O primeiro semestre foi um desterro na Sibéria para o varejo dos polímeros, concorda Laércio Gonçalves, presidente da Associação Brasileira dos Distribuidores de Resinas Plásticas e Afins (Adirplast), com 30 anos de janela no ramo à frente da Activas, central de inteligência de mercado no reduto dos agentes oficiais dedicados a transformadores de menor porte. Nesta entrevista, Gonçalves embarca no consenso dos porta-vozes da cadeia plástica de que seu setor pode até conhecer dias melhores até dezembro, mas o barco do negócio só sairá mesmo do estaleiro puxado pela aprovação de reformas como a tributária incutindo confiança em quem investe e consome.
Qual o balanço da Adirplast sobre o primeiro semestre?
O volume total de venda dos nossos filiados no primeiro semestre foi 3,5% superior ao do mesmo período em 2018 e 5,7% acima do aferido no segundo semestre do ano passado. Os volumes distribuídos das duas principais commodities – PE e PP – tiveram comportamento parecido com a soma das vendas de todos os produtos comercializados pelos associados: aumento de 3,2% em relação ao primeiro semestre de 2018 e 7,4% em relação à metade final do ano passado. Desse modo, o comportamento da distribuição autorizada não destoou da previsão feita em janeiro, ou seja, um aumento marginal de vendas de até 5% no ano. Os números deste primeiro semestre reforçam a expectativa, pois nada de tão relevante aconteceu para justificar uma mudança significativa de posições.
Pelo histórico do setor plástico, o mercado não tende a se animar nos seis meses finais?
A demanda por produtos petroquímicos apresenta forte correlação com a conjuntura da economia, representada em regra pelo PIB. Dessa forma, o atual ciclo de baixa demanda deve ser bem maior este ano do que esperávamos, efeito da crise, instabilidade econômica e política e do atraso nos projetos de reformas estruturais. Acreditamos que um novo ciclo de alta só deve acontecer após 2020. A meu ver, a distribuição de termoplásticos enfrentou um dos seus momentos mais difíceis nos seis meses iniciais deste ano.
Com base no comportamento da demanda interna no primeiro semestre, qual a sua expectativa para a distribuição de PP e PE na segunda metade do ano?
Apesar das dificuldades, seguimos otimistas no intento de recuperar parte do mercado de varejo, nos últimos anos em poder das revendas independentes. A previsão é de que a gente feche esse ano com pelo menos 464.000 toneladas vendidas, das quais em torno de 450.000 de resinas e o restante de filmes como polipropileno biorientado (BOPP). É claro, porém, que se quisermos continuar a crescer e incentivar transformadoras a investir, precisaremos da escora da reforma tributária. O varejo de resinas plásticas responde por 20% do mercado nacional total com operação a cargo de cerca de 150 empresas e, consequência da confusão fiscal, as revendas compõem a maioria delas. Enquanto essa reforma não vinga, a expectativa dos distribuidores autorizados é de crescimento marginal ou insignificante em volume e continuidade de redução de margens, pois as bases do mercado são as mesmas de 2018: caos tributário, principalmente interestadual, gerando competição irracional da distribuição com varejistas autônomos e transformadores que revendem resinas.
Ainda em relação a demanda nacional de PP e PE, no primeiro semestre, avaliamos que houve uma pequena alta, em torno de 3%, frente ao mesmo período em 2018. Além disso, as importações brasileiras de poliolefinas diminuíram um pouco em relação às vendas internas de janeiro a junho. A participação da distribuição no primeiro semestre deste ano ficou em torno de 10% do mercado total. Para o segundo semestre, estou confiante num crescimento da distribuição impulsionado pelos negócios com as indústrias automotiva, eletrônica, da linha branca e alimentícia.