Muito a fim de vento a favor

PA reciclada de filme assedia mercado brasileiro de injeção

A hegemonia da Ásia, EUA e Europa nas importações brasileiras de poliamida (PA) reciclada começa a abrir lugar a outras paragens no pódio. Se tudo correr conforme o planejado, o mercado interno começa neste semestre a receber PA 6 recuperada de filme biorientado (BOPA) pela fábrica no Chile do peruano Oben Holding Group. Adquirida em 2013 da chilena Sigdopack, a unidade roda desde 2005 com capacidade nominal de 5.000 t/a da película e é a única no gênero na América do Sul. “Ao final de 2015, a planta iniciou a extrusão de resíduos gerados em linha, reciclando centenas de toneladas de BOPA em PA 6 natural e PA 6 com 30% de reforço para uso em injeção”, adiantou a Plásticos em Revista Eduardo Korkes, dirigente da TERA8 Comercial, consultor do grupo Oben nessa tacada. As vendas do material internado e o recebimento de pedidos de importação feitos diretamente por clientes deverão estar em vigor no quarto trimestre, ele prevê.

O Oben Group negou entrevista sobre sua manobra. Antes dessa negativa, Korkes comentava o plano de exportações do reciclado chileno para a América Latina, com particular atenção para o Brasil. “As resinas já estão aprovadas em dezenas de clientes de setores como o automotivo, moveleiro, elétrico e ferroviário, que reservaram frações do primeiro lote de 20 toneladas a chegar ao país”, assinala o empresário. “Muitos desses usuários estão prontos para substituir matérias-primas virgens pelo reciclado de BOPA, por sinal passível de pigmentação no mesmo percentual de resinas de primeiro uso”. Ele afiança ainda que o recuperado da Oben bate em qualidade o reciclado de PA 6 proveniente de sucata pós consumo e possui preço super competitivo, saindo até 25% mais barato que o material virgem. Em razão, principalmente, das isenções tarifárias do Acordo de Complementação Econômica Mercosul/Chile e da facilidade de entrega por via terrestre em até 15 dias, ele sustenta, as versões recicladas de PA 6 e PA 6 com 30% de fibra de vidro natural chegarão ao Brasil a preços inferiores aos da concorrência de ultramar.

Frete caro
Jane Campos, diretora geral da componedora Radici do Brasil, confirma ter sido apresentada às virtudes do reciclado de BOPA do Oben. “É um bom produto, de média viscosidade e, se bem processado, terá ótimo desempenho”, pondera. “Não contém titânio como o resíduo de PA grau têxtil e deve apresentar boas propriedades mecânicas com o acréscimo de reforços”. Jane só fica intrigada num ponto. “Com base na quantidade de componedores de PA em atividade no Brasil, a capacidade instalada é maior que a demanda atual. Acho estranho que uma empresa do Chile, com frete para o Brasil absurdamente caro, consiga competir nas vendas com os brasileiros aqui”. A propósito, Korkes encaixa que o Oben Group tem filial comercial no país, a distribuidora Film Trading.

Em sua fábrica de beneficiamento em Araçariguama, interior paulista, a subsidiária da italiana Radici, medalha de ouro em PA e seus compostos, trabalha com o refugo grau fibra. Utiliza o resíduo da unidade de PA têxtil da companhia em São José dos Campos, também em São Paulo. “Esse refugo é empregado na linha de compostos Heramid, indicada para aplicações em que a resistência à tração não é tão exigida”, especifica Jane.

Não há um padrão de qualidade no reciclado de PA ofertado na praça, ela observa. “Tem de tudo e existem mercados para todos os padrões, a depender da aplicação e o desempenho em vista”, condiciona. “Se não for bem selecionado, o resíduo de PA destinado à reciclagem e beneficiamento tem seus riscos e são problemas comuns a contaminação no processamento com outros polímeros e perdas na resistência a impacto e à tração”. O mercado automotivo, ela exemplifica, tem utilizado peças de PA injetadas com até 30% de material reciclado, “mas aplicações menos exigentes, como calotas, podem ser totalmente moldadas com PA recuperada”, completa a diretora. Na foto do momento, constata Jane, a oferta de PA reciclada diminuiu, efeito dominó da queda na produção de peças injetadas com o polímero virgem, a reboque da maré baixa para autopartes e demais peças técnicas.

Importações irrelevantes
“O ano passado marcou pela baixa demanda interna por plásticos de engenharia como PA, daí a geração menor tanto de refugo do material e sua disponibilidade para reciclagem”, amarra Maurício Jaroski, especialista de inteligência de mercado da consultoria MaxiQuim. Pelo seu banco de dados, PA reciclado acusava na segunda metade de 2015 preços médios em reais correspondentes a cerca de 55% do preço de PA virgem. “Já nos seis meses iniciais de 2016, o preço médio de PA reciclada equivale a cerca de 58% de PA virgem no mercado doméstico”, completa. No embalo, ele calcula em torno de 60.000 t/a o consumo nacional de PA para injeção. “O reciclado deve responder por 20-25% desse total”. O monitoramento da MaxiQuim jamais flagrou relevância nos desembarques de PA reciclada por aqui, atesta Jaroski. “Admite-se a possibilidade de eventuais importações oportunistas, mas sem volumes expressivos”.
O padrão de qualidade, raciocina Jaroski, garante aceitação para o reciclado de BOPA mesmo se seu preço superar o do tradicional reciclado de PA originário de sucata de primeiro uso. “Mas cabe salientar que os consumidores mais preocupados com a qualidade de PA reciclada estão nos setores automotivo e eletroeletrônico, justo os mais sensíveis à recessão atual”, nota. “Os demais segmentos tendem a priorizar preço perante a qualidade”.

Reciclados diferentes
A oferta de PA reciclada na praça oscila do nível aceitável a excelente, percebe Luiz Carlos Ganini, consultor com nome feito em processos e materiais de engenharia. No momento, atua como responsável técnico na ferramentaria e transformadora Sakura Tech Brasil. A variação no padrão é atribuída por ele a duas vias de suprimento. “Os recicladores vendem material de boa procedência, enquanto o dos sucateiros não tem constância nem origem definida”, expõe Ganini. No geral, ele engrossa o coro, a disponibilidade de refugo de PA para injeção anda baixa. “Culpa da crise penalizando com queda acentuada a produção de empresas que utilizam componentes de PA reciclada”, ele nota. Entre peças para carros e eletroeletrônicos, ele distingue a presença do material de segundo uso em itens injetados como carcaças e hélices de ventiladores e ventoinhas e tampas de reservatórios de água e combustível.

Ganini sustenta que o Brasil importa PA reciclada, nas vestes de resinas e compostos, em complemento à oferta doméstica. “O consumo interno de PA ronda 70.000 t/a e nossa capacidade produtiva é da ordem de 40.000 t/a; a diferença é preenchida com material da Ásia, Europa e EUA”. Nesse contexto, o consultor chama a atenção para certas peculiaridades do reciclado mandado do Chile pelo Oben Group. “Em regra, o filme de BOPA é produzido com PA 6 e seu refugo é classificado como pós-industrial ou limpo”, ele diz. “Se comparado com sucata de pós-consumo, sua qualidade é superior. Mas a situação encerra uma dúvida: se estamos confrontando um reciclado do polímero para injeção com aquele resultante de PA para extrusão de filme; são duas aplicações distintas”.

A fábrica chilena de BOPA roda há 11 anos com máquina da alemã Brückner, sinônimo de estado da arte em extrusão cast e integrante do grupo conterrâneo Reifenhäuser. Manda a lógica que, para cumprir o intento de exportar reciclado de PA 6, a produção do filme biorientado precisa gerar um volume expressivo de aparas geradas em linha, um desperdício que, pela teoria dos manuais, seria explicado por máquina obsoleta, manutenção deficiente ou gestão do processo ineficaz. Ganini não titubeia. “Pela procedência do equipamento, nem pensar em defasagem. Eu culparia a manutenção e gestão inadequadas pelo alto volume de aparas”.

Agente da Brückner no Brasil, Patrick Claassens sublinha os predicados do equipamento para BOPA do Oben. “A máquina produz filme com 75% de sua capacidade e conta até com configuração para produzir estruturas de alta barreira, com álcool eteno vinílico (EVOH) no núcleo”, assinala. Durante a operação normal, explica, a troca do tipo de película a ser extrusado causa desperdício de filme, aparas de BOPA depois aproveitadas para produção de compostos e reciclagem na mesma unidade. “A quantidade gerada de refugo depende do mix de produtos e as especificações do tipo de filme e tamanho dos lotes variam por cliente”. No desfecho, Claassens salienta que assistência técnica da Brückner comparece com frequência na unidade chilena para zelar pela manutenção da máquina de BOPA. •

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