Pesquisa de Opinião – Masterbatches

O Brasil importa 2/3 do dióxido de titânio que consome. A partir de 2023, Titânio América e a Largo Resources prometem rodar na Bahia suas plantas do pigmento branco, material hoje produzido no país apenas pela Tronox. Quais mudanças estes investimentos podem trazer ao mercado de masters?

Roberto Clauss
CEO da Procolor

A possibilidade de ter mais fabricantes de dióxido de titânio no país prenuncia impactos positivos aos componedores locais de masters, trazendo-lhes maior competitividade frente aos produtos importados e viabilizando redução de custo e mais rapidez nas entregas de soluções de cores contendo esse pigmento.


 

Tedy João Pacifico
CEO da Azzu Masterbatch

O aumento da produção local deve trazer um maior equilíbrio entre oferta e demanda de dióxido de titânio no mercado brasileiro. A possibiidade de isso gerar uma redução nos preços vai depender de como estará a oferta mundial do pigmento. Porém, um incremento na produção interna decerto traz segurança em relação ao abastecimento e, desse modo, poderá viabilizar o desenvolvimento, por parte dos componedores de master brancos, de produtos para atender o mercado externo.


 

José Basílio Fernandes
Sócio executivo da Cromaster

A notícia de investimentos na produção de dióxido de titânio enche o mercado de expectativas positivas sob a possibilidade de o Brasil diminuir muito sua dependência das importações desse pigmento usado à larga em diversos materiais, plásticos inclusos, necessitados da coloração branca. No caso especifico da indústria de masterbatch, a dependência doméstica é enorme, pois, além da produção dos concentrados brancos, eu diria que 90% dos materiais coloridos aqui ofertados também levam essa matéria-prima na composição. Portanto, pressentimos com grande alivio e esperança renovada que, com esse sinalizado aumento da oferta interna de dióxido de titânio, talvez não passemos mais por graves crises no suprimento desse colorante.
No entanto, cabe considerar que, mesmo com produção nacional expandida, dióxido de titânio é uma commodity mundialmente importante. Desse modo, não há garantia de que, mesmo com mais plantas locais, este material fique em sua maior parte no Brasil, ainda mais tratando-se de investimentos a cargo de múltis de mineração cuja matriz maior de negócios são commodities in natura.
No momento, a expectativa é de alta considerável nos preços do dióxido de titânio no primeiro semestre de 2022, devido ao desencaixe entre oferta e demanda causado pela pandemia. Como componedor, vivencio esse mercado há cerca de 40 anos e o setor de masters já passou por transtornos imensos por falta desse pigmento.  Aliás, essas crises no abastecimento tem uma frequência singular, pois a demanda cresce muito mais rápido que a oferta mundial do produto. Com base na conjuntura atual, aliás, eu suponho que, se o mercado internacional do dióxido aumentasse à média anual de 5%, bem provável que as sobras na oferta zerariam em três anos, inflando os preços a reboque das lacunas na oferta do material. A título de referência, lembro o ocorrido em 1986, durante o Plano Cruzado no governo Sarney. Com a estabilização da inflação e ajustes no poder aquisitivo, houve uma explosão no consumo de materiais e adivinhem qual foi um dos primeiros a faltar? Com o acréscimo de consumo do dióxido de titânio gerado pelo aquecimento da demanda, não conseguimos aumento de cotas suficientes do pigmento importado na proporção da necessidade gerada. Isso acarretou uma falta generalizada do produto e o surgimento de um mercado paralelo inflacionado, já que oficialmente, os preços estavam congelados pelo plano econômico. Essa lembrança também demonstra que, mais de 30 anos depois, continuamos à mercê das faltas constantes de dióxido de titânio no mercado mundial.


 

Wagner Catrasta
Diretor comercial da Termocolor

É muito animadora a notícia da construção de duas fábricas de dióxido de titânio na Bahia. Afinal, como é notório, os componedores brasileiros de masters são muito dependentes do suprimento internacional desse pigmento. Calcula-se, aliás, que 2/3 do consumo doméstico geral do dióxido sejam providos pela China e EUA. Por sinal, o histórico comprova que o material chinês sempre foi muito mais barato que o nacional. Mas hoje em dia, em decorrência da pandemia, gargalo global de frete marítimo e o abre e fecha de indústrias e portos na China, o dióxido brasileiro anda mais em conta que o importado. Aqui na Termocolor, as importações respondem em regra por 60% do nosso abastecimento desse colorante, pois a oferta do contratipo doméstico perde para a demanda. Retomando o fio, a esperada entrada em cena de mais dois fornecedores de dióxido de titânio vai instaurar a concorrência doméstica, beneficiando por tabela a disponibilidade e preços do material. Nos últimos anos, aliás, perdemos muito mercado doméstico para artefatos plásticos brancos vindos da Ásia a preços imbatíveis, mérito de fatores como benefícios fiscais, baixo custo de mão de obra e tonalização da resina feita direto no reator de petroquímicas, caso de copolímero de acrilonitrila butadieno estireno (ABS), abolindo a etapa posterior de pigmentação pelo componedor.
Outro efeito da aguardada implantação das novas fábricas de dióxido de titânio será a equalização da competitividade entre os produtores de masterbatches no Brasil. Hoje em dia, aqueles que estão fora do polo industrial da Bahia e não utilizam os benefícios fiscais do programa Bahiaplast já largam em desvantagem, pois a produção do dióxido de titânio ali produzido por um único fornecedor é insuficiente para atender a demanda nacional. Ou seja, estas duas novas plantas anunciadas aumentarão a oferta do pigmento, reduzindo por extensão os preços em razão da concorrência interna acirrada. Se isso ocorrer, a questão da atual desigualdade tributária em torno do acesso ao dióxido de titânio nacional por componedores sem os subsídios do governo da Bahia teria como ser eliminada.


 

Alexandre Pastro Alves
Gerente de vendas e desenvolvimento de produtos e mercados da Actplus

Seja qual for o tipo da matéria-prima, quando aumentamos a oferta com a produção nacional, além das facilidades da compra local, ganhamos muito em agilidade de atendimento e, principalmente, nas melhorias significativas na disponibilidade do produto. Com a Titânio América e a Largo Resources prometendo rodar na Bahia suas plantas de dióxido de titânio, teremos um incremento substancial na disponibilidade do pigmento, o que decerto fortalecerá os desenvolvimentos de concentrados brancos, de oferta hoje bastante influenciada com os altos e baixos do abastecimento desse pigmento via importação. No quesito do custo final de aquisição da matéria-prima, levando em consideração o imposto de importação atual de 12% para o dióxido, decerto há espaço para reduzir a tarifa. Por sinal, vale lembrar que, nos últimos anos, ocorreram alguns movimentos de diminuição da alíquota com reflexos nos preços finais do pigmento e influindo diretamente no preço praticado localmente.
Transpondo esse novo cenário ao mundo dos componedores, constatamos uma grande oportunidade para o setor na notícia dos investimentos em novas plantas de dióxido de titânio, em especial devido ao consequente aumento da oferta e concorrência doméstica no fornecimento do insumo. Portanto, essa mudança para melhor vai impulsionar nossa indústria de masters a desbravar mais nichos, hoje pouco explorados ora por falta de dióxido de titânio ora por seus preços fora da realidade nacional.

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