< PreviousDezembro/2018 – Janeiro/2019plásticos em revista28ESPECIALNos mais variados sentidos já foi dito que brasileiro é bom de boca e, fora da galhofa, uma prova é o país atrás apenas dos EUA e China entre os maiores consumidores de produtos de higiene oral no planeta, com vendas crescendo à média acima de 5% ao ano, atestam calculadoras setoriais. Entre as categorias de maior potencial, desponta um dos raros nichos de produtos de higiene pessoal dominados por frascos transparentes de PET: os enxaguantes bu-cais. No consenso do ramo, eles ainda não fazem parte da lista de compras regulares do consumidor, mas tudo indica que, com a saída da recessão azeitada pela melhora do poder aquisitivo, os enxaguantes devem perder a aura de artigos supérfluos e, de gota em gota, ampliar a penetração nas classes de renda menor. “O uso frequente do enxaguatório bu-cal está muito relacionado a uma questão cultural”, associa Lincoln Monteiro de Cas-tro consultor especializado em higiene oral e que assessora a fabricante de enxaguan-tes Dentalclean. “Quando o consumidor adota o uso regular do produto, percebe o ganho ocorrido no hálito e limpeza bucal, enraizando este hábito no seu cotidiano”. A limpeza oral, ele assinala, compreende as versões mecânica e química. Segundo Castro, o consumidor nem sempre se preocupou com a primeira, mas a assepsia química proporcionada pelo enxaguatório tem feito suas vendas subirem acima da média do mercado de saúde bucal, devido à sua incorporação ao dia a dia do usuário. “Lembra a TV a cabo: quem tem condições de assinar canais a seu gosto pode, sob crise financeira, até reduzir o pacote de opções, mas não consegue mais ficar sem o serviço”.Como produtos de maior valor agrega-do, o segmento dos enxaguantes sentiram na pele das vendas a recessão dos últimos anos, mas não ficou passivo. “A crise provocou várias mudanças e o chamado movimento ‘trade down’ possibilitou a experimentação de novas marcas e packs promocionais”, expõe Castro. “A estratégia ‘leve mais por menos’ evidenciou-se na crescente comercialização de garrafas con-tendo 600 ml e 1.000 ml de enxaguatório e os fabricantes promoveram versões mais requintadas, tentando trazer à percepção do consumidor os ganhos advindos da limpeza aliada a múltiplos benefícios, como o branqueamento dos dentes”. No mercado mundial, detalha o consultor, lançamentos têm sido bombeados por tendências a exemplo do emprego de ingredientes de pegada ecológica, como sabores de ervas, ou saudável, como formulações sem álcool.Para sobressair perante à concorrência, A caminho de virar um hábitoHIGIENE ORALCastro: refrescância seduz público jovem para os enxaguantes.Retomada aproxima enxaguantes do cotidiano do consumidor, para alegria de PETDezembro/2018 – Janeiro/2019plásticos em revista29ESPECIALbilidade e baixo custo levam as indústrias de enxaguatórios a optar pelo poliéster para as embalagens”. Sediada em Londrina, no norte parananese, a Dentalclean sopra in-ternamente, em linha chinesa não especifi-cada, as pré-formas adquiridas de terceiros para o envase de mais de 180.000 litros ao ano de seus enxaguantes.Há pouco mais de um ano no segmen-to, a catarinense Condor ainda tramita na montagem do processo de distribuição de seus enxaguantes, para os quais compra suas embalagens sopradas de PET, escla-rece Gerson Grohskopf, coordenador de marketing da divisão de higiene bucal da empresa baseada em São Bento do Sul. À parte a excelência de suas propriedades e processabilidade, a seleção do poliéster para os frascos é uma imposição tácita do mercado, ele interpreta. “A condição de produto de uso bucal é decisiva para o consumidor querer enxergar o enxaguatório e atributos como limpidez e qualida-de”, pondera o exe-cutivo. “Se tiver um visual menos atra-ente e preço muito diferente da média, o comprador até pode desconfiar da qualidade ofereci-da por um produto estranho no ninho do segmento”. Grohskopf lembra, a propósito, estudos de desenvolvimento de embalagens da Condor em que concepções mais ousadas não fisgavam o reconhecimento do consumidor. Em marketing, ele prossegue, os chamados ‘códigos de categoria’ determinam como o consumidor rotineiramente se relaciona e reconhece cada uma delas. “Para um fabricante de enxaguatório, fugir demais desses códigos, embute o risco de levar seu produto a ser desconsiderado pelo público entre as opções de compra”. Portanto, ele deixa evidente, o frasco de PET constitui um código da categoria dos enxaguantes bucais. A Condor centra o foco em enxaguan-tes no público dos baixinhos. “Já atuamos também no mercado adulto, mas adotamos por ora a estratégia de trabalhara apenas o segmento infantil”, conta Grohskopf. “Desse modo, o enxaguatório complementa nossa linha de produtos finais infantis e, aliás, a Condor é lider em escovas dentais para este consumidor”. Para laçá-lo, ele completa, seus enxaguantes possuem licenciamentos – Lilica Ripilica e Hot Whe-els – comuns aos demais artigos da divisão de higiene bucal. O impacto da recessão nos últimos anos sobre o mercado de enxaguantes não deve ser subestimado, deixa patente Grohskopf. “Houve retração e abandono do consumo, em especial por famílias de classes média e baixa”, ele constata. “Como o enxaguatório é visto como artigo supérfluo, não indispensável à higienização oral, ele forma entre os candidatos a corte nas listas de compras em fases de baixa no orçamento doméstico”. Antes da crise irrompida em 2015, ele repassa, o mo-vimento de enxaguantes evoluía à média anual de dois dígitos. “Agora, sob o início da retomada, a demanda volta a aquecer”.Dentalclean: sopro interno dos frascos com pré-formas adquiridas. Grohskopf: embalagem integra códigos da categoria.Condor: enxaguatório fortalece linha de produtos infantis.explica Castro, a Dentalclean, na ativa em enxaguantes desde 2008, transita em duas frentes. “Atuamos com licenciamentos para estimular o uso infantil e pesquisas de opinião nos motivaram a assediar o público adulto com quatro tipos de refrescância, uma razão da penetração da Dentalclean na faixa jovem”. Castro justifica a prevalência quase absoluta de PET na embalagem dos en-xaguantes com base em impulsos para compra e custos de produção. “A alta transparência de PET permite a visualiza-ção do enxaguante e sua coloração auxilia na escolha do consumidor”, ele nota. “De outro ângulo, como é muito forte a oferta no Brasil de pré-formas para garrafas de refrigerantes e água mineral, sua disponi-Dezembro/2018 – Janeiro/2019plásticos em revista30ESPECIAL“Além de tiragens menores de embalagens, o segmento de enxaguantes bucais marca pela ausência de padroni-zação no desenho das tampas, gargalos e copos dos frascos de PET”, constata Paulo Carmo, gerente do negócio de embalagens no Brasil da canadense Husky, quintes-sência global em sistemas de injeção de pré-formas. Essa peculiaridade, prossegue o especialista, requer pré-formas para cada aplicação. “Isso fragmenta os volumes, tornando a produção de PET menos inte-ressante, pois uma grande vantagem do processo do poliéster é a garantia dada ao transformador de um custo de produção menor em grandes volumes, como se nota em refrigerantes, água mineral e óleo comestível”. Para Carmo, a supremacia de PET para acondicionar enxaguantes é mérito da transparência e qualidade final do frasco soprado. “Trazem ao produto a ‘premiunização’ desejada pelas marcas, atendendo à percepção de qualidade buscada nos consumidores e refletida na cor do líquido mostrada pela embalagem””.Enxaguante bucal é produto estável, define Carmo e, no geral, seu recipiente prescinde de barreira adicional – à luz, UV ou oxigênio, por exemplo. “Daí porque esta aplicação é assegurada pela pré-forma monocamada, cuja excelência na produção é o chamariz do sistema de injeção HyPET HPP5 da Husky”, ele completa.O império de PET em enxaguantes bu-cais tem a ver com a tendência humana de se querer visualizar o conteúdo do produto adquirido no frasco translúcido, como se nota também em adoçantes, cosméticos e produtos de limpeza, ilustra Silvio Rotta, di-retor comercial da filial brasileira da alemã Krones, marca da elite de sopradoras de pré-formas . “Além disso, tanto na cotação da resina como nos custos de processo, PET é mais acessível que polietileno de alta densidade (PEAD), a resina dominante em frascos opacos”. Nos casos em que o poliéster ainda não avançou sobre a poliole-fina, pesam considerações como o costume enraizado no público por uma embalagem opaca, ou então, o investimento em equi-pamentos. “Mas a mudança é caminho sem volta”, sustenta Rotta.A única peculiaridade do sopro de PET para envasar enxaguantes bucais, ele aponta, diz respeito ao design do re-cipiente. “O frasco do enxaguante não é cilíndrico nem quadrado. Assim, o sistema de sopro da pré-forma requer controle mais detido de temperatura nas áreas das arestas da embalagem retangular, provido pelo denominado sistema de resfriamento preferencial”, esclarece o executivo. “Com capacidade projetada em 15.000 frascos/h, nossa sopradora Kosme ProShape dispõe desse sistema e sua importação desfruta de ex-tarifário”. Por sinal, a Krones acena para embalagens de enxaguantes com uma célula fabril: alimentação da pré-forma, sopradora, transportadora, enchedora/Vestidas para arrasarAs máquinas que fazem sorrir os frascos de enxaguantesHIGIENE ORAL/EMBALAGENSCarmo: pré-formas monocamada para frascos de enxaguantes são vocação da injetora HyPET HPP5 Dezembro/2018 – Janeiro/2019plásticos em revista31ESPECIALtampadora, empacotadora (papelão ou shrink) e robô paletizador. Tiragens menores de frascos de PET são a praia do sistema de injeção, estiramento e sopro integrados. “Facilita a operação e, como não é fácil encontrar do cliente”, defende Roberto Guazzelli, representante comercial da Nissei ASB Sudamérica, ás de ouros do Japão nessa tecnologia e na construção de injetoras de pré-formas para produção de frascos em sopradoras.trunfo para a economia energética, esta linha se diferencia pela estação de con-dicionamento, que aprimora a distribuição de material na parede do frasco mediante ajuste de temperatura por comandos sim-ples”, assinala o técnico. Sem esta estação, ele completa, todos os ajustes devem ser feitos diretamente na pré-forma, o que a torna específica para cada aplicação e inviabiliza, em determinados casos, seu aproveitamento em frascos de desenhos muito diferentes.“Vejo no mercado de enxaguantes muitos frascos resultantes de pré-formas genéricas de garrafas de refrigerantes e água mineral”, atesta Guilherme Marchet-to, gerente comercial da Aoki Techincal Laboratory do Brasil, dínamo nipônico na montagem de máquinas integradas. A transposição para os enxaguantes requer adaptações nessas pré-formas multiuso, observa o executivo. “Isso torna os frascos mais pesados e com péssima distribui-ção de resina na parede”, ele aponta. A no mercado pré-formas standard para embalagens de enxaguantes, o processo de injeção de pré-formas (em geral com proteção UV) e estiramento e sopro em um estágio possibilita a adequação do tamanho e peso dos frascos à necessidade Com base no tamanho dos frascos e na capacidade de produção requerida, a máquina integrada da Nissei ASB mais fle-xível para embalagens de enxaguantes é a versão 4 do modelo ASB70DPH”, distingue Guazzelli. “Além de dispor de servomotor, Marchetto: ciclo rápido e número de cavidades adequado ao setor de enxaguantes destacam a máquina Aoki AL 350LL 40.Dezembro/2018 – Janeiro/2019plásticos em revista32ESPECIALPET se aboleta em antissépticos bucais desde 1994, quando apeou vidro dos frascos de um pêndulo do ramo, o enxaguante Listerine, marca da Johnson & Johnson, informam Luis Bittencourt e Rodolfo William de Moraes, respectivamente gerente de vendas de PTA/PET e assis-tente técnico da PQS Alpek, maior produtora do poliéster no país. “Com essa mudança, a empresa buscava manter a transparência da embalagem e a visualização das cores do líquido com uma embalagem mais prática, segura e leve, sendo seguida pela concorrência atrás dos mesmos benefícios”, eles esclarecem. Para moldar frascos de enxaguantes, Bittencourt e Moraes pinçam do portfólio de sua em-presa a resina mais clara ali disponível, o grade MW, com índice de viscosidade intrínseca de 0,80 dl/g e teor de acetaldeído abaixo de 2 ppm. “No entanto, a presença dessa substância não é tão relevante para embalar enxaguantes, formulações de sabor muito pronunciado, na mão oposta do exigido para água mineral, de características organolépticas mais sensíveis”. No balcão dos materiais auxiliares, a norte-americana PolyOne forma opinião em colorantes e aditivos para aprimorar propriedades de PET. “Nosso serviço de atendimento proporciona vantagens como a precisão na dosagem da solução de cores em baixos teores, configurando um grande benefício financeiro na aplicação”. O VIDRO DE PLÁSTICOMoraes: resina mais clara da PQS embala enxaguantes Fernanda Boldo: precisão e baixos teores na dosagem de colorantes da PolyOneHIGIENE ORAL/EMBALAGENSintegradas mais talhadas para o segmento os modelos Aoki ALL 300-50 e AL 350LL-40, com base em seu ciclo rápido, número de cavidades e economia de energia e operação e manutenção simples. “Também podem trabalhar com polietileno”, insere o gerente. No Brasil, ele percebe, a maioria das embalagens de enxaguantes ainda é produzida em linhas maiores (injeção e sopro em separado), pois, em determi-nado momento, alguns tranforma-dores dispunham apenas desse tipo de máquina. “Se um projeto de produção de fras-Nissei ASB ASB70DPH versão 4: estação de condicionamento aprimora distribuição de resina na parede do frasco.seu ver, marcas menores ou novatas em enxaguantes costumam recorrer a essas pré-formas. “Lembro apenas de uma única marca possuidora de pré-forma exclusiva”. A depender da produção de cada modelo de frasco de uma família de enxa-guantes, Marchetto elege como máquinas co de enxaguante partir da estaca zero, nossos dois equipamentos integrados são os mais indicados”, sustenta Marchetto. “Em relação aos modelos ALL 300-50 e AL 350LL-40, o investimento em moldes e máquinas e o custo final da embalagem são bem inferiores aos das máquinas maiores do processo em dois estágios”. •Krones Kosme ProShape: sopro com sistema de resfriamento preferencial da pré-forma.Dezembro/2018 – Janeiro/2019plásticos em revista34SUSTENTABILIDADEDescartáveis plásticos estão na linha de tiro dos ambientalistas e passam um cortado na cobertura cotidiana da grande imprensa, onde são vilanizados como poluentes que parecem agir por vontade própria, pois nenhuma crítica é feita pela mídia e defen-sores da natureza a quem faz a destinação incorreta do refugo. Para contestar essa noção distorcida do descartável e demons-trar sua reciclabilidade, em sintonia com o culto ao desenvolvimento sustentável, a rede de fast food McDonald’s insere a uma montoeira de ações de cunho ambiental, como tirar poliestireno convencional e expandido de seu portfólio, a intenção de reciclar e reaproveitar em outros artefatos transformados que utiliza os resíduos de seus descartáveis de polipropileno (PP).No Brasil, a proposta começa a sair do papel em lojas na Grande São Paulo, com um pé de apoio na recicladora Plastimil, como adianta na entrevista a seguir o diretor Ricardo Mason. Quando e como começou este projeto com o MCDonald’s?A ideia surgiu como solução para a reciclagem dos canudos plásticos pós--consumo do McDonald’s, desafio proposto a nós em agosto passado pelo Instituto de Embalagens. Àquela época, estávamos em meio à “guerra dos canudos plásticos” e, entre os efeitos dos ataques ambientalistas, veio a proibição do produto em 2018 no Rio. Uma vez analisada a proposta, partimos para o desenvolvimento da aplicação final. De início, fizemos testes com reciclado de canudo e copo numa peça injetada menor, um porta-objetos, em parceria com a transformadora Dello, vislumbrando a possibilidade de distribuí-los como brindes a funcionários do McDonald’s, fechando assim o ciclo da economia circular. A partir desse experimento bem sucedido, resolveu-se partir para um produto do por-tfólio do McDonald’s, a bandeja. Para isso, fizemos ajustes na composição da resina de PP recuperada, mediante aditivação, alterando a fluidez e outras características, caso de flexão e contração, adequando o material para a injeção das bandejas pela transformadora Semaza. Por ora, os os testes são preliminares e, portanto, realizados com volumes reduzidos (entre 500 e 1.000 kg) e a matéria-prima, os canudos pós-consumo, provêm da própria rede McDonald’s. A viabilidade econômica do projeto é condicionada pelas etapas de coleta, separação, moagem, lavagem, granulação e injeção. O primeiro lote piloto de lavagem e granulação foi realizado em outubro último. A injeção das bandejas iniciais ocorreu entre outubro e novembro passado. Os testes finais estão programa-dos para fevereiro e março deste ano e, uma vez consolidados os resultados e a dinâmica da operação, manda a lógica que o raio da proposta se amplie, vencendo o Economia circular entregue de bandejaPlastimil recicla canudos e copos pós consumo para reuso no McDonald’sRECICLAGEMMason: separação no ponto da origemviabiliza reciclagem de descartáveis. Dezembro/2018 – Janeiro/2019plásticos em revista35desafio logístico do transporte do canudo pós-consumo. Nesse sentido, aliás, seria ideal dispor de um esquema de separação do refugo no ponto de origem, a exemplo de restaurantes, o que também depende de uma mudança cultural e de adaptação da infraestrutura do estabelecimento.A Plastimil pretende tomar a iniciativa de oferecer, em parceria com catadores e transformadores, ações similares de economia circular a outras empresas usuárias de descartáveis plásticos?Já estudamos projetos desse tipo com outras indústrias de descartáveis e empresas de segmentos fora da esfera de fast food. Nesse sentido, uma vantagem é o conhecimento de indústrias transformado-ras potenciais interessadas, repassado para a Plastimil pela atividade de distribuição de resinas virgens exercida pela Fortymil, empresa integrante do nosso grupo. Além do mais, o fato de a Plastimil acumular 48 anos de mercado, com experiência na logística de resíduos pós-industrial e pós--consumo, com investimentos constantes em tecnologias de reciclagem, granulação e desenvolvimento de materiais custo-mizados, nos permite propor soluções diferenciadas desde a separação do resíduo no ponto de origem à performance em vista para o produto final. Portanto, a economia circular nos abre um mercado com forte tendência de crescimento e cheio de de-safios. Nem todas as iniciativas cogitadas serão economicamente viáveis, mas todas devem ser estudadas. Quais os encargos de cada participante da ação conjunta com o McDonald’s? O McDonald’s efetua a separação entre resíduos orgânico e reciclável (copos e canudos) e remete este último à coopera-tiva de catadores Cooper Yara, incumbida de segregar os refugos de PP. Em paralelo, a Plastifama, fabricante dos canudos para esta rede de fast food, faz o mesmo com suas aparas de processo. Ambas as su-catas são encaminhadas à Plastimil, onde passam por moagem, lavagem, aditivação, granulação e controle de qualidade da resi-na reciclada. A seguir, o material segue para a injeção de porta-objetos pela Dello e de bandejas pela Semaza, que as remete por fim ao McDonald’s. Por se tratar de projeto piloto, os testes se concentram o em oito lojas da rede em Barueri, na Grande São Paulo. Junto com a Plastifama, elas enviam os refugos à Cooper Yara. De início, as bandejas serão exibidas em loja conceito do McDonald’s na zona oeste paulistana. Para ampliar o engajamento dos consumidores, o Instituto de Embalagens criou um papel de bandeja explicando a ideia e a plata-forma de marketing social Gooders lançou vídeo de realidade aumentada (disponível no YouTube).Qual a estimativa do volume regular de refugo de canudo a ser reciclado pela Plastimil, e qual a quantidade de recuperado exigida para a produção da bandeja? Os volumes dos lotes regulares não estão definidos, pois ainda estamos em fase preliminar. De início, a Plastimil produ-ziu 800 quilos de reciclado. O volume ideal seria de, pelo menos, 3t/mês. Como se trata de projeto conceitual, iremos trabalhar com quantidades menores. Cada bandeja, injetada na cor marrom, pesa 330 gramas. O grande desafio para a lavagem e recicla-gem desses canudos pós-consumo está, de saída, no custo de frete, pois trata-se de refugo de densidade aparente muito baixa. A proibição de canudos plásticos no Rio e de todos os descartáveis plásticos em Fernando de Noronha vem tendo bem mais repercussão do que iniciativas empresariais de economia circular como esta do McDonald’s, cuja penetração não extrapola os limites de sua clientela. O que sugere às empresas para suas ações de sustentabilidade conseguirem desfrutar real conhecimento e apoio do grande público? A divulgação e propagação das infor-mações constitui um grande desafio para o segmento dos descartáveis plásticos. Infe-lizmente, notícias ruins ou de alto impacto visual danoso, como a imagem da tartaruga de canudo entalado na narina, geram maior repercussão e audiência, através da internet e aplicativos de mensagens, que os registros positivos para o plástico. Ainda assim, julgo que projetos institucionais de cunho sustentável, como este das bande-jas de reciclado de canudos, devem ser difundidos para além do limitado universo das empresas participantes. Precisam figurar em todas as frentes da mídia física e digital disponíveis para alcançar a grande massa populacional. Acredito também na necessidade da formatação de um canal que consolide essas ações e assim tenha mais força para levá-las ao conhecimento publico. Por fim, há uma ficha que precisa cair no setor plástico antes que seja tarde demais: aplicar recursos na comunicação em grande escala de seus feitos e posições não é custo, mas investimento. •Bandejas do McDonald’s: segundo uso para PP reciclado de canudos e copos pós-consumo.Dezembro/2018 – Janeiro/2019plásticos em revista36SUSTENTABILIDADESe a economia crescer 2,7% este ano, como pontificam os futurólogos, vai faltar energia, agouram vozes do próprio governo. Razão de sobra, portanto, para o país prospectar modelos de geração mais limpa e barata que o das hidro e termolétricas, responsáveis pela eletricidade brasileira alinhar-se entre as mais caras do planeta. É essa a premissa que ancora a usina flutuante de energia solar, experimento pioneiro no país, orçado em R$ 56 milhões e ativado desde dezembro último pela Companhia Hidrelétrica do São Fran-cisco (Chesf) no reservatório da barragem de Sobradinho. Fixada no fundo do lago por cabos, a platafrma instalada em 10.000 m² possui 7,3 módulos de painéis solares sus-tentados por flutuadores, capazes de gerar 1 megawatt-pico (MWp). A usina flutuante deve ser concluída durante este ano, agrupando então 35.000 módulos em 50.000 m2, para gerar 5MWP, capacidade suficiente para abastecer 20.000 casas populares.A Chesf avaliará a viabilidade econô-mica, técnica e ambiental da denominada Usina Solar Fotovoltaica Flutuante, tendo em vista a transposição da proposta a outras hidrelétricas e sua participação em leilões de venda de energia. No tocante à eficiência, a estatal estudará o desempe-nho da tecnologia fotovoltaica resfriada pelo vento e a água corrente do São Francisco, situação mais complexa que o mesmo experimento em águas paradas. O projeto estabelece que conexões levem a energia em corrente contínua produzida pelos painéis solares a equipamentos, postos num contêiner, para conversão em corrente alternada, via adequada ao envio da eletricidade pelas linhas de transmissão disponíveis em Sobradinho.A pegada sustentável da usina flutu-ante também é mérito, nas entrelinhas, de um uso chave do plástico: os flutuadores de polietileno de alta densidade (PEAD) que suportam os painéis solares e cuja nacionalização está no âmago da parceria engatada antes de 2016 pela Braskem, nas vestes de supridora da resina, e Ciel et Terre Brasil, joint venture da brasileira Sunlution com a francesa Ciel et Terre, detentora das patentes e tecnologia Hydre-lio® dos flutuadores. “Ajudamos desde o início na identificação dos melhores transformadores e no apoio técnico para a produção local dos flutuadores dentro das especificações”, assinala Jorge Alexandre Oliveira Alves da Silva, integrante da área de desenvolvimento de mercado para PE da Braskem.Pode ser a gota d’águaUsina flutuante de energia solar garante eletricidade limpa e barata, apoiada em PEADENERGIAUsina flutuante em Sobradinho: alternativa para o Brasil escapar do apagão energético.Dezembro/2018 – Janeiro/2019plásticos em revista37Luis Piauhylino Filho, sócio e diretor geral da Sunlution, estima em quatro meses o prazo consumido na instalação da plata-forma da usina, na sua dimensão inicial em Sobradinho. “No momento, ela abriga 3.600 placas de geração fotovoltaica Hydrelio®, quantidade com boa chance de ser amplia-da com 14.400 painéis para a usina gerar mais 4 MWp numa área ocupada de quatro hectares”. A propósito, ele compara, uma usina solar flutuante produz, em média, de 14% a 16% a mais de energia que uma similar fixa no chão. “A diferença decorre da água que baixa a temperatura dos pai-néis fotovoltaicos e, com isso, eles não só produzem mais eletricidade como reduzem em até 70% a evaporação na área coberta com a plataforma”.Ao lado de inversores e eletrocentros fornecidos pela brasileira Weg, os princi-pais componentes da usina envolvem os flutuadores principal e secundário, de vida útil projetada por Piauhylino em 20 anos, a tiracolo de aditivação anti UV. “O volume de PEAD mobilizado pela plataforma em Sobradinho se aproxima de 60 toneladas para cada MWp, indicador equivalente a cerca de 16,5 quilos de flutuador por painel solar”, calcula Silva. “Cinza claro é a cor selecionada para o flutuador por ser neutra, mais barata e por absorver menos calor e ter melhor comportamento frente à radiação UV”. Sem especificar as resinas, ele informa que determinados grades de PEAD da Braskem foram homologados pela Ciel et Terre para a produção dos flu-tuadores e sua escolha depende da versão utilizada e das peculiaridades da máquina básica. “O flutuador principal exige uma sopradora de grande porte”, exemplifica Piauhylino, acrescentando que os moldes são patenteados pela Ciel et Terre e a ela pertencem. Silva insere que ensaios da Ciel et Terre habilitaram o sistema Hydrelio® a resistir a situações extremas, como tufões e ondulações de até 1,5 m de altura.A transformadora Unipac, do Grupo Jacto, foi ungida pela Sunlution para so-prar os flutuadores da usina flutuante. Não é o primeiro pioneirismo assinado por ela. Em mais de 40 anos de estrada, a empresa lagrou na frente na produção nacional de artefatos soprados como tanques para diesel de caminhões e pulverizadores costais de agroquímicos, ilustra Gabriel Pires Gonçalves, presidente dessa trans-formadora nacional.Entre as complexidades encaradas pela Unipac para dar conta do recado para a Ciel et Terre Brasil, Gonçalves distingue o entendimento das características do grade a ser processado e o balanceamento da tecnologia de sopro com as peculiaridades do design dos flutuadores. “O conjunto montado deve suportar, com duração média de até 20 anos, situações críticas como a ação de intempéries e ventos de até 210 km”, ele observa. “O flutuador principal, de design mais complexo, pesa em torno de 9,5 kg e volume da ordem de 200 litros, enquanto o secundário tem cerca de 3,5 kg e volume aproximado de 100 litros”. Sem detalhar a tecnologia, Gonçalves comenta que o flutuador principal é pro-duzido em máquina apta a soprar até 500 litros. A acalentada expansão de 4MWp na capacidade da usina flutuante este ano, é equiparada por Gonçalves a cerca de 16.500 unidades do flutuador primário e 27.300 do coadjuvante. “A produção deve começar em fevereiro e ser completada em quatro meses”, projeta o dirigente. Sobradinho constitui metade do per-curso da pesquisa para validação da usina flutuante de energia solar como alternativa mais rápida para tirar o país do beco das hidro e termoelétricas. Ativado por duas subsidiárias da estatal Eletrobrás, Chesf e Eletronorte, o programa engatilha seu próximo passo na instalação de outra plataforma experimental, para gerar 5MWp na hidrelétrica amazonense de Balbina. •Silva: 60 toneladas de PEAD por MWp gerado na plataforma sobre o lago.Flutuadores de PEAD: Unipac selecionada para o fornecimento.Piauhylino: 3.600 placas de geração fotovoltaica Hydrelio® na fase inicial em Sobradinho. Next >