“Perdemos muito a referência dos preços”

Inundação de PE e PP importados a preços voláteis e em baixa desnorteia distribuidores das resinas nacionais, constata um dos maiores deles - Laercio Gonçalves, da activas
Inundação de PE e PP importados a preços voláteis e em baixa desnorteia distribuidores das resinas nacionais, constata um dos maiores deles - Laercio Gonçalves, da activas

A combinação da sobra barateadora de PE e PP na praça mundial com a migração contínua de capitalizados transformadores para produzir flexíveis na Zona Franca, deliciados com os incentivos fiscais e as resinas internadas pelo porto livre de Manaus, assusta os distribuidores de poliolefinas nacionais. Trata-se do maior negócio desses varejistas e hoje ele os encurrala, principalmente por dois flancos. De um lado, transformadores de filmes básicos fora de Manaus, muitos deles clientes da distribuição, hoje perdem mercado para películas licitamente remetidas da Zona Franca e ofertadas a preços invencíveis, por causa da desoneração tributária. Do outro lado, os distribuidores se ressentem da revenda de PP e PE importados virgens e ilicitamente enviados da Zona Franca a todo o país a valores que aliam os mimos dos incentivos com a baixa nos preços instaurada pela rija abundância global. Essas flechadas pontiagudas hoje dilaceram os balanços da distribuição, mas existem perspectivas de dias melhores a curto prazo para o varejo, contrapõe confiante nesta entrevista Laercio Gonçalves, CEO da distribuidora activas e presidente da Associação Brasileira dos Distribuidores de Resinas Plásticas e Afins (Adirplast).

A distribuição brasileira de resinas plásticas está ultra calejada por crises. Mas porque a deste ano, em especial de PP e PE, é atípica para o setor?

A distribuição brasileira continua impactada pelas importações, pois os preços internacionais despencaram sob pressão da superoferta das poliolefinas e essa sobra das resinas mais consumidas também e promoveu a entrada de mais traders no mercado, agravando a concorrência não só entre eles, mas com os distribuidores das poliolefinas nacionais. Também é preciso considerar o peso no cenário de algumas empresas que operam com os benefícios tributários da Zona Franca, em especial as que o fazem de forma irregular, caso da prática da remessa ilegal para o restante do país de resina importada virgem, não beneficiada, a preços apoiados nos incentivos de Manaus e inatingíveis pelo distribuidor da resina nacional. Isso é sabido e tem distorcido os números relacionados também aos resultados registrados na distribuição de PP e PE.
O mercado global também pende para retomar, de forma gradativa, o consumo aferido antes da covid 19, um quadro dificultado ainda pela partida de mais plantas acentuando o excedente internacional de PP e PE. Ou seja, a diferença entre capacidade instalada e demanda. A vazão do que vinha sendo represado lá fora, durante a vigência da pandemia, também contribuiu bastante para o preocupante cenário brasileiro de hoje em dia. O mercado petroquímico é movido por ciclos e estamos passando por um dos períodos mais difíceis das últimas décadas. No entanto, acredito que a distribuição de PP e PE nacionais logo reverterá este quadro. Afinal, seu negócio bateu no fundo do poço, mas tende a pegar a rampa de subida porque a distribuição mantém seu espaço no varejo e porque a expectativas é de que se possa visualizar melhor o rumo dos preços neste último semestre.

Quais as principais ações práticas a que a activas, como distribuidor de PP e PE nacionais, tem recorrido para atravessar a retração persistente do mercado e a supeorferta de resinas importadas este ano?

Estamos tentando reduzir os custos operacionais para reverter os resultados do primeiro trimestre, os quais refletem as dificuldades enfrentadas pelo setor em geral. No entanto, observamos sinais de estabilização e recuperação gradual para o segundo semestre. Estamos otimistas. As últimas notícias do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) e uma possível queda na Selic em breve, nos dá um suspiro de esperança.
Com relação à superoferta de resinas importadas, temos lutado contra as já mencionadas operações de envio ilegal da Zona Franca de resina importada virgem, não industrializada, para comércio no resto do Brasil a preços de atrativo assegurado pelos incentivos fiscais. Daí porque Manaus, hoje com alto número de transformadores de flexíveis em seu polo industrial, aumentou bastante nos últimos tempos seu peso entre os portos para desembarque no país de PE importado, em particular. Some-se a isso o fato que tivemos um recorde de material importado no ano passado. Isso deve ser contido a partir do semestre atual, por motivos como a multidão de novos entrantes superlotando o compartimento dos revendedores autônomos de resinas importadas, engrossando assim a disputa entre eles.

O setor plástico mundial nunca conviveu com um excedente de PP e PE tão gigantesco como o atual. Quais as principais ações tomadas pela activas não perder clientes para as resinas importadas com preços em queda?

Em nossas negociações com a Braskem, ela tem se mostrado uma parceira do seu distribuidor sensível às distorções causadas no mercado pela queda da demanda interna e por práticas ilegais, caso do que acontece com a revenda nacional de resina virgem vinda da Zona Franca. A propósito, apenas de janeiro a junho deste ano registramos a entrada da ordem de 307.000 toneladas de resinas em geral apenas por Manaus e o mercado interno sente até hoje os reflexos da entrada em campo dessas internações. Este movimento pela lógica, enfraquece o mercado dos principais distribuidores das poliolefinas nacionais, inclusive pela via da já explicada revenda ilegal no país de resina virgem despachada da Zona Franca. Essa prática respinga em outra questão problemática: a revenda autônoma, em boa parte informal, hoje responde por 60-65% do varejo dos termoplásticos.

O excedente mundial de PP e PE tem permitido a fornecedores da resina importada praticar no Brasil preços em linha ou mesmo abaixo dos preços da resina nacional oferecidos pela sua distribuição?

Estamos acompanhando as loucuras do mercado atual e posso afirmar que perdemos muito a referência de preços. Hoje, vemos preços transitando entre extremos, muitas vezes até mais baixos do que o preço de custo lá fora. Realmente, estamos num momento bastante complexo no que se refere aos preços praticados pelo mercado.

O excedente global de PP e PE continua crescendo e não deve ceder lugar a uma posição mais equilibrada entre oferta e demanda nos próximos anos. Como avalia no Brasil, o risco de encolhimento do mercado e do número de clientes da distribuição de PP e PE nacionais diante da disputa com resinas importadas de preços em baixa devido ao mega excedente global?

PP e PE configuram um mercado que cresce em todo o mundo. Acredito que a balança entre oferta e demanda demore um pouco mais para atingir um ponto de equilíbrio aceitável. No plano atual, a situação complicou devido ao excedente já abusivo das duas resinas vir continuando a aumentar, efeito de mais capacidades que começaram a operar desde o ano passado, principalmente na Ásia, caso da China, Índia e Oriente Médio. Mas continuo acreditando que o mercado brasileiro deve recuperar o crescimento, o que se estende à distribuição de PP e PE nacionais.

O crescente excedente global tornou plásticos virgens mais baratos que os reciclados. Nos últimos dois anos, a activas entrou de cabeça na revenda de materiais sustentáveis como reciclados. Diante do barateamento da resina virgem, como incrementar a venda no varejo da alternativa do reciclado, mais cara e menos disponível na praça?

Na activas, investimos bastante em linhas sustentáveis e em incentivos à logística reversa. Acredito que estamos no caminho certo, ampliando o portfólio de reciclados que, por sinal, têm sido cada vez mais demandados por vários segmentos da indústria. Este mercado é promissor e complementará a demanda por PP e PE virgens. É questão de tempo para essa balança ficar mais equilibrada.

Como a activas encara a comprovada insuficiência na oferta de determinados grades de PE e PP nacionais, casos já crônicos de PEBD e PEBDL metaloceno?

A consequência, como vimos algumas vezes, é uma entrada maior de material importado, para que haja um balanço entre a demanda no momento e a oferta disponível.

Com base no observado no primeiro semestre, qual a sua expectativa em relação a 2023 x 2022 para a distribuição de PP PE pela activas?

2023 começou bem, com um primeiro trimestre muito bem posicionado para a distribuição, até realizando uma margem que suportou os primeiros meses do ano. A partir de abril, no entanto, os preços começaram a despencar, caindo cerca de 20%, o que atrapalha muito o que foi planejado, como a gestão de estoque, que é crítica nesses momentos. Estou otimista para o segundo semestre e acredito que vamos recuperar os resultados e fechar bem o ano.

No ano passado, plásticos de engenharia responderam por 4,9% do volume de vendas da activas e reciclados e biomateriais por apenas 0,5%. Quais as medidas tomadas para tirar esses materiais de participações tão irrisórias daqui por diante?

Em plásticos de engenharia, pretendemos dobrar o volume de 2022, com a entrada de mais players e produtos no portfólio, sempre tendo em vista a captura de eventuais aplicações e segmentos inéditos para a empresa. Com relação à linha BIOPCR, constituída por produtos sustentáveis, estamos passando por momento bastante difícil em razão dos preços dos materiais prime, os polímeros virgens e isso acabou afetando diretamente os PCRs. Mas reforçamos a aposta na sustentabilidade com a introdução neste semestre de uma família de reciclados provenientes do esquema de logística reversa implantado junto com clientes. Ações nesta linha decerto contribuirão para a empresa desfrutar crescimento este ano, atingindo os números previstos no planejamento estratégico. •

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