Sempre em alta na bolsa

Bolsas: Cipatex marca moda de perto com laminados específicos.

De um lado, um misto quente de mercados diversos entre si. Do outro, todas as fichas postas num único produto, os laminados sintéticos. O equilíbrio desses pesos na balança sustenta há 50 anos a vitalidade do Grupo Cipatex. “O fato de um mercado ir bem quando outro vai mal dotou a empresa de imunidade contra os solavancos da economia e de fôlego para crescer aproveitando as oportunidades surgidas à sua frente”, considera William Marcelo Nicolau, presidente da companhia sediada em Cerquilho, interior paulista. Na foto tirada agora, aparece um faturamento estimado este ano em R$ 500 milhões, à sombra de uma capacidade total da ordem de 60.000 t/a de laminados, volume puxado pelos tipos de PVC, resina que tem nessa aplicação seu segundo campo no país.
Nada mal para quem teve um bazar como ponto de partida. Fundador e hoje no conselho do grupo, William Nicolau, pai de Marcelo, administrava o empório da família em Paraguaçu Paulista, no centro-oeste do Estado, até a perda do pai dificultar a continuidade do negócio.  Corriam os anos 60 e ele resolveu mudar para Cerquilho, praça para a qual seu bazar vendia chapéus de palha então usados por lavradores. Foi quando ficou a par das complicações em torno da logística de suprimento das carneiras, fitas colocadas no interior dos chapéus pelos fabricantes nas redondezas.William teve o estalo de fechar o vácuo manufaturando numa pequena garagem essas tiras à base de tecido impregnado com resina de nitrocelulose. “Ele dominou o método de produção movido por curiosidade, pois não era químico”, aparteia Marcelo. Nascia a Cipatex.
Das carneiras, os laminados artesanais da empresa ganharam aplicações como a encadernação de livros. Nos idos de 1974, retoma o fio Marcelo, o crescimento do negócio e o empreendedorismo de William Nicolau atraíram a família Pilon, assentada na produção de açúcar e álcool na região, para uma sociedade na Cipatex. “Até hoje, as famílias Nicolau e Pilon repartem por igual o controle da holding da companhia”, encaixa o presidente.
Com essa infusão de cifrões, a Cipatex agigantou-se e, em 1976, embarcou numa tendência já abraçada pela concorrência. “Um fornecedor alemão apresentou PVC  como o material do futuro e meu pai comprou a ideia para substituir nitrocelulose”, conta Marcelo. Na prática, a Cipatex enveredou pelo processo de espalmagem com a resina vinílica base emulsão e, resumo da ópera, à entrada dos anos 90 chegava à autossuficiência nas tecnologias de extrusão e de calandragem de PVC base suspensão. “Até hoje, é a única indústria de laminados autossuficiente em todos os processos no gênero”, sustenta o presidente. “Essa autonomia proporcionou acesso dos nossos laminados a segmentos sem ligação entre si e seu modo de reagir diferentemente ao momento econômico tem favorecido a estabilidade do balanço do grupo”.
Marcelo sublinha o período 1995/2000 como os anos dourados de expansão da Cipatex. Capitalizada, ela deu de esboçar movimentos de verticalização em matérias-primas. De início, coloca o presidente, foi tentada a formulação de plastificantes em Cerquilho, numa indústria cognominada NPC. “Em pouco tempo, essa tacada provou-se antieconômica”, considera o dirigente. “Foi constatado ser melhor continuar a comprar o insumo de terceiros, pois a atividade lucrativa no reduto de plastificantes era a produção dos componentes anidrido ftálico e oxoálcool”. Aconteceu, então, uma convergência explicável apenas pela astrologia. Administrador de empresas, Marcelo fez da NPC o case de um trabalho de sua pós-graduação em marketing e, no embalo, o apresentou aos acionistas da Cipatex. “Eles endossaram meu diagnóstico da inviabilidade da operação”, diz. Pois calhou de, à mesma época, uma fornecedora da empresa, a Carbocloro Oxipar, desativar sua unidade de plastificantes e anidrido ftálico no município paulista de Mogi das Cruzes, “efeito de decisão societária”, atribui Marcelo. Nesse ínterim, a NPC tocava a vida formulando plastificantes menos convencionais, em pequenos lotes. Junto com três sócios mantidos até hoje, a Cipatex fechou ao final de 1998 a compra da fábrica da Carbocloro Oxipar, rebatizou-a  como Petrom (Petroquímica Mogi das Cruzes), agregou-lhe as linhas da NPC e centralizou ali seu braço em plastificantes e anidrido ftálico, complementa Marcelo.
O final da década de 90 marcou no grupo pela sua descentralização geográfica. A mistura fina de incentivos fiscais e filiais de calçadistas do Sul enfiou o Nordeste no mapa da Cipatex. Ergueu na paraibana Bayeux sua primeira fábrica de tecidos impregnados com poliuretano (PU) coagulado. “Trata-se de laminado mais caro que o vinílico, mas de maior semelhança com couro natural e de intenso emprego em calçados, em particular femininos”, esclarece Marcelo. No Rio Grande do Sul, por sua vez, após apalpar o núcleo calçadista do Vale dos Sinos com escritório comercial e estocagem, o grupo partiu em 1998 uma produção piloto de laminados de PU e de PVC por espalmagem em Nova Hartz. “A região era exportadora de calçados, remessas que dependiam da aprovação das amostras submetidas aos clientes internacionais”, descreve Marcelo. A Cipatex entrou em cena provendo laminados em quantidades menores, explica, para uso em itens como cabedais desses pares embarcados para o veredicto no exterior.

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Laminados: importações pisam no calo.

As importações concorrentes tiram do prumo a indústria brasileira de laminados sintéticos, deixa claro Marcelo Nicolau, presidente do Grupo Cipatex, escorado em varreduras de duas entidades nas quais atua: a Associação Brasileira de Componentes para Couro, Calçados e Artefatos (Assintecal) e a Associação Brasileira da Indústria de Laminados Plásticos e Espumas (Abrapla).
Pela varredura das duas associações, ele solta, as importações de laminados de PVC surfam em curva ascendente desde 2006 e atingiram picos em 2012, com 78.950 toneladas, e 2013, com 73.255 toneladas. Quanto a laminados de poliuretano (PU), ele distingue, os desembarques no semestre passado emplacaram 14.671 toneladas contra 13.935 na metade inicial de 2013, ele cita. O clima preteja diante das importações indiretas de laminados, pois eles também integram produtos acabados e componentes aqui desembarcados. Em 2013, repassa Nicolau, foram importadas 13.729 toneladas de vestuário e acessórios de PVC e PU;  68.864 toneladas de malas, maletas, pastas, bolsas e itens como carteiras; 2.814 toneladas de cabedais costurados à base de PVC por emulsão (PVC-e), PU ou tecidos; 5.214 toneladas de calçados de PVC-e e PU e 10.997 tonerladas de calçados de tecidos.
Nicolau credita o estrago ao vácuo do governo na concepção de uma política industrial digna do nome, lacuna cuja conseqüência é o agravamento da taquicardia no setor de manufatura. Conforme estudo da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) lastreado em indicadores de 2013 e endossado pelo presidente do Grupo Cipatex, o Custo Brasil (tributação, crédito caro, energia e matérias-primas, serviços non tradebles, infraestrutura logística e custo extra de serviços e funcionários) hoje incide em 23,40% na diferença do preço brasileiro em relação ao praticado por nossos principais parceiros comerciais. Se incluídos no cômputo a variação cambial, burocracia e demais fatores de menor monta, o desnível sobe a 33,70%.

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O mundo gira, os chineses engrenam e as exportações brasileiras de calçados esfarelaram. Para contrabalançar a perda e manter suas capacidades ocupadas a contento, segue Marcelo, as grifes nacionais de calçados femininos passaram a priorizar cada vez mais a compradora daqui. A concorrência em frenesi e a moda globalizada alucinaram a velocidade dos lançamentos, ele afirma, a ponto de ter virado praxe a introdução de seis a oito coleções de modelos femininos por ano. “Com essa dinâmica do mercado, ficamos em desvantagem no atendimento a calçadistas do Sul/Sudeste”, assinala Marcelo. “O frete dos laminados remetidos para eles da Paraíba consumia cerca de sete dias”. Resultou que, em 2013, mediante aporte da ordem de R$ 10 milhões, foi implantada em Nova Hartz uma estrutura para produção em escala comercial de laminados à base de PU coagulado e PVC, a tiracolo de maquinário zero bala e algumas linhas transferidas de Bayeux.
Nos estertores do século passado, o empresariado brasileiro punha a verticalização na crista da onda das receitas de sucesso. Marcelo admite que a febre contagiou o Grupo Cipatex a ponto de, por determinado período, ele desfilar até com transportadora própria. “Era uma reação às dificuldades de suprimento e problemas de custos, mas logo vimos não ter cabimento verticalizações desse tipo”.
Uma verticalização certeira vingou em 2001 pelo flanco dos componentes, deixa claro o porta-voz do grupo. Nos idos de 1989, debutou em Cerquilho um equipamento para agulhagem (processo needle punch) de nãotecido de polipropileno (PP). “Convinha para acentuar a competividade de nossos laminados vinílicos para setores como o moveleiro”, interpreta Marcelo. Nesse meio tempo, a Cipatex comprava cada vez mais nãotecido  de poliéster  produzido por entrelaçamento com uso de água sob alta pressão (tecnologia spun laced), material trazido dos EUA por sua fabricante DuPont e componente chave de laminados destinados à confecção de panos de limpeza e elementos de estojos de cosméticos, entre uma miríade de aplicações . “Por volta de 2000, por sermos o maior cliente desses nãotecidos importados, a DuPont nos propôs a joint venture numa fábrica desse material no Brasil”. O convite fluiu para a constituição, em 2001, de uma sociedade em partes iguais em torno da unidade que aloja a produção spun laced e needle punch de nãotecidos em Cerquilho. Na calculadora de Marcelo, a soma do faturamento dessa coligada e da Petrom ronda hoje R$800 milhões.
O biotipo sarado pelo poderio da empresa, ilustrado por Marcelo com a hegemonia em laminados para calçados, estofados,  geomembranas e piscinas de vinil, conduziu de forma natural o Grupo Cipatex ao comércio exterior. No final dos anos 90, ele iniciou as exportações de laminados para a Argentina e, à certa altura, acabou por assumir o pleno controle de uma distribuidora ao qual se associara. “Em dificuldade de pagamento, o sócio nos repassou sua parte na empresa”. Hoje em dia, sob a denominação Dinaplast, a distribuidora atende com laminados indústrias como as de toalhas de mesa, distingue Marcelo. “Com a economia argentina ladeira abaixo e rumo ao colapso, a Dinaplast hoje responde por apenas 2% do faturamento do grupo”, ele dimensiona. Em contrapartida, as intenções de internacionalizar o negócio ganharam seriedade a partir de 2012. Apoiada na estrutura de serviços e estocagem compartilhados, implantada em Miami pela Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex), a Cipatex há dois anos amarra vendas a indústrias norte-americanas como a moveleira. “São negócios de porte significativo e, como os EUA caminham para ter resinas e plastificantes mais acessíveis, em razão dos custos de energia e gás natural, por que não cogitar a produção de laminados Cipatex no país?”
Isso não embute a menor intenção de afrouxar a marcação da demanda brasileira, embora Marcelo não trabalhe por ora com a hipótese de ampliar a capacidade do grupo. “Temos operado com ociosidade de 30-40%, deixando claras as condições de acompanharmos o mercado com a estrutura atual pelos próximos cinco anos”. Esse potencial de sobra tem permitido ao grupo ingressar em frentes de laminados até então fora de seu raio de ação. “Por exemplo, entramos este ano no segmento de lonas de caminhão, um nicho tornado sedutor pela disponibilidade do modal rodoviário e a necessidade de desova das cargas agrícolas”, ilustra o presidente. “Nesse caso, entregamos o laminado da lona já cortado e costurado, um acabamento até então fora do nosso escopo”. •

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