A esperança encalhou

Consumo aparente de resinas teve a maior contração em 15 anos

Janeiro último entrou como o 13º mês de 2016, efeito da transposição para 2017 de sua marca registrada, o desalento. Segundo ano de recessão, 2016 tem estimativa de PIB no vermelho em – 3,5% no mínimo, indicador que transporta estatisticamente um recuo de – 0,7% para o exercício que se inicia. Para variar, salva-se apenas o agronegócio, pois deve ampliar 4,2% em 2017 se El Niño ou La Niña não aprontarem. Somada à quebra das contas públicas, a baixaria política conseguiu piorar e, algemadas ao toma lá dá cá em Brasília, as reformas econômicas propostas pelo governo, se implantadas a sério, não darão resultado de bate pronto para sua impopularidade arrefecer. Fora perder participação no PIB há 10 anos, a indústria virou um exercício de enxugar gelo.Segundo o Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais, o custo médio do investimento é três vezes maior do que retorno sobre o mesmo em empresas não financeiras. Analista reverenciado, Yoshiaki Nakano, diretor da Escola de Economia da FGV-SP, arrenega os colegas polianas para quem essa é só mais uma recessão cíclica, com tendência de retomada em breve. “Assim, basta um empurrãozinho que a economia volta para sua trajetória de crescimento. Nada mais longe da realidade”, ele rechaçou na imprensa.
Ao longo de 2016, a demanda de resinas tornou a penar feito um doente na fila do Sus e, estrela solitária da economia, o agronegócio não teve como contrabalançar a desgraceira generalizada no setor, pois mal chega a 3% de participação entre os mercados de transformados. Numa panorâmica, pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE) crava em -16,9,% a queda acumulada da produção industrial no país desde 2014. Em 2016, o vermelho de -6,6%, embora melhor que os -8,3% em 2015, escancara um retorno ao platô de -7,1% em 2009. Na entrevista a seguir, Solange Stumpf, diretora da consultoria MaxiQuim disseca a continuidade, no ano passado, da descida aos infernos imposta aos termoplásticos commodities.

PR – Em 2015, a MaxiQuim constatou recuo no consumo geral de resinas commodities aos patamares de 2012. Com a continuidade da crise em 2016, o mercado desceu aos patamares de qual ano?
 Solange – No ano passado, o consumo aparente das resinas convencionais (ver quadro) totalizou cerca de 5,5 milhões de toneladas, uma queda aproximada de 6% na comparação com 2015. Em volume, esse consumo se equivale ao de 2011. No acumulado dos últimos dois anos, a queda foi de 13%, o que não se viu na série histórica acompanhada pela MaxiQuim desde 2001.

PR – Por quais motivos permanecem tímidas as exportações brasileiras de PS, resina em crônico excedente doméstico, enquanto as exportações de PVC, PP e PE decolaram em 2015 e 2016?
Solange – Na realidade, as exportações de PS cresceram bastante em 2015 e 2016. Os embarques somaram 60.000 toneladas no ano passado, recorde histórico e 63% superior ao observado em 2015, quando o salto do volume exportado foi de 100%, alcançando 40.000 toneladas perante 20.000 aferidas em 2014. Em parte, isso se deve à reativação (parcial: 120.000 da capacidade total de 190.000 t/a) da unidade da Unigel em São José dos Campos (SP) no final de 2015, depois de permanecer desativada por dois anos. A resina ali produzida foi destinada principalmente ao mercado externo. Por sua vez, a Videolar-Innova também aumentou o volume exportado de PS em 2016. Apesar do crescimento, essas exportações brasileiras são baixas comparadas a resinas como as poliolefinas. No ano passado, o Brasil exportou 18% de sua produção de PS, enquanto no âmbito de PE este indicador ultrapassou 30%. A tendência para 2017 é de que as exportações de PS sigam crescendo, por conta da estratégia dos produtores e da fraca demanda interna.

PR – Diante da piora da recessão em 2016, vender estireno foi uma alternativa mais atraente do que polimerizá-lo para os dois produtores no país?
Solange – A produção de PS em 2016 foi superior a 2015 e grande parte foi destinada as exportações, devido à queda na demanda doméstica. O mercado interno de estireno também foi fortemente afetado pela crise econômica no último período, tanto nos segmentos de resinas que são destinados aos setores de construção civil e industrial, quanto nos de derivados como PS expansível ( EPS), também relacionado com construção civil, e borrachas. Ou seja, o mercado de estireno não competiu com o de PS em volumes. A análise da alternativa mais atraente se dá pelo produto que apresenta melhores margens, o que variou bastante ao longo do ano passado.

PR – Em meio ao clima pesado na maioria dos setores finais e, em especial para os transformadores menores, há quem afirme na distribuição de poliolefinas que 2016 foi seu melhor ano até hoje. Como isso se explica?
 Solange – Com a demanda enfraquecida e menores volumes de compras do consumidor final, alguns transformadores diminuíram sua produção. Em consequência, o volume de resina comprado também diminuiu, o que fez com que mais transformadores passassem a comprar da distribuição, por não atingirem o volume mínimo de compra direta das petroquímicas. Além disso, muitas vezes os agentes têm mais flexibilidade em termos de condições de pagamento e crédito, o que é muito importante para viabilizar o negócio de pequenos e médios transformadores em tempos de crise.

PR – Em janeiro de 2016, a Maxiquim previa, para o consumo aparente no período versus 2015, +2% para PEBD; -1% para PEBDL; +0,8% para PEAD; + 2,4% para PS; +2,6% para PP;+ 1,4% para PET e 0% para PVC. Essas projeções se confirmaram? Qual a maior surpresa?
Solange – No plano geral, o mercado de resinas se comportou pior do que prevíamos no início de 2016. A explicação está na diferença entre o desempenho efetivo da economia no último período e a expectativa da sua trajetória delineada em janeiro do ano passado. Àquela época, a queda esperada para o PIB não era tão acentuada; agora sabemos que ficará próxima de 3,5%. Além disso, resinas como PP e PVC tem seus mercados relacionados a setores demandantes de bens duráveis prejudicados muito além do esperado pela recessão e crise política em 2016, a exemplo da indústria automobilística e da construção civil, ambos dependentes de crédito e da confiança do consumidor.

PR – Qual a expectativa para o consumo aparente de resinas este ano?
Solange – Prevejo recuperação lenta e gradual da demanda. Tomando-se como base um crescimento do PIB na faixa de 0,5%, nossa estimativa é de que 2017 feche com crescimento de 3% em relação a 2016 no consumo de termoplásticos. Isto por que muitos dos setores de resinas que apresentaram desempenho negativo entre 2015 e 2016 formam uma demanda reprimida. Quando o PIB voltar a crescer a demanda reage com mais força do que a economia como um todo. Nesse sentido, esperamos que PVC esteja entre as resinas que mais recupere mercado no decorrer do ano, seguido por PP.

PR – Em 2016, a produção de veículos voltou aos níveis de 2006 e BOPP segue atolado em superoferta interna. Ráfia foi, portanto, o único porto seguro entre os grandes mercados brasileiros para PP?
Solange – O agronegócio foi o setor de melhor desempenho em 2016, apesar de também ter ficado aquém das expectativas iniciais. Com isso, ráfia foi sem dúvida uma das aplicações que segurou as vendas domésticas de PP. Quanto a BOPP, não teve um ano tão ruim devido à sua alta penetração em embalagens de alimentos – e os produtos essenciais têm sofrido menos na crise que os bens duráveis. Neste compartimento, aliás, a injeção de componentes automotivos foi muito fraca em 2016, com empresas diminuindo produção e número de funcionários.A vantagem do PP é o seu mercado bastante pulverizado, de modo que algumas aplicações sempre crescem e outras não os balanços anuais. Entre as que expandiram em 2016, além da sacaria costurada, estão os garrafões de água, alguns nichos de utilidades domésticas e embalagens para alimentos e bebidas em geral, principalmente as de menor valor agregado, como as de produtos de segunda linha.

PR – O consumo brasileiro de refrigerantes, maior campo de PET, cai desde 2011.Também cresce o uso da mistura de poliéster reciclado com virgem e a busca por garrafas mais leves. Por essas razões e diante da falta de novos grandes mercados e aplicações, aumenta o excedente doméstico e mundial de PET virgem. A resina está caminhando para uma estagnação, situação similar à de PS?
Solange – De fato, o consumo de refrigerantes vem caindo nos últimos anos, porém outros mercados vêm crescendo para PET, embora ainda representem volumes inferiores, como sucos, águas flavorizadas, isotônicos e energéticos. Além do crescimento do consumo de PET reciclado, contribui também para a redução de volume da resina virgem a diminuição em curso da espessura das garrafas. Acredito que a estagnação ainda está longe, pois PET pode ganhar mercados como o de garrafas para leite, iogurtes, condimentos e outros produtos hoje embalados em lata e vidro, mas as taxas de crescimento do poliéster não serão mais como as históricas.

 

Mais um ano daqueles

Este título vale tanto para 2016 como para 2017

Roriz: Selic deveria baixar com mais rapidez.
Roriz: Selic deveria baixar com mais rapidez.

“No início de 2016 prevíamos queda de -3,5% nas vendas da indústria de transformados plásticos e, ao final do ano, o índice superou -5%”, projeta José Ricardo Roriz Coelho, presidente da Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast). No decorrer do último período, rememora, os desdobramentos da crise institucional e ética adicionaram mais pessimismo ao mercado e pioraram o ambiente de negócios em todos os setores da economia. A tiracolo da avaria nas vendas no exercício passado, Roriz situa entre 20% e 30% o grau de ociosidade em vigor na transformação de plástico, recuo de -5,4% na produção e de 11,1% na receita, desgraças encimadas pelo corte de 11.000 postos de trabalho.
Na ponta da cadeia, essas estimativas vermelhas são endossadas por pesquisa da Serasa Experian sobre as vendas do comércio nacional em 2016. O balanço indica indica queda de -6,6% versus 2015, o pior saldo aferido pela entidade no varejo nos últimos 16 anos. Entre os números de língua de fora, despontam o declínio de -7% no movimento de super e hipermercados e de alimentos e bebidas. Na esfera de veículos, motos e peças, a retração constatada pela Serasa Experian rondou -13%. Em móveis, eletroeletrônicos e informática, o desabamento foi dimensionado em 11,1%,enquanto o comércio de materiais de construção amargou déficit de 5,4%. Aliás, no âmbito dos balanços em coma dos lançamentos e reformas prediais, a Tigre, maior transformador nacional de PVC e cliente cativo da Braskem, decidiu fechar sua fábrica de tubos e conexões na Bahia.
A volatilidade conjuntural torna o planejamento estratégico não só uma ousadia no Brasil, mas alvo de seguidas correções no transcorrer de qualquer ano. “Em janeiro de 2016, esperava-se uma queda de -2% para o PIB e de -3,8% para a produção física da indústria nacional”, ilustra Roriz. “Pois em dezembro último, os índices foram recalculados, respectivamente, em -3,3% e -6,2%”. Para torrar esse angu de caroço, o dirigente joga no forno o convívio do Brasil com taxa de juros de 14,25% anuais no decorrer de 2016. “Ela só veio a recuar em ritmo lento a partir de outubro, o que inibe tanto os investimentos como a busca por recursos para o empresário se manter no mercado”.

Abiplast: agenda lotada em 2017
À margem da recessão, uma penca de ações lateja na agenda de trabalho em 2017 da Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast). Entre elas, o presidente José Ricardo Roriz Coelho distingue o empenho em corrigir os percalços conceituais da norma de segurança de máquinas NR 12. “Do jeito que está, a regulamentação acarreta obrigações inviáveis – técnicas e e econômicas – para a indústria sem gerar ganho real de proteção ao trabalhador”. Outra meta da agenda: ampliar o número de transformadores filiados à Política Nacional de Resíduos Sólidos e o conjunto de ações da Abiplast ligadas a ela. Quanto à prestação de serviços virtuais, Roriz adianta o intento de incrementar o portal da associação com serviços como dúvidas de filiados tiradas no ato por especialistas a postos nos chamados plantões tributário e trabalhista do site. Em paralelo, está nos planos a difusão de regras de compliance aos transformadores, a realização da feira Feiplastic na primeira semana de abril e o lançamento,no segundo semestre, do livro debruçado sobre meio século de trajetória da Abiplast e os efeitos da evolução, no mesmo período, dos produtos transformados na qualidade de vida no país.

Roriz não vê saída do beco da noite para o dia. “Os problemas de retração da demanda, escassez de crédito e capital de giro continuam e precisam ser resolvidos se quisermos uma efetiva recuperação da economia”, ele condiciona. Apesar da morosidade desses consertos, o dirigente enxerga algumas variáveis rumo a alguma previsibilidade. “As perspectivas da inflação para 2017 estão fechando dentro da meta, uma condição capaz de liberar mais espaço para a redução da taxa de juros”, ele interpreta. “Como a economia vem de dois anos de retração, qualquer melhora no desempenho do PIB ou da produção industrial pode amostrar um aumento”. Ele reitera como positiva a intenção do Banco Central de baixar os juros mas considera que, se mantido o pique de cortes de 0,25 ponto percentual a cada dois meses, não se verá retomada, mas talvez aconteça uma parada na queda da economia. “Uma velocidade maior da Selic será um ponto de partida para destravar o crescimento econômico”, defende. “Além disso, avançar a agenda das reformas microeconômicas, com a redução da rigidez das relações trabalhistas e a simplificação da estrutura tributária e regulatória para facilitar a abertura do mercado e a condução de novos negócios são estímulos essenciais para a retomada”.
A volta dos gastos públicos aos limites permitidos pelo orçamento também respinga direto nos anseios da transformação de plástico, confirma o presidente da Abiplast. Ele exemplifica esse cordão siamês com o peso de três Estados hoje quebrados. “Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Minas Gerais totalizam perto de 25% das transformadoras de plástico no país”, calcula Roriz. Com as contas desse trio em pandarecos, ele comenta, a maior preocupação do setor transformador é o anseio do governo estadual em arrecadar verba esfolando a indústria, seja na implementação de tributos ou na retirada de desonerações. Na selfie do PIB brasileiro atual, a indústria abocanha participação de apenas 12%, embora responda por 40% da carga fiscal, acentua Roriz, deixando explícita a cruz tributária no lombo da manufatura. “Onerar mais ainda essa carga seria um retrocesso”, julga. Mas não é, pelo visto, o pensamento corrente do outro lado do balcão. “Por exemplo, a Lei 7.428/3016 do Estado do Rio de Janeiro condiciona o aproveitamento de incentivos fiscais relativos ao Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) para depósitos em favor do Fundo Estadual de Equilíbrio Fiscal (FEEF)”, ele expõe. “A Confederação Nacional da Indústria questiona a constitucionalidade dessa lei, pois não encontra amparo nos impostos previstos nas competências tributárias estaduais nem pode ser classificada como taxa ou contribuição de melhoria. Seu único efeito é aumentar a insegurança jurídica”.
A pedra cantada da valorização do dólar, atiçada pela política econômica de Trump, aliada à folga na capacidade instalada e à descapitalização generalizada nos transformadores brasileiros encurralam seus fornecedores de máquinas e periféricos. Roriz avalia a retração de investimentos a partir da lente macro da indústria nacional em seu todo . “ A previsão é de que a Formação Bruta de Capital Fixo (FBKF) acumule queda de -23% considerados os exercícios de 2015 e 2016”, estima. No momento, afirma, a indústria brasileira roda com ociosidade acima de 30% e, na esfera da transformação de plástico, perto de 40%. “No ano passado, as aquisições de máquinas e sistemas foram basicamente norteadas pela redução de custos e aumento de produtividade”, distingue o presidente da Abiplast. “Esse tipo de investimento será a tônica dos próximos períodos porque, em momentos de crise, é importante que a operação industrial seja revista e aperfeiçoada para quando a economia se recuperar”.•

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