< PreviousSetembro/2018plásticos em revista20CONJUNTURASEMINÁRIO COMPETITIVIDADEVerso-chave de Blowin‘ in the Wind, clássico do folk composto por Bob Dylan, “a resposta está soprando no vento” também serve de epígrafe para as incógnitas que latejam na cadeia do plástico diante da montanha russa das pressões exercidas pelas mudanças climáticas e cibernéticas e pela ruptura de costumes encampada pelas novas gerações. Foi este o caldo grosso de inquietações servido a 100ºC no 8º Seminário Competitividade, bem a calhar intitulado “Para onde o vento so-pra”, realizado por Plásticos em Revista e a Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast) em setembro último em São Paulo.No plano geral, o temário foi cindi-do em quatro blocos. O primeiro versou sobre os compromissos nacionais e internacionais firmados por represen-tações brasileiras do plástico em duas frentes. Uma delas é o apoio ao esforço mundial de aliviar a proteção ambiental ao desenvolvimento econômico. A outra é a busca, no Brasil, de maior entro-samento entre empresas de matérias-De cara com o vento Seminário colocou a indústria plástica diante do tufão da economia circular, digitalização e os novos consumidoresSetembro/2018plásticos em revista21-primas, recicladoras e indústrias de produtos finais de rápido consumo no sentido de reabilitar a imagem do plás-tico como aliado da natureza alargando o espaço para aplicações do plástico reciclado e persistindo no esforço em curso há mais de 20 anos de conscien-tizar a sociedade, de forma didática, a respeito das afinidades do plástico com a economia circular e da contribuição para ela advinda da prática do descarte correto de embalagens pós-consumo. O recado foi transmitido nas exposições de Fabiana Quiroga, diretora de Reciclagem e plataforma WeCycle da Braskem; Bár-bara Dunin, assessora da Rede Brasil do Pacto Global e Daniela Lerario, diretora executiva da TriCiclos Brasil. O segundo bloco de palestras focou os ajustes necessários na frota do plástico para acertar o passo com o perfil da nova geração de consumido-res hiper conectados. Pelo flanco das resinas, Yuri Tomina, gerente de desen-volvimento de mercado de polietileno da Braskem, colocou à disposição dos transformadores o aparato de recursos e inteligência de mercado da companhia para desenvolvimentos em conjunto de inovações em embalagens. Do outro lado do balcão, Giovanna Fischer, dire-tora da consultoria Kantar Worldpanel Brasil, expôs o impacto dos últimos anos de crise na demanda de produtos de rápido consumo e as decorrentes mudanças na cesta, tickets de compras e escolha de marcas pela população. Por seu turno, Vanessa Mathias, sócia da consultoria White Rabbit, comentou a controversa visão do plástico aos olhos dos consumidores Millenials; os valores que defendem, caso da economia compartilhada e combate à poluição ambiental e os atributos que norteiam a preferência deles na compra e a ade-são desse público ao e-commerce. Na mesma trilha, o consultor e designer Celso Negrão Gonçalves debruçou-se sobre os movimentos iniciais do varejo digital no Brasil, visíveis em supermer-cados e em redutos como cosméticos, apontou a evolução em quinta marcha da digitalização no comércio internacional, encabeçada pela Amazon, e alertou para a inescapável influência dessa tendência na concepção de embalagens. Na esfera do Brasil, Negrão se deteve na escalada do atacarejo na preferência de uma Bárbara DuninDaniela LerarioFabiana QuirogaRicardo PradoFabio BuckeridgeSetembro/2018plásticos em revista22CONJUNTURApopulação de poder aquisitivo enfraque-cido e alertou que o crescimento deste canal do comércio físico tende a requerer das embalagens plásticas peculiaridades de exposição e manuseio inexistentes no ambiente dos supermercados.O conceito da Indústria 4.0 foi o prato de resistência das palestras de Ricardo Prado Santos, vice-presidente da Piovan, e Fabio Cazelli Buckeridge, diretor digital da Braskem. Ambas as exposições desmistificaram a crença de que o ingresso de uma indústria trans-formadora na era da fábrica inteligente se resolve com o desembolso de capital em TI e robótica. Tão ou mais relevante, eles deixaram claro, é o suado esforço para amoldar ao estágio 4.0 a cultura de uma empresa de histórico preso ao nível 1.0, da automação básica do parque fabril. No desfecho, os palestrantes voltaram--se para o custo/benefício da produção inteligente, destacando conveniências como as ferramentas para a gestão mais meticulosa, o aprimoramento da mão de obra qualificada, o encurtamento do pro-cesso de desenvolvimentos e a extrema redução de tempos de ciclo e de gastos energético e logístico. A última seção do evento correu por conta das oportunidades e desafios para a transformação desembainhados pela impressão 3D. Klaus Gargitter, CEO da Monster, fabricante nacional de fila-mentos para impressão, e Fabio Lamon, líder de manufatura digital da Braskem, expuseram os pré-requisitos para esse investimento, as possibilidades descor-tinadas na adequação de polímeros ao processamento 3D, a ausência de co-lisão com processos tradicionais como a injeção de resinas e o potencial para a impressão final além de ferramenta de prototipagem mais rápida, a exemplo de arcadas dentárias impressas pela Monster em prazos e precisão inatingí-veis pelo trabalho manual de protéticos com gesso. •Giovanna FischerVanessa MathiasCelso NegrãoYuri TominaKlaus GargitterFabio LamonSEMINÁRIO COMPETITIVIDADESetembro/2018plásticos em revista24TRAJETÓRIAUm portfólio que dispersa o foco entre pecuária, transporte pesado, setor náutico, eletrodomésticos e petróleo é olhado de soslaio por qualquer manual de gestão empresarial que se preze. Mas na contramão desse consenso, a transformadora gaúcha NTC chega aos 30 anos incólume aos altos e baixos do Brasil, por razões como ter achado um meio de desenrolar o fio da meada de tantos campos distintos entre si. “Todos os produtos de diferentes áreas que desenvolvemos encerram o desafio de buscar uma solução técnica em peças injetadas para atender o mercado de formas competitivas”, traduz o diretor Bernardo Shen. “Foi devido ao perfil variado de clientes, sem concentração num segmento específico, que a NTC cresceu 15% em 2017 perante 2016”, ele atribui.Sem abrir cifras, Shen reparte o faturamento da empresa entre 60% em serviços para terceiros, a exemplo das peças encomendadas pelos setores automotivo e eletroeletrônico, e 40% para os produtos de marca própria. Em 2013, a prestação de serviços abocanhava 85% do movimento e o diretor encaixa que o objetivo é cindir a receita em duas partes iguais. “Trabalhamos por muito tempo com dedicação quase exclusiva às autopeças”, ele pondera. “Chegou a hora de nos reinventarmos, expandir as operações e testar ao máximo o nosso potencial. Apostamos em adicionar novos produtos ao portfólio de marcas próprias; inclusive estamos repensando o posicionamento da NTC para os próximos três anos”.A NTC nunca foi de sossegar o facho. Surgiu em 1988, como pequena metalúrgica em Farroupilha e, do fornecimento de itens como ferragens, logo embarcou na construção de moldes e injeção de peças de reposição para ônibus. Nove anos depois, a matriz passou para Caxias do Sul e, em 2001, a composição societária foi reformulada com a saída dos fundadores e o negócio foi vitaminado pelo novo Não se chega lá por acasoVersatilidade e inquietação energizam há 30 anos a NTCNTCProdutos de marca própria: NTC aposta no aumento do portfólio.Setembro/2018plásticos em revista25controlador, o Grupo Luiz Participações e Administrações de Bens. Sediada em Porto Alegre, esta holding também incorpora a transformadora gaúcha de flexíveis Plastrela e a incorporadora imobiliária Evergreen. Com as dosagens de esteroides no caixa, a NTC arrancou e, em 2008, veio a primeira filial, em Aparecida do Taboado, Mato Grosso do Sul. Sete anos depois, a demanda de um cliente do setor automotivo justificava a partida da segunda sucursal, em Atibaia, interior paulista. Bernardo Shen retoma o fio dimensionando a atual capacidade total de peças injetadas em 125 t/mês, na garupa de um consumo de resinas da ordem de 90 a 100 t/mês que alimentam um contingente de 28 injetoras hidráulicas, de 100 a 1.600 toneladas, vida útil de seis anos em média e capazes de produzir peças de até oito quilos. “A empresa tem o objetivo de reinvestir 10% da receita anual no parque fabril”, ele completa. Na esfera dos moldes de injeção, a NTC constrói ferramentas de até 30 toneladas projetadas por sua equipe. “A empresa atende ao mercado de moldes de tamanho médio e média e alta complexidade”, delimita o diretor. Além dos saltos na capacidade, Shen distingue como feitos marcantes no périplo desses 30 anos os pisos elevados para suinocultura, introduzidos em 1997, e o sistema modular PierPlas, lançado em 2008. “Consta de blocos de polietileno de alta densidade destinados a plataformas flutuantes tipo cais, atracadouros e substituindo madeira na construção de píeres”, esclarece o dirigente. Em 2008, por sinal, quando o banco norte-americano Lehman Brothers faliu sob a crise do subprime e desencadeou pandemônio financeiro global, Shen nota que, nos respingos sobre o Brasil, “a, já encerrada, parceria estratégica com matrizarias chinesas nos manteve vivos e continuamos atendendo a demanda por completo – da concepção do molde à injeção das peças encomendadas. Também estabelecemos parcerias locais, ao terceirizar toda a parte de serviços da ferramentaria”. À época, ele repassa, em determinados momentos a prioridade na NTC era dada às máquinas e moldes. “A seguir veio a ênfase em recursos humanos, até hoje em vigor e, por fim, ganhou vulto a busca de produtos próprios capazes de trazer estabilidade à produção”.Além dos artefatos para ônibus, como batente de para-choque, apoio de cabeça, suporte de corrimão ou saída de ar, a selfie do mix de produtos próprios enfileira os módulos Pier Plas; pisos e vigas VitaSui para plasticultura; os climatizadores Bruma; as poltronas Urban para ônibus e embarcações; os estojos de armas Pulse e as caixas Geo, para alojar amostras de solo em processos de sondagem de petróleo. Para Shen, o impacto da retração vigente desde 2017 tem sido mais sentido em produtos vinculados aos bens duráveis, a exemplo dos itens para ônibus, enquanto os melhores resultados provêm dos itens para criação de porcos, à sombra do gigantismo do agronegócio. “Talvez porque os pisos sejam fundamentais para suinocultura, pois têm a ver com saúde animal, prestam-se à higienização e adequam-se à regulamentação”, pressupõe Shen. No plano geral, ele sopesa, alguns processos de montagem e atividades como inspeção ainda dependem de operações manuais na NTC. “Damos um passo por vez rumo à automação”, ele explica. “Cada inovação tecnológica, em especial a robótica, requer uma adequação da cultura organizacional complexa de ser empreendida numa empresa longeva. Em paralelo, temos projetos em andamento de produção on line, totalmente integrada no computador nos próximos anos”. •Setembro/2018plásticos em revista26SENSORApós 43 anos à frente da Eletro-Forming, ás nacional em ter-moformadoras na ativa desde 1972, Jorge Lakatos resolveu pendurar as chuteiras. Mas como está para nascer quem tire o faro de um empreendedor, ele achou um hobby afluente da sua criatividade: montou um protótipo de máquina de venda reversa, des-tinada à coleta de latas e garrafas PET para reciclagem, contemplando quem a alimenta com vouchers de pontos conversíveis em descontos ou promoções. Lakatos lançou sua sacada em agosto pelo You Tube. Equipamentos desse tipo, por sinal, já estão no cotidiano do I Mundo e, no Brasil, se busca abrir caminho para eles no comércio ou locais de trânsito intenso de pessoas, tipo supermercados e estações de metrô. Por exemplo, desde 2016 a startup nacional Triciclo Soluções Sustentáveis colocou 34 unidades de sua Retorna Machine, a maioria em São Paulo e, corpos atrás, em Manaus, Recife e Rio. Os ganhos vêm do aluguel da máquina importada ao dono do ponto e da venda do refugo coletado a recicladores. A Triciclo não quis falar a Plásticos em Revista sobre sua operação nem confirmar o intento de nacionalizar o equipamento, tanto pela demanda aquecida como pela armadilha cambial. Neste sentido, Jorge Lakatos demonstra na entrevista a seguir já ter pensado adiante, indicando que a industrialização do seu invento caminha a passos largos e que sua noção de aposentadoria não é bem ficar de pernas pro ar.No You Tube, vídeos mostram máquinas como a sua em ação na Alemanha e no Brasil, como o modelo Recopet BR. Como seu invento difere desses precedentes, também adeptos do sistema de tickets de pontos e descontos? Pelo visto no YouTube, o equipamento da Recopet tira os ró-Quando a reciclagem entrega os pontosJORGE LAKATOSJorge Lakatos lança máquina econômica de coleta de garrafa PET e lata pós-consumoLakatos e sua máquina de venda reversa: meta de preço de venda na faixa de R$25.000Setembro/2018plásticos em revista27tulos de garrafas PET e emite tickets. Não consegui compreender se amassa ou não as embalagens. Segundo entendi, não creio que aceite todos os tamanhos de garrafas. O meu desenvolvimento vai aceitar latas de 220 ml a 1.000 ml e garrafas PET, desde 200 ml até 3.200 ml. Contabiliza com quan-tidades de pontos a garrafa grande, garrafa pequena e lata. Rejeita garrafas com água, vidro ou objetos menores que uma lata de 220 ml. Perfura as garrafas tampadas para facilitar sua prensagem em fardos remetidos à reciclagem. Minha máquina não retira os rótulos, pois, como as tampas, são de polipropileno (PP) e facilmente separáveis após lavagem e produção dos flakes. Afinal, sua densidade é inferior à de PET e, portanto, basta imergir na água que PP flutuará, enquanto PET irá para o fundo. Minha máquina, por sinal, enquadra-se na norma de segurança NR 12. Qual a capacidade de cada contentor da sua máquina? É um modelo pequeno e econômico. Possui dois contentores: de 240 litros para PET e 120 litros para latas. As tampas podem ser amassadas junto e, por isso, a máquina perfura as garrafas para não ficarem com ar preso dentro e, depois de amassadas, voltarem a expandir pela pressão do ar.Qual a indústria designada para a montagem da sua máquina e qual o seu preço?Ainda estamos na fase de protótipos. Será feita outra versão, melhorada até de-zembro. A montagem está sendo negociada com empresas do ramo de máquinas e ainda não foi decidido qual a escolhida, embora as conversações estejam adiantadas. A meta de preço de venda final será de cerca de R$ 25.000. O segundo protótipo será instalado, em caráter experimental, em algum condo-mínio grande. A proposta dessa máquina é ser econômica o suficiente para poder ser colocada em escolas, clubes, shoppings, supermercados menores ou condomínios maiores. A intenção é fazer o usuário ir a algum comércio para obter o desconto, além de o equipamento funcionar como outdoor da empresa onde opera. As máqui-nas existentes no Brasil são muito maiores e se justificam apenas em hipermercados e pontos de grande movimento como estações de trem por exemplo. É neste feitio que a startup Triciclo Soluções Sustentáveis, por exemplo, atua com sua Retorna Machine, uma modalidade de operação diferente da que estamos pensando.Já que a máquina de venda reversa trata-se de um equipamento já consolidado na praça, qual a sua explicação para a sua popularização tão tímida no Brasil, um dos 10 maiores mercados globais consumidores de PET, refrigerantes e água mineral?Estas máquinas são populares em mercados onde funcionam com rigor leis similares a regulamentação da nossa Política Nacional de Resíduos Sólidos, a exemplo dos países nórdicos, Nova Zelândia, Austrá-lia, Inglaterra, Alemanha e mesmo os EUA. Nestes casos, as empresas são obrigadas a demonstrar a destinação das embalagens de bebidas. As garrafas retornáveis também re-querem depósito em sua compra, devolvido ao consumidor quando o vasilhame entra numa máquina específica para recipientes retornáveis. Na América dos Sul, eu soube que Argentina e Chile são os países com maiores contingentes de máquinas de venda reversa instaladas, totalizando cerca de 1.000 linhas em operação.Uma das indústrias mais empenhadas em fortalecer seu compromisso como de-senvolvimento sustentável é a dos fabrican-tes de produtos de higiene pessoal e beleza, reduto dominado por frascos soprados de PEAD e com alguma participação de PET. Como avalia a possibilidade de montar um modelo dessa máquina específico para recolher e amassar frascos desses materiais para uso em lojas de cosméticos, investimento bancado por grifes desse setor chegadas ao ecomarketing e economia circular? Espero que este meu equipamento seja o primeira da família e, aliás, ele pode aceitar ou não frascos diferentes de bebi-das. Pretendo desenvolver versões para trabalho com vidro, caixa cartonada e, por que não?, embalagens de cosméticos. Para separar estes frascos de PEAD seria preciso incorporar à máquina um leitor de código de barras para identificar o produto, o que já está sendo estudado. •Europa: cupom de pontos aplicado à venda reversa de embalagens de todos os materiais.Setembro/2018plásticos em revista28ESPECIALA visão do copo meio vazio ou meio cheio, a depender do observa-dor, transparece da trajetória da distribuição de resinas pela esburacada e mal sinalizada estrada da economia brasileira este ano. A perfor-mance do varejo do plástico exige que se vá devagar com o andor para ser decifrada e um ponto de partida provém da clien-tela dos agentes autorizados. Exemplo: a produção nacional de transformados em 2017, arredondada em 6,1 milhão de toneladas, ainda resfolega aquém do pa-tamar de 10 anos antes e esta página não deve ser virada no exercício corrente. Em contraponto, a crista baixa passa ao largo dos números da Associação Brasileira de Distribuidores de Resinas Plásticas A travessiaDistribuidores de resinas caminham na corda bamba dos aumentos de custos tensionados pela economia em compasso de esperaDISTRIBUIÇÃODaniela Guerini: lançamento de cartão de crédito e centro de distribuição em Itajaí em 2019.Setembro/2018plásticos em revista29ESPECIALe Afins (Adirplast). Em 2014, o mercado da distribuição movimentava 396.685 toneladas, volume elevado a 377.880 na chegada da crise em 2015. No nada me-morável 2016, o movimento reagiu rumo a 389.745 toneladas, galgou as 398.169 em 2017 e a bola de cristal setorial projeta 434.205 toneladas para este ano tenso. Polietileno (PE) e polipropileno (PP) têm o mando do jogo na distribuição. Úni-ca produtora no país das duas poliolefinas, a Braskem já toca o bumbo pelo desem-penho de seus agentes, responsáveis por uma fração relevante de suas vendas internas. “Eles estão construindo mais um ano de crescimento sem enfrentar, até aqui, problemas creditícios representativos nas suas carteiras”, enaltece Américo Bartilotti Neto, diretor do negócio de PE da corpora-ção petroquímica. “Esse resultado decorre de profundo conhecimento sobre o merca-do e o grau de capitalização dos clientes, além do uso de ferramentas como cartões de crédito e linhas de financiamento en-volvendo outras instituições financeiras como alternativas para viabilizar negócios com transformadores menores e médios”. Estas indústrias, aliás, também acusam metamorfose por força da necessidade, interpreta Bartilotti. “Após alguns anos desafiadores em termos de demanda e acesso ao crédito, a distribuição hoje pos-sui um conjunto de clientes mais eficientes na gestão. Por exemplo, passaram a se suprir com mais planejamento, reduzindo a incidência de compras concentradas no fim do mês e nem sempre motivadas pelas vendas realizadas”.Wilson Cataldi, dirigente da Pira-midal (ver reportagem à pág. 38), maior e mais calejada distribuidora da Braskem, não contesta o júbilo de Bartilotti mas tece algumas ressalvas. “O crescimento aferido nas vendas do canal da distribui-ção parte de uma base muito pequena e reflete o declínio da produção do setor transformador, da ordem de 1 milhão de toneladas apenas entre 2014 e 2017”, ele observa. Ainda nesse contexto, Cataldi deixa patente que, para sobreviver na atual conjuntura, um distribuidor não pode mais, como era comum no passado, depender apenas da demanda de PP e PE, dadas as margens apertadas não só pela concorrência no varejo, mas pelos reajustes nos preços das duas commo-dities mais consumidas, em particular num cenário de câmbio volátil e efeito dominó da alta do petróleo nas costas da cadeia petroquímica. Neste ponto, por sinal, o distribuidor comenta que a greve dos caminhoneiros, criando pandemônio nas entregas de produtos em geral em maio passado, não causou avarias de peso nos custos logísticos da Piramidal. “Nossa frota opera pulverizada entre 10 centros de distribuição, cumprindo rotas curtas no atendimento a quatro regiões”, ele argumenta. “O saldo da parada no transporte e encarecimento do combus-tível onerou bem mais os produtores de resinas, pois forçados a cumprir trajetos de longa distância entre diversas plantas e os principais centros de consumo”. Presidente da Adirplast e da dis-tribuidora Activas, outra titular da rede Braskem, Laércio Gonçalves comenta que a atual projeção de crescimento de 1,4% do PIB embute a penalização da atividade industrial, pegando de ricochete a distri-buição de PP e PE, igualmente prejudica-da pela escalada do desemprego, redução do consumo das famílias e encarecimento do combustível trazido pela greve dos ca-minhoneiros. Devido à alta do petróleo e dólar caro e mutante, ele arremata, o preço das resinas commodities subiu na faixa de 40% entre janeiro e o início de outubro. “Naturalmente, este cenário levou a um encolhimento do varejo de PE e PP, pois a recessão vem gerando descapitalização, inadimplência e difícil acesso ao crédito bancário pelas transformadoras menores e médias servidas pelos distribuidores”. A propósito, Gonçalves considera uma grande possibilidade enquanto Wilson Cataldi e Daniela Guerini, diretora da dis-tribuidora Mais Polímeros, têm certeza de que aumentou a quantidade de empresas antes supridas diretamente de PP e PE pela petroquímica e que, às voltas com dificuldades de pagamento, passaram a comprar nos agentes autorizados com autorização do produtor das resinas.Bartilotti: vendas crescentes de PP e PE pela rede Braskem.Gonçalves: encolhimento do varejo de PE e PP.Next >