Crise imobiliária mundial deixa PVC sem teto

Sufoco da construção civil nos principais mercados pune o vinil
Empreiteira chinesa Evergrande: falência sob endividamento da ordem de US$ 300 bilhões.
Empreiteira chinesa Evergrande: falência sob endividamento da ordem de US$ 300 bilhões.

O calvário de PVC, causado por seu obeso excedente mundial, ainda em expansão liderada pela petroquímica da China, periga prolongar-se bem além das clássicas previsões calçadas na lógica de uma metodologia hoje impraticável: a sequência de ciclos regidos por aumentos de capacidade suscitando aumentos da demanda. Ocorre que a aguda dependência da construção civil deixa o vinil hoje sem respiro, comprova em artigo no site da consultoria Icis o blogueiro Paul Hodges. A viga mestra de sua argumentação é o zilionário colapso imobiliário da China perigando ser sucedido pelo estouro de bolhas no setor na Europa e EUA, processo abalado pela seca atual de estímulos ao consumo despejados pelos bancos centrais a partir da pandemia.

Hodges traça um paralelo entre essa conjuntura trágica e o “paradigma da perda”, modelo criado pela psiquiatra suíça Elizabeth Kubler Ross para se entender como as pessoas lidam com luto e morte. Trata-se da sequência de cinco estágios, transpostos à realidade imobiliária por Hodges e delimitados assim:

Negação – preços imobiliários sobem há décadas, tendência tida por pessoas como normal e irretornável.

Raiva – reação das pessoas quando os preços imobiliários começam cair em contraste com o aumento dos custos de hipotecas e de manutenção de propriedades.

Acordo – locadores não querem o lançamento contábil de perdas e estendem as condições de pagamento, enquanto financiadores estreitam a liberação de crédito imobiliário.

Depressão – é quando cai a ficha na praça de que o declínio do mercado imobiliário é real e inevitável.

Aceitação – quando as pessoas começam a reagir ao naufrágio e a buscar novas oportunidades de empreendimentos.

Na China, retoma o fio Hodges, o financiamento imobiliário, abundante desde 2009 como reação a crise financeira mundial, totalizou ao redor de US$ 44 trilhões. Em suas pegadas, os preços de propriedades subiram em média 50% nos centros mais desenvolvidos, como Xangai. Corte para hoje: a construção civil equivale a cerca de 30% do PIB do país, os preços imobiliários desabaram com estouro da bolha de investimentos no setor e os compradores  duvidam da volta àquela era faustosa dos valores dos imóveis, sumariza Hodges. Saiu no Wall Street Journal: a China acumula 20 milhões de apartamentos pré-vendidos e inacabados e assim devem continuar por bom tempo. Por essas e outras, assinala o blogueiro, a mega construtora Evergrande quebrou, sob dívida orçada em US$ 30 bilhões, influindo nos sinais emitidos em março pelas gigantescas empreiteiras China Vanke e Country Garden como potenciais candidatas ao mesmo nocaute.

Apesar da resiliência hoje mostrada pela economia dos EUA, Hodges aponta como sintomática de outra realidade, menos maviosa, a derrocada de um patrimônio de San Francisco, o Four Seasons Hotel. O proprietário o comprou por US$ 127 milhões em 2019 e sapecou outra dinheirama na renovação do ativo. Mas o mercado desandou e na terceira semana de março o negócio foi à bancarrota, deixando empréstimo não honrado da ordem de US$ 72 milhões. “Prédios corporativos são hoje repassados nos EUA por centavos de dólar e 20% de taxa de vacância e shopping centers são vendidos por motivos como a explosão do e-commerce”, descreve o blogueiro da Icis. Em decorrência, ele completa, bancos regionais responsáveis pelo crédito das compras de imóveis agora deparam com risco de calotes no horizonte.  “O comércio imobiliário precisa ser iniciado nos EUA, pois hoje perdemos a noção dos valores. Você não pode elevar as taxas de juros com rapidez sem não esperar por um choque financeiro”, declarou em janeiro último na mídia Scott Rechler, presidente do banco central de Nova York.

Hodges fecha a exposição do martírio vinílico, que é o garrote imobiliário nas principais regiões do planeta, com a situação de curto circuito da Europa, condensada na Alemanha, maior economia do continente. Uma referência que fala por si, ele cita, é a quebra recente da macro empreiteira austríaca Signa atrelada à falência de sua afamada loja berlinense de departamentos KaDeWe. Hodges bota água no chope ao eleger a depressão no setor imobiliário alemão a pior em 10 anos. “No ano passado, o preço de imóveis para várias famílias de moradores caiu no país na faixa de 20%, enquanto no caso de moradias para uma única família a redução chegou a 9%”, complementa o analista.

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