Derrocada do gás de xisto golpeia petroquímica nos EUA

Os tumores na forma do coronavírus e dos preços do petróleo ladeira abaixo perigam gerar metástase nos balanços da petroquímica mundial, um efeito dominó mais contundente na capacidade norte-americana de eteno/polietileno (PE), ultra expandida ao sabor do gás natural mais barato do planeta. A técnica da fragmentação do xisto tornou os EUA autossuficiente em petróleo e nº1 na produção global dessa fonte de energia. Acontece que,  como assinalado em matéria do londrino Financial Times, o infarto da demanda mundial, obra da pandemia, somado ao corte para cerca de US$ 23 por barril na cotação do petróleo WTI (referência nos EUA) desferido pela Arábia Saudita puseram na UTI o setor de xisto norte-americano, com fundas sequelas no metabolismo da indústria de eteno/PE no país. A bacia Permiana lidera a produção de petróleo de xisto nos EUA, negócio cujo preço de equilíbrio entre despesas e receitas é de US$ 3 por barril, calcula Dane Gregioris, diretor da consultoria RS Energy Group. “Com o WTI a US$30 e o gás natural Henry Hub (referência no mercado norte-americano) a US$ 2/MMBTu, nada funciona em escala no país”, ele declarou ao jornal. Vai nas suas pegadas o diagnóstico funéreo de James Webster, diretor do centro de impactos energéticos do Boston Consulting Group. “O xisto prospera a US$ 100 por barril, sobrevive a US$ 50 e morre a US$ 25”. Nas projeções da consultoria Rystad Energy, os aportes no setor de xisto desabarão este ano para US$64 bilhões versus US107 bilhões em 2019, estimativa sujeita a revisões para baixo se a cotação do petróleo não subir com o necessário vigor. Não foi à toa que a petrolífera Chevron. investidora no atual ciclo de obesidade mórbida  da capacidade norte-americana de eteno/PE anunciou em 25 de março o cancelamento do investimento de US$ 2 bilhões este ano em xisto da bacia Permiana. Da mesma forma, a Shell, sob a alegação do alastramento do covid-19, anunciou também em março o adiamento de 2020 para 2021 de seu complexo de eteno/PE na reta final de montagem nos EUA. Projetado nos tempos do barril a US$ 100,  este empreendimento, por sinal, pintava feito estranho no ninho da estratégia global da petrolífera anglo holandesa, focada em desinvestimentos em negócios considerados não estratégicos, o que fez a companhia a desvencilhar-se há bons anos de operações como as de poliolefinas, poliésteres e borrachas estirênicas. Como ninguém socializa lucro, cresce o consenso entre os analistas de que deve ferver em breve a temporada de compras e joint ventures entre petroquímicas de margens torpedeadas nos EUA pela derrocada do xisto e do mundo em quarentena.

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