Líquido e certo

O fortalecimento das garrafas retornáveis no portfólio da Coca-Cola
Fernanda Dalto: Coca-Cola receptiva a soluções de embalagens monomaterial.

Maior consumidora de PET do país, a Coca-Cola Brasil embarca no poliéster como passaporte para a sustentabilidade com a introdução, pela sua marca Del Valle, da primeira garrafa retornável para sucos no país. Denominado Del Valle Frut, o lançamento chegou em agosto a Manaus e deve cobrir o mercado nacional em 2021. A garrafa de dois litros pode ser reutilizada 25 vezes e, na troca em cada compra, o consumidor pode escolher entre os dois sabores de Del Valle Frut – uva e laranja. Nesta entrevista, Fernanda Daltro, gerente de sustentabilidade da Coca-Cola Brasil explica a ênfase crescente da empresa nas embalagens retornáveis.

1Caixas cartonadas, constituídas de cartão e polietileno, são as embalagens dominantes em sucos no Brasil. São também bem mais complexas e onerosas de reciclar que recipientes monomaterial, caso de PET. Com base nisso, no apoio da Coca-Cola à economia circular e no lançamento desta garrafa retornável, qual o futuro da caixa cartonada nos sucos da empresa?
Embalagens são projetadas para atender diferentes ocasiões de consumo e garantir a qualidade dos produtos. Nesse sentido, reduzir ou descontinuar tipos de embalagens são decisões baseadas em diversas variáveis. A Coca-Cola Brasil assumiu o compromisso de ter embalagens 100% recicláveis até 2025. Já estamos com 99,4%. No Brasil, embalagens cartonadas dispõem de uma grande rede de reciclagem, com suas fibras de celulose seguindo para a indústria de papel e o amálgama de alumínio e plástico utilizado na fabricação de outros produtos. Por isso, elas são consideradas “recicláveis” pela empresa. De qualquer maneira, dentro da estratégia de reciclabilidade, é um foco orientar nossos projetos para embalagens monomaterial ou feitas com materiais de maior valor na cadeia de reciclagem. No caso de PET, por sinal, fazemos objeção ao uso de cores, exceto verde.
Um ponto importante nessa discussão é o de que os materiais recicláveis – em especial o plástico – sofrem com baixo valor de mercado. Não basta olhar apenas na direção de migrar para uma embalagem monomaterial se ela tem tanta ou mais possibilidade de não ser coletada ao longo da cadeia da reciclagem.

2 Com base no monitoramento do mercado pela Coca-Cola, poderia demonstrar como a conscientização ambiental vem influindo nas decisões de compras dos consumidores?  
Em 2019, a Coca-Cola Brasil dobrou o crescimento das vendas de embalagens retornáveis, com um incremento de 11%. Foram cerca de 21 milhões de unidades vendidas a mais. Hoje já estamos com 22% dos nossos produtos vendidos em embalagens retornáveis (RefPET 1,5l e 2L e vidro 1L). A empresa deixou de colocar 1,6 bilhão de garrafas no mercado em função do investimento na reutilização de embalagens. No período inicial da pandemia, quando bares e restaurantes estavam fechados e o consumo das famílias passou para dentro de casa, vimos um crescimento na compra de Coca-Cola em embalagens retornáveis. As garrafas retornáveis de dois litros atenderam perfeitamente as refeições em família e adequaram-se ao momento de restrição de orçamento, além de não gerar mais resíduos plásticos em casa. Vemos que essa escolha está se mantendo mesmo com a abertura gradual do comércio, configurando um novo hábito adotado por mais famílias brasileiras.
Em pesquisa recente da consultoria Bain&Company, exclusiva para um projeto da Coca-Cola Brasil, consumidores responderam que correlacionam a empresa com sustentabilidade, principalmente por oferecer embalagens retornáveis (55%). Cerca de 50% dos entrevistados alegaram que compram ou comprariam retornáveis porque é melhor para o meio ambiente. Foi uma surpresa muito feliz, porque, há alguns anos, a companhia olhava para retornáveis como uma opção acessível. Essa pesquisa trouxe uma noção do quanto o consumidor brasileiro já está conectado com a agenda da sustentabilidade e, intuitivamente, com a agenda da economia circular. Indica que o investimento da Coca-Cola Brasil na expansão de suas embalagens retornáveis será acompanhado com atenção pelo nosso público. O desafio agora é expandir também no portfólio, como estamos alcançando com a chegada de Dell Vale Frut à região norte.
A propósito, como trata-se de uma embalagem retornável, dentro da lógica de economia circular, não há problema com a reciclagem dos rótulos.  Desde 2018, passamos a utilizar uma garrafa retornável única, a que chamamos de garrafa universal: um só formato para qualquer marca de refrigerante do portfólio retornável da empresa, com rótulos removíveis de papel. Essa é a embalagem adotada agora também por Del Valle Frut. Isso quer dizer que, cada vez que o produto é consumido e a garrafa volta à fábrica, ela poderá ser envasada e rotulada com qualquer produto. Essa mudança permite que haja mais versatilidade e eficiência e menos desperdício. A cada ciclo, as garrafas são higienizadas e os rótulos de papel são trocados. No que tange ao meio ambiente, após o fim do ciclo, os rótulos e as garrafas são encaminhados à indústria recicladora. O grande benefício das embalagens retornáveis é o controle total sobre sua destinação após os ciclos de uso, pois todas voltam para as nossas fábricas, garantindo assim sua reciclagem.
Iniciamos a comercialização das garrafas universais de RefPET 2L com rótulos de papel e cola fria, mas estamos nos preparando para rotular também todas as garrafas retornáveis do portfólio da Coca-Cola Brasil. Como utilizamos rotuladoras flexíveis estamos aptos a implementar novas formas de rotulagem. Estamos concluindo o desenvolvimento de rotulagem com polipropileno biorientado (BOPP). Esses rótulos serão retirados na lavadora de garrafas, agrupados e encaminhados para reciclagem, não trazendo problema à cadeia de reciclagem de PET descartável.

3O mostruário da Del Valle contém muitos sucos acondicionados em recicláveis garrafas one way de PET. A empresa já utiliza PET reciclado grau alimentício na composição dessas embalagens e na nova garrafa retornável?   
A Coca-Cola Brasil trabalha com a meta de incluir 50% de conteúdo reciclado em suas embalagens até 2030. No Brasil, a meta de 2020 é chegarmos a 12% nas garrafas PET. Seguimos buscando fornecedores para produzir a resina reciclada em grau alimentício; eles precisam ter seu material homologado em nosso laboratório em Atlanta (EUA). Diversas das nossas embalagens PET descartáveis já contêm algum volume de resina reciclada, mas ainda pulverizado em diferentes SKUs (código alfanumérico de produtos para facilitar o gerenciamento do estoque) e entre os engarrafadores. No Rio de Janeiro e em São Paulo, é possível encontrar garrafas de 2,5 litros de Coca-Cola com até 50% de resina reciclada. Nas retornáveis de PET, por terem uma composição diferenciada, ainda não há inclusão de resina reciclada, mas caminhamos para isso. •

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