandre Kruel Jobim. “Ao referir-se à redução do consumo entre adultos de refrigerantes e sucos artificiais como uma das saídas para o problema, o ministro passa ao largo de soluções que combatam efetivamente a obesidade, tida como doença multifatorial na comunidade de saúde”. Jobim também não digere bem a supressão das contribuições de sua entidade no pronunciamento do compromisso feito em Brasília por Ricardo Barros no evento Encontro Regional para Enfrentamento da Obesidade Infantil. “Causou certa surpresa não ter sido mencionado que a indústria brasileira de bebidas tem mantido rodadas de conversas tanto com o Ministério da Saúde, para construir propostas de redução de açúcar nas bebidas, quanto com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), para a elaboração de modelos eficientes de rotulagem nutricional”. Além de iniciativas estimuladoras do consumo consciente e hábitos saudáveis, acentua o dirigente, o setor de bebidas não alcoólicas suspendeu ações de marketing voltadas para crianças.

O Brasil está em regime de engorda
De acordo com a pesquisa Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), o excesso de peso no Brasil aumentou 26,3% na última década: de 42,6% em 2006 para 53,8% em 2016. Entre os os homens, passou de 47,5% para 57,7% no período e, entre as mulheres, de 38,5% para 50,5%. Segundo o estudo, Rio Branco é a capital com maior predomínio de excesso de peso: 60,6 casos para cada 100 mil habitantes. O levantamento revela que o excesso de peso piora com a idade e é maior entre os quem possuem menos escolaridade. A Vigitel diferencia excesso de peso ou sobrepeso de obesidade. A pessoa com sobrepeso tem Índice de Massa Corporal (IMC) igual ou supera 25 kg/m2. Pela pesquisa, a obesidade prevalece a partir dos 25 anos de idade. Quanto à escolaridade, o contigente de pessoas com até oito anos de estudo apresenta índice de obesidade de 23,5%. O percentual cai para 18,3% entre os brasileiros com nove a 11 anos de estudo e para 14,9% entre os que têm 12 ou mais anos de formação educacional.
Altos e baixos
Até o fechamento desta edição, a Abir não liberou os indicadores de refrigerantes e refrescos em pó em 2016. Mas sinais de que onde há fumaça há fogo já eram emitidos em junho de 2015, quando Ambev, Coca-Cola Brasil e PepsiCo anunciaram ter deixado de vender refrigerantes em escolas, passando a oferecer apenas suco 100% integral, água mineral, água de coco e bebidas lácteas. Sensores do mercado prenunciam que a demanda nacional de sucos integrais vai crescer 36,3% entre 2016 e 2018 (ou 10,8% ao ano), chegando a 492 milhões de litros. Esse ritmo de expansão, no entanto, é bem mais lento do que no triênio anterior, quando o consumo de suco integral em embalagens cartonadas no Brasil (incluindo água de coco) subiu em torno de 30% ao ano, saindo de 167 milhões de litros em 2012 para 361 milhões de litros em 2015. Já o reduto de refrigerantes atingiu seu ponto de maturidade, com declínio nas vendas desde 2011 e redução do consumo per capita na maioria das subcategorias, inclusas refrigerantes base cola e de baixa caloria (diet/light), tendência complicada de ser revertida em 2017, sob a prensa da recessão sem dó e sem trégua.
Estudo do Rabobank projeta queda de 4,5% nas vendas de refrigerantes em 2016 em relação a 2015, chegando a 14,9 bilhões de litros. Para 2017, a previsão é de recuo de 0,7%, percentual equiparado a 14,8 bilhões de litros. Nas entrelinhas desses calculos, pulsa a mudança nos hábitos dos consumidores, por força da crise e do culto à saudabilidade. Por tabela, será uma pedreira para a indústria de refrigerantes retomar o crescimento real nas vendas. Por essas e outras, o consumo de água engarrafada tem expandido à margem da recessão e abocanhou terreno deixado pelo arrefecimento nas vendas de carbonatados. Aliás, a contração do movimento de refrigerantes de baixa caloria antecede o piripaque atual da economia e, desde 2015, a perda de poder aquisitivo e reajustes de preço acima da inflação aceleraram a descida nas vendas do segmento. Em paralelo, tal como ocorre em outros mercados maduros, o consumo brasileiro de refrigerantes cai ano a ano, à medida em que cresce a percepção pública de que essas bebidas contêm teores muito altos de açúcar ou adoçantes artificiais. Alexandre Jobim, presidente da Abir, calcula em 75 litros o consumo per capita brasileiro de refrigerantes, bons degraus abaixo da liderança mundial do México, com índice de 160 litros (ver à pág. 11).
Determinados tipos de sucos integrais ensaiam mandar bem em cima dos refrigerantes em sinuca de bico. Por exemplo, sucos funcionais e bebidas chamadas totalmente naturais – sem açúcar, conservantes e transgênicos. Vips em refrigerantes têm botado um nessa canoa. A Sucos Del Valle, da Coca-Cola, por exemplo, entrou no mercado de suco 100% integral em janeiro de 2015. A Do Bem, comprada em 2016 pela Ambev, também oferece o mesmo suco pronto para consumo.
No balanço de 2015, captou a Nielsen, as vendas no varejo de refrescos em pó acusaram avanço de 2%, enquanto sucos e néctares registraram salto de 6%. Com a tendência em alta dos produtos naturais ou integrais, sem açúcar e com maiores propriedades nutricionais, uma parcela dos consumidores migrou da categoria de refrescos em pó para sucos e néctares. Em contrapartida, com o poder de compra chicoteado pelo desemprego e inflação crescentes, outra fração do povaréu fez o caminho inverso, retomando o consumo de refrescos em pó e bebidas mistas, a preços mais em conta. Dados colhidos na ponta do varejo pela Euromonitor International desenham a expansão de sucos e refrescos no país entre 2010 e 2015. Segundo a consultoria, o segmento de refrescos em pó saltou de R$ 2,772 bilhões em 2010 para R$ 4,664 bilhões em 2015, projetando avanço para R$ 5,461 bilhões em 2020. O filão de sucos prontos para beber, por sua vez, pulou de R$ 4,204 bilhões para R$ 9,350 bilhões no mesmo quinquênio, devendo alcançar R$ 15,048 bilhões daqui a três anos. Em relação a volumes, monitoramento da Abir indica que, de 2010 a 2015, a produção nacional de refrescos em pó avançou de 4,355 bilhões de litros para 4,813 bilhões. Já o total de néctares e sucos prontos saiu de 743,7 milhões de litros em 2019 para 1,258 bilhão de litros em 2015 ou -3,7% em relação ao exercício anterior.

Husky é catedrática em pré-formas

Formadora de opinião global na tecnologia de pré-formas, a Husky se impõe nesse reduto com sistemas integrados de injetora de ciclo rápido, molde, robô e periféricos HyPET HPP5, informa Paulo Carmo, gerente comercial da subsidiária da empresa no Brasil. “O conjunto fornece pré-formas de espessuras impensáveis anos atrás, uma produção de repetitibilidade e qualidade controlada e com diferenciais de automação como sistemas de limpeza, reconhecimento e checagem de alinhamento de moldes”. Para tampas de refrigerantes, a pedida é a família de compactas injetoras HyCAP4, também adeptas da interface com molde, robô e periféricos e, insere Carmo, entre suas soluções para poupar eletricidade consta a recuperação de energia cinética “Seus requintes de automação também abrangem as etapas de set up, reconhecimento e alinhamento de moldes”, ele fecha.

Restrições questionáveis
A experiência internacional revela, em essência, duas ações tentadas pela saúde pública para inibir o consumo de bebidas açucaradas, refrigerantes à frente. Uma delas é a restrição à publicidade das marcas. No Brasil, já oficializou-se a proibição de anunciar marcas de refrigerantes em programas de TV para menores abaixo de 12 anos e, em complemento, vetou-se a venda dos produtos açucarados em cantinas escolares. “A imposição de medidas por vias como a legislação restritiva não é uma solução eficaz”, sustenta o presidente da Abir. “O melhor caminho é a autorregulamentação e, quanto ao consumo para crianças de até 12 anos, a decisão deve ser dos pais e responsáveis”.
A outra trilha palmilhada para amainar o consumo de bebidas açucaradas é a da pedagogia pelo bolso, musa inspiradora de diversos projetos de lei por aqui. Até o momento, o México é o único país a tributar a venda de refrigerantes. “A medida foi adotada pelo país em 2014 e não tem dado certo”, avalia Jobim. “Dados do governo atestam que as taxas de obesidade adulta subiram, assim como aumentou o consumo de refrigerantes”. Para o presidente da Abir, o tratamento da obesidade deve começar pela educação e não pela tributação, pois trata-se de anomalia de múltiplas causas e seu controle depende do engajamento do governo, indústria e sociedade em geral. A propósito, encaixa Jobim, o consumo de refrigerantes corresponde apenas a 4% das 2.000 calorias diárias ingeridas em média pelos brasileiros. “72% do açúcar consumido pela população provém do produto in natura e o restante cabe aos alimentos industrializados”.

Escalada fragmentada
No cercado de PET, o vento contra refrigerantes traz uma pergunta para os universitários: dá para compensar o arrefecimento do maior mercado do poliéster com o avanço do material numa penca de redutos menores, picados e sem pontos em comum? “Há cerca de 15 anos, refrigerantes detinham participação de 90% entre os segmentos usuários de PET e, no plano recente, essa parcela desceu, sem interferência governamental, ao redor de 60%”, percebe Auri Marçon, presidente da Associação Brasileira da indústria do PET (Abipet).
Theresa Moraes, gerente comercial da M&G, petroquímica nº1 em PET no Brasil, corrobora a linha do tempo traçada por Marçon. “Quando PET estreou no mercado mundial (anos 1980), refrigerantes compunham mais de 90% do consumo”, ela situa. “Hoje em dia, o setor mobiliza menos de 60% das vendas de PET e até abaixo de 50% em alguns países”. Theresa reitera que o declínio na vendas anuais de refrigerantes é tendência global e repica no Brasil sem intervenção do governo. “Não fosse esta queda, os grandes fabricantes de refrigerantes não estariam investindo tanto assim em água mineral, sucos e chás”.
Embora o consumo de refrigerantes retroceda, na cola do público antenado na saudabilidade, em grande parte do mundo esse espaço é tomado por bebidas não carbonatadas envasadas em PET, atenuando assim o baque sofrido pelo poliéster em seu maior mercado, raciocina Evandro Cazzaro, gerente geral de vendas para a América Latina de sistemas de injeção de embalagens da Husky, ás mundial na tecnologia de pré-formas. “O crescimento para PET compensar o declínio dos refrigerantes virá de segmentos de produtos hoje não envasados no poliéster, de todo ou na maior parte de seus volumes”, ele assevera. Entre as vias para esta conversão, Cazzaro brande um desenvolvimento patenteado pela Husky: uma pré-forma com poder de barreira para o acondicionamento de bebidas e alimentos sensíveis. “No caso de refrigerantes, trata-se da sensibilidade à perda de gás carbônico e, na esfera dos lácteos, da sensibilidade à luz visível e ultravioleta”.
Os dados cruzados pela Abipet flagram crescimento de 1,1% do consumo aparente (produção + importação – exportação) da resina virgem para embalagem no período passado. “Passou de 597.000 toneladas em 2015 a 603.000 em 2016 e, no último quinquênio, PET assinalou crescimento na média de 5,7%”, destaca Marçon. No último biênio, ele nota, a demanda nacional de PET para o envase de refrigerantes recuou 9,8%.Em compensação, o dirigente aponta com otimismo para a fragmentada escalada de PET em produtos de limpeza, cosméticos, fármacos, molhos, lácteos, água mineral, sucos e chás. “PET agora flerta com a possibilidade de deslocar vidro de potes de palmito, oportunidade descerrada pela resolução RDC 85 da Anvisa”. No flanco da água mineral, embora suas vendas tenham superado as de refrigerantes em 2016 nos EUA, os volumes de PET são tolhidos pela febre da redução do peso da garrafa, para torná-la menos onerosa nos custos do produto final.

México: o imposto agridoce
Mexico-obesidade-refrigerantesQuatro anos atrás, a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) apontou o México como o país de maior número de obesos no planeta. Uma parcela de 32,8% dos mexicanos adultos acusava sobrepeso e a obesidade infantil triplicou em uma década no país que lidera o consumo mundial de refrigerantes – 163litros per capita há três anos. Em entrevista por e-mail a Plásticos em Revista, a embaixada do México informa que, entre as armas para combater a obesidade, foi instituída uma garfada no bolso sem similar no mundo. Desde janeiro de 2014, delimitam as fontes da embaixada no Brasil, o consumidor mexicano paga o imposto de 1 peso na compra de bebidas açucaradas – sejam refrigerantes, sucos, xaropes, essências ou extratos. No mesmo ano de estreia do tributo, o consumo de refrigerantes caiu entre 6% e 12%, calcula a entidade Centro de Investigación y Docencia Económicas (CIDE), razão para o staff da embaixada concluir que o imposto aparenta estar funcionando. Não está claro, seguem as fontes, se a diminuição do consumo concentrou-se em crianças ou adultos ou entre quem bebia muito ou pouco refrigerante. É possível que o grau do impacto varie conforme as categorias de público. Além desse imposto, o governo mexicano proibiu a venda de bebidas açucaradas em escolas, exceto universidades, e restringe desde 2015 a venda, distribuição e despesas com determinados alimentos preparados nas dependências de instituições educacionais, desde o nível pré-escolar ao superior. Em janeiro último, uma ministra da Suprema Corte de Justicia de la Nación propôs um apoio a uma engarrafadora capaz de anular as restrições a junk food e bebidas açucaradas em universidades. A proposta foi aprovada para universidades públicas, sob a justificativa da consciência suficiente dos estudantes para decidir se consomem ou não alimentos nocivos à saúde. Em outra ofensiva, acrescentam as fontes da embaixada, o governo do México vetou, em 15 de julho de 2014, a publicidade de refrigerantes açucarados, bebidas gasosas, snacks, confeitos e chocolates no cinema e na programação televisiva infantil. Uma parcela de 30% das crianças sofre com excesso de peso no país. Dessa forma, assinala a equipe da embaixada, saíram do ar 10.233 anúncios de alimentos altamente calóricos, decepando em torno de 40% da verba publicitária para a TV. A propósito, a demanda de refrigerantes e água mineral rende ao México a vice liderança global no consumo de garrafas de PET, declara a consultoria Canadean.

Sem alarmismo
Refrescos em pó têm cadeira cativa entre os mercados cobertos pelos flexíveis laminados da componedora Camargo Companhia de Embalagens. “A composição desses sacos é PET biorientado (BOPET)/ alumínio/polietileno(PE)”, especifica o diretor financeiro Felipe Toledo. “Essa estrutura é determinada pela elevada temperatura de selagem e pelo envase em alta velocidade”, explica. “Quanto aos substratos, o filme de PE garante hermeticidade à selagem, a folha de alumínio confere resistência e barreira contra umidade e a camada de BOPET proporciona a impressão com mais brilho e fortalece a resistência do saco à temperatura de selagem e à velocidade do empacotamento”.
Toledo não vê motivo para sobressaltos com a intenção do governo de baixar em 30% o consumo de refresco em pó até 2019 nem se atemoriza com a hipótese de esse tipo de pressão estender-se a outros supérfluos açucarados ofertados em embalagens flexíveis. “O risco ainda é muito teórico e subjetivo e não enxergo uma ameaça para os filmes a curto prazo”, pondera. “Claro que toda ação anticonsumo de um produto reduz suas vendas em algum momento, mas o mercado de refrescos em pó é muito grande, tem competitividade econômica frente aos sucos naturais e o produto integra o consumo diário do brasileiro”. O diretor da Camargo reconhece o expressivo crescimento de alimentos orgânicos como sucos naturais, esperado pelo chamariz da saúde & bem estar. “Mas vejo espaço para os dois tipos de produtos, sem alterações agressivas no perfil de consumo, e os fabricantes de alimentos açucarados também buscarão alternativas para se encaixar nas exigências da saudabilidade”.
BOPP é o senhor dos anéis em flexíveis para supérfluos açucarados. Cabeça pensante desse segmento e diretor geral da Polo Films, sensor em BOPP no país, Davide Botton não baixa a crista diante das ofensivas da saúde pública contra guloseimas calóricas. “Continua a evoluir o estudo do efeito do açúcar refinado e extra refinado sobre a saúde e deve trazer mudanças significativas na composição dos alimentos”, ele conjetura. “Por extensão, desenvolvimentos conjuntos da indústria alimentícia com fornecedores de embalagens deverão envolver novas exigências técnicas, como maior poder de barreira à luz, gases e umidade, traduzindo boa oportunidade para BOPP, por atender a essas especificações e aumentar o shelf life dos produtos”. Na calculadora do dirigente, o mercado interno de BOPP andou de lado no último balanço. “O movimento empatou com as cerca de 140.000 toneladas aferidas em 2015”. Botton acrescenta que 95% do consumo do filme biorientado vão para os chamados brand owners, as marcas distribuídas no varejo. “Desse percentual, uma parcela de 40% a 45% é atribuída aos segmentos de chocolates, biscoitos, doces e confeitos e outra grande parte é mobilizada por snacks salgados, barras de cereais e massas”, ele dimensiona.
Para Herman Brian Elias Moura, presidente da Associação da Indústria de Embalagens Plásticas Flexíveis (Abief), a queda atual nas vendas de supérfluos açucarados decorre da crise e não da cultura da saudabilidade. “Mas percebemos em marcas fortes desenvolvimentos de produtos focados na busca de agregar valores de saúde nos alimentos industrializados”, ele indica. “As embalagens acompanham esse movimento transmitindo esse novo conceito aos consumidores através de diferenciais no visual e correspondendo aos quesitos de proteção de cada projeto”. Na mesma trilha, Américo Bartilotti, diretor de negócios de PE da Braskem, conclui com diplomacia que, não importa a mudança na composição de um alimento, ele sempre precisará ser embalado e o plástico não nega fogo com soluções para o que der e vier.

obesidade“Estamos vivendo uma epidemia”

O aumento de peso da população em um país que endeusa a beleza do corpo

Orientador de cirurgias robóticas da área de cirurgia geral e do aparelho digestivo do Hospital Albert Einstein e atuante na linha de frente do Departamento de Cirurgia da Universidade Federal de São Paulo, o doutor Vladimir Schraibman (www.drvladimir.com.br) é reverenciado como ícone no Brasil em especialidades como obesidade infantil e obesidade mórbida, além de despontar no corpo clínico do Albert Einstein entre os nomes mais requisitados para cirurgias bariátricas . Nesta entrevista, o gastrocirurgião comenta o estágio de calamidade atingido pelos indicadores de obesidade no Brasil, desfaz a crença leiga de zero efeitos calóricos em refrigerantes e sucos sem açúcar e expõe as causas inatacadas do aumento de peso em um país que saiu do Mapa da Fome da ONU em 2014 e três anos depois sobe nos rankings mundiais de obesidade, mal que aflige um contingente projetado em 30 milhões de pessoas em 2016 .

PR – Como avalia a preocupante ascensão dos índices de obesidade no Brasil ao longo dos últimos 10 anos?
Schraibman – A obesidade já configura uma epidemia no Brasil e cada vez mais se firma como um problema de saúde publica. A situação que antes nos preocupava com o Programa Fome mudou agora, a ponto de tronar premente uma iniciativa na linha Obesidade Zero. O Brasil segue os padrões norte-americanos de obesidade devido à nossa paridade cultural, ambiental e influência geopolítica. Recentes estudos populacionais e de representações médicas demonstram índices de obesidade de ate 30-40% em grandes centros urbanos.

Schraibman: índices alarmantes de obesidade nos grandes centros.
Schraibman: índices alarmantes de obesidade nos grandes centros.

– Entre as principais causas, podemos destacar:
a) Sedentarismo populacional e utilização cada vez maior de transporte motorizado e ausência de atividades físicas.
b) Carência de parques e políticas públicas de valorização do esporte como um todo.
c) Alto custo dos alimentos naturais e baixo custo dos alimentos processados e industrializados
d) Falta de tempo na vida moderna para se cozinhar em casa e a opção por alimentos preparados em sistema fast-food.
e) Excesso de açúcar nos alimentos levando ao excesso de ingestão calórica.

PR – Proliferam em refrigerantes mostras de engajamento na cultura da saudabilidade como a oferta de produtos diet, light, zero açúcar etc. Eles realmente contribuem para o controle do peso ou acabam favorecendo a obesidade, tal como as versões açucaradas?
Schraibman – Do ponto de vista médico, diversos estudos demonstram que a ingestão de bebidas ditas “diet”, contendo adoçantes industrializados, exercem um efeito metabólico similar ao açúcar, apesar de terem poucas calorias. Ou seja, levam as células à produção de insulina. Isso resulta, tal como acontece com as bebidas açucaradas, no acúmulo de gordura e consequente aumento de peso. Por sua vez, o consumo excessivo de sucos – que, na prática, são de alta caloria e alto índice glicêmico – gera aumento de peso da mesma forma que os refrigerantes.

PR – Qual a sua opinião sobre a mega campanha publicitária na qual a Coca-Cola, fabricante do refrigerante mais consumido, vinculava sua imagem às Olimpíadas no Rio em 2016, aos atletas olímpicos e ao entrosamento de sua marca com o esporte e a cultura da saudabilidade?
Schraibman – Tenho visto fabricantes de refrigerantes adquirirem indústrias de água mineral e/ou água aromatizada. A maior conscientização da população vai ampliar o consumo desses produtos. Nos últimos anos, o consumo de refrigerantes e bebidas isotônicas tem diminuído devido à sua associação à industrialização e à obesidade.

PR – Quais as suas sugestões para o governo brasileiro cumprir o compromisso de baixar no mínimo em 30% o consumo adulto de refrigerantes e sucos artificiais até 2019?
Schraibman – Acredito que o maior esforço deva vir da proibição de índices elevados de açúcar em bebidas. Além disso, apóio a proibição de refrigerantes em escolas e campanhas educacionais em redes de mídia explicando os malefícios do consumo de bebidas processadas. Provavelmente, o maior benefício dessas ações será visto nas próximas gerações, após o esforço de ensino acerca dos males gerados por hábitos alimentares inadequados em associação como sedentarismo, em especial em relação às crianças de hoje em dia, cada vez mais conectadas a celulares e internet.

PR – O combate do governo à obesidade também deveria contemplar restrições à propaganda e consumo de outros produtos calóricos supérfluos?
Schraibman – Alimentos processados como biscoitos, bolachas recheadas, chocolates e doces em geral deveriam conter mais informações acerca do peso calórico, índice glicêmico e malefícios associados ao seu consumo, tal como é feito no âmbito do cigarro e do álcool.

PR – Por que campanhas e reportagens em prol de hábitos alimentares corretos e contra o sedentarismo demonstram não dar resultado satisfatório para deter o avanço da obesidade?
Schraibman – O poder dos grandes grupos empresariais ligados às indústria de refrigerantes e alimentos processados suplanta bastante o das empresas associadas a alimentos ditos naturais. Já existe uma consciência maior da população acerca dos benefícios e vantagens de uma vida baseada no consumo de alimentos pouco processados e mais naturais, atividade física regular, sono equilibrado e bom convívio sócio- cultural. Resta a todos nós lutar por mais informações e direito a uma vida mais saudável. •

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