Produzido há 62 anos no Brasil, polietileno de baixa densidade (PEBD) hoje ocupa uma posição singular entre as resinas da categoria poliolefinas. Nas últimas rodadas de expansão da capacidade global de polietilenos (PE), seja pela rota da nafta ou do gás natural, os investimentos em PEBD apanham feio dos aumentos de produção noticiados para polietileno de alta densidade (PE) e o tipo de baixa densidade linear (PEBDL). Devido à oferta menos folgada, PEBD hoje custa mais do que PEBDL, a resina com quem ele mais convive em blends e disputa terreno em flexíveis, seu mercado por vocação. Embora tenha cedido espaço para PEBDL sem mistura em algumas poucas aplicações, PEBD permanece indestronável no grosso dos segmentos de embalagens que prezam atributos seus, como a redução da opacidade do filme e o aumento da estabilidade do balão durante a extrusão blow. Na entrevista a seguir, uma panorâmica da disponibilidade mundial de PEBD e suas perspectivas de sobrevida diante dos avanços nas formulações de PEBDL são expostas por Fabio Santos, diretor de Estratégia de Produto, Comunicação & Serviços da Braskem.
PEBD é a resina que menos atraiu investimentos no atual ciclo de expansão da capacidade norte-americana de polietilenos. Por quais motivos sua produção é considerada menos rentável, seja pela rota do gás ou da nafta, mesmo tendo uma disponibilidade mundial mais limitada que as resinas de alta densidade (PEAD) e linear (PEBDL)?
Na busca do mercado por embalagens flexíveis resistentes, PEBDL cresceu mais que o PEBD. A maior escala de produção e o menor valor de investimento por tonelada de PEBDL conjugados a uma taxa inferior de expansão do mercado do PEBD tornam o investimento nesta última resina mais arriscado. Daí porque o crescimento da oferta de PEBD foi menor, independentemente da fonte de matéria-prima (nafta ou gás). PEAD e PEBDL possuem aplicações distintas do PEBD. O primeiro, por exemplo, atua forte em sopro, tubos e injeção, segmentos onde PEBD é pouco presente. Já no caso do PEBDL, algumas aplicações, como stretch, praticamente não utilizam PEBD.
Diante da oferta bem menos pródiga de PEBD e de diversas aplicações-chave dessa resina não invadidas pelo superofertado PEBDL, a conjuntura mundial caminha para os preços internacionais de PEBD superarem os dos grades lineares mais convencionais, como PEBDL base buteno?
No final de 2018 e início de 2019 houve uma redução das diferenças dos preços norte-americanos de exportação entre as famílias PEBD e PEBDL, por efeito de entradas de novas capacidades de PEBD no mundo, principalmente na China e EUA. Entre 2016 e 2019, houve um aumento na oferta global da ordem de 8,9 milhões de toneladas de PEBDL e 4 milhões de PEBD. Aliás, PEBD foi a única categoria de PE que não entrou na lista de incremento das tarifas de importação de produtos norte-americanos homologada pela China na guerra comercial contra os EUA iniciada em agosto de 2018. Isso favoreceu o comércio global de PEBD e a adoção de ajustes no balanço de sua oferta e demanda. Neste contexto, os preços de PEBD de exportação dos EUA seguem este ano acima das cotações de PEBDL, efeito da conjuntura marcada pela entrada maior de capacidades de PEBDL na América do Norte. Essa diferença aumentou no final de 2019 e início de 2020 devido a restrições de oferta por paradas operacionais na Ásia, a exemplo de plantas no Extremo Oriente e Oriente Médio, e do atraso nas partidas de mais capacidades nos EUA, originalmente previstas para este ano. Para os próximos meses, a expectativa é de redução na diferença atual nos preços de PEBD e PEBDL, permanecendo no mesmo patamar observado no início de 2019. Uma situação de equilíbrio resultante das novas ofertas de PEBD que vingarão nos EUA.
Nos anos 1990, quando PEBDL foi introduzido no Brasil, era crença geral que a resina, à sombra de suas vantagens técnicas e econômicas (filme com espessuras menores, p.ex), iria gradativamente tornar (em volume) o consumo de PEBD inócuo, com vasto predomínio de extrusoras operando 100% com a resina linear. Trinta anos depois, o mercado demonstra que, tanto no Brasil como no exterior, esse avanço contundente de PEBDL sobre PEBD não se materializou. Por quais razões técnicas (características mecânicas, ópticas, químicas, térmicas etc.) e econômicas (custos de produção para o transformador)? Explicar em detalhes, dando inclusive exemplos de aplicações de PEBD que até hoje permanecem inabaláveis, pois inatingidas por PEBDL.
Na busca por melhores propriedades em geral, como solda, rasgo, mecânicas, etc. e também pela redução de espessura, ocorreu uma grande evolução das formulações no mercado de embalagens flexíveis. Atualmente, muitas formulações utilizam de forma majoritária o PEBDL, mas uma pequena porcentagem de PEBD (cerca de 20%) traz ainda uma melhoria no processamento e transparência dessas embalagens. Além disso, no mercado de shrink, por exemplo, o PEBD detém papel relevante por proporcionar melhor encolhimento e retenção de carga. No caso do stretch, no entanto, com o avanço das extrusoras de matriz plana, esse segmento não necessita mais do PEBD.
PEBD: Brasil e Argentina
A cargo da Braskem, a capacidade brasileira de PEBD é fixada em 795.000 t/a pela consultoria MaxiQuim. No ano passado, ela dimensionou a produção do polímero em 720.000 toneladas, das quais 232.000 foram exportadas. No mesmo período, as importações de PEBD alcançaram 144.000 toneladas. Por seu turno, os consultores Jorge Buhler Vidal e Oscar Lopez estimam a capacidade argentina de PEBD, monopolizada pela Dow, em 95.000 t/a.
No plano geral do cenário mundial, petroquímicas têm aprimorado a composição e estrutura de grades de PEBDL (base metaloceno, quadripolímeros, p.ex) que, em essência, acabam disputando espaço basicamente com grades mais tradicionais da resina linear, sem causar maiores avarias nos campos de PEBD. Quais as provas concretas do empenho da Braskem de desenvolver grades de PEBDL capazes de substituir totalmente e/ ou de aumentar o percentual de PEBDL no blend com PEBD? Explicar claramente os desenvolvimentos já consolidados e os ganhos obtidos e, se possível, dar uma prévia dos desenvolvimentos em andamento e suas metas.
A Braskem atua no desenvolvimento de resinas para o atendimento dos requisitos de nossos clientes e usuários finais. Apesar do foco não ser a substituição do PEBDL convencional ou PEBD, nos últimos anos, lançamos diversos grades de PEBDL metaloceno, como o Proxess1509XP e o Proxess3310, que permitem embalagens mais resistentes, o que pode incorrer em alguma substituição. No entanto, o PEBD continua com papel relevante no segmento de flexíveis, pois promove alta transparência e facilidade de processamento.
Determinadas aplicações descartáveis de altos volumes de PEBD, entre elas sacolas e shrink, estão sendo assediadas mundo afora por soluções alternativas (sacolas retornáveis, multipacks de cartão, por exemplo), em resposta à pressão ambientalista. Essa ofensiva também influi entre as justificativas para a escassez internacional de novas capacidades de PEBD?
No mercado de sacolas não é utilizado PEBD, pois a maior parte da formulação consiste de PEAD e uma fração pequena de PEBDL. Em relação a shrink, PEBD tem papel relevante na aplicação por suas propriedades de encolhimento e retenção de carga. De qualquer forma, independentemente da família de PE ou outros termoplásticos, o mercado está em fase de reformulação para atender aos requisitos de consumo e de sustentabilidade, o que pode influenciar a demanda por resinas. Para a grande maioria de filmes termoencolhíveis, PEBD constitui matéria-prima viável para uso sem pigmentos e com pouca impressão, o que torna o polímero uma fonte muito interessante para a reciclagem mecânica. Junto com parceiros de negócios, estamos desenvolvendo aplicações para a reutilização deste material pós-consumo. •