O negócio é largar na frente

Braskem puxa fila das futuras capacidades de PP nos EUA

Ao partir no ano passado seu complexo petroquímico no México, a Braskem desfrutou a vantagem de colocar a produção sem maiores dificuldades, por largar em primeiro no atual ciclo de expansões da capacidade de polietileno (PE) na América do Norte, previsto para ganhar a rua do quarto trimestre em diante. A tática de sair na dianteira passa agora para polipropileno (PP), indica o anúncio do investimento de US$ 675 milhões na construção de uma fábrica de 450.000 t/a, com partida agendada para 2020, no complexo texano em La Porte onde o grupo roda uma unidade de 354.000 t/a do polímero. No diapasão dos analistas, a investida cai bem num cenário desprovido de novas plantas de PP desde 2005, lacuna que, se intocada, embute o risco de o mercado norte-americano virar importador regular de volumes complementares da poliolefina para suprir a contento a demanda local. “Ao longo dos últimos 12 anos, uma quantidade significativa de capacidades de PP foi eliminada nos EUA”, atesta Mark Nikolich, CEO da Braskem America. “Como a economia e a transformação norte-americana de PP continuaram a crescer, a resina local escasseou e importações tomaram seu curso, tendência mantida até ser adicionada nova capacidade doméstica da resina”.

Nikolich enfatiza a escora a montante da cadeia petroquímica para viabilizar o investimento em La Porte. “Aproveitando o sucesso da extração de gás das reservas de xisto, a América do Norte hoje tem um dos perfis mais atraentes do mundo em termos de acesso a fontes de matéria-prima de baixo custo e de amplitude de fornecedores”, assinala o dirigente. A propósito, ele acentua, a Braskem já é, com suas cinco plantas de PP no país, a maior compradora de propeno dos EUA, petroquímico básico servido por mais de uma dúzia de fontes na costa do Golfo, justificativa para a empresa rechaçar a possibilidade de verticalizar a produção de propano/propeno, evidencia Nikolich.

A oferta de propeno promete ser bafejada nos EUA pelo efetivo de indústrias voltadas à dehidrogenação de propano (DHP ou PDH em inglês). A disponibilidade restrita de propeno no país decorre da preferência de sua petroquímica pela rota gás. A alternativa da via da nafta, dominante no Brasil, é muito mais rica em propeno.Retomando o fio, propano pode ser obtido primariamente de refinarias de gás natural ou como co-produto no craqueamento de etano para chegar ao eteno. No plano mais recente, brotam na América do Norte e Asia-Pacífico investimentos na sua produção pela rota DHP. Em sua composição, propano apresenta três átomos de carbono e oito de hidrogênio (C3H8). Pela tecnologia de DHP, são removidos dois átomos de hidrogênio do propano com o intuito de gerar propeno, petroquímico básico destinado majoritariamente à polimerização, ou seja, à produção de PP. Levantamentos estimam que, entre 2015 e 2018, cinco novas unidades de DHP devem partir apenas nos EUA, com produção calculada em torno de quatro milhões de t/a de propeno e todas elas situadas na região texana da costa do Golfo. Serão um trampolim para futuras unidades de PP.

Denominada Delta, a sexta planta de PP vai operar em La Porte licenciada pela tecnologia Unipol da W.R. Grace, mesma rota seguida por três unidades do grupo nos EUA e por uma das duas unidades do polímero na Alemanha. O mix incluirá homopolímeros, copolímeros random e de impacto e termoplásticos olefínicos gerados direto no reator. “Com a entrada em funcionamento da Delta daqui a três anos, nossa capacidade total de PP nos EUA subirá de 1.570 milhão a cerca de 2.020 milhões de t/a, mantendo-nos na liderança entre os produtores da resina no país”, considera Nikolich.

PP em La Porte: Braskem é a maior consumidora norte-americana
de propeno.

Jorge Bühler-Vidal, presidente da Polyolefins Consulting, consultoria baseada em New Jersey, pondera que o consumo de PP na América do Norte evolui em marcha lenta desde 2011, quando atingiu a marca de 7.453 milhões de toneladas. “Em contraste, a capacidade instalada local caiu de 9.245 milhões de toneladas em 2011 para 8.575 milhões no ano passado”, expõe. No mercado comum do Nafta (EUA, Canadá e México), esmiúça Vidal, a capacidade instalada de PP foi fixada em 8.575 milhões de toneladas em 2016. “A produção atingiu então 7.780 milhões de toneladas; as vendas internas, 7.439 milhões e as exportações do bloco ficaram em 404.000 toneladas de PP”. O analista nota ainda que os EUA permanecem exportadores regulares de PP, mas seu excedente tem se esvaído com o passar dos anos. Em 2007, ele ilustra, o país exportou 1.818 milhão de toneladas da resina, volume minguado para 712.000 em 2016, quando aliás importou 312.000 toneladas. “Se a América do Norte não elevar sua capacidade, estará a caminho de virar importadora constante de PP”, ele percebe.

À parte o projeto buzinado pela Braskem, Vidal nota poucos gestos similares de concorrentes. “A REXtac retomou a construção de duas linhas de produção no Texas, totalizando capacidade de 200.000 t/a de PP”, indica. “No Canadá, dois empreendimentos estão em montagem com partida prevista para 2021: a unidade de 525.000 t/a da Inter Pipeline e a planta de 550.000 t/a da joint venture Pembina/PIC”.

Nas pegadas desse pensamento, Otávio Carvalho, sócio executivo da consultoria MaxiQuim, emenda que a REXtac parte uma planta de 70.000 t/a de PP, “enquanto a Formosa deve ativar sua unidade de 250.000 t/a até 2020 e espera-se ainda este ano as decisões finais sobre projetos de fábricas em estudo no Canadá”, adianta. No arremate, Carvalho lembra estarem em curso na China dezenas de planos de investimento em PP. “Se concretizados, farão a oferta mundial crescer de forma acelerada no próximo triênio e é nesse contexto que os norte-americanos alinham seus projetos”. Para o consultor, a presença de investidores em PP nos EUA, modesta perante os aportes de recursos atuais em PE, decorre da menor disponibilidade local de propeno e da maior volatilidade de seus preços. “À medida que mais capacidades de DHP entrem no mercado, a tendência é de redução na instabilidade e de mais previsibilidade nos preços e margens de propeno, ensejando novos anúncios de investimentos de PP”, ele pressupõe.

Os preços também são o mote, julga Carvalho, para o impulso tomado pelas importações norte-americanas de PP. “Nos últimos anos, os preços internos da resina nos EUA descolaram de referências do sudeste asiático, abrindo a janela de arbitragem entre esses mercados”, argumenta o porta-voz da MaxiQuim. “As importações só não foram maiores devido aos entraves logísticos, pois os americanos destoam da praxe internacional de lidar com sacaria de 25 quilos, preferindo frete de resina a granel pelo modal ferroviário, sistema talhado para abastecimento de silos e transporte automático dali para a transformação”. Nos cálculos de Carvalho, os EUA aparecem como importadores de 512.000 toneladas de PP em 2016 contra 70% a menos em 2015. “As exportações rondaram 1,6 milhão de toneladas e mantêm viés de queda”, ele esclarece. “Apesar do superávit dos EUA, a balança comercial do bloco do Nafta fechou deficitária em PP no ano passado, com saldo negativo aproximado de 200.000 toneladas”. Os EUA, repisa o analista, possuem capacidade de PP suficiente para atender o consumo doméstico. “Mas há forte dependência dos mercados canadense e mexicano pela resina dos EUA”. Carvalho situa em 90% a taxa de ocupação da capacidade de PP do país nos últimos dois anos. “Deve permanecer nesse patamar ou até acima dele no próximo biênio”, antevê.

Bastante maduro, classifica Carvalho, o mercado norte-americano de PP acusa baixas taxas de crescimento nos últimos anos. “Ele mobiliza perto de oito milhões de t/a, das quais apenas meio milhão correspondem às importações, embora tenham tomado impulso em 2016, sobretudo com resina da Coréia do Sul, África do Sul, Colômbia e Brasil”, enfileira Carvalho. “As exportações brasileiras de PP para os EUA saltaram de 9.000 toneladas em 2015 para 70.000 no ano passado, efeito da demanda fraca por aqui e das margens atraentes na América do Norte”. O especialista põe fé no arrefecimento das importações pelos EUA, com base na expectativa de que os produtores locais retomem fatias perdidas do mercado interno em 2016.

“No momento, eu não vejo qualquer demanda significativa para justificar uma nova planta de PP nos EUA”, sustenta Paul Hodges, blogueiro do portal britânico Icis e presidente da consultoria londrina International eChem. “O superávit do país em sua balança comercial da resina diminuiu ao longo da década passada, mas ainda alcança perto de 750.000 toneladas, tendo o México e Canadá como seus maiores importadores e isso acontece apesar de os EUA terem se tornado cada vez mais atraentes como destino para as remessas da Coréia do Sul, Arábia Saudita e Brasil, decorrência da crescente autossuficiência da China em PP.”

Propano: inauguração de planta sul-coreana de dehidrogenação.

Hodges concorda que, nos últimos 12 anos, algumas plantas de PP desceram as portas nos EUA, retirada atribuída por ele ao suprimento de propeno. Mas o maior impacto nesse período, percebe, foi desferido pelo declínio da balança comercial dos EUA aliado ao aumento da produção internacional da resina. “Por exemplo, a China trabalha para dispor de mais de 90% de autonomia na corrente C3 (propeno) por volta de 2020 e há um bocado de propano barato nos EUA e Oriente Médio para suprir plantas de DHP para quem quiser construí-las”, aponta o analista da International eChem. Do lado da demanda nos EUA, ele elogia o esforço dispendido nos últimos anos pelos produtores locais de PP, visando manter em alta a procura pelo polímero para autopeças. “Mas é questionável que esse crescimento prossiga perante o recuo em andamento nas vendas de carros nos EUA”.

O consultor rechaça a percepção de que a oferta de PP esteja tensionada nos EUA. “De fato, o suprimento de propeno ficou muito volátil há poucos anos e complicou o mercado americano de PP”, assinala Hodges. “Mas isso se deve primordialmente ao crescimento do craqueamento de etano, substituto da rota nafta com a revolução do gás de xisto”. O craqueamento de etano gera baixo teor de propeno. Em paralelo, segue Hodges, refinarias nos EUA procuravam por mais propeno para a produção de derivados alquilados. “Daí porque a disponibilidade de propeno ficou instável, mas essa conjuntura pertence ao passado e o mercado reequilibrou-se”. O desafio para PP agora é outro, pressente o consultor. “Os EUA iniciam uma fase de vasto excedente de PE, efeito das 4,5 milhões de toneladas da nova capacidade que vai tomando corpo”, ele coloca. “Esse volume terá dificuldade de achar mercado, pois a economia chinesa desacelera e suas importações de PE estão se estabilizando. Assim, é de se esperar o surgimento de uma competição interpolimérica nos EUA, com consequente impacto nos volumes e rentabilidade de PP causado pela colisão com PE”. •

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