Nó de marinheiro

Importadores de resinas lutam contra pane no frete marítimo

Se os números falam mesmo por si, andam proferindo barbaridades para as importações de resinas. A plataforma logística Freightos situava em setembro o frete de um container de 40 pés embarcado na China em mais de US$ 20.000 se remetido aos EUA e acima de US$ 14.000 se para o norte da Europa. Um ano atrás, o custo para ambos os destinos rondava US$ 3.500-4.000. A paulada resulta da abrupta escassez de navios e containers que pintou no mundo sob as restrições sanitárias na largada da pandemia e azedou com a flexibilização de atividades hoje em vigor. Afinal, os redivivos mercados norte-americano e europeu aumentaram desde então as importações de bens de consumo (em especial chineses), encolhendo assim o espaço para matérias-primas plásticas nos insuficientes cargueiros. Por tabela, fraquejou a disponibilidade de frete para importações de regiões emergentes, como aquela do lado de baixo do Equador.
Prevista para normalizar apenas na segunda metade do ano que vem, o sumiço de containers e navios e a decorrente explosão de seus preços pressionam transformadores e revendedores de matéria-prima importada no Brasil por ajustes urgentes para zelar pela manutenção de seus estoques. “Junto com a aproximação das eleições de 2022, a atual instabilidade política traz um cenário conturbado para o dólar e que, somado ao desequilíbrio logístico do frete marítimo, força os importadores a repensar as estratégias comerciais, visando sobretudo menor exposição ao risco”, pondera Ricardo Rezende, gerente comercial da importadora e comercializadora Place Resinas. “Eles se voltam, assim, para importações mais comedidas e dirigidas, em especial, a parceiros tradicionais”. Claro que todo cliente é bem-vindo, ele encaixa, mas o foco da hora é manter relações duradouras e não o atendimento spot. “Numa eventual falta de material, nossa preferência é atender clientes habituais dentro dos volumes comumente transacionados”, frisa o executivo. “Não nos arriscaremos a trazer materiais capazes de um giro bem alto, mas que não vendemos habitualmente. Isso pode retardar um pouco novos desenvolvimentos, mas ficamos mais confortáveis com a reposição rápida de fluxo de caixa”.
Investir em meio a esse gargalo logístico em estoque preventivo de resina importada não é bem um raciocinio em linha reta, deixa claro Rezende. “Há muitas variáveis a considerar na opção por um estoque regulador, entre elas a análise minuciosa de grade a grade e a capacidade de caixa para a operação”. Desse modo, assinala, a hipótese de contar em estoque com material além do volume histórico de venda significa incorrer numa loteria. “O mercado brasileiro tem corrido na contramão dos preços internacionais e alguns tipos de resinas importadas acabaram comercializados com prejuízo para os fornecedores devido a essa disparidade, a exemplo da chegada ao país de polietileno e copolímero random num momento de redução dos preços internos”. Foi justo o que aconteceu no segundo e terceiro trimestre de 2020, em razão da recomposição de estoques a passos de cágado pela transformação às voltas com demanda retraída na primeira onda da covid-19.
Dólar surtado e a onerosa escassez de navios e containers são estraga-prazeres para importações spot. “As ofertas internacionais de resinas spot caíram e o risco de nacionalizar material mais caro que o similar doméstico empurra importadores de menor expressão para outras estratégias de abastecimento de suas revendas e/ou indústrias”, expõe Rezende. “Por exemplo, trazer apenas grades de giro rápido e aplicações mais simples quando o cenário for muito ruim, uma hipótese em que não acredito”.
O gerente da Place ainda não vê os clientes dispostos a firmar contratos de abastecimento de resina importada com valores variáveis, ao sabor de referências tipo dólar e petróleo. “Preferem comprar em cima da hora para tentar ganhar sobre descontos de oportunidade”.
Antes da pandemia, a Place registrava em média, quanto a pedidos de resinas importadas da Ásia, 30 dias para produção e embarque, 45 para o trajeto marítimo e 15 para desembaraço aduaneiro e entrega na empresa. Para resinas dos EUA, eram 30 dias para produção e embarque, 25 de viagem e 15 para o desembaraço aduaneiro e chegada ao cliente. “O que mudou de meses para cá foram os prazos de produção e embarque”, distingue Rezende. “Hoje em dia, os trades ofertam material e fecham negócios somente depois de confirmadas as posições de embarque pelos navios”. A propósito, ele insere que a Place tem administrado todos os atrasos nas importações desde o início da pandemia.
Rezende desconhece bala de prata para atenuar para transformadores e revendas os prejuízos com resinas desembarcadas com atraso e alvos de eventual pulo do dólar quando internadas, colidindo com a cotação vigente na data da encomenda da importação. “Não existe solução universal e, em essência, quanto maior é a dependência de capital de terceiros, seja de instituições financeiras ou até mesmo de fornecedores internacionais, maior é o risco assumido pela empresa que importa”, ressalta o gerente comercial. “Os únicos meios são a organização logística, para evitar custos extras no desembaraço aduaneiro, e o uso de caixa para equalizar momentâneas diferenças de valores”. Ele elogia o hedge (proteção cambial) como forma de baixar o risco de coices do dólar para quem importar. “Mas não deixa ninguém imune ao que acontece no mercado interno, cujo tempo de resposta é muito rápido”.
Para combater a inflação e a insuficiência de determinadas resinas, casos noticiados de polipropileno e polietileno de baixa densidade, o governo levanta a possibilidade de baixar as tarifas (14%) de importação. Rezende concorda. “Importação de matéria-prima é o principal fator regulador de preços no mercado doméstico e qualquer ação do governo nesse sentido é bem-vinda”, ele argumenta. “Reduzir alíquotas, nesses casos, é uma opção inteligente para resolver um problema de oferta, ainda mais num cenário sem expectativas de expandi-la pela produção local”. Mas Deus e o Diabo estão nos detalhes. “Anda complicada a situação do modal marítimo internacional, com containers represados nos EUA, pois o país hoje importa mais do que exporta, e com aumentos na casa de 600% no valor dos fretes em relação ao preço antes da pandemia”, coloca o especialista. “Acho muito difícil os armadores voltarem a cobrar preços pré-corona, mas isso vai se ajustar até a metade de 2022 e temos de pensar no longo prazo”. Assim, completa Rezende, se as alíquotas alfandegárias recuarem de fato, ganham obviamente os clientes domésticos. “Por sua vez, os importadores fortalecerão suas posições perante fabricantes de resinas do exterior até a logística entrar nos eixos e a precificação da matéria-prima nacional se alinhar com o mercado mundial”. •

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