Reviravoltas derrapantes na pista dos carros elétricos

Fim do motor a combustão encurrala plásticos de engenharia
BYD: nº1 mundial em carros elétricos, montadora chinesa vai partir planta na Bahia.
BYD: nº1 mundial em carros elétricos, montadora chinesa vai partir planta na Bahia.

Em 2019, veículos movidos a gasolina/diesel compunham 89% das vendas de autos na Europa, posição reduzida a 49% no ano passado. Na mão oposta, as vendas de modelos elétricos/híbridos, situadas em 5% do comércio automotivo no continente cinco anos atrás, pularam para 25% em 2023, confronta rastreamento da  New Normal Consulting postado no site da consultoria Icis. O pique da escalada da eletrificação deve engrossar pois, apesar da economia europeia em calmaria, vários de seus países já estabeleceram o fim das vendas de autos movidos a gasolina no período 2030/2035. “Manda a lógica que os compradores não botarão dinheiro num carro fadado ao desaparecimento do mercado à medida que a data limite para seu comércio se aproxime”, deduz Paul Hodges, CEO da New Normal e blogueiro do portal da Icis.

A tendência é irreversível e mundial, julga Hodges. Ele mantém sua visão mesmo diante de inquietações hoje ventiladas, como a  carência de minerais estratégicos e elementos de terras-raras para fabricação de baterias íon-lítio (materiais cujas maiores reservas estão na China) em quantidades em linha com a demanda. Alheia também a esses contrapontos, a consultoria Bloomberg confia em expansão de 21% nas vendas de carros elétricos e híbridos este ano, equivalentes a 16.7 milhões de unidades. A demanda hoje em anemia na União Europeia deve esquentar em 2025, embalado pela disseminada obsessão pela redução das pegadas de carbono, segundo avaliação da Bloomberg, assim como as vendas de carros elétricos caminham para elevar a intensidade a reboque dos maciços investimentos e barreiras protecionistas para indústrias norte-americanas incrementados pelo governo Biden ao decretar o  Inflation Reduction Act, pois entre as premissas dessa lei cintila o apoio à transição para a energia renovável.

Mando de campo chinês
Dos 16.7 milhões de carros elétricos/híbridos previstos pela Bloomberg a caminho de vendas no planeta este ano, 10 milhões serão entregues na China. O mercado automobilístico chinês é o maior do mundo, atesta reportagem do New York Times. Apesar do enfraquecimento da economia do país, hoje aturdida com colapso imobiliário e do mercado de capitais e crises na saúde pública, previdência social e nível de emprego entre jovens, o jornal coloca que o aumento da eletrificação do transporte local é ponto pacífico, dado que a capacidade hoje instalada para esses autos equivale ao dobro do que o mercado interno consome, cenário que converge para a queda de preços. Carros elétricos e híbridos configuram 40% das vendas atuais de veículos na China.

Maior montadora mundial de carros elétricos, a chinesa BYD informa que suas vendas nos dois últimos anos cresceram um milhão de unidades (80% na China), relata o New York Times. Para ampliar seu poderio, a empresa ergue plantas filiais no Brasil (na Bahia, partida prevista entre fim de 2024 e início de 2025), Tailândia, Hungria e Uzbequistão e projeta o mesmo para  México e Indonésia.

Fechamento de refinarias
Maior indústria manufatureira mundial, o setor automobilístico responde por 5-10% dos empregos em países como Alemanha e Hungria, calcula o banco de dados da Bloomberg. Boa parte desses postos de trabalho deve desaparecer, varrida de cena pela montagem simplificada dos carros elétricos/híbridos, aliás um pesadelo à luz do dia para a cadeia dos plásticos de engenharia, que tem nos autos a combustão de seu principal (e insubstituível) mercado, em especial no compartimento do motor. Além disso, as previstas reações colaterais do alastramento do carro elétrico estendem-se pelas reduções dos mercados de peças de reposição e carros de segunda mão e na remodelação de serviços financeiros correlatos, como seguros e empréstimos, comenta Paul Hodges no portal da Icis.

A eletrificação abre contagem regressiva para a demanda de petróleo. Hodges nota que alguns analistas defendem que vendas adicionais de químicos/petroquímicos (plásticos inclusos) poderiam  ajudar a compensar o declínio do combustível de fonte fóssil. “Mas trata-se de um mercado muito inferior ao automotivo e, desse  modo, refinarias caminham para serem fechadas”, percebe o blogueiro no portal da Icis endossando o consenso internacional entre experts. Não é o que acha o governo brasileiro. No palanque em Pernambuco, Lula alardeou em janeiro investimentos bilionários da Petrobras na retomada das obras da refinaria Abreu e Lima, de construção interrompida por propinodutos flagrados na Lava Jato.

Compartilhe esta notícia:

Deixe um comentário