Pegando tração

Queda pontual em 2023 não ofusca o pique do avanço da produção de PCR, escorada na base forte do salto de 46% em 5 anos
Queda pontual em 2023 não ofusca o pique do avanço da produção de PCR, escorada na base forte do salto de 46% em 5 anos

A combinação da super oferta de resinas virgens a preços baixos com a demanda interna vacilante sob inflação e juros no topo, carestia e consumo final retraído devem interromper este ano a sequência de aumentos da produção brasileira de plásticos reciclados pós-consumo (PCR), pondera Solange Stumpf, sócia executiva da consultoria. Mas essa queda pinta como circunstancial, pois não há como menosprezar o poder de tração embutido no salto de 46% entre 2028 e 2022 na produção de PCR, chegando à base sólida de 1.106 milhões de toneladas. Na entrevista a seguir, Solange comenta a conjuntura do período atual, sugere ações para a cadeia plástica reduzir perdas de resíduos na reciclagem mecânica e sublinha a vocação da reciclagem química, ainda inexistente no Brasil, para garantir a sustentabilidade de flexíveis multimaterial.

Solange Stumpf: metas de conteúdo de PCR nas embalagens são cada vez mais desafiadoras.
Solange Stumpf: metas de conteúdo de PCR nas embalagens são cada vez mais desafiadoras.

Mais de 200.000 toneladas de plásticos pós-consumo coletados não seguiram para a reciclagem em 2022. O que sugere para a indústria plástica brasileira fazer para ajudar a diminuir esta lacuna expressiva?
As perdas de plásticos no processo de reciclagem mecânica são historicamente altas, em especial quando se recupera resíduo pós-consumo. O principal motivo das perdas é a baixa qualidade do resíduo, como mistura com outros materiais de não interesse, com contaminação por sujeira orgânica, pó, lodo e conteúdo das próprias embalagens e adesivos. O que a indústria pode fazer para minimizar as perdas é um trabalho de capacitação dos fornecedores de resíduos para melhorar a triagem e o beneficiamento do material. O trabalho de educação ambiental, através de programas de incentivo à coleta em eventos específicos, também pode ter efeito, porém menor e de longo prazo. Outra alternativa para este tipo de resíduo, é a reciclagem química, que viabiliza processar materiais com alguma contaminação e plásticos mistos.

O que propõe para a indústria combater a contaminação com materiais indesejados que hoje inviabiliza parcela expressiva da reciclagem mecânica da sucata plástica no Brasil?
Algumas embalagens plásticas terão sempre um alto grau de contaminação, pelo seu conteúdo, como alimentos gordurosos, produtos viscosos de higiene pessoal, cosméticos e limpeza doméstica, entre tantos outros. Assim como no caso das perdas, são resíduos plásticos mais propícios à reciclagem química. No futuro, ela poderá ser uma alternativa complementar à reciclagem mecânica no país.

Quais cores consideradas impróprias para viabilizar a reciclagem mecânica de sucata plástica? E mais: você apoia a corrente que defende a supressão de cores de frascos e garrafas, pois embalagens transparentes são mais fáceis de reciclar?
No caso de garrafas PET, a cor é o principal critério de separação na triagem, o que demonstra a importância deste quesito para a reciclagem mecânica. A valorização do resíduo depende totalmente da cor, sendo que a garrafa mais valorizada é a cristal (transparente), seguida pelas cores claras/translúcidas, como verde claro. As mais difíceis de reciclar são as garrafas ditas coloridas, como azul, vermelho e âmbar. Acho que dentro do possível, a indústria deveria evitar estas cores, pois facilitaria muito a reciclagem mecânica dessas embalagens. O consumidor gosta, mas não entende o impacto ambiental. A indústria por sua vez, sabe muito bem dos problemas na cadeia de reciclagem, e deveria tentar priorizar a reciclagem em detrimento do design sem uma funcionalidade atrelada à cor.

Poderia dar exemplos das imperfeições mais corriqueiras no Brasil notadas no desenvolvimento/design de embalagens plásticas rígidas?
Alguns tipos de embalagens rígidas são mais difíceis de reciclar, apesar de não ser impossível. O que ocorre é que esta embalagens não são priorizadas pelos recicladores, por serem menos rentáveis (menor valor agregado), pela baixa disponibilidade ou dificuldade na triagem. Podemos citar as embalagens pequenas, as termoformadas, as coloridas (nota:opacas), bisnagas, embalagens complexas com múltiplos componentes, determinados tipos de rótulos e o uso de adesivos. Muito ainda pode ser feito para se adequar o design de embalagens rígidas em prol de sua circularidade. Sobrariam então poucos casos em que realmente a reciclagem mecânica não se viabiliza.

A reciclagem química seria, no Brasil, a melhor alternativa de destinação para flexíveis pós-consumo, dada a preferência dos catadores pela coleta de plásticos rígidos, sucata mais valorizada por eles e de reciclagem mecânica mais simples?
No Brasil, o volume de flexíveis pós-consumo reciclado mecanicamente não é baixo, principalmente de filmes monocamada e com menor grau de contaminação, como as embalagens industriais tipo stretch. O problema maior na reciclagem mecânica é com os filmes multicamada e laminados. Nestes casos, sem dúvida a reciclagem química será uma ótima alternativa para aumentar a circularidade dos plásticos, possibilitando inclusive aplicações de grau alimentício.

No Brasil, brand owners que tanto clamam pelo uso de PCR, não divulgam devidamente ao público a presença do material recuperado nas embalagens de seus produtos finais. Por quais motivos? E o que o sugere ao setor para convencer esses fabricantes a sair do silêncio?
As metas de conteúdo de PCR nas embalagens são cada vez mais desafiadoras e, portanto, a tendência é um forte incremento do uso de reciclado nos próximos anos no Brasil. Acredito que a falta de regularidade da qualidade do PCR possa ser um dos empecilhos a divulgação do uso do material pelos brand owners. Mas isso está mudando, a partir da exigência do mercado e através dos próprios brand owners. Hoje em dia, participação da resina reciclada pós-consumo na demanda brasileira de poliolefinas já é de 12%.

2023 é associado no Brasil a inflação e juros altos, carestia, poder aquisitivo decaído e, na cadeia plástica, de preços do reciclado por vezes mais caro ou próximo do preço da superofertada resina virgem. Com base neste quadro, como enxerga o consumo de sucata plástica na reciclagem e a produção de plásticos pós-consumo reciclados em 2023?
O PIB deve crescer em torno de 3% em 2023, o que não é pouco. Sem dúvida a inflação e juros altos afetaram o poder aquisitivo, principalmente o de baixa renda. Porém, o que mais impactou a cadeia de reciclagem de plásticos foi o ciclo de baixa da petroquímica, com preços oscilando, superoferta de resina virgem e quedas nos spreads. O reciclado perde espaço nestes momentos, principalmente no mercado tradicional (“low end”), que utiliza resinas recuperadas com o principal intuito de reduzir custos. Trata-se de um mercado de baixo valor agregado, muito vulnerável aos preços das resinas virgens. O efeito foi mais forte no primeiro semestre semestre e o segundo já apresentou uma melhora, nos mercados de resina virgem e reciclada. Sem dúvida, a produção de PCR em 2023 vai apresentar queda em relação a 2022, mas a base é forte. No longo prazo, no entanto, acredito que a reciclagem mecânica no Brasil ainda tem muito espaço para crescer.


Wortex – Empate técnico

Paolo de Fillipis
Paolo de Fillipis

Mesmo com inflação, juros altos e preço do plástico recuperado por vezes mais caro ou próximo da resina virgem, a procura por extrusoras de reciclagem fechou 2023 em linha com os indicadores de 2022, constata Paolo de Filippis, CEO da Wortex, nº1 nacional no segmento. “As motivações básicas para o momento foram o aumento na eficiência e capacidade produtiva do reciclador e a verticalização de transfomadores na recuperação de resíduos, visando incorporar teores de reciclado em seus produtos acabados, em resposta à pressão ambiental crescente”. Na carteira da Wortex, abre o dirigente, os pedidos que afluíram em 2023 são repartidos praticamente por igual entre máquinas para reciclar sucata pós-consumo e aparas industriais, efeito de transformadoras empenhados em recuperar o refugo gerado em linha antes vendido a terceiros ou reciclado sob encomenda”.
O carro-chefe da Wortex em 2023 é a máquina Challenger Recycler Geração III. Entre seus predicados, de Fillipis salienta a possibilidade de reciclar rígidos e flexíveis, juntos ou em separado. “Não há necessidade de dois equipamentos diferentes para esse trabalho”, frisa o dirigente. Com o acréscimo de um dosador gravimétrico, esta extrusora também viabiliza a produção de compostos e blends e a produção de reciclado premium é assegurada ainda por inovações como o sistema de dupla filtragem, com dupla degasagem e método especial de homogeneização-plastificação”.

 


 

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