Reviravolta no filme

A impensável saída das máquinas nacionais do fundo do poço
Mainard: vendas do setor devem saltar 10% em meio à crise econômica e sanitária.

Por ironia do destino, o corona acabou com a pasmaceira de anos a fio nas vendas de máquinas para transformação de plástico. Esbraseada pelo distanciamento social, a corrida às compras de produtos essenciais e bens duráveis de uso doméstico, como eletroportáteis e materiais de construção, vem tendo o efeito dominó de inchar a capacidade da transformação dedicada a esses segmentos a ponto de requerer a incorporação de mais equipamentos, haja o câmbio que houver. Na entrevista a seguir, essa estripulia da sorte é desvendada por Amilton Mainard, presidente da Câmara de Máquinas e Acessórios para a Indústria de Plástico (CSMAIP), vinculada à Associação Brasileira das Indústrias de Máquinas e Equipamentos (Abimaq).

1 No primeiro bimestre, antes da pandemia, qual era a expectativa da CSMAIP quanto às vendas de máquinas nacionais para plástico este ano?
Começamos 2020 certos de que teríamos, enfim, um crescimento sustentável, pois 2019 foi o primeiro exercício positivo após anos seguidos de baixo desempenho. Havia então uma expectativa de crescimento da ordem de 10% para 2020. Até metade de março, os números eram animadores. Com a decretação da pandemia, o quadro mudou e entramos naquele pânico inicial sob o qual ninguém sabia o que fazer nem como agir. No mês de abril chegamos ao fundo do poço. Num primeiro momento, chegamos a pensar em decréscimo, mas a reação do mercado foi rápida nos meses seguintes e em setembro voltamos a falar não só em chegar mas quem sabe passar daqueles 10% de crescimento inicialmente previstos.

2 A pandemia e o distanciamento social têm bafejado o consumo de plástico em produtos essenciais, no agronegócio e em bens duráveis de uso doméstico. O aquecimento desses setores tem conseguido ativar as vendas de máquinas para plástico?
A pandemia mudou, de fato, o perfil da demanda por produtos plásticos acabados. Mercados  consistentes como agronegócio e a construção civil deram um salto, mas a grande virada veio com os filmes, chapas e descartáveis. Passamos de vilão a herói, pois os protocolos de higiene colocaram o plástico em um lugar de onde nunca deveria ter saído. A ociosidade dos transformadores foi logo preenchida e, logo a seguir, veio a corrida para aumentar o parque fabril. A carteira de pedidos do nosso setor hoje está como em seus melhores dias antes das crises.

3 Como avalia o efeito do dólar caro e instável este ano sobre os custos das máquinas nacionais para plástico ?
O valor do dólar não é empecilho. O problema é a sua volatilidade, as incertezas; isso sem falar no Custo Brasil. Nosso setor é muito dependente da importação de matérias-primas, insumos e componentes para a fabricação de máquinas e isso afeta diretamente os custos de produção, elevando o preço do produto final. Como também houve um aumento global da demanda por esses mesmos produtos, a saída é procurar alternativas domésticas – o que não é fácil em pouco espaço de tempo. Esse aumento acaba repassado para os transformadores e, por extensão, ao produto final. É a lei da oferta e da procura.
De volta ao câmbio, essa volatilidade atrapalha tanto as importações quanto as exportações. Mas, de qualquer forma, não deverá modificar nossa matriz operacional. Continuaremos a comprar e vender como sempre, tão logo a situação se estabilize e ocorra a retomada da economia mundial. Por sinal, nossa disputa com maquinário de fora faz parte do cotidiano. O mercado brasileiro é grande e as máquinas e equipamentos importados sempre foram e serão necessários, assim como a colocação das nossas lá fora. Câmbio à parte, reitero que nosso grande adversário é o Custo Brasil. Somos o único país do mundo que exporta impostos. Não queremos benefícios, mas isonomia, igualdade de condições para competir no mercado globalizado. •

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