E agora?

Recessão e desgoverno empobrecem o consumo popular, motor das vendas de produtos higiênicos infantis. O setor está cara a cara com uma nova realidade.

O estouro da bolha de 13 anos de fervura no consumo e a ausência de pistas sobre os rumos do esfriado mercado daqui para a frente lançam uma sombra sobre a trajetória do setor brasileiro de higiene & beleza. Seguinte: com desgoverno e inflação, evaporou o poder aquisitivo das classes ditas emergentes. Ao lado da vaidade e obsessão nacional com a estética, esse público compunha os pilares da glória dos saltos de dois dígitos anuais nas receitas desse setor. Aí veio 2015. A recessão sem fim à vista e seu efeito dominó sobre o orçamento doméstico terão ou não poder para deteriorar não só as vendas, mas a cultura de contemplar produtos higiênicos e cosméticos com lugar fixo nas listas de compras, formada na população de baixa renda durante esses anos todos?

Um indicador de como este setor pode ser duro na queda transparece de um afluente seu: o reduto de  higiênicos infantis. Pela lupa da Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (Abihpec), ele é integrado por artigos para cabelo, sabonetes, fraldas e artigos para pele, compartimento onde cabem protetor solar e soluções para assaduras. A entidade não deu entrevista, mas a mais recente edição on line de seu “Caderno de Tendências” contém estimativa de faturamento de R$ 3,7 bi em 2012 e, previsão de anos antes da era Dilma 2, de R$ 6,4 bi em 2017 nessa praia de produtos para a faixa de 0 a 11 anos. As justificativas citadas no estudo para esse desempenho platinum eram o bombardeio de lançamentos; a influência das crianças sobre os pais, a ponto de escolherem até  produtos para banho e (entre pré-adolescentes) beleza e, por fim, aquela infalível demanda das famílias emergentes, então no ardor da curtição do acesso a esses produtos sem avarias em seu orçamento mensal.

“Nos últimos 15-20 anos, os produtos de higiene infantil passaram a ser muito relevantes na vida dos brasileiros”, analisa Francis Canterucci, gerente de marketing da Phisalia, dona de grifes campeãs no gênero. A cesta infantil engloba várias categorias e, ela assinala, está presente em 50% dos lares. “As famílias entendem a importância do uso de um produto higiênico específico para a criança e, desse modo, não consumir uma categoria é algo que ainda não está acontecendo. Para viabilizar sua permanência nela num ambiente de crise, o consumidor pode migrar entre marcas. Ele busca alternativas para manter o acesso aos produtos de higiene infantil”. Para acertar o passo com esse comportamento, conta Francis, a Phisalia continua a cevar a relação custo/benefício de sua marca Trá Lá Lá há 15 anos na praça. “O consumidor ganha qualidade e segurança a preços atraentes por mililitro de produto e promoções  como um desconto especial ou do tipo ‘leve 3, pague 2’ também entregam mais benefícios ao público”. O fluxo de lançamentos também faz sua parte, em boa parte na boleia dos licenciamentos de personagens. “Para aumentar o envolvimento dos meninos com integrantes da saga ‘Transformers’, fizemos uma edição limitada, com  novos rótulos da linha Trá lá lá Kids”, exemplifica Claire. “Em parceria com a Cartoon Networks trouxemos o personagem Johnny Bravo para a versão meninos dessa linha, Nutrikids, com xampu, condicionador, gel cola e kit presente. Para as meninas, fizemos parceria relativa à personagem Penélope Charmosa, constituindo a linha Trá Lá Lá Kids Penélope Charmosa, à base de xampu, condicionador, creme para pentear e kit-presente”.

A preocupação com a aparência física é peculiaridade brasileira mundialmente sabida. Francis reconhece que esse comportamento influi até mesmo nas concepções de cosméticos e produtos higiênicos para o mercado infantil. “Para as pré-adolescentes, cabelos saudáveis e bonitos já são importantes, dos pontos de vista social e psicológico”. Mas esse tipo de produto, ela distingue, deve adequar-se à idade e ao estágio de desenvolvimento da consumidora. “Nossa linha Jacques Janine é desenhada para a limpeza e tratamento capilar, apoiada em formulação e testes de segurança exigidos para esta fase da vida das meninas”.

No flanco das embalagens, o setor de higiênicos infantis pende de forma escancarada para os frascos opacos, motivo de júbilo para quem o atende soprando polietileno de alta densidade (PEAD). “Não é uma exigência do consumidor”, descarta Francis. “Muitas vezes, trata-se de uma escolha por necessidade de proteger o produto (contra a luz, p.ex.) e, em outras circunstâncias, de uma questão de decoração da embalagem”. A propósito, encaixa,  os principais frascos de Trá Lá Lá Kids são de PET transparente e os recipientes translúcidos dominam os higiênicos da versão Trá Lá Lá Baby. “Usamos  bastante rótulos termoencolhíveis, possuidores de área maior para decoração, fechando de todo a embalagem”.

Embora bem disseminados em cosméticos no Japão, os stand up pouches (SUP)  continuam discretos nesse setor no Brasil e, aos olhos de Francis, seu ingresso em higiênicos infantis ainda tateia na boa vontade. “Ao desenvolver um produto higiênico infantil, consideramos também a situação de banho”, ela argumenta. “Muitas vezes, esse banho é dado com uma das mãos, pois com a outra a mãe segura o bebê, ou então, a criança toma seu banho supervisionada por um adulto. Vêm daí variáveis para o conceito de uma embalagem para facilitar a vida de pais e filhos como seu peso, dificuldade de manuseio e até o tamanho da mão”. Os SUP, amarra a porta voz da Phisalia, já provaram sua versatilidade e possibilidade de encaixe de acessórios, como tampas. “Seu uso deve crescer em higiênicos infantis, desde que ofereça real benefício de preço e se enquadre às características do produto armazenado”, condiciona Francis.

Juliana Furtado da Silva, gerente de marketing da Betulla Cosméticos, camisa 10 em higiênicos para  crianças graças a marcas do calibre de Hello Kitty, também faz reservas à adesão do setor a SUPs. “As embalagens são criadas para estimular a criatividade  e diversão”, observa. “Por isso, são usadas como brinquedos durante e depois do banho; a embalagem flexível sai perdendo sem este atributo”.

O setor infantil divide-se nas categorias kids e baby, discerne a gerente de marketing. “Como as crianças decidem as compras em itens kids, sua embalagem deve ser atraente e divertida, daí a preferência pelos frascos opacos, pois permitem destacar cores e lay outs das criações dominadas por personagens e ícones,” ela explica. “Já na categoria baby, quem determina a  compra são os pais e os frascos transparentes transmitem suavidade e segurança aos produtos”.

Juliana engrossa o coro de quem identifica as categorias de higiene & beleza como prioridades para uma população de vaidade notória. Isso, no entanto, não livra do impacto da queda  do poder de compra o segmento em que a Betulla atua. “Itens pós-banho, como hidratantes e loções, são mais vulneráveis às mudanças de hábitos de consumo no universo infantil”, considera a executiva. E crise se contra ataca é com fuzilaria de marketing. “Qualidade, segurança e inovação em embalagens e tecnologia são fatores primordiais em nossas criações”, delimita Juliana. “Realizamos este ano muitas ações de PDV, com promoções e brindes para consumidores mirins, e lançamos produtos com embalagens econômicas, tipo 400 ml, como os xampus e sabonetes da linha Galinha Pintadinha”. O disparo de novidades estende-se pelos kits Hello Kitty para o Natal, data temática que a gerente conta ter também inspirado sacadas como um combo xampu/condicionador e dois estojos: um à base de colônia, gel glitter e bolinha de sabão e outro, contendo colônia, squeeze e creme para pentear.

Até os paralelepípedos sabem que, no Brasil, acha-se bastante difundido o empenho em acelerar a saída de crianças da mentalidade característica dessa fase inicial do desenvolvimento do indivíduo e é um fato a torrente de estímulos à erotização infantil. Esses dois fatores entrelaçam-se ao culto nacional à estética, um processo que, por tabela, respinga no universo dos produtos higiênicos e cosméticos para a faixa etária menor. “As meninas ou mocinhas brasileiras despertam muito cedo para a vaidade, o que tem a ver com a inspiração na beleza das mamães, irmãs mais velhas e outras referências de mulheres maravilhosas que convivemos e admiramos na infância”, associa Juliana. A linha Hello Kitty da Betulla, ela encaixa, marca de perto esse despertar com mais de 15 itens. “São xampus, condicionadores, cremes, colônias e presentes para meninas fofas e lindas, que amam se arrumar, perfumar e brilhar”.
Rival em higiênicos infantis, a Baruel negou entrevista.

Fraldas balançam mas não caem

Fraldas descartáveis fazem parte da cesta básica do lar e, assim, sua demanda paira à margem da crise. Marcos Ferreira, diretor da mineira Fraldas.com, empresa de distribuição de componentes para a manufatura desse protetor higiênico, inclusos nãotecidos e filmes gofrados, detalha este seu diagnóstico na entrevista abaixo.

PR – Quais as principais mudanças notadas nos hábitos de seus clientes devido aos efeitos da crise sobre o consumidor de fraldas infantis?
Ferreira – Eles têm procurado por produtos similares com custos menores, alterando assim o ticket médio. Considerando essa mudança de cenário, estamos oferecendo soluções dentro de um padrão de qualidade de consumo com preços mais acessíveis,aliviando assim o bolso de quem compra de nós.

PR – O segmento brasileiro de fraldas infantis pode ter abalada pela recessão sem fim à vista a sua tradicional trajetória de crescimento anual?
Ferreira – Não acredito.Talvez não tenhamos em 2015 uma expansão do nível dos últimos 10 anos, mas creio numa estabilidade nessa direção.Os números deste ano serão muito próximos de 2014. Fralda é produto de primeira necessidade.Não há como deixar de usar; é como deixar de comer.

PR – Essa crise pode favorecer a procura por fralda de pano em detrimento da descartável?
Ferreira – Jamais seria como se voltássemos dos carros às carroças. Estamos num mundo moderno, trabalhamos just in time, tudo imediato. Hoje em dias as pessoas nada sabem sobre fralda de pano e não vão voltar aos hábitos da época delas, tendo de lavar, passar, estender no varal para secar. Impossível. Da fralda de pano para a descartável é uma situação sem volta.

PR – Polipropileno é a matéria-prima do não-tecido e polietileno a do filme gofrado. Essas duas resinas têm preço dolarizado. Com base no período de janeiro a setembro último, poderia estimar os percentuais de reajuste aferidos nos preços do nãotecido e gofrado que a Fraldas.com comercializa?
 Ferreira – Entre nãotecido e o filme estimo uma média de 35% de reajuste até agora (primeira quinzena de outubro). Muitas vezes esses aumentos têm sido absorvidos pelos fornecedores e por nós, para o fabricante de fraldas que atendemos não sentir tanto o encarecimento.
Procurados por Plásticos em Revista, preferitam não falar os seguintes fabricantes de fraldas: Baby Roger, Fraldas Capricho, Fraldas Carinho, Fraldas Mili, Kimberly-Clark, Hypermarcas, Santher e Babysec.

 

Margens comprimidas

O stress toma conta dos negócios alojados no meio da cadeia

Fonte de frascos para titulares em higiênicos infantis como Phisalia e Baruel, Renato Szpigel, diretor da Engratech enxerga esse setor, no passado visto como imune a solavancos da economia, vergando pela primeira vez os joelhos sob os golpes da recessão atual. “Algumas categorias resistem melhor que outras mas, no geral, o comportamento dos higiênicos infantis não destoará da queda significativa nads vendas presenciadas nos demais cosméticos. A crise machuca a todos”, sustenta.

E machuca tanto que a Engratech deixou de investir nesse mercado, admite Szpigel. “As margens caíram demais no últimos anos, assim como suas demandas e apetite por novidades, derrubando portanto os investimentos dos meus clientes”, ele justifica. A decepção se estende aos volumes de embalagens fornecidas ao setor. “Eles permaneceram estáveis nos últimos cinco anos, mas já caíram em torno de 20% no período atual”. Além do mais, completa, como alguns produtos higiênicos infantis envasados em frascos da Engratech foram substituídos, “sentimos a queda mais forte em nossas vendas para esse setor de três anos para cá”, completa Szpigel.

A Engratech é referência no sopro de polietileno de alta densidade (PEAD) e PET para indústrias como as de cosméticos. Com base em projetos de embalagens dos quais a empresa participou, Szpigel atribui a supremacia da poliolefina nos frascos de higiênicos infantis a um cálculo na ponta do lápis. “O motivo é o alto investimento nos moldes de PET, pois mesmo com alternativas de desenvolvimento nacionais e mais em conta, esse gasto não cabe mais nos bolsos dos clientes desse setor, não importa o seu porte”.
O reinado de PEAD em embalagens de produtos de higiene & beleza só não beira o absolutismo devido às aparições de PET. Frascos opacos de cosméticos são um dos pilares da Engratech, razão de sobra para Szpigel se inquietar com a alta do câmbio e seus efeitos sobre o dolarizado preço interno da resina. De janeiro à primeira quinzena de outubro, ele estima, os reajustes em PEAD totalizaram em média 25%. “De janeiro a setembro de 2014, o aumento foi inferior a 5%”, rememora.

PEAD: sopro de vida para embalagens

Frascos soprados de higiênicos infantis são quintal de polietileno de alta densidade (PEAD). Único produtor local da resina, a Braskem assedia esse reduto com grades mono e bimodais. “Copolímeros são recomendados para embalagens com requisitos como alta resistência ao stress cracking (ruptura sob tensão) ou o envase de essências, óleos especiais e tensoativos”, expõe Augusto Cesar Esteves, integrante da área de engenharia de aplicação de polietilenos. Quando não há esse tipo de exigência, ele segue, os homopolímeros  oferecem alta rigidez aos recipientes. “Seja a tecnologia mono ou bimodal e homo ou copolímero a classe do material, todas elas primam pelo excelência no balanço de propriedades e no acabamento superficial, com destaque aqui para o padrão de cor conferido ao frasco”.
A subsidiária brasileira da M&G, produtora de PE, polímero com passe livre em embalagens de higiênicos infantis, não deu entrevista.

FILMES GOFRADOS
O mantra em fraldas descartáveis, dada sua condição de produto higiênico essencial e sem alternativas, é de que estão acima do bem e do mal na economia. “Concordo em parte”, coloca Fábio Fujimura, diretor da Clopay do Brasil, pedra angular em filmes gofrados, presentes no backsheet das fraldas infantis. “Sob a crise atual, decerto o consumidor vai migrar das marcas de primeira linha para ajustar esse gasto ao orçamento familiar. Quem utiliza fralda descartável não tem como abrir mão dela, mas vai para versões mais econômicas”. Nessa linha de raciocínio, o consumo nacional de filmes gofrados em fraldas não estaria sujeito a sobressaltos. Na calculadora de Fujimura, esse volume roda a faixa de 6.000 t/mês. O bicho pega, ele evidencia, nos efeitos sobre o negócio provocados por um rastilho aceso de pólvora: a combinação do preço dolarizado do polietileno com um mercado até o talo em recessão. “Já espremidas pela rápida desvalorização do real, as margens continuam  sob fortíssima pressão”, pondera o diretor. “Não há opção aos necessários repasses dos reajustes da matéria-prima, mas a crise prejudica a implementação desses  aumentos. Temo pela sorte do setor de filmes gofrados em 2016”. Fujimura  acrescenta que, por ser a fralda um produto altamente dolarizado, “seus fabricantes muito pequenos também sofrerão com esta crise”.

Os gofrados de baixa gramatura da Clopay, afiança o diretor, batem ponto em todas as marcas top do mercado brasileiro de fraldas descartáveis. “São filmes de três a cinco camadas e cada uma delas destinada a corresponder à exigência do fabricante da fralda, a exemplo de laminação em linha, respirabilidade e propriedades físicas”, ilustra o executivo. A Clopay desponta na linha de frente desse reduto por fornecer tanto o gofrado  como o laminado desse filme com nãotecido. “Esses laminados proporcionam maciez e comodidade para o bebê e geram menos ruídos, o que as mães associam a mais conforto para a criança”, ele explica. Pela sua estimativa, hoje são equivalentes as participações de mercado detidas por gofrados e laminados em fraldas infantis.

Polietilenos: a eminência parda dos gofrados

Filmes gofrados resultam, em essência, de receitas confidenciais com percentuais de três ingredientes: polietileno de alta densidade (PEAD), de baixa (PEBD) e de baixa densidade linear (PEBDL). Este último polímero sobressai por representar de 40% a 50% do volume desses filmes para fraldas no país, situa Carlos Faria, integrante da área de engenharia de aplicação de polietilenos da Braskem. “Nos últimos anos, o volume da resina tem aumentado devido à redução da gramatura”, ele atribui. Para corresponder às expectativas, a Braskem serve os transformadores de gofrados para fraldas com três tipos de resinas lineares: o grade base buteno FH35, o tipo base hexeno LH537 e, para aplicações de cunho mais específico, a resina metalocênica Flexus 7200 XP. “Não é uma regra bem definida”, pondera Faria, “mas em geral, devido ao custo/benefício, os gofrados para fraldas standard utilizam mais o grade base buteno, enquanto os tipos hexeno e metaloceno prevalecem nos filmes dirigidos a fraldas premium”. Na esfera de PEAD, assinala o especialista, a Braskem bate o ponto em gofrados com os grades HD3000N e HD3000S, enquanto em PEBD faz o mesmo com as resinas EF2222 e BF2021. “No processamento, esse materiais sobressaem pela produtividade e estabilidade (baixo neck in e ausência de pulsação) conferidas ao filme”, explica Faria. “Para o desempenho do gofrado na fralda, proporcionam vantagens como resistência à tração, módulo elástico e soft touch (toque suave)”.
Procurada por Plásticos em Revista, a ExxonMobil, produtora de PE nos EUA, não deu entrevista.

Em regra, a indústria de fraldas infantis emprega apenas o gofrado, percebe Horacio Murua, CEO da Cepalgo, peso-pesado nesse filme técnico e no laminado com nãotecido. “Nos últimos anos, tem crescido o uso desses laminados e entendo que as duas opções devem coexistir, pois os gofrados serão sempre uma alternativa econômica”. A propósito, encaixa o dirigente, a Cepalgo sobressai no ramo por dispor de laminação on line sobre o nãotecido no momento da extrusão. “Essa tenologia dispensa os adesivos necessários nos métodos tradicionais de laminação, resultando num filme de comportamento e toque muito mais próximos de um tecido”, destaca Murua. Na raia específica dos gofrados, o dirigente salienta os progressos de sua empresa na obtenção de filmes uniformes, sem furos e cada vez mais finos. “Aumentam o rendimento na fabricação da fralda e a sensação de suavidade do filme”.

No ano passado, expõe Murua, o Brasil era o terceiro consumidor mundial de fraldas descartáveis, à frente de um mercado que saltara 70% desde 2009. “A perspectiva de continuidade dessa sequência de crescimento  criou a imagem de um mercado a salvo de crises e a recessão atual pode mudar em curto prazo esse posicionamento”, julga o CEO. “Afinal, boa parte da expansão passada esteve atrelada ao aumento de consumo das classes C e D. Ainda é cedo para fazer estimativas de maior precisão sobre o impacto da recessão nesse setor”. Em paralelo, segue Murua, o histórico mostra que a fralda descartável não tem imunidade de fato à retração econômica. “Mercados promissores como o Nordeste, que cresceu 33% em 2014, podem deixar de expandir e assim reduzir os investimentos canalizados para a região”, nota o presidente da Cepalgo. “Tudo conspirava a favor da evolução da demanda, desde o poder ampliado de compra das classes emergentes aos reflexos da economia de escala nos preços unitários  da fralda – em 20 anos, caíram de US$ 1 para R$ 0,10. Dificilmente tornaremos a ver volumes de crescimento  como  o experimentado nos últimos anos”.

PP garante aconchego das fraldas

Nãotecidos são, ao lado de frentes como ráfia e autopeças, mercado puro malte para polipropileno (PP). “Descartáveis higiênicos, inclusos fraldas e absorventes, respondem por cerca de 48% do consumo nacional de nãotecidos de PP”, projeta Heitor Trentin, líder do segmento de nãotecidos da Braskem, único produtor do termoplástico no país. Nos últimos cinco anos, ele assinala, a receita desse segmento saltou acima de 40%, na garupa do aumento de renda das famílias. “Mais pessoas passaram a comprar fraldas infantis, apesar da queda de natalidade, tal como ocorreu com fraldas geriátricas e lenços umedecidos”, esclarece Trentin, confiante na continuidade do crescimento da demanda nos próximos anos, apesar da crise e do esvaziamento do poder aquisitivo. Um dos lastros de seu ponto de vista é tirado de um raio X do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). “Segundo o estudo, a população brasileira de zero a quatro anos ronda 8 milhões de crianças e o consumo unitário de fraldas descartáveis infantis gira em torno de 1.750 peças na média anual”, informa Trentin. “Considerando-se que o uso de fraldas hoje atinge 55% das crianças do Brasil, projeta-se um consumo anual de 14,1 milhões de unidades ao ano”. A parcela de 45% de crianças ainda sem acesso à fralda, é um respaldo à continuidade de expansão do mercado esperada pelo executivo.

Nãotecidos para fraldas são marcados pela Braskem com  linha de passe entre três grades de PP homopolímero: H 125, H155 e H 214, alinha Nicolai Duboc,  gerente de engenharia e desenvolvimento de aplicações de PP. “O primeiro tipo é em geral indicado para nãotecidos de baixa gramatura  alto desempenho gerados pelo processo spunbonded”, delimita o executivo. “A reologia controlada do H125 permite atingir uma estreita distribuição de massas molares, um fator que, aliado ao controle de géis e ao alto índice de fluidez da resina, proporciona a produção de fibras bem finas sem rompimento na transformação e que favorecem a percepção de toque suave”, ele nota. Por sua vez, a resina H155 é talhada para nãotecido obtido pelo processo melt blown. “Sua fluidez de 1.300g/10 min assegura ao nãotecido a barreira a líquidos exigida para descartávéis higiênicos”, acentua Duboc. Por fim, ele indica o grade H 214 para gramaturas algo maiores ou, mérito de sua massa polar, para quando se faz necessária uma performance mecânica superior.

Murua reconhece ser uma enxaqueca daquelas o desafio de repassar, numa conjuntura nublada, os reajustes turbinados pelo câmbio recebidos de insumos dolarizados, como polietilenos. “A crise do consumo está aliada à forte restrição de crédito e aumento do custo do dinheiro”, coloca. “Daqui para a frente, será muito difícil e caro obter financiamentos para capital de giro e sendo este um mercado acostumado a girar com longos prazos, os transformadores de gofrados terão dificuldade  em  equacionar repasses e a manutenção dos prazos que antes concediam. Mutua estende a mesma perspectiva aos fabricantes de menor porte de fraldas descartáveis.” A cadeia como um todo sente a combinação do aumento de custos com diminuição de financiamento e consumo”, considera. “Para os gestores, a situação impõe decisões rápidas e um julgamento equivocado pode por a operação em risco”.

Concentrada em filmes gofrados, a Soft Film, vinculada ao Grupo Zaraplast, negou entrevista.

Nãotecidos: fraldas intermediárias dão asas à Polystar.

Com fábrica de nãotecido spunbonded em Salvador e uma unidade do tipo thermobonded e de multifilamentos de polipropileno (PP)  em Simões Filho, a baiana Polystar tem cadeira cativa como fornecedora da indústria de fraldas descartáveis. Na entrevista a seguir, o diretor comercial Lucio Meira vai fundo na análise da paulada da recessão nos costados do mercado de fraldas e solta um cordão de ações concretas que compõem a receitada Polystar para não ficar à mercê da crise. Também procuradas por Plásticos em Revista, as transformadoras de nãotecido Fitesa e Providência se esquivaram da entrevista.

PR – Como a recessão tem afetado suas vendas de nãotecidos para fraldas descartáveis?
Meira – Ocorreu uma concentração maior dos consumidores nas fraldas intermediárias, foco dos nossos negócios. Essa migração foi determinante para a manutenção  dos volumes de vendas da Polystar. De um lado, as classes B e C, que já haviam mudado para esse patamar nos últimos três anos, procuram nele ficar mediante pesquisas de preços e troca de marcas. Do outro lado,percebe-se queda no consmio de fraldas premium, predominantes nas classes B e A e que também migraram para uma fralda intermediária mais acessívelo e de boa qualidade.

PR – Como essas três categorias dividem, no plano geral, o mercado de fraldas?
Meira – Fraldas básicas ou econômicas respondem por 10%.Uma parcela de 20% cabe aos tipos premium – caso de modelos com orelha elástica ou polpa de celulose fina ou versões como a fralda-calça. Os 70% restantes são das fraldas intermediárias, a exemplo daquelas com fita elástica, fechamento mecânico, barreira contra vazamento, back sheet de gofrado ou laminado desse filme com nãotecido  e top sheet com tratamento hidrofílico/ hidrofóbico por zonas.

PR – Quais as novidades surgidas este ano nos nãotecidos para fraldas da Polystar?
Meira – Introduzimos aditivos como vitamina E, extrato de camomila e clorofila para proporcionar conforto ao usuário. Também efetuamos melhorias no transporte de líquidos e na maciez e lisura dos nãotecidos, mérito de um surfactante específico para controle da tensão superficial. Além disso,alteramos o processo produtivo quanto à formação e distribuição das fibras, um trunfo para  a Polystar oferecer  produtos com performance diferenciada na aparência e no tempo de absorção.

PR – Qual o impacto da subida do dólar no seu negócio?
Meira – PP tem preço dolarizado e compõe 70% do custo de produção de nãotecido. Somos, portanto, forçados a repassar os reajustes recebidos no preço da resina. Do lado bom, nosso volume de exportações – em média 15% da produção – prossegue estável, mas as margens melhoraram com a alta do dólar. As vendas externas contam pontos para resguardar a operação do impacto da crise, mas há outras medidas tomadas nesse sentido pela Polystar. Entre elas, cito a ampliação do leque de clientes, redução do refugo gerado em linha, foco em nãotecidos de maior produtividade  e a ênfase em lotes mínimos, ponto para a economia na produção.

PR – Essa recessão tem força para promover a volta da fralda de pano?
Meira – Devido à sua ascensão no mercado de trabalho, as mulheres priorizam a agilidade, comodidade e, em especial, o conforto do bebê. Tudo isso fica complicado com a fralda de pano pois, além do desconforto para a criança, toma tempo e dá muito trabalho pela necessidade de ser lavada e passada a ferro.

PR – Com o aumento do custo de vida e a economia instável, como vê o comportamento das classes B e C no mercado de fraldas e como isso respinga sobre os fabricantes?  
Meira – Antes dessa crise, a população de baixa renda teve a oportunidade de experimentar diversos produtos, entre eles a fralda descartável, efeito do maior poder aquisitivo. Agora ela não quer perder o que conquistou e, para isso, entra como sua estratégia a compra inteligente,baseada no custo/benefício. Por seu turno, as margens estão cada vez mais estreitas  para quem fabrica fraldas, devido à grande oferta. •

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