Reciclagem mundial: otimismo moderado para 2024, considera analista da Icis

Sem mudanças relevantes, setor seguirá evoluindo com timidez
Reciclagem mundial: otimismo moderado para 2024, considera analista da Icis

A piora do excedente global das principais resinas commodities e insatisfatórias taxas de penetração de seus grades reciclados ditaram o andar da economia circular em 2023. Comportamento natural de qualquer mercado ao início de um novo exercício, a torcida  por alguma mudança no palco salpica de cauteloso otimismo o panorama para a reciclagem mundial em 2024, pondera Egor Demertev, analista sênior para reciclagem de plásticos da consultoria Icis em pensata reproduzida na mídia internacional.

Sob pífia tração da economia mundial, a baixa demanda baixou em 2023 os preços das superofertadas resinas virgens, rememora Demertev. Isso fez com que algumas companhias (em especial as menos expostas a pressões sustentáveis do consumidor ou de regulamentações) mudassem suas políticas de suprimentos para a opção da resina nova em folha, mais barata até que a similar reciclada em certos momentos da primeira metade do ano passado. Por tabela, segue o analista da Icis, os preços dos reciclados caíram e, se por um lado, isso atraiu mais brand owners para eles, do outro disseminou uma propensão a desinvestimentos nas capacidades de separação e reciclagem de resíduos plásticos, por esqualidez de margens de lucro.

Os bancos de dados da Icis situam as atuais taxas de penetração mundial da reciclagem mecânica (produção de reciclado dividida pelo consumo total do polímero em foco) entre 5% e 15% para PP, PE e PET, as maiores resinas commodities. Mesmo com as sequelas do cenário conturbado e deprimido de 2023, Demertev opina em seu artigo que a produção mundial da reciclagem mecânica tende a se fortalecer em 2024, movida pela pressão ambientalista dos consumidores, novas legislações e comprometimentos voluntários de empresas e representações com o combate às mudanças climáticas.

Se a demanda e as tendências atuais de mercado não mudarem, a Icis projeta que as taxas de penetração mundial da reciclagem mecânica não evoluirão além de 20% até 2050. Entra as razões, Demertev cita a continuidade do aumento do consumo de polímeros em geral e o peso de determinadas aplicações fora do alcance da reciclagem mecânica, como plásticos flexíveis e têxteis. O expert da Icis encaixa também como freio à expansão a difusão internacional de normas cada vez mais rigorosas sobre o uso de reciclados em aplicações ditas sensíveis, caso daquelas em contato direto com alimentos. Tais lacunas podem ser preenchidas pela reciclagem química, assinala Demertev, definindo-a como complemento da reciclagem mecânica. Mas ela tem paradas duras pela frente. O analista exemplifica com a incerteza em torno da regulamentação dessa tecnologia mundo afora; a necessidade de se adotar oficialmente o balanço de massa para se calcular o conteúdo reciclado; a dependência de capital intensivo para a operação industrial da reciclagem avançada e o baixo conhecimento do grande público sobre esta rota de recuperação de sucata plástica.

A Icis arredonda em 1.5 milhão de t/a a capacidade instalada mundial para reciclagem química dimensionada em novembro de 2023. Demertev argumenta que o rol de projetos referentes a essa tecnologia e em fase final de decisão viabilizam projeção de aumento da ordem de 4 milhões de t/a na capacidade de reciclagem química, volume que pode subir para 6 milhões de t/a se computados os projetos que ainda não chegaram ao estágio da  definitiva batida do martelo. Para eles se transfigurarem em investimentos concretos, Egor Dermetev defende as seguintes medidas pela cadeia plástica global:

* Criação de incentivos em prol da demanda a longo prazo de reciclados, caso de leis determinando o uso de teores do material em produtos transformados.

* Apoio ao desenvolvimento de soluções de infraestrutura, como esquemas de responsabilidade estendida dos produtores envolvidos.

* Apoio às melhorias e inovações (inteligência artificial, por exemplo) na coleta e separação de refugo e à montagem de centros integrados de reciclagem.

* Reconhecimento jurídico da reciclagem química e do modelo de balanço de massa.

* Difusão de conhecimentos ao grande público sobre os benefícios proporcionados por todos os tipos de reciclagem de plástico.

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