As medidas do governo para evitar racionamento de energia, causa da alta explosiva no custo do insumo, devem se alongar por 2022 com sequelas como a subida na mediana de 18,8% na conta de luz que pressiona a inflação e lesiona o poder aquisitivo, atesta estudo da Confederação Nacional da Indústria. A população hoje gasta 200% mais com bandeira tarifária que a média dos últimos oito anos e, no tocante à transformação de plástico, em particular, a eletricidade só perde para as resinas entre os insumos mais caros dos custos de produção. No espírito dos males que vêm para o bem, a conjuntura trevosa estende tapete vermelho para a transição energética do país rumo a fontes renováveis. Entre elas, a energia solar se destaca pelo barateamento da tecnologia e tarifa e pela rapidez na sua instalação. Não é á toa que, nos últimos cinco anos, a produção fotovoltaica brasileira disparou de 93 para 10.429 megawatts, um desempenho que leva a consultoria Bloomberg New Energy Finance a antever a energia solar como principal fonte da nossa matriz elétrica em 2040. No ano passado, o Brasil já foi o nono país que mais instalou sistemas de energia solar, aponta a Agência Internacional de Energia. De janeiro a setembro último, o número de novas instalações de energia solar subiu 63% versus o mesmo período em 2020, rondando hoje a marca de meio milhão de consumidores, calcula a Agência Nacional de Energia Elétrica. O florescimento da tecnologia fotovoltaica por aqui é regado, desde 2020, pela subsidiária do grupo francês Helexia, ás em soluções personalizadas para excelência na produção e gestão de energia de fontes renováveis. Nesta entrevista, Aurélien Maudonnet, CEO da operação brasileira da empresa, comenta as perspectivas para o banho de sol livrar o país de ser refém de um sistema elétrico que deu no que está dando e custando.
Por que a adesão de residências à geração de energia solar ainda transcorre com muito mais intensidade e rapidez no Brasil do que a de indústrias de manufatura, cuja conta de luz é bem maior?
A viabilidade maior da implantação de sistemas fotovoltaicos em residências se deve ao alto custo da energia elétrica e aos impostos incidentes É fato que a indústria conta com a opção de compra de energia no mercado livre, um ambiente de negócios no qual empresas geradoras, comercializadoras e consumidoras podem negociar livremente o fornecimento de eletricidade em conformidade com a regulamentação do setor e se creditar dos impostos incidentes. Mas ainda assim a geração de energia por meio de sistemas fotovoltaicos maximiza a rentabilidade e a redução nos custos com a energia elétrica.
Essa ficha já caiu nas empresas?
Elas estão começando a entender a importância da transição energética, seja por meio de sistemas fotovoltaicos ou por outras das muitas ações de eficiência energétiba. São soluções de impacto direto no valor gasto com a energia elétrica, que não é baixo para as indústrias, caso inclusive daquelas integrantes do setor plástico. No final das contas, o empresário quer saber o que vai economizar e ganhar e em quanto tempo. Aqui na Helexia, por sinal, nos responsabilizamos por todo o investimento envolvido, construção, operação e manutenção da transição, sem atrapalhar a operação do cliente, que segue com foco no seu negócio enquanto nós cuidamos da sua energia.
Quais as principais ações e linhas de crédito oferecidas pelos governos federal e estaduais para estender o acesso à energia solar a mais consumidores?
Instituições como BNDES, BNB, Santander, Sicredi, Sicoob, Desenvolve SP, Banco do Nordeste e Banco do Brasil oferecem linhas de crédito para incrementar a penetração da energia solar.
Os Estados têm tomado medidas para favorecer o crescimento da fonte solar em geral e, em particular da geração distribuída (processo no qual o consumidor, seja pessoa física ou jurídica, produz a própria energia elétrica que consome, por meio de geradores que ficam no local de uso – ou em outro local desde que na mesma área de concessão de distribuição – e que são ligados à rede pública). O governo de Minas, por exemplo, homologou uma lei (23.762, de 6 de janeiro último) que amplia o incentivo local à produção de energia de fontes renováveis e, para vigorar, a proposta depende agora da avaliação do Conselho Nacional de Política Fazendária e aprovação das demais unidades da federação. A norma estadual prevê a redução gradativa (pode chegar a zero) da cobrança da taxa de ICMS sobre os equipamentos, peças, partes e componentes utilizados na instalação de micro e mini sistemas de geração distribuída de energia elétrica com capacidade máxima de 5 megawatts, como usinas fotovoltaicas. Aliás, Minas já concede isenção para geração distribuída de energia solar com capacidade de até 5 MW por meio de legislação própria. Já é o Estado líder no Brasil em potência instalada de geração solar fotovoltaica. Outros Estados vêm copiando esse modelo para garantir o crescimento da fonte solar.
Os preços dos painéis solares têm aumentado devido ao dólar, encarecimento do transporte e de matérias-primas e por causa da falta de insumos como vidro na China hoje em crise energética, maior fabricante do equipamento. Quais os reflexos desse quadro no Brasil?
Infelizmente, o tema mais latente no setor é a escassez de módulos fotovoltaicos e outros componentes da cadeia de valor. Isso provocou uma inflação jamais sentida no mercado solar. Essa bomba explode justo no momento de maior força do mercado fotovoltaico brasileiro, onde a economia começa a pulsar novamente e os valores da energia elétrica estão nas alturas. Sem dúvida, o impacto dessa elevação vai corrigir a expectativa de crescimento do mercado este ano e no primeiro semestre de 2022, mas não alterará os planos de crescimento de médio prazo. Essa situação é pontual. Considerando o potencial do Brasil, uma possível solução seria fomentar a criação de indústrias locais para produção de todos os insumos que envolvem um sistema fotovoltaico, como painéis, estruturas, inversores. Isso faria com que os custos impostos pela importação fossem cortados e a imprevisibilidade do mercado internacional deixasse de ser uma preocupação para o setor daqui. Para isso virar realidade, é preciso um incentivo fiscal, o que seria muito bom para o setor e para o Brasil, pois novos empregos seriam gerados. Vale lembrar que isso já foi feito, com muito sucesso, no âmbito da indústria eólica nacional.
Qual a expectativa de retorno para um projeto de captação e geração de energia solar fotovoltaica para uma indústria de pequeno, médio e maior porte?
Para o projeto de cada porte é preciso considerar, no cálculo do investimento, o consumo médio e o custo da energia mais a taxa do uso do sistema de distribuição (TUSD) no mercado livre sem os impostos, pois a indústria se credita do valor desses tributos. Evidente que temos que analisar cada caso concreto. No entanto, com base nos projetos que já avaliamos para indústrias de pequeno, médio e grande porte, temos uma média de tempo de payback entre 12 e 13 anos. Como nosso propósito maior é entregar maior competitividade e rentabilidade para os clientes, prezamos os contratos de longo prazo. Sobre a questão do custo do investimento, não existe um valor pré-definido, isso também depende das peculiaridades de cada caso. Mas, para exemplificar nosso modelo de negócio para projetos desta natureza, investimos neles com capital próprio, a tarifa de energia é atrelada a um prazo de operação e deve garantir a saúde financeira do empreendimento. Isto é, o desconto para cliente (parceiro, pois vemos uma relação de parceria e não de mera compra e venda) e a rentabilidade para a Helexia. Afinal, é a economia gerada que vai pagar nosso investimento no cliente, a nossa engenharia, o nosso risco. Ou seja, o cliente não terá um custo adicional e, ao final do contrato, ficará com toda a economia e o ativo – no caso, o sistema fotovoltaico (painéis, estruturas, inversores). •